"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

bem vindo à realidade!


E daí que você não ganhou na Mega-Sena da virada? Você também não acordou em 02 de janeiro mais magro, mais inteligente ou menos endividado! O dia começou como outro qualquer.  E aí você fica em dúvida se é realmente um novo momento ou se continua tudo a mesma coisa?
Você não é o primeiro, nem será o último a duvidar. Acontece com todos nós, mortais! Na verdade, você apenas acordou um pouco mais determinado a fazer aquelas coisas que você prometeu na noite de réveillon. Só um pouco. Nada de esplêndido nisso.

Se parar para pensar, você também não teve nenhuma ideia fantástica que tenha entrado para a história, nem inventou um produto revolucionário para o mercado e muito menos criou uma frase de efeito que tenha virado um meme. É! Dá para concluir que você não nasceu para a fama! Nem você, nem 99,9% da população.
Fica triste, não!

E quem foi que disse que é preciso ser famoso, rico ou importante para ser feliz? Mesmo porque, nós sabemos, eu e você, que nenhum desses subterfúgios são, de fato, sinônimos isolados de felicidade.
A pessoa que nasceu para ser feliz não precisa de nada disso! Ela é feliz e pronto! Quem veio a este mundo para ser feliz, é feliz pegando o ônibus lotado toda manhã, é feliz morando no Sertão da Paraíba, no subúrbio de Pequim ou na Vila Constantina. Isso é tão fantástico que causa um estranhamento nos demais. O sujeito é feliz ganhando pouco, com pouca saúde, sozinho, pagando boleto, varrendo rua ou entregando panfleto. E nada, nem ninguém tira isso dessas pessoas.

Porque infeliz mesmo é aquele que coloca alguma condição para ser feliz. Quando eu comprar minha casa, eu serei feliz, quando eu for promovido, eu serei feliz, quando meu time for campeão... Mentira! Esses pobres de espírito não serão felizes nunca! Tão logo uma pessoa dessas compre a casa, ou seja promovido, ela vai inventar outro subterfúgio para ancorar a infelicidade dela! E esta, de verdade, é uma pessoa pobre! Um coitado no verdadeiro sentido da palavra!

Chame de desafio, de problema, de obstáculo, do que você quiser os entraves do seu caminho. Só não os use como desculpa para a sua infelicidade crônica. Certas doenças não têm cura, têm justificativa.
E agora trate de correr atrás do que vale a pena para você, porque foi para isso que você veio ao mundo!

Já é 2018. Janeiro já acabou. Bem-vindo à realidade!


#dia do mágico

Jó 5:23
Pois fará aliança com as pedras do campo, e os animais selvagens estarão em paz com você.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018


Que nunca me falte sonhos. Que nunca me falte sobriedade. Que nunca me falte a fé e a esperança.
O restante, que me seja dado por acréscimo.


o nó entre pai e filho


Há certos rituais que ainda são dos homens, hábitos exclusivos entre pai e filho, que não podem se perder com o tempo e a tecnologia.

Ensinar a se barbear com a devida espuma é um deles. Nada mais bonito do que pai e filho próximos no espelho, rostos sobrepostos, o pai pedindo licença para descer a lâmina na pele do filho, avisando que não vai machucá-lo, que não é para ter medo, demonstrando a firmeza da diagonal do gesto. O filho prestando atenção, e admitindo a exceção de uma mão que não a sua tocando em sua face, como um beijo diferente, como parte da sua vida. E depois colocar a toalha quente e borrifar loção, estapeando levemente os poros abertos e partilhando a ardência saborosa e perfumada da virilidade. Que tudo termine numa risada com "entendi, pai, entendi".

Fazer o nó da gravata é outra lição essencial. Acabei de explicar ao meu filho Vicente. Tinha que ser eu. Para que pudesse lembrar de mim em sua formatura, em seus dias de emprego, em suas saídas oficiais para festas e casamentos.

É hastear a bandeira do nosso amor no colarinho. A gravata traz uma delicadeza séria, uma doçura digna. Não importa a cor, será o nosso jardim nos ombros.

Quando ele firmou o nó pela primeira vez em seu pescoço, eu senti que nenhum mal e desavença posterior nos soltaria. Estávamos presos aos cadarços das camisas.

Foi um misto de orgulho e de nostalgia. Era pôr um laço definitivo de filiação. Eu o deixava ir para ficar na memória. Aceitava, com dificuldade, que ele estava grande, de que cresceu, de que deveria abrir o seu caminho sem precisar de mais ninguém para pedir favor. Daria conta de si sozinho dali por diante.

Não haverá abraço no futuro que nos torne tão rentes como naquele momento.

Assim que deve ser: é o filho que fará a gravata no enterro do pai. Valor a ser passado de geração em geração, pelos ciclos da existência.

Só ele repetirá a minha assinatura, ponto por ponto, dobra por dobra, não aceitando a ponta da gravata maior do que a cintura, não aceitando a despedida de qualquer jeito, mantendo o respeito e o capricho da minha essência na aparência.


O que Ele abre ninguém pode fechar, e o que Ele fecha ninguém pode abrir.

Apocalipse 3:7

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018


os erros de Luiz


“Você errou, Luiz!
Errou na mão, errou na dose, errou no tempo, errou na história...
Contra todo e qualquer argumento, Luís, você teve a oportunidade histórica de fazer diferente...
Mas escolheu fazer igual, escolheu piorar o que sempre criticou.
Esqueceu suas raízes, suas origens humildes e se aliou aos poderosos de plantão.
Esqueceu os seus amigos antigos e olhando apenas pra o próprio umbigo, Luís, abraçou a traição.

Você errou, Luiz!
Errou feio...
Errou no mensalão, errou no petrolão, errou ao escolher e defender Dilma e ao andar na contra-mão.
Errou ao deixar seu filho ser o “fenômeno executivo de plantão.
Errou ao deixar o poder e a glória lhe subir a cabeça.
Errou mais ainda ao deixar que o dinheiro e a fama congelassem seu coração.
Errou em Santo André, no São Francisco, no Rio de Janeiro, em Atibaia, em Guarujá, em todo o país.
Errou na presunção de não ter ninguém à altura de sua luz.
Errou quando se equiparou em honestidade a Jesus.
Errou de forma tropega e infeliz.

Você errou muito, Luiz!
Errou quando transferiu a culpa pra gente que não podia mais se defender.
Celso Daniel, Marisa Letícia, acusados depois de morrer.
Errou quando disse que nada sabia, quando cinicamente mentia, insistia em não se envolver.
Errou quando foi incapaz de reconhecer um erro sequer, seu ou de seu partido.
Dos genuínos dólares na cueca às reformas e imóveis dos quais "nunca tinha ouvido".

Como você errou, Luiz!
Errou ao perder um dedo, ao fazer segredo de sua voraz ambição!
Errou ao se achar “o cara, errou na auto-vitimização.
Errou ao elogiar Chaves, Evo, Maduro, errou na manipulação.
Errou com os companheiros Dirceu, Palocci, Delcídio, Vaccari, Vargas, deixando todo mundo na mão.
E na prisão!

É, Luiz...
De tanto que errou, você tanto fez, que agora é a bola da vez.
Na marola do mar de lama em que se transformou o seu tempo no poder, não tinha mais como se esconder.
E embora o fanatismo de uns, o ego de outros e o interesse de tantos ainda tentem lhe absolver,
mais do que uma pena, você é digno de pena, Luiz!
Todos que lhe conhecem sabem muito bem que seu maior crime foi um assassinato.

Foi você, Luiz, e só você que matou o Lula!
E ao matar o Lula você aniquilou a mais bonita militância política que um partido já teve neste país.
Uma militância legítima, espontânea, verdadeira.
Não a que você conseguiu transformar em gente paga, com pão e mortadela.

Você errou, Luiz!
E já passou da hora de pagar as contas por seus erros.
Quem sabe, em sua arrogância insana, você até se sinta feliz.
Afinal você vai em cana. E cana é tudo o que você sempre quis!”

Texto atribuído à Marieta Severo (apoiadora de Lula), 
mas desmentido pela filha dela.



“O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento.” 

(2 Pedro 3:9)

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

finado Lula


“Nunca entre num lugar de onde tão poucos conseguiram sair”, alertou Adam Smith. “A consciência tranquila ri-se das mentiras da fama”, cravou o romano Ovídio. “Corrupção é o bom negócio para o qual não me chamaram”, ensinou o Barão de Itararé.

E na contramão de todos está alguém que abriu mão de si mesmo pelo poder. Lula construiu uma história de vida capaz de arrastar emoções e o levar à presidência. Agora, de modo desprezível, o mesmo Lula destrói-se por completo.

Não é preciso resgatar o tríplex, o sítio ou os R$ 30 milhões em “palestras” para atestar a derrocada do ex-presidente. Basta tão somente reparar a figura pitoresca na qual Lula se tornou.

O operário milionário sempre esbanjou o apoio popular e tomou para si o mérito de salvar o país da miséria. Contudo, junto disso, entregou-se aos afetos das maiores empreiteiras, não viu mal em lotear a máquina pública, nem constrangeu-se em liderar uma verdadeira organização criminosa.

Sem hesitar, brincou com os sonhos do povo e fez de seu filho, ex-faxineiro de zoológico, um megaempresário. Aceitou financiamentos regados a corrupção, fez festa junina pra magnatas e mentiu, mentiu e mentiu. O resultado, enfim, chegou: ao abrir mão de si mesmo, Lula perdeu o povo.

Pelas ruas, o ex-presidente é motivo de indignação e fonte de piadas. Lula virou chacota, vergonha, deboche. Restou-lhe a militância do pão com salame e aqueles que tratam a política com os olhos da fé messiânica.

Seu escárnio da lei confirma sua queda. Lula ainda enxerga o Brasil como um rebanho de gado e não percebe que está só, cercado por advogados que postergam seu coma moral. Enquanto ofende o judiciário e todos aqueles que não beijam seus pés, Lula trancafia-se na bolha de quem ainda acredita que meia dúzia de gritos e cuspes podem apagar os fatos.

O chefe entrou num mundo sem saída, trocou sua consciência pelo poder e corrompeu-se até dissolver sua essência. Lula morreu faz tempo. Restou-lhe, apenas, uma carcaça podre que busca a vida eterna no inferno de si mesmo.

Gabriel Tebaldi



“Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego.” 

(Romanos 1:16)

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

das resoluções de ano novo: poupar


Não sei fazer investimento, tipo poupança, ações e tal.

Sou bastante consumista, mas não vivo endividada. 
Meus parcelamentos à perder de vista (tempos de crise, já viu, né?), são meticulosamente planejados. Por mim, parcelo em 10x até quando compro com o cartão “dusôtros”.

Todas as vezes que eu juro que vou guardar dinheiro, surge um objeto de desejo que eu (não!) preciso muito e acabo comprando.

Se eu parar de comprar, as contas vão chegar com menos frequência e não vou poder sentir a emoção de ver o esperado 9/10 nas faturas do cartão de crédito, e é aí que vou descumprir minha resolução.

Então... Acho que não será em 2018 que vou começar a fazer meu “pé de meia”

#eu, fazendo compras:
- Deseja parcelar a compra em quantas vezes, senhora?
- Até Jesus voltar, por favor!



“Quem só acredita no visível tem um mundo muito pequeno.”


 “E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se esfriará. Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.” 

Mateus 24:12-13

domingo, 21 de janeiro de 2018


Outro dia, a Adriane Galisteu deu uma entrevista dizendo que os homens não querem namorar as mulheres que são símbolos sexuais. 

É isto mesmo!
Quem ousa namorar a Feiticeira ou a Tiazinha?

As mulheres não são mais para amar, nem para casar ou comer. São para “ver”.

Que nos prometem elas, com suas formas perfeitas por anabolizantes e silicones?
Prometem-nos um prazer impossível, um orgasmo metafísico, para o qual os homens não estão preparados.

As mulheres dançam frenéticas na TV, com bundas cada vez mais malhadas, com seios imensos, girando em cima de garrafas, enquanto os pênis-espectadores se sentem apavorados e murchos diante de tanta gostosura.

Os machos estão com medo das “mulheres-liquidificador”.

Essas fêmeas pós-industriais foram fabricadas pelo desejo dos homens ou melhor, pelo desejo que eles gostariam de ter, ou melhor ainda, pelo poder fálico que as mulheres pensam que os homens possuem.
O modelo da mulher de hoje, que nossas filhas ou irmãs almejam ser (meu Deus!), é a prostituta transcendental, a mulher-robô, a “Valentina”, a “Barbarela”, a máquina-de-prazer sem alma, turbinas de amor com um hiperatômico tesão.

Antigamente, a prostituta era dócil e te servia. O homem pagava para ela “não” existir. Hoje, a cortesã moderna existe demais. Diante delas, todos se arriscam a broxar, apesar de desejá-las como nunca. A broxura que advém diante dessas deusas não é por moral ou culpa; é por impossibilidade técnica. Quem se atreve a cair nas engrenagens desses “liquidificadores”.

Que parceiros estão sendo criados para estas pós-mulheres? Não os há.
Os malhados, os turbinados, geralmente são bofes-gay, filhos do mesmo narcisismo de mercado que as criou.
Ou, então, reprodutores como o Szafir, para o Robô-Xuxa.

A atual revolução da vulgaridade, regada a pagode, parece “libertar” as mulheres.
Ilusão à toa.
A “libertação da mulher” numa sociedade escravista como a nossa deu nisso: Superobjetos se achando livres, mas aprisionadas numa exterioridade corporal que apenas esconde pobres meninas famintas de amor, carinho e dinheiro.
São escravas aparentemente alforriadas numa grande senzala sem grades.

Mas, diante delas, o homem normal tem medo.
Elas são areia demais para qualquer caminhãozinho.

Por outro lado, o sistema que as criou enfraquece os homens que trabalham mais e ganham menos, têm medo de perder o emprego. Vivem nervosos e fragilizados com seus pintinhos trêmulos, decadentes, a meia-bomba, ejaculando precocemente, puxando sacos, lambendo botas, engolindo sapos, sem o antigo charme jamesbondiano dos anos 60.
Não há mais o grande conquistador.

Temos apenas os “fazendeiros de bundas” como o Huck, enquanto a maioria virou uma multidão de voyeur, babando por deusas impossíveis.

Ah, que saudades dos tempos das bundinhas e peitinhos normais e disponíveis...

Pois bem, com certeza a televisão tem criado sonhos de consumo descritos tão bem pela língua ferrenha do Jabor.
Mas ainda existem mulheres de verdade.

Mulheres que sabem se valorizar e valorizar o que tem “dentro de casa”, o seu trabalho.
E, acima de tudo, mulheres com quem se possa discutir um gosto pela música, pela cultura, pela família, sem medo de parecer um chato ou um cara metido a intelectual.
Mulheres que sabem valorizar uma simples atitude, rara nos homens de hoje, como abrir a porta do carro para elas.
Mulheres que adoram receber cartas, bilhetinhos (ou e-mails) românticos.
Escutar no som do carro, aquela fitinha velha dos Bee Gees ou um cd do Kenny G (parece meio breguinha), mas é tão bom namorar escutando estas musiquinhas tranquilas.

Penso que hoje, num encontro de um Turbinado com uma Saradona o papo deve ser do tipo:
-“meu professor falou que posso disputar o Iron Man que vou ganhar fácil!”
-“Ah, o meu personal Trainner disse que estou com os glúteos bem em forma e que nem vou precisar de plástica”.

E a música???
Se não for o último sucesso (?) dos Travessos ou Chama-chuva, com certeza, é o Bonde do Tigrão!

Mulheres do meu Brasil Varonil, não deixem que criem estereótipos!
Não comprem o cinto de modelar da Feiticeira.
A mulher brasileira é linda por natureza!

Curta seu corpo de acordo com sua idade. 
Silicone é coisa de americana que não possui a felicidade de ter um corpo esculpido por Deus e bonito por natureza.
E se os seus namorados ou maridos pedirem para vocês malharem e ficarem iguais à Feiticeira, fiquem... igual a feiticeira dos seriados de TV:

Façam-os sumirem da sua vida!

O texto é bem antigo, mas atual. 
Com exceção das músicas, que hoje, o que bomba é Anitta, Pabllo Vittar e Jojo Todynho, com o Que tiro foi esse.


“A solidariedade é uma forma visível do amor.
Pela magia do sentimento de solidariedade, meu corpo passa a ser morada de outro.
É assim que acontece a bondade.”


Depois de passar pela escuridão
você descobre que a luz não está no fim do túnel.
A luz está em você.

/Cesar Mach/

“Porque há esperança para a árvore que, se for cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus renovos.” 

Jó 14:7
Podemos perder as folhas, os galhos e até o tronco, 
mas o segredo está na raiz.

sábado, 20 de janeiro de 2018


“Maninha, precisava ser agora?
Elis, quando eu soube, assim de imediato, não acreditei.
Esse vício de eternidade que a gente tem.
E logo você, bicho?
Tão agitadinha, tão atrevidinha e cheia de vida.
Fui ao banheiro lavar o rosto, molhar os pulsos e
olhar bem a minha cara cansada de 33 anos.
(...) Então, peguei um táxi e vim embora.
Pedi para ele parar antes de casa, comprei duas garrafas de vinho.
Estou no meio da segunda.

Pimentinha, que difícil que tá.
Você tem que amar quem você ama agora, já!
Você tem que começar a fazer tudo o que você quer, porque a bruxa tá do lado esperando.

Elis, eu também vou morrer nem sei quando.
Antes eu queria tanto ser feliz.
Embora nem saiba como é isso.

Acendo uma vela branca procê ir embora numa boa.
Abro as janelas e ponho bem alto você cantando ‘Primeiro Jornal’, porque é assim que quero te guardar, juntando tua voz matinal aos restos dos sons noturnos que ainda boiam na casa.

Não tenho medo da morte.
Tenho medo da vida.

Baixinha, foi tão de repente..
Maninha, precisava ser agora?
Em pleno verão, o sol quase em Aquário.

Sei que teu coração não aguentava mais tanta barra.
Sacanagem...
E juro que agora eu ouvi você rindo assim: quá-quá-rá-quá-quá.
Tô sentindo um oco, Hélice. Tão ruim.
O dia não conseguiu chover:
eu queria agora chorar todo o choro que o dia não chorou por ti.
Não consigo.

Eu tenho a impressão de que poderia reconstituir, dias após dia, desde uma daquelas manhãs de domingo no Cine Castelo (que coisa mágica, eu tinha 12 anos, você 15),
até estas duas da madrugada de hoje?
Consigo não, Che.

A gente, que é gaúcho, se entende.
O tempo existe, Pimentinha, e passa, leva no arrastão as coisas e as pessoas que não morrem: ficam encantadas.

Y solo resta el silencio, un ondulado silencio...
Nós te amávamos tanto, tanto.
Guria.
Até.”

[sobre a morte de Elis Regina, pelo amigo Caio]


“O reino dos céus é também semelhante a um que negocia e procura boas pérolas; e, tendo achado uma pérola de grande valor, vende tudo o que possui e a compra.” 

Mateus 13:45-46

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018


assédio, que cansaço...


Periodicamente, surgem os temas do momento, da moda ou da neura, as obsessões ou as catarses. Às vezes, movimentos mais do que justos.

Nestas semanas, fala-se obsessivamente de assédio: aqui, na Europa, nos Estados Unidos sobretudo, numa erupção vulcânica, às vezes cheirando a enxofre, de acusações justas, invenções cruéis, atitudes ridículas. Moralismo é farisaísmo e hipocrisia numa bela mistura. Prefiro falar em decência natural, e respeito óbvio.

Na Inglaterra, a senhora jornalista de meia-idade de repente lembra: “O ministro tal botou a mão no meu joelho há trinta anos”. Vai a público, denuncia. Imediatamente, o ministro, importantíssimo aliás, declara que, sim, vagamente recorda, é culpado, e... se demite. Nos Estados Unidos, mais fanáticos nesses assuntos, um já idoso figurão do cinema e da televisão é acusado por uma das candidatas a emprego, que aceitou entrar com ele no quarto de hotel, e ficou revoltadíssima quando a digna figura lhe exigiu carinhos em troca de aumento ou emprego, ou seja o que for.

Somos mesmo tão ingênuas assim, neste mundo, nesse meio? Não duvido da veracidade de muitas dessas acusações. Nem todas: dificilmente, uma mocinha linda imagina que encontrar-se a sós com um possível chefe - nesse meio - seja um piquenique com Coca-Cola zero e sanduíche de atum. O que, evidentemente, não justifica a suinice do troglodita.

No caso, o big boss era um suíno rematado, parece que dezenas, centenas de mocinhas tinham passado por isso, mas só então, numa abertura de comportas da memória, aos magotes, o crivaram de acusações parecidas. Coisas de cinco, dez, vinte anos atrás. Ninguém tinha presenciado, mas era tudo verdade. Pelo jeito, ele merecia tudo isso e mais.

Num instante, uma quantidade surpreendente de figuras conhecidas na política ou no entretenimento, celebridades em geral, foi objeto de acusações de assédio. Isso sem termos ainda definido bem o que seja assédio: grosseria, ofensa, forçação de barra, estupro? Lembrem que mão no joelho ainda não é considerado, que eu saiba, estupro. Logo, logo, será.

Um raivoso movimento de mulheres brandindo dedos, braços, documentos e acusações afirma que os homens, em princípio, não prestam. Então, nada mais de paqueras, elogios, beijinho na face na hora do encontro, gentilezas no jantar, elogio simpático no elevador. Nada de nada. Psiquiatra só pode atender as pacientes com um guarda ao lado. Não há mais falas às vezes difíceis, talvez doloridas, entre médico e paciente no consultório dele, antes ou depois dos exames. Nada de confiança. Professor ou professora a sós com criança ou adolescente, nem pensar. Portas abertas, e olhe lá. E os tios? Os primos crescidos? O dentista, imagine só?

Enfim, tudo isso mistura o trágico, o real, e o idiota: não confiamos em mais ninguém, esquecendo que assédio real não ocorre só contra meninas ou mocinhas, mas meninos e rapazes. Quem sabe adultos, belos, em cujo pescoço suspeitas virgens se atiram?

Não me crucifiquem, não interpretem mal, aliás nem me interpretem: sou contra qualquer violência, física ou verbal, e não só de homens contra mulheres. Também sou contra mal-entendidos irresponsáveis que podem ter consequências graves. Tenho medo de movimentos nem sempre lúcidos e limpos, reivindicando aos berros uma reforma vaga ou absurda, exigindo um acusado, um tribunal, ou, como disse Oprah, vendo com entusiasmo “uma luz surgindo no horizonte”. Todo mundo alerta: a desconfiança se espalha feito chikungunya ou dengue.


“Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será aberta.” 

Mateus 7:7-8