"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



terça-feira, 27 de dezembro de 2016

para 2017



“Que me abra a porta que eu preciso passar, Senhor,
mas que feche aquela que não me cabe.” 

oração a mim mesmo


“Que eu me permita olhar e escutar e sonhar mais. Falar menos. Chorar menos. Ver nos olhos de quem me vê a admiração que eles me têm e não a inveja que, prepotentemente, penso que têm. Escutar com meus ouvidos atentos e minha boca estática, as palavras que se fazem gestos e os gestos que se fazem palavras. Permitir sempre escutar aquilo que eu não tenho me permitido escutar. Saber realizar os sonhos que nascem em mim e por mim e comigo morrem por eu não os saber sonhos. Então, que eu possa viver os sonhos possíveis e os impossíveis; aqueles que morrem e ressuscitam a cada novo fruto, a cada nova flor, a cada novo calor, a cada nova geada, a cada novo dia.

Que eu possa sonhar o ar, sonhar o mar, sonhar o amar, sonhar o amalgamar. Que eu me permita o silêncio das formas, dos movimentos, do impossível, da imensidão de toda profundeza. Que eu possa substituir minhas palavras pelo toque, pelo sentir, pelo compreender, pelo segredo das coisas mais raras, pela oração mental (aquela que a alma cria e que só ela, alma, ouve e só ela, alma, responde). Que eu saiba dimensionar o calor, experimentar a forma, vislumbrar as curvas, desenhar as retas, e aprender o sabor da exuberância que se mostra nas pequenas manifestações da vida. Que eu saiba reproduzir na alma a imagem que entra pelos meus olhos fazendo-me parte suprema da natureza, criando-me e recriando-me a cada instante.

Que eu possa chorar menos de tristeza e mais de contentamentos. Que meu choro não seja em vão, que em vão não sejam minhas dúvidas. Que eu saiba perder meus caminhos mas saiba recuperar meus destinos com dignidade. Que eu não tenha medo de nada, principalmente de mim mesmo. Que eu não tenha medo de meus medos! Que eu adormeça toda vez que for derramar lágrimas inúteis, e desperte com o coração cheio de esperanças. Que eu faça de mim um homem sereno dentro de minha própria turbulência, sábio dentro de meus limites pequenos e inexatos, humilde diante de minhas grandezas tolas e ingênuas (que eu me mostre o quanto são pequenas minhas grandezas e o quanto é valiosa minha pequenez).

Que eu me permita ser mãe, ser pai, e, se for preciso, ser órfão. Permita-me eu ensinar o pouco que sei e aprender o muito que não sei, traduzir o que os mestres ensinaram e compreender a alegria com que os simples traduzem suas experiências; respeitar incondicionalmente o ser; o ser por si só, por mais nada que possa ter além de sua essência, auxiliar a solidão de quem chegou, render-me ao motivo de quem partiu e aceitar a saudade de quem ficou. Que eu possa amar e ser amado. Que eu possa amar mesmo sem ser amado, fazer gentilezas quando recebo carinhos; fazer carinhos mesmo quando não recebo gentilezas. Que eu jamais fique só, mesmo quando eu me queira só. Amém.”

Oswaldo Antônio Beggiato


“Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês”, diz o Senhor, “planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro”.

Jeremias 29:11

domingo, 25 de dezembro de 2016


Desde o começo do mundo
Que o homem sonha com a paz
Ela está dentro dele mesmo
Ele tem a paz e não sabe
É só fechar os olhos
E olhar pra dentro de si mesmo
Tanta gente se esqueceu
Que a verdade não mudou
Quando a paz foi ensinada
Pouca gente escutou
Meu Amigo, volte logo
Venha ensinar meu povo
O amor é importante
Vem dizer tudo de novo

Outro dia, um cabeludo falou:
“Não importam os motivos da guerra
A paz ainda é mais importante que eles.”
Esta frase vive nos cabelos encaracolados
Das cucas maravilhosas
Mas se perdeu no labirinto
Dos pensamentos poluídos pela falta de amor.
Muita gente não ouviu porque não quis ouvir
Eles estão surdos!

Tanta gente se esqueceu
Que o amor só traz o bem
Que a covardia é surda
E só ouve o que convém
Mas meu Amigo, volte logo
Vem olhar pelo meu povo
O amor é importante
Vem dizer tudo de novo

Um dia o ar se encheu de amor
E em todo o seu esplendor as vozes cantaram.
Seu canto ecoou pelos campos
Subiu as montanhas e chegou ao universo
E uma estrela brilhou mostrando o caminho
“Glória a Deus nas alturas
E paz na Terra aos homens de boa vontade”

Tanta gente se afastou
Do caminho que é de luz
Pouca gente se lembrou
Da mensagem que há na cruz
Meu Amigo, volte logo
Venha ensinar meu povo
Que o amor é importante
Vem dizer tudo de novo

Todos estão surdos / Roberto Carlos


Todos reclamam dos políticos. Todos dizem que eles não prestam. Mas de onde vocês acham que vieram esses políticos? Não caíram do céu. Não passaram por um membrana de outra dimensão...

Vieram de pais americanos e famílias americanas, lares americanos, escolas americanas, igrejas americanas, empresas americanas e universidades americanas... e foram eleitos por cidadãos americanos.

Isso é o melhor que podemos fazer, amigos. O melhor que temos para oferecer. O que nosso sistema produz. Entra lixo e sai lixo.

Se temos cidadãos egoístas e ignorantes, teremos políticos egoístas e ignorantes. Trocá-los a cada 4 anos não muda nada também. Só estaremos lidando com uma nova camada de políticos egoístas e ignorantes. Ou seja, talvez, não sejam os políticos que não prestam. Talvez outra coisa não está prestando por aqui como... o povo. Sim, o povo não presta. Taí um bom slogan para um campanha: “O povo não presta, foda-se a esperança.”

Porque se realmente a culpa é só dos políticos então, onde estão as pessoas de bem? Onde estão os americanos brilhantes, honestos e inteligentes preparados para salvar a nação e liderar o país?

Não temos gente assim. Tá todo mundo no shopping coçando a bunda, cutucando o nariz, usando seus cartões de crédito para comprar uns tênis com luzes dentro.

George Carlin*

*Ator e autor norte-americano, vencedor de cinco Grammys e um dos mais famosos humoristas do gênero comédia em pé (Stand Up Comedy) quando o termo ainda nem era famoso no Brasil.


#não se aplica só aos americanos


“Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.”

1 Coríntios 2:9

sábado, 24 de dezembro de 2016

 Noite feliz... noite felizzzzzzzzz   

handle with care


Então é Natal... Em vez dos votos tradicionais, deixo aqui um texto que não é específico sobre a noite feliz, mas que traduz o espírito com que devemos levar a vida hoje, amanhã e todos os dias. Handle with care. Trate bem dos seus mais caros presentes: as pessoas que estão perto de você. 
Trégua, risos e tim-tim!

Certamente você já leu a frase que acompanha o aviso “Fragile” em embalagens que chegam do exterior. Duas mãos espalmadas circundam uma caixinha e a etiqueta diz: Handle with care. Manuseie com cuidado.

Uma querida amiga que mora na Suécia me mandou um e-mail essa semana dizendo que muitas pessoas deveriam ter este adesivo grudado no próprio corpo. Eu diria que não apenas muitas: todas. Afinal, nada mais frágil que um ser humano.

Costumamos tratar com delicadeza as crianças, por seu tamanho e inocência, e os idosos, por sua vulnerabilidade física e por respeito, mas quando se trata da vastíssima parcela da população que se situa entre esses dois extremos, passamos por cima feito um trator desgovernado. A ideia geral é: adultos sabem se defender.

Alguns sabem, outros menos. Todos nós recebemos vários trancos da vida e acabamos desenvolvendo alguma resiliência e capacidade de se regenerar, mas isso não quer dizer que não há dentro de nós algo que possa quebrar de forma irreversível.

E quebra mesmo. Espatifa de forma a impedir a colagem dos cacos. Handle with care.

Há por aí campanhas pregando mais gentileza e mais educação, e assino embaixo, naturalmente. Mas elas têm um caráter superficial, induzem apenas a gestos e atitudes corteses, como esperar alguém sair do elevador antes de a gente entrar, dar bom dia a quem cruza por nós, desejar feliz Natal e boas festas. Isso é tratar bem, não tratar com cuidado.

Tratar com cuidado significa se colocar no lugar do outro e dimensionar o quanto uma estupidez pode machucar. Significa levar em consideração as dificuldades de alguém a fim de não exigir demais de seus sentimentos e posicionamentos. Significa compreender que a comunicação é fundamental para o entendimento e a paz, e que atitudes bruscas podem ser mal interpretadas. Significa honrar o laço construído e não colocar na intimidade a desculpa para agredir – agressões não podem virar hábito da casa.

O que cada pessoa leva dentro? Sonhos que podem parecer bobagem para os outros, mas que são sagrados para ela. Traumas que ainda não foram superados e que doem a cada vez que são lembrados. Vergonhas inconfessas. Feridas que custaram a cicatrizar e que basta um cutucãozinho para reabrirem. Desejos que não merecem ser ridicularizados. Necessidade de ser amado e aceito. Uma parte da infância que nunca se perdeu.

As pessoas gritam e rugem umas para as outras, quando não fazem pior: ignoram umas às outras, como se todos fossem feitos de pedra, como se todos estivessem protegidos por plásticos-bolha, como se a blindagem fosse geral: é só mirar e atirar que não dá nada.

Dá sim. Pode não parecer, mas todo ser humano é um cristal.


Ela dará à luz um filho, e você deverá dar-lhe o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: “A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamarão Emanuel”, que significa “Deus conosco”.

Mateus 1:21-23

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

noel e Deus



Que a paz sempre aconteça, que a felicidade sempre prevaleça e que o amor, regue sempre, os corações.

____Mychele Magalhães Velloso



Lei nº 025 de 25 de dezembro de todo ano - Belém, D.C. 

Dispõe sobre normas a serem vividas por aqueles que um dia, guiados por uma estrela, chegaram a um estábulo deixando-se cativar pelo recém-nascido que ali estava. A partir da presente data, entra em vigor a seguinte Lei:

Art. 1º - Todos os homens devem se respeitar mutuamente. 
Parágrafo Único - É dever de todos promover a paz e uma vida mais humana. 

Art. 2º - O verdadeiro amor é gratuito, não busca o prazer pessoal e sim o bem e felicidade do outro. 

Art. 3º - O Natal não é comércio e troca de presentes. mas um dia em que o perdão e a solidariedade devem se fazer mais presentes na vida de cada um. 

Art. 4º - Natal é tempo de acreditar nas pequenas coisas e de nascer de novo. 

Art. 5º - A partir da presente data fica estipulado que: 
a. nosso sorriso não tem endereço certo. 
b. nossas mãos devem carregar os mais fracos e conduzir mãos que tateiam no escuro. 
c. nossos pés, caminhar em direção do outro para acolhê-lo. 
d. nossos olhos, enxergar a criança faminta, o amigo angustiado, o velhinho desamparado.

Art. 6º - O Natal é Cristo fazendo nascer em cada homem um coração novo com o sentimento da esperança. 
Parágrafo Único - Todo aquele que aceitar o Salvador deve libertar-se do homem velho, rancoroso que existe em si próprio. 

Art. 7º - O Natal marca o início de uma era onde a Fé, a Esperança e o Amor são os critérios básicos para se construir um mundo melhor. 

Art. 8º - Fica decretado que o Natal será como a alegria imensa de vidas que renascem e se renovam. 

Art. 9º - O tempo de Natal é o seguinte: 24 de dezembro deste ano até 24 de dezembro do próximo ano. 

Art. 10 - Esta lei entrará em vigor a partir do momento em que as pessoas tomarem conhecimento da mesma. 

Art. 11 - Faça cumprir e revoguem-se todas as disposições em contrário. 

Parágrafo Único - Feliz Natal! Hoje e sempre!


E deu à luz a seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem. 

Lucas 2:7

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

então é Natal...


festa da firma


A festa da firma é uma segunda entrevista de emprego. Ou seja, não é festa, é o velório da sinceridade. Não se trata de uma confraternização, mas de uma delação disfarçada.

Como você ficará à vontade sabendo que não pode beber, não pode dançar loucamente, não pode contar piadas, não pode falar mal de ninguém, em especial de seu chefe? Carregue um “Google tradutor” embutido em sua boca para converter o gordo, o careca, o idiota e o imbecil em colaborador, integrante do time e parte da família.

Para que largar o conforto do lar? Não tem sentido, o equivalente a dizer que cocô de passarinho na cabeça traz sorte.

Mas, se não aparecer, o povo comentará que é azeite, prepotente, não quer se comprometer e que dispensa as relações interpessoais.

O que é obrigação nunca será diversão. A risada precisa ser cínica e controlada, pois a gargalhada já indicará alto teor alcoólico. É recomendável que seu figurino não chame a atenção. Não use combinação extravagante, muito menos formal em demasia. Em suma, irá com a mesma roupa que costuma trabalhar.

Bajulação é desagradável, assim como a honestidade. Cumprimente a todos, não puxe assuntos a fundo. Jamais traga problemas pendentes do ambiente corporativo, e igualmente não abra a sua vida. O correto seria não existir marcando presença.

Como não há meio-termo na descontração, é mexer o tronco dentro de uma camisa-de-força.

Tocará funk e não descerá ao chão. Tocará sertanejo universitário e não levantará os braços. Nem “Lepo lepo”, nem “Paredão metralhadora” serão capazes de abrir a pista para coreografia, qual a graça?

Você deverá recusar tudo o que é bom. Não deve comer em excesso para não ser morto de fome, não deve se envolver com a colega para não misturar amor e emprego. Em hipótese alguma, não ser o primeiro a chegar e também não inventar de ser o último a sair (nenhuma festa é inesquecível se saímos cedo, não é verdade?).

Encontro da firma não é lazer, e sim hora-extra no final de semana e adicional noturno. Só os estagiários não entenderam isso e brindam ao futuro, ingenuamente alegres, com seus copos de plástico.


“Porque ele [Jesus] é a nossa paz...” 

Efésios 2.14

terça-feira, 20 de dezembro de 2016



Eu quero as asas do riso fácil,
quero a coragem para alçar voos novos,
e o silêncio amoroso dos sonhos antigos.

Quero olhos de enxergar as grandezas das miudezas e suas tantas bonitezas,
e quero todas as letras e os significados traduzidos em capacidade para o verbo amar.

Quero as pessoas por perto, bem mais perto do quer perto um dia foi,
e quero aprender que longe também pode se transformar em perto quando a rede é o coração.

Quero cair de sono,
cair de alegria,
cair de tanto rir,
e se eu cair por outros motivos,
quero ser forte na queda, quero saber me levantar,
quero ser digna do verbo acreditar.

Eu quero ter mãos estendidas, abertas, acolhedoras,
e quero os passos em compasso com alguma dose de loucura, de ousadia,
e quero rebolar mais, saracotear mais por aí,
quero extravasar mágoas, represar que nada!,
quero navegar, sobrevoar, semear, alegrar,quero suar, gozar e me esbaldar
na fonte da juventude onde se bebe a água das levezas, das doçuras, e das tristezas
que eu quero saber embalar.
Quero aprender a reconsiderar.

Reaprender a chorar sem amarelar,
quero não ter vergonha de ruborizar,
e quero voltar a colecionar bugigangas, fazer poesia,
aprender a fazer coisas novas para me reinaugurar.

Eu quero melhorar, tipo não desistindo, insistindo, persistindo, e até voilá!

pense antes de dar um flagra


Enquanto ele me contava sua história, eu ia lembrando outras histórias semelhantes, em especial a de uma amiga que teve os e-mails devassados pelo marido. O que foi descoberto? Apenas que ela conversava com um ex-namorado. Claro que havia no ar um clima amistoso de quem já dividiu lençóis e lembranças, mas não estava acontecendo nada. Eram provocações, insinuações, enfim, as inofensivas seduções das quais adultos se valem quando querem se divertir – redes sociais são parques de diversões. Alguns não sabem a hora de saltar do brinquedo e se atrapalham, porém outros conseguem manter a suavidade da troca erótica sem provocar fissuras em seu status oficial.

Até que alguém desconfiado e ciumento crônico invade o que era para ser privado. Eu continuava escutando meu amigo contar sua história. Ele tinha feito a maior burrada da vida: entrado no Facebook da namorada. Ela era seu grande amor, mas ele não havia gostado do jeito maroto com que ela havia cumprimentado um sujeito num bar e foi corroído por uma imaginação mortal. Em um dia que ela foi viajar, ele aproveitou para rastrear suas conversas inbox. Não encontrou nada que a condenasse, a não ser o conhecido tom jocoso que muitas vezes usamos em bate-papos particulares. Quando ela retornou de viagem, olhou para ele calmamente e disse adeus. Nem deixou que ele explicasse. Já estava sabendo que ele havia vasculhado sua correspondência.

Meu amigo estava desnorteado. Perguntava: você acha que eu ainda tenho chance com ela? Pouca. Não apenas porque ele havia sido invasivo, mas também porque a invasão dele fez a namorada sentir-se envergonhada da própria frivolidade e das emoções incoerentes que regem a ela e a todos nós, mesmo quando já somos maduros. O namorado a enxergou despida de um jeito que ninguém poderia.
Não foi o flagra de uma traição, que afinal não havia, e sim o flagra da carência existencial que poucos superam, e de uma vaidade também sem controle. Podem não ser qualidades honrosas, mas são absolutamente humanas.

Se alguém está se sentindo inseguro com seu par, que pergunte diretamente a ele sobre o que está acontecendo e conforme-se com a resposta. Se não se conformar, separe-se, pois ninguém merece viver torturado pela dúvida. Separar é uma saída mais digna do que bisbilhotar: encontrando ou não as pistas que busca, o fim do relacionamento será iminente, pois um limite foi transposto. Tentar trazer à tona, na marra, os segredos e fantasias do outro, é violar um espaço que pode não ser belo, mas é sagrado.

Meu amigo aprendeu a lição, mas terá que testar esse aprendizado com seu amor futuro.



“Vocês me procurarão e me acharão quando me procurarem de todo o coração.”

(Jeremias, 29:13)

domingo, 18 de dezembro de 2016



Eu sou o tempo. 
Você acha que eu passo rápido. 
Que eu não volto. 
Que eu não perdoo. 
É verdade. 
Mas agora eu estou aqui para a gente conversar com calma. 
Você sempre pediu mais tempo e isso eu nunca pude dar. 
Então, a humanidade criou este incrível mundo digital e você virou senhor de cada minuto. 
Mas pelo que eu vejo, o ano já está acabando e todos continuam correndo contra o relógio. 
Por isso, eu gostaria de te dar um conselho. 
Pense menos em mim e mais em você. 
É perdendo tempo que se ganha a vida. 
Neste ano, quanto tempo você passou com a sua família? 
Dando beijos? 
Jogando conversa fora com os amigos? 
O segredo do tempo não está nas horas que passam. 
Está nos momentos que ficam. 
Porque são eles que vão contar a sua história. 
Eu sei disso. 
Eu sou o tempo. 


#Itaú quer que você repense sobre o tempo gasto na sua vida, em comercial para o fim do ano. 

o começo e o fim


Quando algo começa? E quando acaba?

Imagine uma relação amorosa. Em que exato momento ela passa a ser construída, qual foi o gesto feito por uma das partes que desencadeou tudo? Longevidade é patrimônio, por isso sentimos necessidade de estabelecer um marco zero a fim de fazer a contagem de sua duração. Namoros costumam ser contabilizados a partir do primeiro beijo, mas, nesta era tecnológica, vá saber. Pode a história ter desabrochado via redes sociais muito antes dos olhares terem se cruzado – há quem se apaixone meses antes de qualquer contato físico. O começo, qualquer começo, é um instante mágico que escapa do rigor dos calendários, ele não se deixa aprisionar por uma data, muito menos por um horário. É um efeito dessincronizado com as demarcações do tempo, foge de qualquer apreensão exata.

E o fim? Queremos que siga a mesma bula: dia, hora, lugar. Uma compulsão boba de registrar a passagem de alguém na lápide do nosso cemitério emocional. Quando acabou? Foi quando um dos dois fez a mala e partiu? Ninguém considera que o fim poderá vir a acontecer só alguns anos depois da separação, pois a separação de corpos é apenas a materialização física do afastamento, não a dissolução de um amor. E tampouco se considera que o fim possa ter iniciado ainda no durante, bem antes do adeus definitivo. O fim é mais difícil ainda de ser demarcado, pois vem revestido de vivências e lembranças que podem jamais sumirem – aliás, tomara que nunca sumam, ou que validação teria esse relacionamento?

O fim nunca se encerra. O começo nunca inicia.

A exemplo de um palíndromo (palavras que têm a mesma leitura se lidas de trás pra frente), o destino desafia a temporalidade com que nos acostumamos a organizar a cronologia existencial. Por mais que rejeitemos a ideia, em tudo há começo e fim misturados, um faz parte do processo do outro, como a tristeza e a felicidade – a dor é saudade de uma alegria anterior, e a alegria é a superação de uma dor anterior.

Poderia dizer que essa reflexão surgiu de simples observação das nossas reações, mas eu seria injusta se não desse outro crédito. Ela foi provocada pelo filme A Chegada, ficção científica que usa uma invasão alienígena como deflagradora da análise entre o que é, o que foi e o que será – em como tudo está interligado de uma maneira que não dominamos.

Não é uma recomendação entusiasmada do filme, até porque não sou fã de ficções científicas, mas sendo fã do humanismo que nos rege, não poderia deixar de mencioná-lo. Talvez a gente precise mesmo de extraterrestres para nos situar sobre a nossa precariedade e nos ajudar a aceitar que, para os mistérios da vida, só nos resta a rendição.



“Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer...”

Isaías 53:3

terça-feira, 13 de dezembro de 2016


Eu nunca tive medo de morrer. Talvez seja pelo fato de que pouco contato tive com a morte enquanto crescia ou simplesmente por pensar quase nunca sobre isso.

Hoje, 27 anos, com um câncer na conta, ainda acho que não tenho. Tenho plena consciência de que há chances concretas de que isso aconteça mais cedo do que eu planejava.

A reação da maioria das pessoas quando eu falo essa frase é algo do tipo: "vira essa boca pra lá!" ou "não fala uma besteira dessas!"
Porque? Considero essa consciência uma dádiva. 
Sim, pode ser que nada aconteça e que eu viva até os 100 anos. Mas pode ser que não. Estou um pouquinho mais perto dessa possibilidade do que a maioria dos meus amigos dada às circunstâncias.

Mas tudo bem. Esse texto não é pra falar de morte, mas para nos lembrar que a iminência da morte nos traz vida.
A consciência da nossa fragilidade nos dá fôlego. A mim, vontades. Desejos. Coragem. Ambição.

Deixo vocês com a frase de uma querida amiga, que resume bem uma conversa que acabamos de ter sobre as mazelas dessa vida de quem vive o câncer: não tenho medo de morrer, apenas de que isso aconteça antes de eu viver tudo que eu quero viver.

Pois bem, comecemos já!


loucura por amor


Passar a vida inteira sem uma loucura por amor é o equivalente a não viver. Em algum momento, precisa dispensar as suas reservas e os seus pudores e mergulhar na coragem que é se entregar, mesmo que não tenha a devolução de sua história, mesmo que seja necessário recomeçar do zero, sozinho e endividado.

Ganha tudo quem se arrisca a perder tudo.

Loucura por amor é atravessar o mundo por alguém, é mudar de uma cidade por alguém, é trocar de emprego por alguém, é se reinventar por alguém. O que sugere submissão é prova de personalidade, pois não existe o medo de deixar de ser diante das novas experiências.

O que adianta viver sem nunca quebrar a régua, sem nunca dar um passo em falso? O passo em falso é a única chance que temos de voar.

As oportunidades desperdiçadas não voltarão a se repetir. A ocasião faz o herói.

Saber o que é necessário e não ousar é desmerecer a altura da felicidade, é apequenar a felicidade.

Amor é fundura. Não há maior desatino do que nadar no raso.

Como descobrir o tamanho de um sentimento sem testar os seus limites? É como morar em uma casa e conhecê-la pela metade, é como manter vários quartos fechados ao longo do corredor e não ter nem a curiosidade de povoar inteiramente o desejo.

A loucura no amor é que garantirá a serenidade na velhice, a tranquilidade na velhice, a certeza de que não restou covardia para se lamentar, a confiança de que não houve nada a ser feito e de que as palavras não se distanciaram dos gestos.

Cansa prever sempre o que vai acontecer e ainda acertar, distanciado do nervosismo da surpresa e do arrebatamento da aposta. A profecia confirma a previsibilidade das nossas ações.

Só a loucura por amor traz a paz da consciência. É quando não nos arrependemos daquilo que não realizamos, quando a culpa não supera a memória.

Tentou-se o que podia, ofereceu-se o que se tinha em nome de uma verdade. Não se foi mesquinho com a própria biografia. A realidade não ficou reduzida à preguiça das mentiras.

É triste nascer gritando para depois se contentar com o silêncio.