Agosto chegou ao fim, inaugurando o segundo semestre com
seu derradeiro dia. Mês comprido, de cachorro louco, tempo de empinar pipa, que
no meu tempo era sem cerol.
Agosto derruba as derradeiras folhas das árvores,
desnudando-as despudoradamente. Despidas, elas parecem envergonhadas, em meio
aos ipês amarelos e roxos, esplendorosos em suas vestes de gala, prenunciando a
primavera. Em agosto, ainda, crianças e adolescentes voltam às escola, em
bandos ruidosos, tal qual andorinhas retornando, após o inverno, à pátria de
sua origem.
Agosto é tempo de avaliar, revisar, re-planejar. Tudo aquilo
que foi programado lá atrás, quando o ano vinha nascendo, conta com agosto para
um acerto de contas. Gosto desse jeito, que só agosto tem, de segunda chamada
no vestibular anual da vida. O que não foi feito no primeiro turno, porque se
planejou mal ou muito, pode ser mantido ou cancelado em agosto. Desta vez pra
valer, senão só no ano que vem, que a gente nem sabe se vem.
Agosto tem o dia da “pindura”, do advogado, doutor das leis
dos homens; tem o dia dos Pais, tem até o dia do psicólogo, mestre das mentes,
bem no finzinho do mês. Agosto de mudança, transformação, nova chance,
reciclagem. Eu ouvia sempre, em menina, vovó dizer que o mês de agosto leva
folhas e vidas para seu ritual de renovação...
“Quando caem as folhas, levadas pelo vento de agosto, muita
gente aproveita e vai embora junto”... Era uma das crenças de minha avó, que
também partiu bem a seu gosto, como uma vela que se apagou mansa e quieta, num
agosto distante.
Agosto tem festa de pipas dos meninos, cruzando as ruas dos
bairros humildes ou, em menor número, dos condomínios fechados, tocadas pelo
vento. Vento gostoso de agosto, que toda vez que chega forte me cheira a
expectativa, coração batendo forte, quem sabe chega a gosto tudo o que a gente
sonha, o que se espera, ou tudo o que espera a gente. Tempo de trocar, renovar,
reviver.
Agosto, na vida de quem é de bem com ela, tem até a vantagem
do nome. A-gos-to, descendo macio, boca abaixo. Sem a aspereza de abril, nem o
som anasalado de junho. Bom de falar, agosto. Já pra quem tem, nos meses da
vida, mais mau humor que sorrisos, agosto vem exatamente a gosto. Para todo
mundo, porém, de mal ou de bem, não dá pra escapar de agosto. Há que curti-lo,
então. Ainda que pensando, para se consolar, que a cada dia desses longos
trinta e um, mais próxima estará sua grande e famosa vizinha, a estação maior,
a primavera de nossas vidas.
__Maria Rita Lemos