"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quarta-feira, 31 de dezembro de 2014



Ano-Novo é uma convenção. Os dias correm em sequência. De 31 de dezembro para 1º de janeiro ocorrerá apenas mais uma sucessão de 24 horas em que nada mudará, tudo seguirá do mesmo jeito. Pois é, sei disso, mas é um ponto de vista sem nenhuma alegria. Sou das que compram o pacote de Ano-Novo com tudo que ele traz em seu imaginário: balanço de vida, reafirmação de votos, desejos manifestos e esperança de uma etapa promissora pela frente.

Faço lista de projetos e tudo mais. Só que, quando chega o fim do ano e avalio o que consegui cumprir, descubro que o inesperado superou de longe o esperado. As melhores coisas do ano sempre foram aquelas que eu não previ. Então tomei uma decisão: nessa virada, não vou planejar coisa alguma e aguardar as resoluções que 2015 tomará para mim, à minha revelia.

Mas poderia dar algumas sugestões?
2015, anote aí: que as coisas mudem, mas não alterem meu estado de espírito. Não deixe que eu me torne uma pessoa ranzinza, mal-humorada, desconfiada, sem tolerância para as diferenças. Aconteça o que acontecer, que eu me mantenha aberta, leve e consciente de que tudo é provisório.
Não quero mais. Quero menos. Menos preocupações, menos culpa, menos racionalismo. Pode cortar os extras. Mantenha apenas o estritamente necessário para me manter atenta.
Está anotando?

Espero que você esteja com ótimos planos para sua amiga aqui. 
(...)
Que lugares conhecerei que ainda não conheço? Que pessoas entrarão na minha vida que, quando cruzo com elas na rua, ainda não as identifico? Que boas notícias ouvirei das minhas filhas? Quantos shows terei o prazer de assistir? Estou curiosa para saber o que você está aprontando para incrementar os meses que virão.

Prometo que estarei preparada para receber o abraço afetuoso de quem antes me esnobava, para a frustração por tudo o que for cancelado, para voltar atrás nas minhas teimosias, para me dedicar a algo que nunca fiz antes.

Estarei disposta a tirar de letra os espíritos de porco e assumir a responsabilidade pelas asneiras que eu mesma cometer. E estarei pronta também para uma grande surpresa, ou até duas. Três, meu coração não aguenta.

Se a dor me alcançar, que me encontre com energia e sabedoria para enfrentá-la. Que eu não me torne dura diante dos horrores, nem sentimentaloide diante das emoções. 

2015, os acontecimentos são da sua alçada. Da minha, cabe recepcioná-los com categoria.
Quais são seus planos para mim, afinal? Talvez nem todos sejam do meu agrado, portanto, que eu não tenha constrangimento em dizer “não, obrigada”, caso seja preciso. Mas que eu me sinta mais predisposta para o sim.

Se estamos de acordo, pode vir.


Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. 
Isaías 43:2

domingo, 28 de dezembro de 2014

resoluções de ano novo


De hoje em diante muita coisa vai mudar, a começar pela resolução de ano novo. Minha resolução de ano novo é inovar e não fazer resolução alguma. Deixa o acaso me conduzir. Fecho os olhos e apenas... deixo.

2014 foi um ano de decisões e teve um saldo positivo para mim, mas eu nunca me contentei com o positivo, por melhor e mais saboroso que seja, vivo querendo mais. E pensando demais.

Em 2015 quero deixar rolar. Fazer as pazes com a minha imaginação, ela sempre está contra mim. É minha inimiga número um (e poderosa!). Dá voltas, trapaceia, me puxa os cabelos, enche a minha canela de pontapés. Existe rival maior do que um pensamento que dá a volta ao mundo? Há arma mais desgastante do que uma imaginação que não dá trégua

Não quero mais cansaço mental e psicológico, tenho que acertar as contas com a minha forma de viver e de me portar perante a vida e aos acontecimentos diários.

Ser mais leve para me sentir mais livre, sempre prezei pela liberdade. E pela satisfação.

Se eu for colocar o ano na balança certamente tive mais alegrias e vitórias do que tristezas. Descobri, mais uma vez, que meu poder de superação vai além do que visualizo. Vi que existe muito do outro lado do muro. Mas senti um vazio enorme e incapaz de ser preenchido.

No ano que se aproxima quero ser cheia, transbordar. Sem fazer planos. Sem inventar estatísticas. Sem confabular com os botões. Sem tentar entender e captar as entrelinhas. Sem ter metas. Sem colocar empecilhos para as minhas faces. Sem me boicotar. Sem me culpar. Sem querer explicações para tudo (tu-do!). Sem buscar respostas para as minhas dúvidas. Sem bolar teses malucas.

Simplesmente relaxar. E aprender a me conhecer, afinal, não sou fácil. É impossível me resumir.

PS. Um ano sem resoluções, sem sapato apertado, sem conjuntivite, sem cegueira noturna, sem catarata, sem glaucoma. Um ano com liberdade, com pés descalços, com olhos abertos e sem reticências. Que todos aprendam a ver, a se perceber, a enxergar o que está aqui ou além. De vocês mesmos. E dos outros. Feliz 2015!!!

PS2. Não posso encerrar sem agradecer. Obrigada 2014: pelos amigos que fiz em lugares pouco prováveis, pelo carinho que recebi de vocês e por ter conhecido você.

Tim-tim! 


“... se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim... do seu interior fluirão rios de água viva”

João 7:37,38

sábado, 27 de dezembro de 2014

das resoluções




Confesso: não tenho saco para lenga-lenga. Natal já passou. Agora é contagem regressiva para chegar o dia 31. Nunca tive paciência. É para acabar? Termina logo! Não enrola, não fica contando os dias, nem os minutos. É para ser? Então tá beleza. Que seja.
Esperar não é para mim. Regras não são para mim. Eu invento palavras que não existem, faço o meu próprio dicionário. Crio definições que só eu uso e, ainda por cima, me mato de rir. O certinho e branco e preto me cansam. Gosto da ação. Salas de espera me angustiam, fico lá sentada balançando o pé.

A solidão não me assusta, a espera sim. A tristeza não me abala, a espera sim. Os contratempos não me tiram do sério, a espera sim. Rivalidades não me coçam a sola dos pés, a espera sim.
Esperar para mim é quase igual a sei lá o que. Nem sei definir. Agora me faltam palavras. As frases saem correndo, nem elas gostam de esperar.

Não gosto de dar um tempo. Gosto ou desgosto. Amo ou desamo. Dou ou não dou. Tempo não se dá. Tempo é enrolação, é empurrar com a barriga, é faltar com a verdade, é esconder a coragem embaixo do colchão. Nunca dei tempo, pois não gosto da espera. Tenho pressa.
Dois mil e quatorze: tchau, foi bom te conhecer. Melhor ainda será abanar para você, desejar boa viagem e abrir uma garrafa de champagne para dar um bem-vindo ao Dois mil e quinze.

PS. Feliz ano novo! Feliz vida nova! Feliz todos os dias diferentes! Feliz não ter que esperar por nada! Feliz novo ano, feliz novo você!


“... e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”
 

Isaías 9:6

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014



Geralmente é o que se deseja intimamente: paz para o mundo, paz para todos, paz para os torcedores, paz para os moribundos, paz para os iraquianos. É um desejo legítimo, mas qual a nossa contribuição prática para ajudar a construir uma serenidade universal? O máximo que podemos fazer é garantir nossa própria paz. Portanto, esses são os meus votos: deixe-se em paz.

Parece uma frase grosseira, mas é apenas um desejo sincero e generoso. Deixe-se em paz. Não se cobre por não ter realizado tudo o que pretendia, não se culpe por ter falhado em alguns momentos, não se torture por ter sido contraditório, não se puna por não ter sido perfeito. Você fez o melhor que podia.

Aproveite para estabelecer metas mais prosaicas para o futuro que virá, ou até meta nenhuma. Que mania a gente tem de fazer listinha de resoluções, prometer mundos e fundos como se uma simples virada de ano bastasse para nos transformar numa pessoa mais completa e competente. Você será o que sempre foi – e isso já é muito bom, pois presumo que você não seja nenhum contraventor, apenas não consegue dar conta de todos os seus bons propósitos, quem consegue? Às vezes não dá. Vá no seu ritmo, siga sendo quem é, não espere entrar numa cabine e sair de lá vestido de super-homem ou de supermulher. Deixe de fantasias. Deixe-se em paz.

Se quer tomar alguma resolução, resolva ajudar os outros, fazer o bem, dedicar-se à coletividade, seja mais solidário. Não deixe os menos favorecidos na paz do abandono, na paz do esquecimento. Mas esquecer um pouco de você mesmo, pode. Deve. Não se enquadre em comportamentos que não lhe caracterizam, não se enjaule por causa de decisões das quais já se arrependeu, não se arrebente por causa de questionamentos incessantes. Liberte-se desses pensamentos todos, dessa busca sofrida por adequação e ao mesmo tempo por liberdade. Nossa, ser uma pessoa adequada e livre ao mesmo tempo é uma senhora ambição. Demanda a energia de uma usina. Será mesmo tão necessário pensar nisso agora? Deixe-se em paz.

Não dê tanta importância à melhor roupa para vestir, à melhor frase para o primeiro encontro, às calorias que deve queimar, à melhor resposta para quem lhe ofendeu, às perguntas que precisa fazer para se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Deixe-se em paz.

No fundo, estou escrevendo pra mim mesma. Não me deixo em paz. Estou sempre avaliando se agi certo ou errado, cultivo minhas dúvidas com adubo e custo a me perdoar. Tenho passe livre para o céu e também para o inferno. Preciso me deixar em paz, me largar de mão, me alforriar.

Só falta alguém ensinar como é que se faz isso.


Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim 

João 14:6

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014


atalhos


Quanto tempo a gente perde na vida? 

Se somarmos todos os minutos jogados fora, perdemos anos inteiros. 
Depois de nascer, a gente demora pra falar, demora pra caminhar, aí mais tarde demora pra entender certas coisas, demora pra dar o braço a torcer. Viramos adolescentes teimosos e dramáticos. 
Levamos um século para aceitar o fim de uma relação, e outro século para abrir a guarda para um novo amor, e já adultos demoramos para dizer a alguém o que sentimos, demoramos para perdoar um amigo, demoramos para tomar uma decisão. 
Até que um dia a gente faz aniversário. 37 anos. Ou 41. Talvez 48. Uma idade qualquer que esteja no meio do trajeto. E a gente descobre que o tempo não pode continuar sendo desperdiçado. 
Fazendo uma analogia com o futebol, é como se a gente estivesse com o jogo empatado no segundo tempo e ainda se desse ao luxo de atrasar a bola pro goleiro ou fazer tabelas desnecessárias. Que esbanjamento. Não falta muito pro jogo acabar. É preciso encontrar logo o caminho do gol.

Sem muita frescura, sem muito desgaste, sem muito discurso. Tudo o que a gente quer, depois de uma certa idade, é ir direto ao assunto. Excetuando-se no sexo, onde a rapidez não é louvada, pra todo o resto é melhor atalhar. E isso a gente só alcança com alguma vivência e maturidade.

Pessoas experientes já não cozinham em fogo brando, não esperam sentados, não ficam dando voltas e voltas, não necessitam percorrer todos os estágios. Queimam etapas. Não desperdiçam mais nada.

Uma pessoa é sempre bruta com você? Não é obrigatório conviver com ela.
O cara está enrolando muito? Beije-o primeiro.
A resposta do emprego ainda não veio? Procure outro enquanto espera.

Paciência só para o que importa de verdade. Paciência para ver a tarde cair. Paciência para sorver um cálice de vinho. Paciência para a música e para os livros. Paciência para escutar um amigo. Paciência para aquilo que vale nossa dedicação.
Pra enrolação... atalho. 


e ela deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o em panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.

Lucas 2:7

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

um feliz e divertido natal para nós


natal em famílias

O Zé tem 61 anos e casou recentemente pela terceira vez. Possui duas ex-mulheres, e um filho com cada. Já tem inclusive uma netinha de dois anos por quem é alucinado.

Além disso, o Zé tem mãe viva. E um pai também, que se divorciou da mãe dele há muitos anos e casou de novo. E o Zé tem dois irmãos.

O Zé é afetivo e curte a família, que é grande. Inclui as ex-mulheres, os novos maridos delas, os filhos, as noras, a neta, a mãe, os irmãos, as cunhadas, os sobrinhos, o pai, a esposa do pai. Cada um no seu endereço. Então vai chegando o Natal e o Zé fica tenso, sem saber como dar conta de abraçar todo mundo.

A nova mulher do Zé tem família também: mãe, irmãos, primos, aquela coisa toda. Ela quer passar o Natal com eles, e quer que o Zé fique em casa.

A mãe do Zé não abre mão de juntar os três filhos. O Zé não vai fazer essa desfeita, vai?

O pai do Zé é pacífico, mas a mulher dele se sente rejeitada por qualquer ausência, e se o Zé não aparecer, será responsabilizado por mais um chilique da madrasta.

A primeira ex-mulher monopoliza a netinha. O Zé não pode ficar sem ver aquela menina adorável, a única criança da família, e Natal sem criança, você sabe. O Zé sabe.

A segunda ex-mulher passa o Natal com o outro filho do Zé e mais todo o grupo de amigos que eles tinham quando casados e de quem o Zé sente falta, já que os amigos ficaram na partilha dela.

Então esse é o Zé em trânsito no dia 24 de dezembro. Ele passa primeiro na casa da mãe. Chega tão cedo que não encontra um dos irmãos. Fica o Zé, a mãe e o outro irmão tomando uma cerveja e beliscando umas amêndoas meio velhas.

Aí o Zé se despede e vai ver a netinha. Não resiste quando pedem para ele se vestir de Papai Noel. Faz a encenação, morre de calor com a barba postiça, toma uma cerveja gelada, afana uma fatia do peru e corre pra a própria casa, onde a mulher está furiosa, isso são horas de chegar? Ele faz uma social com a família dela, aí bebe vinho e ele participa da ceia já meio enjoado, não deveria ter misturado cerveja e vinho. Pede licença, tem que sair para dar um beijo no outro filho. “Vá num pé e volte no outro”, ela ordena. Gaúchas são bravas.

No meio do caminho, dá uma paradinha na casa do pai, marca presença com a madrasta, ouve três músicas natalinas, toma mais uma cerveja e segue seu périplo.

Então chega na festa da segunda ex, que está bombando. Assim que atravessa a porta alguém coloca uma taça de espumante em suas mãos. Localiza o filho, dá um abraço nele, depois outro abraço no amigo Tomás, um abração no Ricardo que não vê faz tempo, e também no Goes, que está enlaçado numa loira que ele nunca viu. Quem é? Separei, Zé, essa é minha namorada. Zé dá dois tapinhas nas costas do Goes a título de condolências.

Volta pra casa, a mulher que estava dormindo no sofá acorda e ordena que ele leve a família dela em casa. Eles ainda estão aqui? Estão, Zé. Dormindo no nosso quarto.

O Zé chega a cogitar um novo divórcio, mas o que lhe resta de sobriedade avisa: melhor não. Aí virá outra mulher, outros parentes, como encaixar?

E suspira lembrando de quando era criança, quando reuniam-se todos embaixo da mesma chaminé.



“Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai”

Lucas 1:32

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

deixe-se em paz!


Geralmente é o que se deseja intimamente: paz para o mundo, paz para todos, paz para os torcedores, paz para os moribundos, paz para os iraquianos. É um desejo legítimo, mas qual a nossa contribuição prática para ajudar a construir uma serenidade universal? O máximo que podemos fazer é garantir nossa própria paz.
Portanto, esses são os meus votos: deixe-se em paz.

Parece uma frase grosseira, mas é apenas um desejo sincero e generoso. Deixe-se em paz. Não se cobre por não ter realizado tudo o que pretendia, não se culpe por ter falhado em alguns momentos, não se torture por ter sido contraditório, não se puna por não ter sido perfeito. Você fez o melhor que podia.

Aproveite para estabelecer metas mais prosaicas para o futuro que virá, ou até meta nenhuma. Que mania a gente tem de fazer listinha de resoluções, prometer mundos e fundos como se uma simples virada de ano bastasse para nos transformar numa pessoa mais completa e competente. Você será o que sempre foi — e isso já é muito bom, pois presumo que você não seja nenhum contraventor, apenas não consegue dar conta de todos os seus bons propósitos, quem consegue? Às vezes não dá. Vá no seu ritmo, siga sendo quem é, não espere entrar numa cabine e sair de lá vestido de superhomem ou de super-mulher. Deixe de fantasias.
Deixe-se em paz.

Se quer tomar alguma resolução, resolva ajudar os outros, fazer o bem, dedicar-se à coletividade, seja mais solidário. Não deixe os menos favorecidos na paz do abandono, na paz do esquecimento. Mas esquecer um pouco de você mesmo, pode. Deve. Não se enquadre em comportamentos que não lhe caracterizam, não se enjaule por causa de decisões das quais já se arrependeu, não se arrebente por causa de questionamentos incessantes.

Liberte-se desses pensamentos todos, dessa busca sofrida por adequação e ao mesmo tempo por liberdade. Nossa, ser uma pessoa adequada e livre ao mesmo tempo é uma senhora ambição. Demanda a energia de uma usina. Será mesmo tão necessário pensar nisso agora? Deixe-se em paz.

Não dê tanta importância à melhor roupa para vestir, à melhor frase para o primeiro encontro, às calorias que deve queimar, à melhor resposta para quem lhe ofendeu, às perguntas que precisa fazer para se autoconhecer.

Chega de se autoconhecer. Deixe-se em paz.

No fundo, estou escrevendo para mim mesma.

Não me deixo em paz. Estou sempre avaliando se agi certo ou errado, cultivo minhas dúvidas com adubo e custo a me perdoar. Tenho passe livre para o céu e também para o inferno. Preciso me deixar em paz, me largar de mão, me alforriar.

Só falta alguém ensinar como é que se faz isso.


... e assim, foi criada a primeira amante.

Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. 
Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.

João 14:27

domingo, 21 de dezembro de 2014


Natal, a estória do menininho


Minhas netas: o Natal está chegando. Todo mundo fica agitado, é preciso comprar presentes no cartão de crédito, fazer dívidas a serem pagas no outro ano, preparar comilanças... Mas, afinal de contas, por que tanto agito? Eu acho que a maioria se agita sem saber porque. E, se soubessem, não se agitariam... Pois eu vou dizer o que penso do por que do Natal. O Natal é o dia em que se para tudo a fim de se contar e a fim de se ouvir uma estória, a mais bela e a mais simples jamais contada. Todo esse agito por causa de uma estória? É. 

Vocês, que gostam do Harry Potter, fiquem sabendo: a estória do Natal é uma estória do mundo dos mágicos, dos bruxos, das fadas, das varinhas de condão, dos encantamentos. As estórias têm poderes mágicos. Vocês já notaram que, quando a gente ouve uma estória que nos comove, ela entra dentro da gente, faz a gente rir, faz a gente chorar, faz a gente amar, faz a gente ficar com raiva? As estórias dos mundos dos mágicos saltam das páginas dos livros onde estão escritas, entram dentro da gente e se alojam no coração. 

Quando isso acontece a estória fica viva, toma conta do nosso corpo e da nossa alma, e nós passamos a ser parte dela. Pois a estória do Natal faz isso com a gente. Quando vai chegando o Natal eu fico com saudade das músicas antigas de Natal (tem de ser das antigas; as modernas não servem) e começo a folhear meus livros de arte, onde estão as pinturas do presépio. É muito simples: um menininho que nasceu em meio aos bois, vacas, ovelhas, cavalos, jumentos... Era menininho pobre. 

Mas diz a estória que quando ele nasceu aconteceu uma mágica com o mundo: tudo ficou diferente: as árvores se cobriram de vaga-lumes, as estrelas brilharam com um brilho mais forte, e até uns reis deixaram os seus palácios e foram ver o nenezinho. A visão do menininho os transformou: eles largaram suas coroas, jóias e mantos de veludo junto com os bichos, na estrebaria. Quem vê o menininho fica curado de perturbação. Perturbados são os adultos que, ao falar sobre Deus, imaginam um ser muito grande, muito poderoso, muito terrível, ameaçador, sempre a vigiar o que fazemos para castigar. 

Pois o Natal diz que isso é mentira. Porque Deus é uma criancinha. Ele está muito mais próximo de vocês do que dos adultos. E foi essa mesma criancinha que, depois de crescida, disse que para estar com Deus bastava voltar a ser criança. Se os adultos, antes de comprar presentes e preparar ceias, se lembrassem da estória, eles ficariam curados da sua doidice. 

Na noite do Natal que se aproxima, antes de abrir os presentes, antes de começar a comedoria, peça ao seu pai ou à sua mãe: “Por favor, conte a estória do menininho...” 
E, se eles não souberem contar, peça que eles leiam esse poema sobre o Menino Jesus escrito por um poeta que queria ser menino, por nome de Alberto Caeiro.

Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.

Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver.
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro.
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta.
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales.
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?


Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus
Lucas 1:31

sábado, 20 de dezembro de 2014


“Dentro de mim, existem dois lobos: um é mau, o outro é bom. 
Ambos disputam o poder sobre mim.
E quando me perguntam qual lobo é vencedor, respondo:
O que eu alimento”  

__Provérbio indígena
Liberte-se de tudo o que te prende, te angustia. Se jogue, curta o som, a sensação, a emoção. Viva!
Não há tempo a perder. Sinta a vida se manifestando em seu corpo. Devore-a! Agarre-a. Não a deixe escapar, não enquanto você puder. 
Cante, dance, pule, grite. Extravase! Faça valer a pena. Do seu jeito, a seu modo, deixe sua marca. Esqueça o mundo lá fora. Você tem uma vida que é só sua. E cabe a você escolher como desfrutar. 
Não esqueça! Você tem uma vida que é só sua. Mas essa vida, ela é única! Não desperdice. Arrisque.
Sem medo, sem receios. Encare. 
Erre. Mas não esqueça de aprender com os erros. 
Sofra. Mas jamais deixe que o sorriso e a alegria morram dentro de você. 
Sinta. Sinta tudo. Intenso. 
Vá guardando o que for bom, se libertando do que te faz mal, e viva! Como se tudo tivesse sido flores. E não viva apenas, viva apesar. Apesar de tudo. 
Seja lá o que o tudo possa representar. 
Seja a vida, com todas as suas cores, sabores e delícias. 
Viva!


Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor.

1 Coríntios 15:58

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014


feliz qualquer dia!


Saiba que lhe desejo um feliz aniversário em todos os dias da sua vida. Porque cada dia em que acordamos é um aniversário diferente, onde comemoramos ou choramos a vida. Na maioria das vezes, depende só de nós mesmos, a maneira como vamos encarar aquele dia que chega.

Bom carnaval, em qualquer dia ou época, porque qualquer dia é bom para dar risada, cantar, pular e fantasiar os sonhos.

Desejo também uma feliz páscoa todos os dias, porque o coração renasce a cada dia, principalmente se aproveitarmos cada oportunidade de crescer e aprender, como se fosse a única.

Feliz dia das mães todos os dias. Porque todos os dias parimos novas descobertas sobre nossos filhos. Porque, até agora, todos os dias, temos vivido a nos tornarmos suas mães de novo. Mas, algumas vezes, em que nossos corações estão com frio, somos um pouco suas filhas. Todos os dias eles são pequenos demais para algumas coisas. E adultos demais para outras. Que saibamos conviver com tudo isso. Todos os dias. Qualquer dia!

Feliz dia dos namorados, todos os dias. E que você descubra, no seu primeiro amor, a eternidade dos amores fugazes. Com a vantagem da ousadia, que só a juventude oferece. E, no seu amor maduro, a alegria das paixões adolescentes. Com a vantagem da sabedoria que só a maturidade oferece.

Feliz dia das crianças., porque sem criança em nós, não temos capacidade de sonhar com coisas sérias e com bobagens. E a vida, sendo uma coisa séria, precisa de bobagens porque senão, seria muito chata.

Um feliz natal todos os dias, onde você deixe que o Mestre nasça para provar que o AMOR existe. Porque existe. Até quando não conseguimos sentir, perceber ou enxergar.

Feliz ano novo. Claro, todos os dias. Porque cada dia é aniversário de um ano de algo que nos aconteceu, um ano atrás. Algo que talvez seja importante o bastante, que nos faça lembrar. Talvez não. Que diferença faz, se as coisas mais importantes só parecem tão importantes assim, porque acontecem entre um dia-a-dia e outro das rotinas de nossas vidas?

Saiba que lhe desejo um feliz qualquer dia. Porque qualquer dia também serve para ser feliz. Independentemente do número marcado no calendário, se faz frio ou calor, se é noite, madrugada, manhã ou tarde, se é um inútil dia útil ou um útil feriado.

E, finalmente, desejo que você rasgue todos os calendários que encontrar. E que pare de marcar dia e hora para ser feliz.

___Letícia Bergallo

Sentido da vida? 
O sentido da vida é simplesmente viver. Viver por viver! 
As crianças sabem disso. 
Viver por viver é saber que a vida é curta, que o momento está cheio de possibilidade de beleza e amor, que ele nunca mais se repetirá, e que a única coisa que podemos fazer é agarrá-lo e bebê-lo como se fosse o último.