"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

o verbo esperançar



Feliz 2019 e...
vamos todos "esperançar"


Um dos maiores educadores que o Brasil já teve foi o grande Paulo Freire e uma de suas indagações mais recorrentes era sobre o verbo “esperançar”. 
Segue uma pequena reflexão sobre esse verbo a partir de algumas palavras do filósofo brasileiro Mario Sergio Cortella.

“Como insistia o inesquecível Paulo Freire, não se pode confundir esperança do verbo esperançar com esperança do verbo esperar. Aliás, uma das coisas mais perniciosas que temos nesse momento é o apodrecimento da esperança; em várias situações as pessoas acham que não tem mais jeito, que não tem alternativa, que a vida é assim mesmo… 

Violência? O que posso fazer? Espero que termine… Desemprego? O que posso fazer? Espero que resolvam… Fome? O que posso fazer? Espero que impeçam… Corrupção? O que posso fazer? Espero que liquidem… 

Isso não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo. E, se há algo que Paulo Freire fez o tempo todo, foi incendiar a nossa urgência de esperanças”

Nós estamos inseridos em uma sociedade medíocre e cheia de pessoas fazendo “mais do mesmo”. Poucos são os que tem a coragem de bater de frente com esse sistema que nos entorpece e nos deixa inertes. Nós deixamos tudo para “os outros”, nos isentando da responsabilidade pelo todo. 
(...)

Esperar é deixar que os outros resolvam, que o problema se resolva por si só ou o pior de tudo, se anestesiar e deixar que a situação fique cada vez pior por falta de atitude. Já esperançar é agir, é fazer a sua parte, é ser responsável, é dar o melhor de si, é ser um agente transformador da sociedade, é ter um perfil de liderança e correr atrás da realização de muitos sonhos de futuro.

Eu procuro ser honesto e reconhecer as minhas falhas e faltas. Eu também em muitas ocasiões espero do verbo esperar em vez de esperançar, e sou assim principalmente quanto à política. Tenho que admitir que atualmente está complicado eu ter esperança, mas estou procurando desenvolvê-la, mesmo em meio a tantas falcatruas. O que os políticos mais querem é que a população se torne apática e ache que “as coisas não têm mais jeito”. O que os políticos amam são as pessoas Pôncio Pilatos. Você sabe quem são elas? São aquelas pessoas que lavam as mãos diante de uma situação que precisa-se de uma atitude concreta e decisiva. O Pôncio Pilatos, na crucificação de Jesus lavou as suas mãos de forma alegórica para tentar livrar a sua consciência que pesava toneladas por condenar o homem mais dócil e santo que pisou no planeta terra.

O verbo esperançar deve estar presente na vida de absolutamente todos os seres humanos, pois fazemos parte de uma sociedade onde todos têm a mesma responsabilidade, eu, você, os governantes, os líderes religiosos, todos, sem exceção. Tendo esta consciência podemos fazer acontecer a verdadeira mudança e tornar este mundo um lugar muito melhor…

Que tal começarmos agora?

Isaías Costa
#programada

novo Ano Novo


Primeiro, eu entendia que ano novo era mano novo, e ficava feliz com mais um bebê em casa, eu desde sempre louca por crianças e bebês. Até hoje, seguidamente, sonho que tenho um ou vários no colo. Depois, fui entendendo que não era mano, e sim ano, e também compreendi, vagamente, essa questão dos números com que demarcamos nossa vida - em geral, para nos atormentarmos um pouco mais.

O ano novo espia na esquina como um garoto arteiro, cheio de novidades malucas para nos surpreender.

O ano novo espreita nos espelhos como uma velha bruxa de longas unhas roxas para nos arranhar enquanto dá suas risadinhas sinistras.

O ano novo espera na porta da frente para a gente abrir, abraçar, aceitar e achar que vai ser feliz todos os trezentos e tantos dias - e algumas vezes, em muitos dias, e semanas, ou meses, a gente é feliz mesmo.

O ano novo é uma estrelinha que nos contempla lá do céu, como diziam, em tempos tão antigos: meu irmãozinho morto antes de eu nascer tinha virado estrelinha e cuidava de mim. (Me inquietava um pouco que também visse meus pecadinhos, que eram palavras feias, mentiras e botar a língua para os adultos pelas costas deles.)

O ano novo é uma esquisitice, mas vale porque, apesar de tudo, a gente celebra. Quase uma continuação do Natal, só que geralmente com mais festa, e dança, e espumante, promessas para os seres amados, e promessas para nós mesmos - mais cobrança do que promessa, aquela lista velha e chata como o mundo: fazer exercício, não beber, não comer, não ir demais às baladas, não fumar, não se matar com nenhuma droga, aliás, ser melhor filho, irmão, pai, mãe, colega, amigo, chefe, qualquer coisa dessas em que tantas vezes agimos como feitores de escravos ou carrascos.

E assim, dia a dia, o novo ano nos espera, e nós esperamos por ele.

Que Deus ou os deuses nos deem um aninho manso, colorido, bondosinho, gentil, não só para nós pobres humanos sempre tentando escapar dos males, mas para este mundo tão bagunçado, violento, chato, porque já nem as notícias de mortandades, desgraças, tufões, inundações, corrupções e bondades com os corruptos, e crueldades com os miseráveis pobres engaiolados como animais (não!, os direitos dos animais não permitiriam!), nos impressionam muito. Estamos calejados.

Enfim, que seja um aninho bem suportável para a maioria. Para alguns - os escolhidos -, que seja glorioso: a maioria do pessoal merece. Sobretudo os amados da minha família, os amigos, os leitores, e os homens justos que ainda sobrevivem nesta terra.

Um bom ano a todos nós.
#programada


“Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram.” 

Mateus 7:13-14
#programada

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018




“O Natal costuma ser sempre uma ruidosa festa; entretanto se faz necessário o silêncio, para que se consiga ouvir a voz do Amor. 

Natal é você, quando se dispõe, todos os dias, a renascer e deixar que Deus penetre em sua alma. 

O pinheiro de Natal é você, quando com sua força, resiste aos ventos e dificuldades da vida. 

Você é a decoração de Natal, quando suas virtudes são cores que enfeitam sua vida. 
Você é o sino de Natal, quando chama, congrega, reúne. 

A luz de Natal é você quando com uma vida de bondade, paciência, alegria e generosidade consegue ser luz a iluminar o caminho dos outros. 

Você é o anjo do Natal quando consegue entoar e cantar sua mensagem de paz, justiça e de amor. 

A estrela-guia do Natal é você, quando consegue levar alguém, ao encontro do Senhor.

Você será os Reis Magos quando conseguir dar, de presente, o melhor de si, indistintamente a todos. 

A música de Natal é você, quando consegue também sua harmonia interior. 

O presente de Natal é você, quando consegue comportar-se como verdadeiro amigo e irmão de qualquer ser humano. 

O cartão de Natal é você, quando a bondade está escrita no gesto de amor, de suas mãos.

Você será os “votos de Feliz Natal” quando perdoar, restabelecendo de novo, a paz, mesmo a custo de seu próprio sacrifício. 

A ceia de Natal é você, quando sacia de pão e esperança, qualquer carente ao seu lado. 

Você é a noite de Natal quando consciente, humilde, longe de ruídos e de grandes celebrações, em silêncio recebe o Salvador do Mundo. 

Um Feliz Natal a todos que procuram assemelhar-se com esse Natal”. 

__Papa Francisco


da manjedoura até a cruz


Todas as situações ruins que Jesus passou nesse mundo, desde o seu nascimento até a ressurreição, teve um propósito. Tentaram parar o seu nascimento, tentaram impedi-lo de continuar as suas obras, tentaram o matar. As autoridades se achavam poderosas suficientes para impedi-lo de cumprir o seu propósito, inclusive um de seus discípulos se achou muito inteligente a ponto de entregá-lo aos rebeldes.

Da manjedoura até a cruz, foi tudo por um propósito. E quando Ele tem um propósito todas as situações e pessoas mesmo que ruins, cooperam para o cumprimento.
O de Deus foi enviar o seu único filho para nascer, viver, morrer e ressuscitar nesse mundo por mim e por você. 
Nenhum poder, autoridade e situação pôde impedir que esse propósito de Deus se cumprisse, e ele se cumpriu: Jesus veio como único filho, mas ressuscitou como primogênito entre muitos. 
Por causa do propósito foi nos dado o poder de sermos filhos de Deus!

 “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

pronto para a festa


Declarada aberta a temporada das confraternizações. Preparem a agenda, bolso, o fígado e principalmente o coração que a festa vai começar.

É hora de confraternizar. Exercer a fraternidade com outras pessoas; mais especificamente, com pessoas que convivemos e que nos “aguentaram” ao longo do ano. A turma do trabalho, do colégio, da academia, da igreja, do futebol ou de qualquer outro grupo que se encontrou ao longo ano. Dezembro é pequeno para todos os grupos se encontrarem e a noite pequena para relembrar todas as boas e engraçadas histórias vividas durante o ano.

É hora de deixar a rede social e partir para o abraço verdadeiro. É hora de encontrar aqueles que quase nunca aparecem. É hora das verdades, dos casos e das novas risadas que serão o assunto de amanhã. É hora de trocar alguns minutos de presença.

Antes de sair para a festa, lembre-se de deixar em casa seus pesos, seus ranços com as pessoas e seu mau humor. Resolva-se primeiro. Não seja você  a energia negativa da festa. 
É hora de se divertir. Então, simplesmente divirta-se! E para se divertir de verdade, você só precisa estar leve, desprovido de seus preconceitos e suas iras. Não se diverte com o coração carregado. É impossível! O abraço não aquece e o sorriso não convence.

Vale desamarrar a cara, vale vestir o seu melhor sorriso e maquiar-se de alegria. A alegria é o melhor subterfúgio para de sair bem na foto.  Afinal, não tem photoshop que resolva uma cara amarrada.

Vale sair da dieta, vale entrar no cheque especial e vale desmarcar compromissos para ver feliz pessoas que nos são preciosas.
Também vale pedir perdão, fazer as pazes, dizer que ama e quem sabe presentear com um demorado e verdadeiro abraço.

Na temporada das confraternizações vale quase tudo. Vale o beijo que passou o ano na vontade, vale dançar “boquinha da garrafa”, vale serenatas, surpresas, músicas e alegria.
Nesta temporada, revelam-se excelentes cantores, dançarinos, humoristas, apresentadores, imitadores e demais talentos ocultos que nunca tiveram oportunidade nos dias comuns.

Só não vale lavar a roupa suja no meio da confraternização. Muito menos resolver os rancores só seus bem na hora da festa.
Sendo assim, esqueça seus desafetos, deixe em casa suas tão sofridas mágoas e vá confraternizar. Nada como encerrar o ano envolto de boas energias. Te espero lá!




“Não é bom agir sem refletir; e o que se apressa com seus pés erra o caminho.” 

Provérbios 19:2

terça-feira, 18 de dezembro de 2018


“então é Natal, e o que você fez?”


Imagine uma poltrona feita especialmente para você. Ela é tão confortável que você poderia passar horas ali, só curtindo o aconchego. Essa poltrona está no meio de uma sala nem muito grande nem muito miúda, mas do tamanho ideal para que o ambiente consiga te abraçar. Você se sente bem, porque daqui a pouco um encontro maravilhoso deve acontecer.

Ali, na sua frente, existe uma tela, que, lentamente vai sendo ligada, revelando nada mais nada menos do que… uma outra você. Só que essa outra é uma versão de meses atrás, bem no mês de janeiro, fazendo planos para o ano que você quis que fosse o melhor até então. Um letreiro começa a surgir na tela, você presta atenção naquela frase ganhando forma, e o que parece ser o título de filme vem à tona: “Então é Natal, e o que você fez?”

A linguagem do filme é um tanto estranha. As cenas correm, se misturam umas na outras. Mas aquela bagunça de imagens faz sentido e você entende que o filme não é sobre uma vida perfeita, até porque nem sempre esteve impecável no papel de protagonista. Mas o filme é sobre todas as faces da beleza que envolvem  a vida — muito bem representadas pelos cortes bruscos que davam o tom exato.

Então você se assiste vendo TV com sua família, depois se vê caminhando na rua; de repente olha para o nada antes de dormir. Agora, conversa com seu amor, essa cena se repete várias vezes — do trabalho, você fala por mensagem, desabafando; você está na cozinha, pensa alto, sorri; e em seguida há uma passagem de tempo na qual você se encontra na mesma posição, dessa vez com a feição um pouco abatida. O cenário muda, é hora de acordar. Dentro do carro você pensa na vida; na volta, pensa mais ainda. No fim do filme, você está na ceia de Natal, apreciando a massa que você mais gosta, porque é simples de preparar. Tente vislumbrar o visual da personagem: não é o mesmo da cena inicial, ela não está radiante, embora não tenha sinal de tristeza na sua expressão. A sensação que paira na sala é que a jornada dela foi cumprida, acontecendo dia após dia, devagarzinho.

Bem como foi acesa, a tela agora vai escurecendo e você continua encarando o espaço em que, instantes atrás, era reproduzido o filme do seu último ano. O fim não era bem um fim. Algum expectador poderia ter achado sem sal aquela final aberto a interpretações, mas você sabe que aquele desfecho era justo e coerente. O último bloco da história justificava o primeiro. Deu tudo certo!, você pensou. Envolvida pela delícia daquele sofá, se deliciando em silêncio, você enxerga as coisas com mais clareza, com uma visão ampla a respeito de tudo que esse ano levou e trouxe até você.

Primeiro você lamenta pela história inteira. Depois, se desculpa por não ter pegado leve consigo mesma — afinal, os resultados não dependiam só da mocinha. Em seguida, você se sente grata por tantas experiências que agora fazem parte de você. Por fim, você entende que amou o filme. E que no próximo ano, a continuação dele deve ser ainda mais emocionante. Porque, parando para pensar, em 2018 você fez muita coisa.



“Feliz a nação cujo Deus é o SENHOR, e o povo que ele escolheu para sua herança.”

Salmos 33:12

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018



Tinha tanto medo de solidão
que nem espantava as moscas

Mia Couto



Ela poderia ter passado o resto da vida exatamente ali, esparramada na autopiedade. Lustrando as lembranças difíceis com zelo de quem guarda relíquias. Fazendo contas para medir o amor que ofereceu e o amor recebido. Atualizando todo dia a estatística das perdas e insucessos vividos. Esmiuçando, incansável, a história de cada traição sofrida. Envenenando-se com a substância tóxica da culpa. Morrendo de fome, com recursos para banquete, o medo desmatando lentamente territórios arborizados da alma, secando rios de delícias, amordaçando passarinhos, desmentindo flores.

Ela poderia ter passado o resto da vida exatamente ali, esparramada na autopiedade. Onde não corria vento, onde não batia sol, onde toda muda de alegria morria desidratada, onde só brotava pé de mágoa. Poderia, não porque ali fosse lugar aprazível, mas porque ali lhe parecia seguro. As insatisfações organizadamente acomodadas, os culpados escolhidos, as desculpas em dia, a escuta blindada para não ver o quanto o cansaço de toda aquela insipidez embotava o viço dos passos. Desmanchava estrelas. Esgarçava devagarinho o frágil tecido da paz. Ali, era mais fácil não arriscar movimento. Ali, era mais fácil esquecer que podia fazer escolhas. Ali, era mais fácil esquecer-se.

Mas a alma, sábia e habilidosa bordadeira de pretextos, quando encontrou brecha, arrumou um jeito de alumiar aquele lugar. Foi então que ela conseguiu enxergar exatamente onde estava com nitidez reveladora e também desconcertante. Fazia tempo, desconhecia o paradeiro do brilho dos seus olhos sem ter feito nenhum movimento para trazê-lo de volta. Estava profundamente infeliz e agiu durante temporadas como se isso não lhe dissesse respeito. Não fazia ideia da vez mais recente em que experimentara satisfação autêntica e até aquele momento sequer havia notado. Deu tanto poder aos outros para interferirem na sua alegria que esvaziara o próprio até a exaustão. Afastou-se tanto do coração e do seu desejo que encolhera-se, inerte, diante de cada golpe sofrido sem contar com a própria proteção. Esforçou-se de tal forma para se tornar interessante para o outro, que perdera o interesse por si mesma. Os sucessivos desapontamentos tentaram lhe dizer que não era merecedora de coisas que faziam toda diferença, e ela acreditou.

Na clareza que liberta, ao lembrar ser capaz de fazer escolhas pela própria vida, escolheu sair daquele lugar, passo a passo, gentileza a gentileza, no tempo que fosse necessário. Agora, poderia contar de novo consigo mesma. Renovar, gesto a gesto, o compromisso com o próprio coração. Sentir-se responsável pela própria felicidade com a confiança de quem recorda o que realmente mais lhe importa. E com uma vontade toda nova de, primeiro, desfrutar a dádiva da própria lindeza e do próprio amor.



“O Senhor é misericordioso e compassivo, paciente e transbordante de amor.”

Salmos 145:8

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

tenho, não nego!


Tenho dúvidas. Muitas! Eu que um dia me senti cheia de certezas, deixei-as no caminho e hoje coleciono dúvidas diversas. Elas são fruto da minha curiosidade, da minha inquietude, do meu inconformismo com as circunstâncias e os fatos.

Tenho medo. Muito! É ele que não me deixa atirar de cabeça no escuro. Aprendi a levá-lo comigo e posso dizer que hoje somos parceiros.

Tenho sonhos. Muitos! Tenho sonhos, planos, projetos e propósitos! Combinados que faço com a vida e que dão sentido à minha existência. Não importa quanto tempo eu tenho pela frente, pretendo morrer sonhando. E em plena construção de alguma coisa!

Tenho saudades. Muitas! Saudade de pessoas e de suas presenças, de momentos intensos vividos com pessoas especiais. Mas não confundo a minha saudade com vontade de voltar. Estou bem aqui. E a minha nostalgia é um livro de querer bem, onde guardo o que me foi precioso um dia.

Tenho fé. Muita! Fé em Deus, fé na vida, fé nas pessoas. E até que me provem o contrário, todo mundo é bom. Embora muitos já tenham sim, me provado o contrário, ainda existem outros tantos que não me provaram nada. É nesses que eu deposito a minha fé. E por isso mesmo a minha fé é gigantesca.

Tenho esperança. Muita! Tenho esperança de que o homem ainda volte a ser humano. Humano na mais pura expressão da palavra. E que, sendo humano, reconheça no outro um humano também.

Tenho sentimentos. Muitos! E não há estatística que explique o que é isso que eu trago no peito. Porque a lógica do coração é outra! Tenho uma infinidade de sentimentos que se misturam dentro de mim. Ora tenho sentimentos nobres, ora tenho sentimentos confusos, difíceis de administrar. Tenho tristeza, raiva, ciúme, carência e, de vez em quando, desânimo de continuar. Gostaria de não tê-los, confesso. Mas eles existem e não justifica negligenciá-los a esta altura da minha vida.

Tenho alegria. Muita! Alegria de viver. Alegria sem motivo. Alegria de estar aqui, vivendo esta experiência incrível de ser quem eu sou, no lugar que eu estou com as pessoas que cruzam o meu caminho. Nada poderia ser melhor que isto.

E tenho amor. Muito! Ah é claro que eu tenho! Amor pelas pessoas, amor pelo meu amor, amor à minha profissão, amor ao universo que me comporta, amor à vida, amor àquela mulher que vejo no espelho depois do banho, amor! Não sei viver sem amar.

Isso é tudo que eu tenho. O resto? O resto são artefatos; nada mais!


Engenheiros do Hawaii

#dia do engenheiro


A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos
e luz que clareia o meu caminho. 

Salmos 119:105 / NTLH

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018


#70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos

porque ele é





Que eu dê água a outro homem, não porque eu tenha água, mas porque, também eu, sei que o que é sede.


depois que o amor acaba


“Pensando com mais clareza, agora vejo que aquela relação foi a experiência mais fascinante que vivi.” Oi?

Um ano antes, a mulher parecia um trapo encardido, passava chorando pelos cantos, lamentando a má sorte de ter se apaixonado por um Don Juan que só a humilhava e a fazia sofrer, e agora aquela dilaceração toda se transformou na experiência mais fascinante já vivida?

Sim. Qual o espanto?

Depois que o amor acaba, entra em cena a isenção. Você não faz mais parte daquela encrenca. Está desobrigada de administrar revezes, de procurar soluções para impasses, de fazer parte de um jogo maluco de sedução. Não há mais adoração, esperança, ódio, raiva, desapontamento. E não havendo nada, tampouco há interesse em descredibilizar o outro para tentar manter o que resta da própria dignidade. Não há mais risco. Ninguém mais precisa se salvar. Agora você pode, enfim, avaliar o que aconteceu por outro ângulo.

Então, dali de onde ela estava, de uma distância segura do passado, tudo se transfigurou. 
O amor não era mais analisado pelo que havia sido, mas pelo que agora representava.

O que antes era dilacerante virou uma bela experiência anexada ao currículo. O que antes era gigantesco foi reduzido a um tamanho médio. O que antes era definitivo virou passageiro. O que antes era pra sempre encontrou um fim sereno.
Dimensionamos nossas emoções de acordo com a potência do momento. Acreditamos nas definições que costumamos dar ao que está sendo experimentado, usando com orgulho palavras como “infinito”, “certeza”, “eterno”. Ficamos apalermados pelo vigor da experiência, pelo absoluto das nossas sensações, até que, depois de um longo tempo de crença, perde-se a aposta, o jogo termina e vamos para outra mesa do cassino, onde tudo recomeça.

É quando o passado ganha uma nova cara e uma nova definição. O que era desespero transfigura-se em infantilidade, o que era perturbador torna-se risível, o que era intenso parece frugal. Você acreditou que era personagem de um melodrama, era assim que enxergava a história de dentro. Pulou para fora e agora só vê a parte amena, só a beleza da sua inocência. Aquela não é mais você, aquilo deixou de ser um tour de force, agora você se dá conta de que, quando se está no epicentro de um acontecimento, tudo parece maior do que é.

Estando em meio ao tsunami, é inevitável sofrer, emocionar-se, dilacerar-se, abraçar todos os sentimentos inerentes àquele mergulho: não há como antecipar o amanhã, só existe a asfixia do hoje. O consolo é lembrar que é só uma questão de tempo para tudo acabar num leve e agradecido “valeu”.



“Manterei minha retidão e nunca a deixarei; enquanto eu viver, a minha consciência não me repreenderá.” (Jó 27:6)

♫ O que você faz quando
Ninguém te vê fazendo
Ou o que você queria fazer
Se ninguém pudesse te ver 

[ Quatro vezes você / Capital Inicial ]

domingo, 9 de dezembro de 2018



Como gato por lebre a toda hora. Por tolice, por distração, por ignorância. E até às vezes por delicadeza: me oferecem gato e agradeço a falsa lebre, e quando a lebre mia, finjo que não ouvi.

reformas, quem as quer?



Gostamos de nos enganar, quando dizemos que queremos reformas, que vamos mudar, que vamos nos transformar, aliás, até já começamos, logo todos vão ver. Mentira, em geral, mentira ou mentirinha. Mentimos para nós mesmos como nos propósitos de ano novo, que logo vem aí, de sermos mais gentis, mais sinceros, mais moderados ou mais ousados, de beber menos, de emagrecer mais, de dar caminhadas, de gastar com mais sensatez, de não gastar nada, de planejar boas férias com a família, de não enganar nem trair... de trabalhar melhor, enfim, de ser uma pessoa melhor.

E mentimos para nós e o mundo quando falamos em reformas na cidade, no país, na política, nas leis, no caráter geral desta pobre nação. Agora, sim, começarão as reformas que nos vêm sendo prometidas há décadas. Séculos. Todos estamos ansiosos e contentes.

Mas, ou as mudanças não virão mesmo, ou, se vierem, começamos logo a reclamar. O quê? Aumentar imposto e reduzir benefícios? Mas comooooo? Ainda que eu seja um político ganhando uma vergonhosa (e legal) fortuna por mês, não quero sacrificar um centavo! E, mesmo que eu seja aficionado de justiça social, no meu é que ninguém vai mexer. Minha aposentadoria? Jamais.

O líder que quiser inventar isso que todo mundo mentia desejar ardentemente terá de engolir sapos, lagartos, jacarés, quebrar muita pedra - porque não vão deixar fácil essa história. Na verdade, ninguém quer mudar. Nunca desejamos de verdade, verdadeiramente, modificar nada. Por preguiça, por princípio, por fraqueza, por cretinice, não importa. Falamos em justiça social, ah, sim, eu sou totalmente a favor...

Mas esquecemos que isso deve começar em casa, tipo pagar aos funcionários, mesmo domésticos, o máximo que eu posso, e não espremer esse dinheirinho dentro do mínimo que a lei permite. Negociamos a faxineira mais barata, o pedreiro que cobra menos, a doméstica de quem descontamos comida e água e sabonete, e nem nos envergonhamos disso. Ou, muitas vezes, pagaremos o dobro, o triplo, porque o serviço pode sair mal feito, e o prejuízo é certo.

Sem grandes ilusões, mas numa rara torcida porque andava desalentada e quase cínica, eu torço para que os líderes que se apresentam, e que escolhemos, tenham coragem. Franqueza. Fibra. Honradez. Ética e firmeza, para poderem mudar o que precisa ser mudado, ainda que aos poucos, fatiado, como se diz nessa palavra que eu detesto tanto quanto empoderamento, transparência e algumas outras que ressoam nos generosos espaços vazios em nossas cabeças.

Enfim, enfim. Passei hoje por uma praça cujo capim chegava ao meu joelho. Aqui pertinho se impõe o chamado novo cangaço, com assaltos e tiroteios de cinema, e vários mortos entre inocentes e bandidos. O novo cangaço é espetacular: armadíssimo, mascaradíssimo, cínico e forte porque nós, sociedade, ainda não nos preparamos para estes tempos atuais. Pensamos que o Interior é bucólico e que a capital é bem policiada. Pensamos que nossas vidas valem muito. Pensamos que... que agora as coisas vão mudar de verdade, desde que não se mexa uma palha nos nossos direitos tantas vezes tão tortos.


#café é vida!


Lembrem do quanto vocês caíram! 
Arrependam-se dos seus pecados e façam o que faziam no princípio.

Apocalípse 2:5 / NTLH

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018


Sim, morri muito.
Morri de uma forma que jamais imaginaria.
Morri de uma dor que eu pensei que jamais existiria.
Uma dor “não física”.
Uma dor de tristeza...
Uma dor que nem tem nome.
Uma dor que ninguém entenderia.

Sim, eu morri muito em 2018.
Mas quando vejo que a vida em si
me ressuscita (com seu kit mágico
de amigos, sorrisos e mil motivos ),
me faz lembrar Mia Couto :

“Eu tive as minhas mortes,
felizmente,
todas elas passageiras”.

__Sil Antunes


Está cada dia mais difícil suportar a carga de pessimismo transmitida pela mídia. Assassinatos, balas perdidas, assaltos, enchentes, incêndios, corrupção, falcatruas. Entre ter ataques de raiva e pânico ou ignorar a realidade, prefiro desinteressar-me pelas notícias. 
Não passo das manchetes.

Mas e quando as notícias ruins vêm através de diagnósticos médicos?
2018 foi um ano de notícias tristes, que me fizeram morrer um pouquinho.

O diagnóstico de Alzheimer significou uma sentença de mudança, não só na vida de minha mãe, mas de todos nós, que convivemos com ela.
Já meu irmão, acredito que, pra ele contar sobre o tumor descoberto em seu intestino, deve ter sido tão difícil quanto receber o diagnóstico.
Para nós, familiares, ainda está difícil absorver a notícia, 
já que o câncer costuma vir associado à morte e sofrimento.
Minha mãe, alheia do mundo, não faz a menor ideia do que estamos vivendo.

Sei que algumas lições vamos tirar: entendermos que não é um dia a mais, mas sim, um dia a menos e começarmos a valorizar o que realmente importa. Aprendermos a estar mais juntos, a valorizar mais a vida, a abraçar nossa mãe e irmãos enquanto estão/estamos aqui, pois “a vida é trem-bala e a gente é só passageiro, prestes a partir”.