"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



domingo, 27 de setembro de 2015

amor bandido


Não encontro vocabulário que alcance a dimensão do que sinto. Tenho lido os jornais e também comentários diversos no Face, de todas as correntes. Nunca soube de tanto e nunca tive tantas dúvidas, o que me conforta: dúvida é esperança. Mas esperança de quê?

O único talento dos nossos políticos é o de transferir o poder entre si e o de se lixar para o bem público, que deveria ser o objetivo único. Nossos representantes, eleitos por nós, são tão miseráveis, que preenchem o próprio vazio com cargos. Até uma manchete divulgando que o cara está preso pode satisfazê-lo – antes isso do que o anonimato. Prisão domiciliar está sendo comemorada como uma Mega Sena. Indecentes, quase todos. Dou desconto para um Pedro Simon e outro.

Penso muito na Dilma, no ser humano por trás da presidente, em como deve ser o momento em que ela vai pra cama à noite. Imagino que pense antes de dormir: maldita hora em que venci a eleição, poderia estar hoje em posição privilegiada, apontando o dedo em vez de tê-los apontados pra mim. E Aécio, da mesma forma, antes de dormir deve agradecer a sorte de ter perdido. Logo eles trocarão de lugar e assumirão o discurso um do outro, e a pantomima seguirá. Não foi sempre assim?

Depois de Dilma, virá outro inconsequente. Alternância de partido muda quase nada. O que mudaria alguma coisa seria uma mentalidade incorruptível, estímulo à criatividade e total desapego ao poder. Mujica ainda foi o que de mais novo surgiu por aí, ao mostrar que nem todo governante se envaidece com a própria influência. 

O Brasil bem que tentou, deu seu voto de confiança a Lula anos atrás, e algumas coisas foram melhoradas, mas ela estava no caminho, a casca de banana em que tantos derrapam: a ganância. E lá se foi a ética pro espaço, permitindo a continuidade da velha troca de favores que não se interessa por projetos que beneficiem o povo a médio e longo prazos. Mantêm-se os projetos de interesse imediato, sem visão de futuro, que só sustentam o ego de alguns. O ego, sempre ele.

Infelizmente, ame-o ou deixe-o continua sendo o slogan perfeito pra nós, ainda que representativo de uma época nefasta. Como escolher? Nasci neste país que nunca atendeu a meus ideais, e não consigo deixá-lo e também não consigo amá-lo. Amar o Brasil é amor bandido, é ficar ao lado de quem provoca muita dor e só satisfaz minimamente. Seu lado bom (arte, natureza e o que mais mesmo?) alimenta o comodismo.

Então fico, ainda que a sensação seja a de estar num bote inflável, à deriva, sem saber para onde estou indo: que brasileiro, a esta altura, não possui alma de refugiado? Na beira da praia, em vez do corpo imóvel de um menino, vemos meninos fazendo arrastões: é diferente? É, mas nem tanto. Não existe situação vantajosa em meio a desgovernos.

sábado, 26 de setembro de 2015

xadrez para o Rei, hospício para a Rainha


Teleguiada, a rainha não pensa. O sapiens que a concebeu e a colocou onde está não foi sapiens o bastante. Tem poderes de rainha e age como boba da corte. Por seu raciocínio notavelmente desarticulado, seus asseclas deveriam  orientá-la a calar-se, abdicar ao trono ou acatar um tutor.

Alguns, mais próximos, até tentam sugerir-lhe uma postura, ainda que falsa, de humildade. Mas a déspota ignora conselhos, recusa-se ao diálogo, rebela-se, escuda-se em arrogância e movimenta-se doentiamente pelo tabuleiro, em jogadas desconexas e proibidas pelas regras, legitimando-as à custa de patacas distribuídas aos ocupantes das duas torres. A torre da direita e a torre da esquerda. Assim a rainha empurra, com a recém-diminuta barriga, a interdição que lhe caberia em qualquer reino do mundo, menos no teatro de comédias onde a partida tem lugar.

Como em toda peleja oficial, nessa também há juízes. Alguns incorruptos e outros de juízo comprado, nomeados pelo rei para livrá-lo do mate. Em sua imparcialidade de fachada, fazem que não veem os cavalos andando em círculos, os bispos sorrateiramente abduzidos do exército adversário, as rasteiras que aleijam toda a trincheira de peões. Seguem aplacando sua consciência intranquila e sua justiça injustificável alegando outras tantas e presumíveis fraudes do antigo dono do tabuleiro. Saem batendo seus martelos viciados no argumento de que, se nas partidas anteriores se roubava impunemente, é justo que agora também se faça vista grossa. Questão de equanimidade.

Tudo isso entre uma e outra colherada de caviar, superfaturado como o rechaud em que é servido. O rei, momentaneamente acuado e clamando ajuda de exércitos fronteiriços, promete lances triunfais e redentores, um revide messiânico que trará aos desvalidos a terra prometida. Mas até os peões já entenderam que o discurso é um emaranhado de tolices, potencializadas pelo efeito da bebida. E o que o rei de araque, muito em breve, há de prender-se em seu próprio jogo.

por Marcelo Souassábia

quarta-feira, 23 de setembro de 2015


frustração


A história resumida: uma amiga estava há dois meses saindo com um homem bacana. Ele, perdulário em declarações de amor, a convidou para ir a Paris. Ulalá. Ela vibrou. Dez dias antes do embarque, ele mandou um e-mail dizendo que havia voltado para a ex-mulher. Sacanagem, pensamos. Mas sacanagem talvez seja um diagnóstico simplista. 

Ele estava tentando dar um novo rumo à sua vida, porém não contava com o assédio da ex-esposa, seu verdadeiro grande amor. Fez sua opção, e quem morreu um pouco foi minha amiga. Alguém sempre paga o pato. 


O assunto de hoje é uma velha conhecida de todos nós: a frustração. Jogue a primeira pedra quem já não caiu do cavalo (foi frustrado) ou roeu a corda (frustrou alguém). Somos todos experts em sonhos desfeitos. 
Existe coisa pior na vida, claro que existe, mas considero a frustração uma das sensações mais indigestas. 

O emprego é seu! Chegando ao escritório para entregar seus documentos, descobre que o posto já foi preenchido. 
Você quase passou no vestibular! Por uma vaga, umazinha só, ficou de fora do listão. 
A bolsa para estudar na Inglaterra saiu! Pena que o governo decretou um depósito compulsório de última hora e você não tem como pagá-lo. 
A garota que você está a fim chamou para a festa! Chegando lá, encontra a bisca agarrada no seu melhor amigo. 

Me veio à cabeça mais uns 456 exemplos de frustrações, algumas baseadas em experiências pessoais. Mas você tem sua própria lista para recordar, não serei tão cruel. O fato é: durma-se com esse embrulho no estômago. 

É sabido que uma das regras de bem educar uma criança é ensiná-la a lidar com frustrações. Seu bebê amado não será alto o suficiente para ser um campeão de basquete, nem sua lindinha terá as melenas loiras necessárias para ser a princesa do teatrinho da escola. Ou você mente e desvirtua a situação para aplacar a dor dos seus rebentos, ou permite que eles enfrentem essa dolorosa seleção natural e explica: não é isso que mede a importância de alguém. 

Papai e mamãe te amam de qualquer jeito. Grande prêmio de consolação, pensam os baixotes. Porém, baixotes, é isso mesmo. “Papai e mamãe te amam” é tudo o que vocês precisam saber para se lixar para as coisas que não dão certo. E acreditem: um bilhão de coisas não darão certo, dos cinco aos 105 anos. 
Só tendo sido suficientemente amado e protegido dentro do lar para entender que o que não deu certo é uma contingência da vida e que, dependendo do nosso grau de autoconfiança, poderá causar apenas cinco dias de mau humor em vez de uma dor existencial infinita. 

Acredite: os cinco dias de frustração não farão mal nenhum a seu crescimento, pelo contrário, será parte fundamental dele. A dor existencial é que nos engessa e paralisa para sempre. 

Lido razoavelmente bem com frustrações. Sofro os cinco dias protocolares, e depois retiro delas alguma lição que me torne mais aderente a decepções futuras – ambiciono chegar ao dia em que a frustração não doerá nem mais cinco minutos. Conseguirei? 

Na verdade, não pretendo colecionar frustrações para quebrar meu recorde de resistência. Se pudesse, não sofreria mais nenhuma. Mas isso equivaleria a não estar mais disposta a viver. Então, que venham as danadas. Uma de cada vez, que sou forte, mas não sou duas.


tossir, sentar, levantar,
andar, respirar...

Meu amado filho. Minha amada filha.

No dia que esse teu velho não for mais o mesmo, tenha paciência e compreende-me.
Quando eu derramar comida sobre a minha roupa e me esquecer como amarrar os meus sapatos, tenha paciência comigo. E lembra-te então, das horas que eu passei para ensinar-te estas mesmas coisas.

Se quando conversares comigo e eu repetir as mesmas histórias que já sabes como terminam, não me interrompas e escuta-me. Quando eras criança, para que você dormisse, tive que te contar milhares de vezes a mesma história. E isso todos os dias até que fechasse os olhinhos e dormisse.

Quando estivermos reunidos e, sem querer, eu fizer as minhas necessidades, não fiques com vergonha de mim. Compreenda-me e saiba que não tenho culpa disso, pois já não consigo mais controlar. E lembre-te de quantas vezes pacientemente eu troquei as tuas roupas, troquei as tuas fraldas. Te limpei e te quis sempre limpinho e cheiroso.

Não me reproves se eu não quiser tomar banho, mas tenha paciência comigo. Lembra-te dos momentos em que te persegui e dos mil pretextos e desculpas que você procurava encontrar e inventava para tentar me convencer a não precisar tomar banho.

Quando me vires inútil e ignorante na frente de novas tecnologias, não sabendo mexer direito no computador ou no celular, peço-te que me dês todo o tempo que seja necessário. Não me critique com um sorriso sarcástico. Lembra-te que fui eu que te ensinou tanta coisa. Ensinei você a como comer, a se vestir e a andar. Tudo isso é resultado do meu esforço, da minha dedicação e da minha perseverança.

Se em algum momento, quando conversamos eu me esquecer do que estávamos a falar, tenha paciência e não grite comigo e me ajude a lembrar. Talvez a única coisa importante para mim naquele momento, seja o fato de você estar perto de mim, dando-me atenção.

Se alguma vez eu não quiser comer, que você saiba insistir com carinho, assim como eu fiz tantas vezes contigo. Que também compreendas, que com o tempo não terei dentes fortes e nem agilidade para engolir. Daí você deverá pôr a comida na minha boca. Tenha paciência comigo.

E quando minhas pernas falharem por estarem tão cansadas e eu já não conseguir mais me equilibrar, tenha ternura e dê-me a tua mão para que eu possa me apoiar, como eu fiz quando tu começaste a caminhar com as tuas perninhas tão frágeis.

E se algum dia me ouvires dizer que eu não quero mais viver, não te aborreças comigo. Algum dia entenderá que isso não tem nada a ver com teu carinho ou com quanto eu te amo. Tente compreender que já não vivo, senão sobrevivo e isso não é viver.
Compreendas que é difícil ver a vida abandonando aos poucos o meu corpo e que é duro admitir que já não tenho mais vigor para correr ao teu lado ou para tomar-te nos meus braços, como antes.

Sempre quis o melhor para ti. E sempre me esforcei para que o teu o mundo fosse mais confortável, mais belo e mais florido. E até quando eu me for desta vida, terei deixado para ti outra rota, em outro tempo. Mas eu estou certo de estar sempre presente no teu pensamento.
Não te sintas triste ou impotente por me veres assim. Não me olhes com cara de pena ou dó. Dá-me apenas o teu coração. Compreenda-me e apoia-me, como eu fiz quando tu começastes a viver. Isso me dará muita força e muita coragem.

Da mesma maneira como eu te acompanhei no início da tua jornada, peço-te carinhosamente que me acompanhes para terminar a minha vida. Não me deixe sozinho.
Trata-me com amor e com paciência e eu te devolverei o meu sorriso e a minha gratidão.

Com imenso amor que eu sempre tive por ti. 

Atenciosamente: Teu velho.


“Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições.”

Filipenses 4:6

sábado, 19 de setembro de 2015


dos estatutos do homem


(Acto Institucional Permanente)

Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade. Agora vale a vida e, de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa, qualquer hora da vida, uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único: Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.
Artigo Final
Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.

__Thiago de Mello, Santiago do Chile, Abril de 1964

E aquele que não carrega a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo. 

(Lucas 14:27)

sexta-feira, 18 de setembro de 2015



Tomara que a vida realmente aconteça na sua vida. Que você tenha motivos pra sorrir sem motivos, causas para se doar e amigos para contar.

Tomara que a paz ande sempre de mãos dadas com as verdades, que chova alegria no seu quintal e que a chuva lhe convide para dançar. 

Tomara que o seu rumo mude se tiver de mudar e que tudo que vier do coração, permaneça. Que os seus sonhos sejam sempre maiores que o seu medo e que a sua fé não se abale ao longo das perdas. 

Tomara que você tenha força para enfrentar injustiças e esperança para nadar contra a correnteza. Que o egoísmo e a ganância mudem de nome e endereço. Que a harmonia seja o seu lar. 

Tomara que o melhor lhe aconteça. Que a caminhada valha os teus passos e que o futuro lhe contemple com abraços grandes e sorrisos largos.

Tomara que não lhe falte a música, a poesia, a paisagem bonita. Que pelo menos uma vez você perceba Deus nas pequenas coisas e reconheça a Sua voz.
  
Tomara que dê tempo, que não lhe falte amor, que lhe sobre saúde e que você tenha sorte. Que suas dores sejam breves, que seus pesos sejam leves e que a sua vontade de ser feliz seja uma teimosia.  

____Yohana Sanfer

Parabéns (com beijo), Rafael!
Tomara que você seja muito, muito feliz.


travessia


Toda manhã, levo você à escola. Andamos dois quarteirões e, na esquina anterior, coloco a mochila finalmente nas suas costas e o estimulo a atravessar a rua sozinho. Você confia que possa ir. 
De coração trêmulo, eu treino a entrega. Sem segurar na sua mão, aviso: “Não vá ainda, espere esse carro passar”. 
O fluxo dos carros naquela rua não muito movimentada por vezes se assemelha à maré alta. E você, como todo menino, tem pressa. Temo por você, mas sei que não vou poder estar ao seu lado o tempo todo. 
É preciso preparar-se para seguir sozinho – tanto eu como você, filho.

Em minha vida, tantas vezes tento atravessar , acredito que aquela é a hora e acabo atropelada. O sentido figurado me salva. Queria ter alguém que me dissesse: “Agora não”; “Agora, sim, pode ir”. Mas sou eu mesma o alicerce. E ele bambeia.



“Celebrai com júbilo ao Senhor...”

Salmo 100:1-5

quinta-feira, 17 de setembro de 2015


qual a idade pra ser feliz?


Ninguém se conhece direito até passar dos 30. Tem gente que não se conhece mesmo beirando os 70, mas aí é outra história. Antes dos 30, somos apenas um sonho. Um desejo com várias direções. E muita esperança a tiracolo. Até os 30, estamos definindo o que queremos. O que gostamos. O que vamos ser. Não há limites para os planos. Para o número de namorados. Nem para a quantidade de erros.

Depois dos 30, continuamos errando. Continuamos não sabendo. Continuamos esperando. Mas, pelo menos, temos uma breve idéia de onde queremos chegar. Não é fácil, eu admito. Existe uma pressão no mundo para que você se torne só uma coisa: gente grande. Aí, meu querido, começa a batalha... Você tem que ter um diploma, uma carreira, um namorado, um casamento, um filho, um cachorro. (Mesmo que não seja a lista dos sonhos de sua vida). Você tem que cortar o cabelo, tirar o piercing, encompridar a saia, comprar um biquíni maior, aposentar suas calças rasgadas e blusas de banda. (Apesar de achar seu novo “eu” um tanto quanto demodê). 

Aonde isso vai parar? Já conto. Um dia, quando menos se espera, você se enxerga... um chato! Percebe que confundiu responsabilidade com falta de espontaneidade. E encontra sua criança interior puta da vida, num castigo que você mesma criou. É preciso muito equilíbrio para saber a hora de não se levar tão a sério. Mas, criança grande que sou, ainda acho que os 30 são a melhor coisa do mundo. Que se danem as contas, as rugas e demais amolações. As paranóias dos 20 (finalmente!) acabaram. Agora você é um ser sublime e sem espinhas. E – digam o que quiserem! – você nunca mais vai morrer de amor. Depois dos 30, a gente sofre com mais dignidade. A gente sabe que toda dor passa. E entende que – tirando a morte e a lei da gravidade – tudo tem conserto. 

Se eu gostaria de voltar no tempo? Ah, acho que não... Ninguém, em sã consciência, tem saudade de usar aquela sunga ridícula do uniforme de educação física do colégio. Ninguém sente falta de ser insegura. Ninguém gosta de pedir permissão aos pais pra sair. Ninguém tem saudades da aflição de ser virgem e pensar depois da “primeira vez”: então é SÓ isso? Não, gente, tem coisas na vida que melhoram incrivelmente com a idade. Vejo muita gente apavorada em ficar mais velha. Mulheres com crise existencial porque fizeram 30. Eu sei que vivemos numa cultura que almeja o belo. E o novo. Eu me preocupo com tudo isso também, mas acho que não devemos esquecer uma coisa: renovar quem somos por dentro. Pode parecer clichê, mas é verdade. Chega de nos preocuparmos tanto com botox, preenchimento, lifting, pilates e anti-rugas. Chega de chorar pelos cantos porque você acha que passou da idade de começar de novo. Chega de tanto drama porque você ainda não encontrou o amor da sua vida. Ou mais realisticamente dizendo: um cara bacana com quem você possa viver seus dias. Amor não tem idade. Beleza também não. Pra cada um, a vida dá um tempo. Não é porque a sociedade nos manda um roteiro pronto (com prazo estabelecido), que iremos seguir tudo à risca. (Afinal, é isso que você quer?). 

Depois de muitos aniversários, descobri que ganhei muito mais do que perdi. Com o passar dos anos, fiquei mais corajosa. Mais segura. Mais esperta. Mais sábia. Mais seletiva. E mais feliz. Perdi minhas vergonhas. Minhas inseguranças (não todas, mas muitas delas). E perdi também o medo de dizer o que penso. E o que eu penso? Ah, pessoal, a mulherada anda boba demais! Vamos parar de nos importar tanto com faixa etária e cabelos brancos. Vamos esquecer das equações que nos ensinaram pra ter uma vida perfeita. Vamos parar de dizer o tal “tô passando da idade”. Vamos nos conhecer mais. Preencher nossos vazios. Paralisar nossos medos. E nos livrar de todos os sinais que não nos fazem bem. Meninas, a plástica aqui é interna. Se está ruim, conserte. Comece tudo de novo. Aproveite que você já sabe o que (externamente) lhe cai bem. E mude. Por dentro. Afinal, com que cara você quer chegar aos 40?


harmonia


São delicados e sutis os fios da harmonia. 
Ao contrário da alegria, do entusiasmo, ela é uma das sensações mais discretas. Sua voz é quase imperceptível, feito outra qualidade de silêncio. Ela não é uma gargalhada, é aquele sorriso por dentro, uma sensação gostosa de estar no lugar certo, na hora adequada. Feito um arco-íris depois da tempestade, sua beleza é adornada pelo equilíbrio dentro do derramamento. É um adestramento dos fantasmas internos. A possibilidade de aprimorar os pensamentos. É quase como não pensar. 

Simplesmente, sentimos uma ligação profunda com tudo, um denso bem-estar. Como se tivéssemos uma secreta intimidade com o mundo, certa cumplicidade com o tempo. É como se observássemos descompromissados, ela é uma descontração. Como se o coração batesse pelo corpo todo, mas sem extremada euforia. Uma tranqüilidade dilatada no peito, o olhar satisfeito, a mente entendendo que já nem precisa entender o que é prosa ou poesia. E o mundo inteiro cabendo num abraço. E uma firmeza na carícia, a maturidade que perdeu o cansaço, uma confiança que preenche a existência.

A harmonia é um contato profundo com a experiência. E o tempo do dia não é mais composto por esperas, ele é vivido. E já não se fala, palavras passeiam pela boca. E já não se escreve, as frases coreografam as paisagens. E já não se ama, o amor vigora em nós. 

A harmonia tem fios muito delicados e sua trama faz a ligação mais suave entre todas as urgências já sentidas. E o chão do sonho é macio, e tudo parece estar alinhavado, numa ligação sem sufocamentos. E a poesia não deseja mais ser nada, vira o afago de um momento. E nas letras a textura de um veludo, como se ao correr pela página, os olhos pudessem ser acariciados. E você tem todas as coisas sem precisar tomar posse delas. Você ama o amor, não o delírio de estar apaixonado. 

Sinto a harmonia como uma espécie de fascínio pela vida. É quase uma perda de outros apetites, porque se está tão nutrido pela própria companhia. E a gente tem aquela vontade súbita de andar pela noite: não apenas para olhar as estrelas, mas também para por elas sermos vistos.

Harmonia é como se fôssemos inundados pelo mar onde antes só havia um precipício.


Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam.

Salmos 23:4

quarta-feira, 16 de setembro de 2015


Dizem: quando nasce um bebê, nasce uma mãe também. E um polvo. Um restaurante delivery. Uma máquina de chocolate prontinho. Uma mecânica de carrinhos de controle remoto. Uma médica de bonecas. Uma professora-terapeuta-cozinheira de carreira medíocre. Nasce uma fábrica de cafuné, um chafariz de soro fisiológico, um robô que desperta ao som de choro. E principalmente: nasce a fada do beijo.

Quando nasce um bebê, nasce também o medo da morte – mães não se conformam em deixar o mundo sem encaminhar devidamente um filho.

Não pense você que ao se tornar mãe uma mulher abandona todas as mulheres que já foi um dia. Bobagem. Ganha mais mulheres em si mesma. Com seus desejos aumentam sua audácia, sua garra, seus poderes. Se já era impossível, cuidado: ela vira muitas. Também não me venha imaginar mães como seres delicados e frágeis. Mães são fogo, ninguém segura. Se antes eram incapazes de matar um mosquito, adquirem uma fúria inédita. Montam guarda ao lado de suas crias, capazes de matar tudo o que zumbir perto delas: pernilongos, lagartas, leões, gente.

Mães não têm tempo para o ensaio: estreiam a peça no susto. Aprendem a pilotar o avião em pleno voo. E dão o exemplo, mesmo que nunca tenham sido exemplo. Cobrem seus filhos com o cobertor que lhes falta. E, não raro, depois de fazerem o impossível, acreditam que poderiam ter feito melhor. Nunca estarão prontas para a tarefa gigantesca que é criar um filho – alguém está?

Mente quem diz que mãe sente menos dor – pelo contrário! Ela apenas aprende a deixar sua dor para outra hora. Atira o seu choro no chão para ir acalentar o do filho. Nas horas vagas, dorme. Abastece a casa. Trabalha. Encontra os amigos. Lê – ou adormece com um livro no rosto. E, quando tem tempo pra chorar – cadê? -, passou. A mãe então aproveita que a casa está calma e vai recolher os brinquedos da sala. “Como esse menino cresceu”, ela pensa, a caminho do quarto do filho. Termina o dia exausta, sentada no chão da sala, acompanhada de um sorriso besta.

Já os filhos, ah… Filhos fazem a mãe voltar os olhos para coisas que não importavam antes. O índice de umidade do ar. Os ingredientes do suco de caixinha. O nível de sódio do macarrão sem glúten. Onde fica a Guiné-Bissau. Os rumos da agricultura orgânica. As alternativas contra o aquecimento global. Política. E até sua própria saúde. Mães são mulheres ressuscitadas. Filhos as rejuvenescem, tornando a vida delas mais perigosa – e mais urgente.


Quando nasce um bebê, nasce uma empreiteira. Capaz de cavar a estrada quando não há caminho, só para poder indicar: “É por ali, filho, naquela direção”.

(texto lindo, que dedico ao meu bebê que, há 29 anos, me faz sentir todas essas sensações)

Parabéns pelo seu aniversário, filho!
Que você continue sendo iluminado pelo amor de Deus. 
Eu estarei sempre aqui, torcendo muito por você e pra você. 

Com todo amor do mundo...




Que Deus coloque no seu coração a certeza de que por mais impossíveis que os sonhos pareçam ser, Ele pode realizá-los. 
Não importa o que você sinta, Ele sabe o que te dói e o que te faz feliz e, sinceramente, Ele é o único que precisa saber, pois Ele é o único que pode te ajudar.

____Bruna Lopes

Ensina-nos a contar os nossos dias e usar nosso pouco tempo para conseguirmos a tua sabedoria.

Salmo 90:12 – Bíblia Viva

terça-feira, 15 de setembro de 2015


Hoje eu lembrei que tem coisas que a gente jamais pode esquecer. Agradecer é uma delas: Obrigada, de coração cheio e sorriso largo. 


Quando olho para o meu passado, encontro uma mulher bem parecida comigo - por acaso, eu mesma - porém essa mulher sabia menos, conhecia menos lugares, menos emoções.

domingo, 13 de setembro de 2015


Programei esse post para comemorar o meu aniversário.
(Estou em BH com o namô)
Já que posso fazer pedidos:
Amor, paz, prosperidade e saúde é o que almejo, 
não somente pra hoje, mas por toda a vida.
Happy birthday to me!!!

Os anos passam e nos tornamos heróis ou heroínas da nossa história. Foram ventos e tempestades, muito calor ou muito frio, muita lágrima e muito riso, muita tristeza e muita felicidade!
Muitos amigos e muitas amizades. Surpresas, decepções... amores, dissabores, bons e maus momentos aqui e acolá.

O tempo passou mesmo quando eu queria que ele parasse. Tive a impressão que parou quando quis que avançasse.
Mas ele não se deu conta disso e continuou sua tarefa.

Hoje é apenas um dia a mais. Importante? Sim, como ontem e como amanhã.
Especial? Sim, especial.

Acho que quanto mais o tempo passa, mais a gente sente a sua importância, a urgência em viver a vida em seus pormenores, em prová-la sem engolir quente demais para não sentir o seu gosto e nem frio demais para que tenha perdido sabor.
A vida é linda e nosso coração é o mesmo do início ao fim, mesmo se mais vivido, mais experimentado.

As emoções do passado vão me tocar ainda hoje, mas de maneira diferente.
Deve ser isso o que as pessoas chamam de chegar a uma idade madura.
Amadurecer deve ser quando a gente vê e sente as mesmas coisas, mas olha de maneira diferente.
Deve haver mais ternura num olhar amadurecido. Deve sim...

Recebo a vida como um presente e as minhas amizades verdadeiras como uma compensação da vida.

Aniversariar deve ser isso: olhar pro céu, abrir os braços e acolher o que o tempo ainda nos reserva. Com força, coragem e paciência. Com amor, sobretudo com amor.

Sou uma heroína da minha existência? Sim, como todos nós.
Todos somos aos olhos de Deus. E no livro que Ele escreve pra nós, nos dá o papel principal.
Assim é que no nosso aniversário tentamos sempre nos lembrar da introdução e recapitular, sem jamais querer saber qual e quando será o último capítulo.
E isso não é mesmo importante.
Hoje é o dia presente, em todos os sentidos da palavra.
E vou vivê-lo!!!

___Letícia Thompson

quinta-feira, 10 de setembro de 2015



Desejo maturidade. 
Quando se tem maturidade, dá-se melhor o valor que tem cada coisa, sem supervalorizar o que é irrelevante ou subestimar um pequeno aprendizado. 
Desejo muita paz: um coração sossegado entrega-se com mais confiança. 
Desejo saúde e disposição. 
Desejo proteção espiritual. 
E desejo continuar sendo merecedora dessa boa sorte de falar e poder ser atentamente ouvida, de calar e ser respeitada, de amar e ser correspondida, de atrair pessoas de coração bom e muita sensibilidade, e de poder descobrir a cada dia que a verdadeira erudição está na simplicidade.




crazy é uma palavra que confere certo humor à loucura
parece que se é uma louca divertida, supercrazy, personagem de gibi
alegre, magnética, cabelo colorido, uma destrambelhada que ri

crazy é uma palavra que não descreve a minha inversão
sou louca em português, very absorta, nada institucional
desajuste silencioso, independente, que não se cura nem se cobre com bandeide

crazy não me intitulo, tenho a fachada sã e não trago o riso solto
meu desvio é genético, louca de berço, pura, sem aditivos
loucura genuína não se produz e a américa nada a tem a ver com isso

crazy é bacana, crazyland, terra dos que estão em paz e fumam,
a noite inteira gargalhando, beijando-se uns aos outros just fun
o que sinto é mais uterino, absolutamente pessoal e profano

crazy, sou às vezes

louca, doze meses por ano.

como é que dá?



Como é que dá pra viver, sabendo que vai morrer? Como é que dá pra morrer, sabendo que sempre se vive tão pouco? Como é que dá pra ser pouco, se sempre se tem tanto pra ser? Como é que dá pra ser muito, se sempre se pode ser mais? Como é que dá pra pensar, com tanto o que fazer? Como é que dá pra fazer, com tanto o que pensar? Como é que dá pra não se preocupar, com tudo isso lá fora? Como é que dá pra se preocupar, com tudo aquilo lá fora?

Como é que dá pra ser feliz, sabendo que vai acabar? Como é que dá pra ser triste, sabendo que vai acabar? Como é que dá pra ter esperança, se no final tudo sempre acaba? Como é que dá pra não ter esperança, com tudo de bom que já nos aconteceu? Como é que dá pra sentir falta, se sempre falta tanto? Como é que dá pra aproveitar, se já já a falta vai chegar? Como é que dá pra descansar, com tanto por fazer? Como é que dá pra fazer, com tão pouco descanso?

Como é que dá pra acreditar, depois de tudo isso? Como é que dá pra não acreditar, depois de tudo aquilo? Como é que dá pra sofrer, sabendo que ela está pensando em você? Como é que dá pra ser feliz, sabendo que, durante dez segundos, ela pode não estar pensando em você? Como é que dá pra brigar, amando tanto? Como é que dá pra amar, brigando tanto? Como é que dá?

Dá?

Sempre dá. Tem que dar.

__Léo Luz