"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 31 de agosto de 2017


Agosto chegou ao fim, inaugurando o segundo semestre com seu derradeiro dia. Mês comprido, de cachorro louco, tempo de empinar pipa, que no meu tempo era sem cerol.

Agosto derruba as derradeiras folhas das árvores, desnudando-as despudoradamente. Despidas, elas parecem envergonhadas, em meio aos ipês amarelos e roxos, esplendorosos em suas vestes de gala, prenunciando a primavera. Em agosto, ainda, crianças e adolescentes voltam às escola, em bandos ruidosos, tal qual andorinhas retornando, após o inverno, à pátria de sua origem.

Agosto é tempo de avaliar, revisar, re-planejar. Tudo aquilo que foi programado lá atrás, quando o ano vinha nascendo, conta com agosto para um acerto de contas. Gosto desse jeito, que só agosto tem, de segunda chamada no vestibular anual da vida. O que não foi feito no primeiro turno, porque se planejou mal ou muito, pode ser mantido ou cancelado em agosto. Desta vez pra valer, senão só no ano que vem, que a gente nem sabe se vem.

Agosto tem o dia da “pindura”, do advogado, doutor das leis dos homens; tem o dia dos Pais, tem até o dia do psicólogo, mestre das mentes, bem no finzinho do mês. Agosto de mudança, transformação, nova chance, reciclagem. Eu ouvia sempre, em menina, vovó dizer que o mês de agosto leva folhas e vidas para seu ritual de renovação...
“Quando caem as folhas, levadas pelo vento de agosto, muita gente aproveita e vai embora junto”... Era uma das crenças de minha avó, que também partiu bem a seu gosto, como uma vela que se apagou mansa e quieta, num agosto distante.

Agosto tem festa de pipas dos meninos, cruzando as ruas dos bairros humildes ou, em menor número, dos condomínios fechados, tocadas pelo vento. Vento gostoso de agosto, que toda vez que chega forte me cheira a expectativa, coração batendo forte, quem sabe chega a gosto tudo o que a gente sonha, o que se espera, ou tudo o que espera a gente. Tempo de trocar, renovar, reviver.

Agosto, na vida de quem é de bem com ela, tem até a vantagem do nome. A-gos-to, descendo macio, boca abaixo. Sem a aspereza de abril, nem o som anasalado de junho. Bom de falar, agosto. Já pra quem tem, nos meses da vida, mais mau humor que sorrisos, agosto vem exatamente a gosto. Para todo mundo, porém, de mal ou de bem, não dá pra escapar de agosto. Há que curti-lo, então. Ainda que pensando, para se consolar, que a cada dia desses longos trinta e um, mais próxima estará sua grande e famosa vizinha, a estação maior, a primavera de nossas vidas.

__Maria Rita Lemos

Na mitologia grega, Caronte era um deus velho e imortal que era barqueiro de Hades. 
Ele transportava as almas recém mortas pelo rio que dividia o mundo dos vivos do mundo dos mortos.

nossos velhos moços


Peguei a foto e observei. Ela tinha 38 anos. A bordo de um vestido preto decotado e elegante, parecia uma embaixatriz moderna, uma mulher do jet set, e ele, a seu lado, aos 40, usava terno e gravata e tinha alguns poucos fios grisalhos no cabelo, apenas o suficiente para emprestar uma maturidade charmosa ao look. Ambos poderiam estar em um anúncio da grife Giorgio Armani ou numa festa em Montecarlo. Seus sorrisos largos e peles bronzeadas indicavam uma vida de atividades ao ar livre e programas culturais. Eles adoravam ir a concertos e ao teatro — tudo indicava que teriam uma longa e divertida vida pela frente, e de fato tiveram e ainda têm. Mas eu, no canto esquerdo da foto, espiando com o rabo de olho para aqueles dois, lembro bem: só pensava em como eram velhos meus pais.

Ah, a ingênua soberba dos 15 anos. Recordo aquele baile onde nós três fomos fotografados juntos: eu e meus pais matusaléns. Em minha completa ingenuidade e ignorância, acreditava que juventude era uma calça azul e desbotada e que ninguém era mais livre e sábio do que nós, os de menor. Os campeonatos de surfe na Guarita, a piscina do Juvenil, os shows no Gigantinho, do que mais precisaria uma adolescente alienada para querer parar o tempo e ser feliz para sempre? Ficava apavorada com a ideia de me tornar uma anciã como aqueles dois senhores a quem, naquela noite já distante, eu vi dançarem com uma desenvoltura que me fez cobrir o rosto com as mãos. Que mico, meus pais ainda vão pra pista nesta idade.

Hoje reparo que minhas filhas me dirigem um olhar atravessado quando uso um vocabulário vintage e penso que elas, da mesma forma, devem me enxergar como um fóssil do Tiranossauro rex. Ou talvez não. Talvez elas tenham outra visão da passagem do tempo e, ao me verem ir a shows de rock, viajar com uma mochila nas costas, namorar e ainda fazer planos para o futuro, compreendam que não existe mais juventude e maturidade delimitadas, um antes e um depois. Temos idades diferentes, mas espíritos muito similares. Otimismo meu?

Sendo moças adultas, posso confiar no discernimento delas, mas aos 15, ah, aos 15 víamos nossos pais envoltos num tom sépia, cheirando a naftalina e tendo um comportamento totalmente sem noção. Se eles ousassem transparecer alguma jovialidade, eram tachados por nós de ridículos. Adolescentes adoram achar tudo ridículo.

Até que os adolescentes crescem, atingem a meia-idade que um dia seus pais tiveram e, ao olharem para fotos de uma época em que eles pareciam uns cacos, se dão conta: eles eram umas crianças. Demora até aceitarmos que fomos criados por pessoas tão jovens e aventureiras quanto nós.


“Não julguem, para que vocês não sejam julgados.” 

Mateus 7:1

domingo, 27 de agosto de 2017


#dia do psicólogo


A palavra
é uma roupa que a gente veste
uns gostam de palavras curtas
outros usam roupa em excesso
existem os que jogam palavra fora
pior são os que usam em desalinho
cores brigando, substantivos em luta
alguns usam palavras raras
poucos ostentam palavras caras
tem quem nunca troca
tem quem usa a dos outros
a maioria não sabe o que veste
alguns sabem e fingem que não
uns nunca usam a roupa certa pra ocasião
tem os que se ajeitam bem com poucas peças
outros se enrolam em um vocabulário de muitas
eu adoro usar palavra limpa
tem gente que estraga tudo que usa
com quais palavras você se despe?

Viviane Mosé

“O mal do século XXI
É o mal de Alzheimer que aflora nessa gente:
Esquece que falou.
Esquece que sentiu.
Esqueceu que amou.
Esquece que existiu.”





Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.” 

Mateus 4:4

sábado, 26 de agosto de 2017

virgem


“Ela é a personificação da inocência, pureza e justiça. Sua natureza terrena faz com que ela seja extraordinariamente esperta e analítica. Tudo aquilo que lhe é bonito irrompe em um sutil, ainda magnífico, espetáculo. É uma feiticeira e pertence ao antigo; sempre se esforçando para trazer a ordem do caos.”


#peso da consciência

a beleza que põe a mesa


A beleza dura pouco. Dez minutos, um olhar, um aperto de mão, um beijo na face.

A beleza é provisória.

A beleza pode ser destruída rapidamente pela fala, pode ser desmanchada imediatamente por um gesto, pode ser derrubada velozmente por uma grosseria.

Se vejo uma mulher bonita, ela ainda não é bonita. Será bonita por aquilo que fizer. Ninguém é bonito por antecipação.

A aparência é efêmera e enganadora. A aparência tem pretensões de uma mentira. Igual à verdade, precisa de provas.

Mesmo que tenha o rosto formoso e simétrico, os lábios carnudos, as curvas do corpo na medida certa, nada assegura que seja bonita. É colocar cedilha no lugar errado, é ofender de graça, é cuspir ódio, que se torna feia.

Já vi mulher bonita muito feia. Já vi mulher feia se revelar essencialmente bonita.

A arrogância estraga a beleza. A humildade salva a beleza.

Saber-se linda e se achar feia são pretensões perigosas. Não enxergamos somente com a visão, mas com o olfato, o tato, o paladar e a audição.

Ser bonita para os olhos é raso. Quem canta, quem dança, quem conversa com as ideias encadeadas, quem explode uma primavera temporã em seus cabelos assume uma lindeza inédita e permanente.

A generosidade, a cordialidade, a esperança e a firmeza garantem a longevidade da atração.

Quando uma mulher linda se aproxima, espero pacientemente que ela se mostre. Não há pressa para descobrir. Será mesmo linda pela forma que segura o cálice, pela forma que cuida de quem está excluído, pela forma que procura manter ou acabar com o silêncio, pela forma que olha nos olhos e segura o mundo no queixo.

Não há nada mais bonito do que uma mulher com temperamento difícil. Aquela que briga por suas crenças é inesquecível. Não ser esquecido é o que cada um deseja secretamente para a sua vida, é a maior ambição do amor. Mulher que aceita tudo, sem alma nas palavras, por sua vez, é tão sem graça.

Não é a roupa que define o ângulo do arrebatamento, são a simplicidade e o despojamento. Estar confortável em si, demonstrar alegria de ser, rir com a língua mais do que com os dentes sustenta o charme.

A empatia é a beleza que fica. A beleza é um mero cumprimento.


Vocês não sabem que dentre todos os que correm no estádio, apenas um ganha o prêmio? Corram de tal modo que alcancem o prêmio. 

(1 Coríntios 9:24)

quinta-feira, 24 de agosto de 2017


#Eduardo Galeano

três dias sem celular


Consta que o escritor francês Honoré de Balzac não tinha pela fotografia muita consideração. Dizia ele: “Todos os corpos físicos são compostos, na sua totalidade, por infinitas camadas fantasmagóricas, uma em cima da outra. A fotografia tem o poder de retirar cada camada espectral e de transferi-la para o retrato”. Ou seja, a cada click, morremos um pouco.

Li também em algum lugar (minhas desculpas ao autor desconhecido que ficará sem crédito) que fotografar é tirar o tempo do próprio tempo, engaiolar o momento, eternizar o homem mortal em arquivo. Isso explica, em parte, o fato de tantas pessoas, tribos e povos não gostarem de ser fotografados.

Quando não conseguem evitar, fecham o rosto: é a resistência possível, sonegar o sorriso. Por respeitar aqueles que acreditam em roubo de alma, costumo pedir permissão antes de fotografar desconhecidos, mas só pensei seriamente neste assunto quando fiquei três dias sem celular.

No início, achei que me sentiria amputada, mas aconteceu o contrário: reintegração de posse. Posse do meu olhar, da minha presença íntegra. De repente, eu estava nos lugares com este único fim: ali estar e ponto – não a fim de gerar conteúdo para abastecer redes sociais.

Assisti a uma palestra e não fotografei o palestrante, estive num bairro desconhecido e não fotografei seus prédios, almocei com uma amiga e não bati uma selfie nossa, e isto não causou nenhuma sensação de incompletude ou solidão, ao contrário, lembrei como as circunstâncias e experiências do dia se tornam mais perceptíveis quando não temos um dispositivo eletrônico ao alcance da mão.

É a mesma regra que o teatro impõe: apreenda o que está vendo e escutando, absorva o encantamento, porque logo tudo irá desaparecer e só o seu sentimento irá ficar. O que eterniza – qualquer coisa – é a impressão causada. Óbvio que é muito bom ter fotos das pessoas que amamos, das comemorações, das viagens, de nós mesmos quando crianças, de nossos ritos de passagem. E tão importante quanto é a fotografia como expressão artística e/ou jornalística, o registro de um segundo que transcende o banal, que desperta reflexões, espanto, deslumbramento, releituras.

Mas fotografar tudo e todos, a toda hora, sofregamente, é “tirar o tempo do próprio tempo”, é não estar mais ali como protagonista da própria vida, e sim como um freelancer com um contrato temporário a cumprir. De certa forma, estamos todos a serviço do celular, nosso patrão.

Afanaram meu patrão e não fiquei desempregada, continuei usando a vida. E nem deu tempo de comentar aqui sobre esses três dias em que passei, também, sem escutar os apitos do WhatsApp. Ainda que pareça inacreditável, sobrevive-se.


“Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não deixes o ensinamento de tua mãe.”

Provérbios 1:8

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

a personalidade do pão de queijo


“Dize-me o que comes, e direi quem és”, afirma o velho ditado. Em outras palavras, a comida moldaria a personalidade. 

Se for verdade, tem muita gente encrencada. 

Seriam os vietnamitas e chineses venenosos, pois gostam de aguardente curtida em cobras e escorpiões jogados vivos dentro da garrafa? 
Os mexicanos e tailandeses, com suas pimentas piores que fogo, passariam por infernais? Como o chucrute, cujo efeito intestinal não é lá dos mais agradáveis, marcaria os alemães? 
Os ingleses, com aquela horrível torta de rim, que consequências sofreriam? Teriam um humor “horrímvel”? 
O que dizer dos árabes, apreciadores do olho de carneiro ingerido cru, que estoura na boca igual jabuticaba? Formariam eles um bom time de olheiros? 
A fama que os franceses gozam de correr em disparada diante do exército inimigo resultaria de seu cardápio com carne de cavalo? 
Nós, brasileiros, amantes de uma feijoada, com que cara ficaríamos?

Ah, sim, ia me esquecendo. Temos, em Minas Gerais, o pão de queijo. Estamos ligados qual mel e abelha. 
Quando querem falar mal da gente, acusam-nos de República do Pão de Queijo. Quando nos adulam, elevam nosso acepipe à categoria de revelação divina. 
Políticos em campanha presidencial alçam a quitanda ao nível da buchada de bode, que juram degustar com enorme prazer. 
E depois nos apunhalam. 

“Dize-me o que comes, e direi quem és.” Seria mesmo verdade? 

Então, que personalidade o pão de queijo nos reserva? 
Ele nos faz cordatos, conciliadores, reservados, como gostamos de nos descrever? 
Posto de outra forma, ser mineiro é gostar de pão de queijo? 
Nada disso! 

As Minas são muitas e os mineiros têm a diversidade da espécie humana. Sim, há gente apaziguadora, mas há inflamados. 
Há os que dão um boi para evitar briga e os que não dão nem o berro do boi para fugir dela. 
O número de tradicionalistas talvez equivalha ao de rebeldes.

Como em todo lugar, possuímos políticos honestos e corruptos. Sim, Minas é o mundo, sempre foi. 
Prova disso são os presidentes do Brasil aqui nascidos nas últimas décadas, todos com certeza devoradores de tão elogiada e difamada iguaria, porém com personalidades diferentes. Ou teriam Juscelino, Tancredo, Itamar e Dilma tratos semelhantes, a ponto de culparmos o pão de queijo pela coincidência?

O ditado é falso, portanto. Na verdade, dize-me o que comes, e não saberei quem és. Ainda bem. Privacidade é tudo. 
Podemos continuar apreciando, sem culpa nem consequência, o pão de queijo saindo do forno com um expresso bem forte ou um cafezinho coado na hora. 
Hummm... O mundo ainda se curvará ao nosso gosto. 

Cá entre nós, pois os mineiros nos entendemos bem, mas que ninguém nos ouça: eita trem bão, né?

Luís Giffoni

#dia do pão de queijo

A solidariedade é um movimento natural de identificação. 
Socorremos no outro o que também dói em nós.
Somos os mesmos.
Em lados opostos.



“A tua vara e o teu cajado me protegem.” 

(Salmos 23:4)

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

40 anos sem ele


Eu creio que para cada gota de chuva que cai, uma flor cresce
Eu creio que em algum lugar na noite mais escura, uma vela brilha
Eu creio que para todos os que se perdem, alguém virá para mostrar o caminho
Eu creio, eu creio!

Creio que acima da tempestade, a menor oração ainda será ouvida
Eu creio que alguém no grande lugar ouve cada palavra
Toda vez que ouço o choro de um recém-nascido
ou toco uma folha ou vejo o céu
Então eu sei, porque eu creio!

(I Believe / Elvis Presley)

#o lado gospel de Elvis


Elvis Presley, como se sabe, não morreu, mas se fizermos de conta que sim, teria sido 40 anos atrás

terça-feira, 15 de agosto de 2017


Eu sempre digo que posso
ter uma solidão medonha,
mas sempre vai haver um
vasinho de flores num canto.
A gente pode enfeitar a amargura.


não se mexa depois da separação


Na separação, o primeiro passo é não dar nenhum passo. A imobilidade é o grande truque. Não se mexer dentro da raiva porque pode se arrepender no futuro. Não tenha pressa de tomar decisões.

Respire fundo porque as 48 horas após o término serão fundamentais para assegurar uma possível volta. Os divórcios se tornam definitivos não com aquilo que acontece frente a frente, e sim com as consequências irracionais do desespero de ser ver sozinho de repente.

As pessoas ficam transtornadas quando isoladas e se ofendem como animais, com tamanha gravidade que sacramentam o término. Daí não tem como recuperar a honra. Os machucados das discussões se transmudam em golpes fatais na reputação.

Aqueles que se afastam, em vez de calar a boca e realizar um exame de consciência, ampliam os defeitos e a crise colocando mais gente para opinar sobre o que aconteceu de errado no romance. Acabam telefonando para os familiares e amigos do recente ex para contar segredos que nunca deveriam ter saído da relação. A fofoca sempre será o juiz de guerra.

Houve o afastamento provisório, um desentendimento passageiro, não significa um ódio mortal para propor retaliações.

Não encurte o caminho, não corra com os fatos, não se adiante a espalhar a notícia. Um telefonema ou um toque no interfone pode revolucionar a situação em algumas horas e terá o trabalho dobrado de se explicar para a cidade inteira.

Não mergulhe na ansiedade de provocar a saudade e mostrar o que o outro perdeu. Não se vingue trocando o status do Facebook. Não empregue artifícios do terrorismo, colocando bombas nos santuários do relacionamento e nos lugares prediletos do casal. Não saia transando com antigas pendências e novos pretendentes. Não poste imagens exaltando a condição solteira. Não mexa em seus arquivos no celular. Não descarte as conversas. Não bloqueie o seu amor no WhatsApp somente para se enxergar superior. Não apague as fotos do Facebook e das redes sociais, pois o portal ainda está aberto e qualquer ataque é passível de dificultar o retorno e restringir o respeito.

Esconda as bebidas, compre pizza, empreenda um estoque de sorvete e chocolate, e assista a cinco temporadas de uma série alternando o sofá da sala e a cama. Quando não nos precipitamos tudo se resolve automaticamente.

Não fale mal de quem ainda lhe fez bem durante um longo tempo. Bate-bocas são contornáveis, o que não tem conserto é a difamação.

Pense muito antes de enterrar alguém no coração, para não enterrar vivo.


“Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus.” 

Salmos 51-17

domingo, 13 de agosto de 2017


Descanso meus olhos
Sobre a estrada vencida
Vejo marcas de passos
Por ela guarnecidos.

Paro aqui, na reta final da vida
Porém, ainda não é a despedida.
Aprecio os novos que chegam
Iniciando a linha por mim percorrida.

Na tela da memória
Lindas películas da recordação
São arquivos, bases, degraus no avanço dos anos.
Escalada que vivo com emoção.

Num olhar sobre a vida
Passo em revista
O que a minha existência produziu
E nos atos ensaiados e encenados
No cenário da valentia
Encanto-me com a mensagem
De que a vida é sedutora
Jorrando de si lembranças arrebatadoras.

Num olhar sobre a vida
Sou figura distante
No presente do hoje.
Sou o velho que corrige o novo
Sou deveras o amanhã
Na recordação de um povo.

Chamo-me velhice
Detentora dos anos na vida
Celebro com autenticidade o viver
Sou ativa para os fatos na arte de revivê-los
Sou gratidão pela dádiva da existência
No aconchego dos meus anos a excelência.

(um olhar sobre a vida - Jair Martins)

Mãe, feliz aniversário!
Que a senhora tenha muitos anos de vida, 
já que a eternidade não é possível.

nós, os pais


Não existe nada como ter filhos para nos dar a noção da passagem do tempo. Mas é um tempo que corre diferente, meio esquisito, cheio de espelhos, déjà-vus, e janelas abertas ao infinito das possibilidades.

Ter filhos é também perceber que a responsabilidade pessoal adquire uma importância exponencial a cada dia. Porque, se as crianças absorvem tudo como pequenas esponjinhas inteligentíssimas e têm mesmo nos pais esse espelho incondicional, no fim, você sabe que não é nada daquele super-herói que eles imaginam (ou têm certeza). De maneira que só resta mesmo tentar corresponder da melhor forma possível, entre defeitos, culpas, limitações, e um amor tão incondicional que até dói, de tão apertado que fica o nosso coração ao saber que jamais poderemos proteger nossos filhos de todos os perigos do mundo.

Mas a verdade mesmo é que apenas essa tentativa é a viagem mais extraordinária que poderia existir, com seus sucessos e fracassos, desvios imprevisíveis, surpresas e recompensas. Porque os filhos ampliam a nossa visão do mundo, completam-nos e nos fazem enxergar aquele amor que talvez antes imaginássemos impossível. É procurar o espelho e encontrar uma janela aberta, espraiada ao longe, muito além de onde a vista alcança. 

aos pais, parabéns pelo dia!



Assim como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem.

Salmos 103:13

sábado, 12 de agosto de 2017

pais só dentro do casamento


Há pais que somente são pais dentro do casamento. Quando se separam, deixam a paternidade com a ex-esposa. Largam os filhos.

Não continuam pais quando solteiros e divorciados. Eles exercem a paternidade para agradar a atual mulher. Para impressionar. Para transparecer seriedade. Para sinalizar que pretendem constituir família. Para ostentar planos e projetos de gente grande.

Não seguem com os filhos após o relacionamento. Abandonam as crianças, como se fossem enteados de ocasião.

A paternidade é vista como um capricho do romance, não uma decisão para a vida inteira. Realizam o sonho de mãe de cada mulher, indiferente ao pesadelo paterno que podem impor com sua futura ausência.

Assumem os filhos em nome da esposa, ótimos e afetuosos com seus dependentes enquanto têm interesse na companheira.

Depois desaparecem, espaçam as visitas, estreitam os telefonemas, mudam de perfil, rompem os laços.

Não carregam culpa, capazes de engravidar de novo em outra história e repetir a dedicação e o consequente êxodo. A alienação com filhos anteriores não impede a reincidência. Formam uma segunda família do zero, absolutamente desmemoriados.

A paternidade aparece como um ciclo do namoro, jamais como responsabilidade integral. É um contexto provisório, uma circunstância da sedução. Desprezam o caráter permanente do envolvimento filial.

Esses pais amam seus filhos a partir das mulheres, não além das mulheres.

São pais de fachada, que usam as crianças para sensibilizar a alma feminina. São pais psicopatas do amor.

#abandono afetivo parental