"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

só vem!

 


E aqui estamos nós, às vésperas da chegada de mais um ano, depois de tudo que vivemos. Nós, os sobreviventes, os escolhidos para continuar a caminhada, aqui estamos com a difícil, mas não impossível, missão de dar continuidade ao ciclo da vida.

E ainda que as estatísticas apontem um caminho e a moçadasem medo de ser feliznos aponte outro, estamos todos receosos, escaldados como gatos e cheios de dúvidas.

 

O que pedir para o próximo ano? O que esperar? O que prometer? Em quem confiar? Onde ancorar nossas angústias ainda latentes?

 

Ah como eu gostaria de ter respostas para todas essas perguntas! Como eu gostaria de mais garantias para planejar meu amanhã! Eu não as tenho! Hoje sei que nunca as tive e nunca terei!

 

Mas nem por isso desanimo. Embora eu saiba o meu real tamanho nessa imensidão toda, sei que posso dar os meus passos. Hoje espero mais de mim do que de qualquer outra pessoa. E ainda que juntos não cheguemos mais longe, eu sei que juntos temos mais chances.

 

Ainda sonho com uma consciência coletiva, onde cada um reconheça o outro como alguém tão sagrado quanto si mesmo e que juntos, criemos espaços e condições para todos nós vivermos em harmonia.

 

Neste exato momento confesso que não tem relevância se vou passar o réveillon de branco, de amarelo, de estampado ou do que seja. Nem tampouco se terá champanhe, ondas do mar ou coisas do tipo. Depois de tudo que vivemos, espero que 2022 chegue sereno e não arraste a humanidade com ele.

Só vem 2022! O resto a gente constrói junto!


bye, 2021!

LUTO foi a palavra e o sentimento do ano.

A despedida foi o meu marco.

Eu morri um pouco...

  

#plagiando Fabrício Carpinejar

 


Às vezes é preciso recolher-se. O coração não quer obedecer, mas alguma vez aquieta; a ansiedade tem pés ligeiros, mas alguma vez resolve sentar-se à beira dessas águas.

 

Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir. É um começo de sabedoria, e dói.

Dói controlar o pensamento, dói abafar o sentimento, além de ser doloroso parece pobre, triste e sem sentido.

 

Amar era tão infinitamente melhor; curtir quem hoje se ausenta era tão imensamente mais rico.

Não queremos escutar essa lição da vida, amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador. Mas às vezes aquietar-se e esperar que o amor do outro nos descubra nesta praia isolada é só o que nos resta.

 

Entramos no casulo fabricado com tanta dificuldade, e ficamos quase sem sonhar.

 

Quem nos vê nos julga alheados, quem já não nos escuta pensa que emudecemos para sempre, e a gente mesmo às vezes desconfia de que nunca mais será capaz de nada claro, alegre, feliz. Mas quem nos amou, se talvez nos amar ainda há de saber que se nossa essência é ambiguidade e mutação, este silêncio é tanto uma máscara quanto foram, quem sabe, um dia os seus acenos.

 

O nuvensdealgodãoestreou no dia 23 de março de 2010 e, no dia 24, esta foi a primeira publicação que fiz de um texto da Lya Luft.

Desde então, praticamente todas as semanas tinha um texto dela no blog.

Eu gosto muito do que ela escrevia. Vou sentir falta.

 

Segundo Martha Medeiros, outra campeã de postagens do blog, quando André, filho da Lya faleceu, Martha foi até ela.

Ao lado do caixão, Lya a olhou e disse, daquele jeito sem meias palavras:Martha, a morte é uma merda”.

  

É verdade, Lya. A morte é mesmo uma merda!

RIP



 

 


Isaías 40:31


Mas os que esperam no SENHOR renovarão as suas forças e subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão; caminharão e não se fatigarão.


sábado, 25 de dezembro de 2021

 


Mesmo que a gente não acredite mais

Tem sempre um sonho olhando pra você

Decerto aquele que ficou pra trás




 

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021


 

depois de tudo que vivemos

 


E aí vem eles! Confraternização, Natal, ano novo… Dezembro é um mês de 31 sextas-feiras. Como dar conta de tanto encontro, tanta confraternização?

Vou? Não vou? Ponho máscara? Tiro a máscara? Abraço? Não abraço?

 

Que estamos ávidos pelos encontros, isso é fato! Que a COVID ainda não acabou, é outro fato! E no meio de tudo isso estamos nós tentando dar conta de tudo!

Dezembro nunca foi tranquilo, mesmo para quem não é Cristão. Mas esse parece que ele está mais tumultuado ainda.

 

O fato é que estamos todos mudados, estamos todos tocados pelos últimos 2 anos que vivemos. Muitos vão enfrentar um fim de ano difícil, um vazio na mesa, uma lágrima de saudade. Muitos vão agradecer por estarem vivos, por terem sobrevivido à tormenta. E muitos vão aproveitar o momento para fazer novos propósitos e para pedirem um ano melhor.

 

Quem é você depois de tudo que passamos nos últimos 2 anos? Que lições ficaram? Que saudades você carrega no peito? Em quem você se transformou depois de tudo que você vivenciou?

Dificilmente vamos encontrar alguém que não tenha aprendido nada nesses 2 anos. Em cada pessoa, uma lição diferente, uma saudade singular e um jeito único de enfrentar a dor.

 

Estamos todos precisando de um recomeço. Nunca foi tão necessário virar a página como agora. Limpar as gavetas que não nos pertencem mais, doar, distribuir, mudar os móveis de lugar, refazer os laços e ressignificar nossos sentimentos.

 

É chegada a hora de recomeçarmos. É hora de colocarmos a história no lugar sagrado do coração, dentro de sete chaves e seguirmos em frente. É hora de limpar a casa, limpar o corpo, limpar a mente, a alma e deixar um espaço em nós para o novo que vem aí.

 

É hora de honrarmos a memória de quem amamos e de prosseguirmos escrevendo nossas histórias. É hora de abraçarmos quem ficou e nos fortalecermos desses abraços.

 

Nunca o verdadeiro sentido do Natal se fez tão necessário como agora. Não importa a sua crença ou a sua descrença. Que o encerramento desse ano, signifique para cada um de nós, uma fresta de esperança por dias verdadeiramente melhores para toda humanidade.


 


Querido Papai Noel, estamos na véspera de mais um Natal. Tem muita gente que lhe espera ansiosamente. A sua chegada é bonita, sua figura é simpática, seus presentes trazem alegria. Você tornou-se um símbolo desse tempo.

 

Como muitos, também gostaria de fazer-lhe um pedido: Papai Noel, antes de entregar os presentes, de distribuir docinhos e brinquedos, toma pela mão cada criança, cada jovem, também os adultos e os velhinhos, e leva-os todos diante do presépio.

 

Nessa noite linda, conte para eles o grande presente que a humanidade recebeu no primeiro Natal. Ajoelhe-se, Papai Noel, diante da imagem do Menino Deus e ensine aqueles que lhe recebem a adorar a criancinha da Gruta de Belém: ela é o próprio Deus que se fez humanidade.

 

Se tem alguém que merece receber presentes neste dia é Ele, o menino Jesus. Conte isso para as crianças. Convide as pessoas a falarem com esse Jesus que um dia foi menino. Comece agradecendo por ele ter vindo, por ele se fazer gente como a gente, pela simplicidade dele. Depois, diga que você lhe entrega seu coração, sua vida, as pessoas que ama. Reverencie também a mãezinha dEle, Maria, e São José. Agradeça aos pastores e magos do Oriente por terem vindo ver o Menino e o adorar. Cante uma canção, como fizeram os anjos. Pode ser “Noite feliz”, é linda! Mas também, Papai Noel, pode ficar em silêncio, contemplando o santo presépio. É uma lição que ali está retratada, é a imagem do céu na terra, tendo ao centro o Salvador da humanidade. O silêncio fará bem.

 

Depois, você segue como sempre, com os presentes e tudo mais.

 

Desculpe a pretensão, mas eu precisava escrever-lhe isso. Talvez você não tenha se dado conta, mas muita gente trocou o Natal de Jesus pelo Natal do Papai Noel. Não está correto! Se você apenas fizer isso, ajoelhar-se com todos diante do Menino Deus, então tudo estará certo novamente. O Natal é Jesus! Ajude-nos, Papai Noel, a não confundir as coisas.

 

Saiba que você é sempre bem-vindo.

Feliz Natal!

Nos encontramos diante da manjedoura, onde estará reclinado o Salvador da humanidade, o Menino Jesus.

Vivemos num mundo onde o sofrimento cresce. Era assim também quando Jesus nasceu. Ele mesmo enfrentou as dificuldades da pobreza, da perseguição e da exclusão. A Noite Feliz aconteceu no meio de dia difíceis.

Natal é isso: luz entre as trevas, paz aos de boa vontade, amor do madeiro da manjedoura ao madeiro da cruz.

Amemos, perdoemos, ajudemos, sejamos semelhantes a Cristo!

 

Pe. Nildo Moura de Melo – OSFS


 


Porque um menino nos nasceu,

um filho nos foi dado,

e o governo está sobre os seus ombros.

E ele será chamado

Maravilhoso Conselheiro, Deus Podero­so,

Pai Eterno, Príncipe da Paz.

 

Isaías 9:6

sábado, 18 de dezembro de 2021




 


 Todos os dias é um vai-e-vem. A vida se repete na estação. Tem gente que chega pra ficar. Tem gente que vai pra nunca mais. Tem gente que vem e quer voltar. Tem gente que vai e quer ficar. Tem gente que veio só olhar. Tem gente a sorrir e a chorar. E assim, chegar e partir”.

(Encontros e Despedidas – Milton Nascimento)


Estamos vivenciando uma das épocas mais significativas do ano. O Natal e o Ano Novo são, para a maioria das pessoas, um momento de estar com a família e com amigos queridos. Não podemos esquecer que a essência do Natal está justamente no partilhar de afetos com aqueles que amamos.

 

Contudo, o Natal, mais especificamente, também pode ser um momento desconcertante e dificílimo de ser vivenciado, principalmente para as famílias que sofreram a perda, recente ou não, de um ente querido, pois esta época também é de nostalgia e recordações. Podemos ser invadidos por uma enxurrada de emoções e sentimentos diante da ausência de alguém que amamos.

 

Depois que perdemos alguém, achar sentido nas datas comemorativas pode ser algo demorado e dolorido. Parece que o natal é um amplificador de perdas.

Pode ser o seu primeiro natal e passagem de ano sem a pessoa que você ama ou pode ser mais uma data muito significativa sem ela. A sensação é de ausência, é de vazio é de solidão. A sensação é de não pertencimento, parece que estamos vivendo em uma época que não nos pertence mais. Uma parte de nós foi embora, uma pessoa primordial na minha existência, não está comigo mais e não será a mesma coisa mesmo! Após a perda de alguém uma transformação interna acontece e isso é inevitável.

 

Permita-se sentir a dor. Permitir talvez seja a palavra-chave. Permita-se sentir tristeza num momento em que todos estão alegres, afinal você está vivenciando a ruptura de um vínculo. Aceite seus pensamentos e sentimentos. Não tente racionalizar emoções tão fortes. Elas ocorrem porque perdemos, fisicamente, alguém que amamos, mas esta pessoa ainda está viva em nossos pensamentos e memórias.

Dê espaço para o seu sofrimento, ele é seu. Respeite o seu tempo. Se quiser ficar sozinha, fique. Se quiser ficar ao lado dos familiares que estão ali, fique! O primordial é você se respeitar, respeitar o seu coração e se acolher.

 

Com o passar do tempo, que é de cada um, vamos percebendo que a celebração familiar é algo muito importante, mesmo a ausência e a dor estando ali presentes. Ao mesmo tempo em que sinto a dor da ausência sou grata por amar tanto e sou grata também às pessoas que ainda estão presentes na minha vida.

 

Uma perda nos ensina a valorizar a vida. Faz-nos pensar que precisamos celebrar a vida dos que amamos e que estão presentes. Depois que experimentamos a dor do luto, o medo de outras perdas ficará evidente e o que podemos fazer é estarmos presentes na vida dessas pessoas. Pode parecer estranho falar isso, mas com o passar de muito tempo, percebemos que aprendemos muito com as perdas, cada uma trás um novo significado e uma nova reflexão porque nos transformaremos em outras pessoas. Ficamos feridos e a única opção que temos é encarar essa dor de frente. Perceberemos que se continuarmos a manter o foco na perda, não conseguiremos participar e celebrar a vida das pessoas que estão à nossa volta.

 

O Natal será para todo o sempre diferente depois de uma perda significativa. Faz parte do processo de luto compreender as emoções que estas datas nos proporcionam e, na medida do possível, se reorganizar emocionalmente para vivenciá-las. A morte de uma pessoa querida implica necessariamente numa profunda mudança de paradigmas em nossas vidas e na forma como vamos continuar a caminhada.

Talvez você encontre uma nova forma de vivenciar estes momentos, pois a elaboração do luto passa pela assimilação da ausência com a celebração com aqueles que estão vivos e fazem parte da nossa existência.

 

Enfim, acredito que o primordial é permitir-se.  Faça aquilo que fizer sentido para você e te trouxer um significado.


E toda dor passa? A resposta é sim. A dor insuportável vai embora e dá lugar a uma saudade suportável, apesar de existirem períodos de altos e baixos, o sofrimento pode diminuir ao ponto de virar uma lembrança boa.


O que a memória ama, fica eterno.

(Adélia Prado)

 


 


Isto servirá de sinal para vocês: encontrarão o bebê envolto em panos e deitado numa manjedoura”.

 

Lucas 2:12


quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

poema de natal



Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos 

Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado

Dedos para cavar a terra.

  

Assim será a nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Um caminho entre dois túmulos 

Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve

Ver a noite dormir em silêncio.

  

Não há muito que dizer:

Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez, de amor

Uma prece por quem se vai 

Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações se deixem

Graves e simples.

 

Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre 

Para a participação da poesia 

Para ver a face da morte 

De repente nunca mais esperaremos

Hoje a noite é jovem

Da morte, apenas nascemos

Imensamente.



 

atraso é ter que mentir

 


Em Londres um pub está fazendo sucesso porque instalou para seus clientes uma cabine telefônica com uma sonorização peculiar: enquanto a pessoa fala ao telefone, pode acessar o som de um congestionamento, com muito buzinaço.

 

Ou pode acessar o som de um ambiente de escritório. Toda essa parafernália é para que quem esteja do outro lado da linha não identifique o som do bar.

 

Assim o bebum pode dar uma desculpa esfarrapada e chegar em casa sem levar uma descompostura, afinal, estava trabalhando até tarde, o coitado, e ainda por cima ficou preso num engarrafamento depois.

 

Essa cabine telefônica com efeitos especiais só vem demonstrar que os bares andam muito moderninhos, mas os casamentos continuam parados no tempo, mesmo na vanguardista Inglaterra. Só vou se você for segue na moda. Enquanto isso a hipocrisia deita e rola.

 

Muitas pessoas ainda têm uma ideia convencional do casamento: encaminham-se para o altar como quem encaminha-se para o supermercado em busca de um produto pronto, industrializado, com um rótulo dando as instruções de como utilizá-lo, e parece que a primeira instrução é: nenhum dos dois têm o direito de se divertir sozinho ou com os amigos, a menos que o cônjuge esteja junto.

 

Não é de estranhar que os prazos de validade do amor andem cada vez mais curtos.

 

Não há paixão que resista ao grude.

 

Não há paciência que resista à patrulha.

 

Não há grande amor que prescinda de outras amizades.

 

Sair sozinho para beber com os amigos deveria ser um dos 10 mandamentos para uma união estável, valendo para ambos os sexos. Quem não gosta de bar pode substituir por futebol, cinema, shows, sinuca, saraus ou o que o Caderno de Cultura sugerir.

 

E não perca tempo lamentando por aquele que vai ficar em casa. Provavelmente ele vai se divertir tanto quanto. Ouvir música, ver televisão, ler livros, abrir um vinho, tomar um banho de duas horas, navegar na internet, dormir cedinho, tudo isso também é um programão.

 

Quem não sabe ficar sozinho não pode casar, sob pena de transformar o matrimônio num presídio para dois. Tem muita coisa em Londres que eu gostaria de ter aqui: parques mais bem cuidados, mais livrarias, mais respeito à individualidade, melhor transporte público, prédios mais charmosos. Só dispensaria o clima e esse pub pra lá de vitoriano, onde pessoas adultas são incentivadas a inventar um álibi para justificar um atraso.

 

Atraso é ter que mentir para que o outro não perceba que você está feliz.


 


Só Ele cura os de coração quebrantado e cuida das suas feridas.

 

(Salmos 147:3)


domingo, 28 de novembro de 2021


 

os bichos

 


O termo não é um ataque. Não serve como insulto. Ouvi a expressão de alguém ao descrever um parente: Naquela casa, eles são bichos. O que significa?


Para o bem e para o mal, os animais respondem a impulsos básicos: fome, sede, sexo, sobrevivência. A vida de um leão não passa por crises existenciais, planos de longo prazo, crenças ou coisas similares. Por mais que exista a música Hakuna Matata (se você não sabe, não fique uma fera, apenas procure), os leões não pensam se a vida é isto que temos pela frente. Ser bicho é ser aqui e agora, respondendo a impulsos básicos.


Haveria pessoas-bicho? Meu amigo garantia que sim. Não são de uma classe social definida ou tipo físico. São seres humanos como todos os outros, apenas, destituídos de metafísica. Quando entram no cio, atacam o que estiver disponível. Na fome, desaparece o impulso gourmet ou a estética alimentar. Dormem quando querem. Urinam e defecam onde for possível. Irritados, atacam. Defendem a ninhada conhecida como filhos. Respondem ao chamado da vida em linha reta, para o bem e para o mal. Em um mundo de gente dissimulada, passam porsincerões. Dizem o que passa pela cabeça, na hora em que ocorre, sem filtro ou cuidados Chutam o balde sem medir o peso dele em ação sobre o próprio pé ou onde o referido recipiente possa vir a cair. Como um gato, saltam no colo da visita e cochilam. Como um cachorro, latem para estranhos por serem estranhos. Como ursos, hibernam enquanto o frio mandar. Na chuva, não saem de casa. Não possuem horários ou princípios. Chegam aos compromissos quando bem entendem e deles saem no momento em que o cansaço aparece. Nada negociam. Conhecem a fome e o frio, nunca o vazio existencial ou o propósito de vida. Ouviram falar de pessoas que apresentam dificuldade em fazer onúmero doisfora de casa. Estranham o pudor. Vazam por qualquer orifício em qualquer lugar. Basta surgir a consciência de superpopulação na bexiga ou no intestino. Eructam e flatam com a mesma tranquilidade com que dizem oi. Vieram ao mundo sem culpa, só corpo, sem alma, só instinto. Seduzem pela liberdade e incomodam pela mesma característica.


Os bichossão arrastados para cinemas ou teatros. Instalados, dormem bem. Seria justo falar em hibernação. Alguns roncam. Quando um desses animais se acasala com um ser humano e contrai núpcias, ouve reclamações fortes na saída. Ignora, pois é hora de comer e de ir ao banheiro, se houver um. Caso contrário,vai em qualquer lugar mesmo”.


Não são irritantes pelas más intenções. Apenas desconhecem que nos separamos em algum ponto de nossos irmãos primatas na escala evolutiva. Outra metáfora infeliz. Chipanzés são elegantes e com olhar terno. Nossas criaturas antropomorfas estão mais para bovinos. Comer, mastigar, urinar e defecar sem a elegância melancólica dos primos-irmãos de toda a espécie humana.


Não gostam de ler. Veem programas, porém, não acompanham o que se passa lá. Observam como um gato parado em frente a uma tela de computador, saindo sem cerimônia do que se passa lá para ir até a caixinha de areia sanitária na área de serviço.


Todas as famílias possuem alguns exemplares de animais no meio do mesmo sobrenome. Incomodam pouco, nada ajudam, causam alguma graça e críticas sobre modos ou tom direto. Conhece aquele tio que se levanta da ceia de Natal para ir ao banheiro e depois se atira no sofá ligando a televisão? É sua cota familiar, cármica, de... bicho. Para não sobrecarregar demais um endereço, a natureza não coloca todos juntos, mas espalha pelas casas. Não existe, pois, uma família formada só de bichos. Claro, a parentela da sua esposa ou de seu marido tem uma quantidade expressiva de animais, não obstante, mesmo lá, surgem seres humanos aqui e ali.


Em manada, eles uivam, crocitam, balem, grasnam, zurram, mugem, relincham, bufam e rugem. Não é necessário tentar decifrar, não existe mensagem. São sons variados, expressões de ar passando pela garganta, nunca frases completas ou ideias relevantes.


A favor? Nunca mandam mensagens de bom dia nos grupos de WhatsApp. Da mesma forma que não entopem celulares alheios, nunca visitam pessoas em hospitais ou levam abraço solidário a enterros. São lugares ruins e eles dizem que não gostam. Vivem de acordo com sua vontade imediata, como se não houvesse amanhã. Alguém já viu um javali olhando como quem diz:E o próximo semestre, como será?”.


Não são de todo maus, sequer são bons. Apenas, são... bichos. Vivem o aqui e agora sem grande solidariedade, sem cinismos ou maquiavelismos familiares. Não atrapalham demais e nunca ajudam. Como um gato irritado em dia de limpeza pesada, saem do sofá para evitar o aspirador e saem do quarto quando o lençol é trocado. Podem até arranhar, porém, se você alimentar e não incomodar muito, vivem bastante se a ração for interessante. Nada cobram além do material. Nunca elogiam. Nunca apoiam, jamais percebem.


Algumas espécies vivem mais do que outras. Quase todas acasalam. Após uma existência plana, morrem como todos os humanos e todos os bichos. No velório, surgem amigos e familiares. Alguns, caridosos, contemplam o caixão e dizem:Tão novo, tinha a força de um animal”. Não é só a força, há ternura nessa oração fúnebre. Minha querida leitora e estimado leitor: existe algum egresso do zoológico da minha crônica que coabita na sua família? É preciso ter esperança, na humanidade e na fauna.

 

 


Ele fez tudo apropriado a seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim este não consegue compreender inteiramente o que Deus fez

 

(Eclesiastes 3:11)

quarta-feira, 24 de novembro de 2021


 

 ... e que você descubra que rir é bom

Mas que rir de tudo é desespero  


para sempre


Por que Deus permite que as mães vão se embora?
Mãe não tem limite, é tempo sem hora,
luz que não se apaga quando sopra o vento
e chuva desaba, veludo escondido
na pele enrugada, água pura, ar puro, puro pensamento.

Morrer acontece com o que é breve e passa sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça, é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?

Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca, mãe ficará sempre
junto de seu filho e ele, velho embora, será pequenino
feito grão de milho.

O Alzheimer é uma perda em vida.

Se vive um luto a cada dia.


 


Namore-se.

Se der certo,

namore com alguém.


 


 “A pressa está nos engolindo

É preciso voltar a apreciar a paisagem.

Viver como se cozinhava antigamente

Com amor e fogo brando.

 

(Lu Darpano)

 


Porque, quanto ao Senhor, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dele.” 

2 Crônicas 16:9

 

Eu tinha dúvidas a respeito da fé, mas aprendi que muitas vezes não se trata de dúvida, mas de confiar 100% no Senhor. Isso mesmo, confiar.

Quando pedimos algo em oração, se ficamos confiantes demais é aí que devemos desconfiar. Temos que depender do Senhor em tudo! E, neste caso, não quer dizer que não temos fé, mas dependência.

Qual criança que não sente insegura quando sobe pela primeira vez em uma bicicleta? Mas ela sabe em quem confia. E com o papai segurando na garupa ela perde o medo, se aventura e vai. Ela depende 100% do pai.

 

Assim somos nós.

Quem presta vestibular 100% seguro? Se assim o faz está confiando mais no que estudou, o frio na barriga, a ânsia para ver o gabarito, não é dúvida, mas dependência.

 

Ao pedir aquela garota em compromisso, o frio na barriga faz o jovem a todo instante fazer pequenas preces:Senhor, que ela diga sim.Isso é dependência.

 

Em quem tens crido?

Nos estudos, na farda, nas possibilidades (Deus age no impossível), nas cartas de amor, nos presentes, no sorriso, nos treinos...?

Enfim, somos pó e dependentes do oleiro.

Deus quer continuar segurando a bicicleta, mesmo sabendo que você sabe andar.

Que as mãos dEle estejam sempre estendidas.


segunda-feira, 15 de novembro de 2021

 


A maturidade

tem muita preguiça envolvida:

- Preguiça de se misturar ao que não agrega;

- Preguiça de se explicar a quem não merece consideração;

- Preguiça de sorrir sem vontade;

- Preguiça de viver de aparências;

Maturidade

é poupar energia

para usar naquilo

que faz a alma sorrir...