"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

parabéns, Marina!


Orgulho de nora!
mesmo me deixando de fora, no convite...
hehehehe


“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso, aprendemos sempre.”

__Paulo Freire

Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.

1 Tessalonicenses 5:18

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

céu e inferno


Não é um espaço repleto de nuvens brancas com anjinhos tocando harpa, e também não é uma gruta tomada por labaredas com um diabo segurando um tridente a fim de te espetar. Céu e inferno são, ambos, lugares terrenos, com endereço, código postal e localizáveis pelo GPS.

Minha ideia de céu: uma praia vazia, mar cristalino, muita natureza, um dia de sol.
Minha ideia de inferno: uma piscina coletiva com alto-falantes tocando música como se fosse uma quadra da comunidade.

Céu: um quarto em penumbra, uma cama com lençóis limpos, ar-condicionado suave, o amor da sua vida ao lado.
Inferno: um quarto abafado, lençóis amarfanhados há três semanas, mosquitos e o amor da sua vida de mau humor.

Céu: estrada bem pavimentada e bem sinalizada, paisagem espetacular. Destino: férias.
Inferno: viajar na estrada ao lado de um motorista que ultrapassa em faixa amarela contínua, corre demais e gruda, presunçosamente, na traseira do carro em frente. Ou: motorista tão cauteloso que te exaspera. Dirige a 50km/h, não ultrapassa ninguém (espera o caminhão sair da estrada por conta própria, mesmo que isso demore uma vida) e coloca o pé no freio a cada 15 segundos, por nada.

Céu: cinema com lotação pela metade, filme formidável, ninguém comendo, bebendo ou fuçando no celular.
Inferno: cinema hiperlotado, filme arrastado e uma criatura atrás de você violentando um saco de balas e sugando ruidosamente pelo canudo a última gota do refri, além de rir em cenas que não tem a menor graça.

Céu: muitas vagas no estacionamento.
Inferno: nenhuma, e você está atrasado.

Céu: chove, está friozinho, você acendeu a lareira, tem um livro incrível em mãos, escuta um disco do Sthephany Grapelli, o vinho tinto e os queijos estão sob a mesa de centro, e seu namorado está por chegar com os beijos.
Inferno: venta, você acaba de chegar de um aniversário de criança, a tevê passa um programa com tradução simultânea, o interfone toca e é o porteiro chamando para a reunião de condomínio em que elegerão o novo síndico: parabéns, sua vez chegou.

Céu: conversa inteligente e divertida com os amigos. Não se fala em política.
Inferno: festival de abobrinhas e infantilidades. Não se fala em política.

Céu: dinheiro extra, inesperado.
Inferno: despesa extra, inesperada.

Céu: seu voo sairá no horário e, ao entrar na aeronave, o assento ao lado está vazio. Ao desembarcar, sua bagagem é a primeira a aparecer na esteira.
Inferno: atraso de voo, fila imensa no banheiro do aeroporto, preço exorbitante do cafezinho. Depois de um tempão esperando para embarcar, você se acomoda no seu assento e ao lado tem alguém querendo conversar – adeus, cochilada.
Céu: quem está querendo conversar é o Wagner Moura.


mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não obstante...


Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.

1 João 4:8

domingo, 14 de fevereiro de 2016


Significado da palavra amor, no dicionário da vida


pensar não é agir


Nunca esquecerei minha professora de História. Seu maior desejo era conhecer Roma. Era tão apaixonada por esse sonho que chegou a memorizar o mapa da cidade, julgava-se capaz de caminhar por suas vias com mais desembaraço do que um morador local.

Ela retinha a cidade em pensamento. Sentia o aroma de suas trattorias, a fuligem deixada pelas scooters, a imponência de suas edificações. Aprendeu italiano e adquiriu fluência no idioma. Tinha a viagem formatada dentro de sua cabeça, até parecia que já tinha ido. Mas morreu sem jamais sair do Brasil.

Da mesma forma, lembro uma tia distante que na adolescência se apaixonou por um garoto e decretou para si mesma que, se não casasse com ele, não casaria com ninguém mais. Nunca namoraram, mas ela criava os diálogos de seus encontros, sentia a mão dele segurando a sua dentro do cinema, imaginava seu vestido de noiva, escolhia nome para os filhos que teriam.

O rapaz casou com outra e ela continuava visualizando o sobrado em que morariam, os cuidados que teriam com o jardim, o apoio que dariam um ao outro quando a vida exigisse. Essa minha tia faleceu com mais de 80 anos. Virgem.

Dois casos extremos. Porém, longe das extremidades, na vida mundana de cada um, também há desejos desse naipe, que se realizam apenas dentro da imaginação, se é que o verbo realizar aqui se aplica.

A fantasia é um recurso luxuoso. A fantasia ameniza frustrações. A fantasia alimenta a autoestima sem danificá-la. A fantasia quase substitui o ato concreto.

Quase.

O pensamento fantasioso obedece ao script que determinamos, mas não basta. A realidade é muito mais poderosa. Acontece a nossa revelia, sem cumprir os requisitos que nossa mente inventou. A fantasia é um subterfúgio legítimo, porém os fatos que fantasiamos não merecerão uma única linha na nossa biografia. O que vale é a experiência. Sofrida. Vingada. Curtida. Exaltada. O que for. Mas vivida.

Está aí mais uma coisa que se aprende com a passagem do tempo: pensar não é agir. Pensar é pensar, é proteger nossa vontade, embalá-la, encarcerá-la no idealismo e se conformar com um prazer hipotético. Pensar é sem gosto, sem tato, sem cheiro, sem risco. Vale a pena uma vida sem risco?

Agir, não. Agir é um salto sem rede. Agir é uma viagem, uma vertigem. É ficar disponível para o bem e o mal. Agir é para os audaciosos, corajosos, merecedores do lugar mais alto do pódio. Agir é para quem tem autoconfiança e, no caso de tudo dar errado, ter também o humor necessário para se consolar e seguir adiante. Agir é o mais potente afrodisíaco.

São poéticos aqueles que vivem no sonho, mas tornam-se imunes à sedução.



Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.

Tiago 1:19

sábado, 13 de fevereiro de 2016


menopausa


É mais ou menos assim: um dia você acorda quadrada, ou talvez, ballonnée, ou pior, com jeito de matrona!

- “A menopausa não é colega – ouvi de uma mulher numa sala de espera de dermatologista. 

Estávamos as duas com os rostos inchados e chamuscados por lasers e peelings, folheando perversas revistas de moda e frivolidades, onde todos são jovens e felizes, depositando míseras gotículas de esperança nos raios que nos partem daqueles aparelhos de última geração. Balancei a cabeça como uma vaca no matadouro e, sem pestanejar, movida pela absoluta cumplicidade daquele instante, falei para a minha colega: 
- “A menopausa é uma filha da mãe, isso sim! 
Caímos na maior gargalhada e assim ela se tornou a minha primeira amiga de menopausa.

A menopausa é um sequestro. Uma versão, só para mulheres, de praga bíblica. Inferno astral que antecede a terceira idade. É tragicômica, portanto, para encarar, só rindo. Um dia você está no meio da sua normalidade, é arrancada de tudo que você tem como referência física de si mesma e é lançada a uma espécie de funilaria às avessas. A libido diminui na mesma proporção em que aumenta a irritabilidade.

Você não só não pensa tanto, nem gosta tanto, nem se importa tanto mais com sexo, como para compensar vira uma criatura instável, pavio curto, sem paciência para nada, capaz de discutir com um poste, de deprimir à toa, ter crise de choro com anúncio de seguradora e ataque de ansiedade ao ler o jornal. Enfim, você vira uma pessoa bem complicada, ou melhor, complexa. E, até então, você achava que TPM era o pior que podia acontecer.

Os sintomas aparecem inadvertidamente, como assaltantes, em maior ou menor intensidade, bizarros e infalíveis. 
Lá estão eles: 
ressecamento – escolha onde você terá; 
celulite – a pele de pêssego é substituída pela casca de laranja; 
flacidez – é a triste irrevogabilidade da lei da gravidade; 
manchas senis – essas pelo menos trazem o consolo dos muitos verões bem vividos; 
calores – esses são um requinte de crueldade, tão desprovidos de sentido que nos fazem refletir sobre a transcendência da agonia dos ovos cozidos;
esquecimentos – sua memória vira uma espécie de vácuo e você passa por constrangimentos inenarráveis como aquela frase típica: “sabe aquele filme, daquele diretor, com aquela atriz, como é mesmo o nome?”; 
ossos de papel – e o perigo de tombos ridículos resultarem em cirurgias espetaculares onde pinos e próteses são implantados sem cerimônia; 
cabelos ralinhos de palha de milho – a sua trança de potranca virou um tererê; 
cintura – convexa ou quase inexistente com direito àqueles dois afundadinhos nas costas, como se você fosse feita de massinha de modelar; 
olhar – embaçado por uma nata azulada (catarata, não!!!) toldado por pálpebras fofas, generosas – e você começa a achar que tem ascendência mongol; 
juntas sacanas – com data de validade vencida e, como se não bastasse, a lembrança recente, acachapante, perturbadora e descompassada de como você era antes da menopausa. 
Você era jovem ontem! Que dó, que desperdício!

Esse é o ponto crucial: o estranhamento entre o que vemos e a nossa imagem interna. Não se trata da negação da velhice, da morte. Não. É bem mais simples e raso: você simplesmente não gosta do que vê! Trata-se de uma incapacidade temporária para sobrepor imagens, aceitar limitações, apurar um outro olhar.

Você ainda não tem parâmetros para entender em que você está se transformando. Você resiste bravamente. Convoca uma legião de especialistas, as forças do Bem, o exército da salvação. 
Faz reposição hormonal, contrata um personal, dá uma passadinha na sex shop, engole quilos de soja, linhaça e chás de blackberry, toma antidepressivo, Ômega 3, aplica bótox, faz drenagem linfática, vai ao plástico, ao dermatologista, ao ortomolecular, à nutricionista, ao psicanalista, ao astrólogo, à fisioterapeuta e ouve o seu ginecologista como se ele fosse o oráculo de Delfos. 
Seus modelos e referências estão no passado e a menopausa – trombeta apocalítica – anuncia um futuro onde você vai ter de mostrar que aprendeu lições, mereceu cada ruga e está pronta para mais trinta anos.

A menopausa é uma puberdade invertida. E, como tal, é também casulo, travessia, transformação. Divisor de águas, experiência de deserto, freio de arrumação, faxina. Teste crucial de espírito esportivo, capacidade de adaptação e instinto de sobrevivência.

Passa. Demora, mas passa, e você sobrevive, como sobreviveu à pororoca hormonal da adolescência; você há de superar o declínio daqueles mesmos hormônios e seus asseclas que um dia já te enlouqueceram. (Esqueceu que você sobreviveu, com muito menos recursos, às cólicas, às espinhas, aos pelos encravados, aos ovários policísticos, à vergonha do próprio corpo, à oscilação de humor e à melancolia dos anos tenebrosos da adolescência?)

E aí, passada a tempestade, vem a bonança, a libertação. Você estará livre de ter que ser bonita, magra, eficiente, querida, desejável, vencedora, fértil, competitiva, invejada, elegante, gostosa, informada, culta, legal, conectada, tudo ao mesmo tempo. Ufa!!!

Depois dos achaques, perrengues e mudanças, a menopausa inaugura a maturidade: a síntese da mulher que você construiu ao longo dos anos, fases e etapas, a essência que fica, depois que os papéis de jovem fêmea produtiva estão cumpridos. 

Seu rosto é a cara da sua vida. Sua bagagem é tão grande que dá para jogar fora um monte de supérfluos e pesos mortos. Seu tempo é só seu e você não precisa provar mais nada para ninguém. Seu maior desafio é ter-se tornado uma boa companhia para si mesma. Você reformula premissas, um estar no mundo mais relaxado, uma maior complacência com suas imperfeições, dificuldade e vícios. Você já não quer mudar o mundo, você quer compreendê-lo; você já não precisa agradar às pessoas, você quer viver em paz e ser respeitada. Não há mais pressa; a vida vira um bom vinho a ser apreciado, com generosidade e prazer.

A menopausa é um tremendo rito de passagem. Talvez o último antes da definitiva passagem. Inevitável e necessário. Coisa de gente grande. O relógio biológico é inclemente, imparcial e, portanto, justo. 
Haja coragem e bom humor! Não há negociação possível, apenas a vida seguindo seu curso.

Então, que venham os ciclos, todos. Com seus sustos, sombras e transformações. Com suas libertações, rearranjos e alegrias. Que venham os dias, as horas, as marés, as auroras, todas.

__Hilda Lucas


Este texto me representa. 
Espero que sobrevivamos todos a esse caos!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016


O Ministério da Saúde recomenda que o peso da mochila não ultrapasse mais de 10% do peso da criança

“Sou mestre na arte de falar em silêncio. Toda a minha vida falei calando-me e vivi em mim mesmo tragédias inteiras sem pronunciar uma palavra”

__Dostoiévski

“Continuar é um verbo que também me define”

a mim, idem!

“A gente anda ressabiado de dizer que gosta das pessoas,
então a gente inventa coisas.
A gente inventa que é tímido, e que não encontra jeito de dizer.
A gente inventa que está ocupado, e que um dia, sei lá,
vai ter tempo de sentar e conversar.
De repente, você se toca que não tem mais nada pra ser feito.
É tarde pacas!”

__Elis Regina

Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam. 

(Hebreus 11:6)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016


“A virtude é o primeiro título de nobreza; eu não presto tanta atenção ao nome desta ou daquela pessoa, mas antes aos seus atos.”

__Molière


Quantos anos tenho?
Tenho a idade em que as coisas são vistas com mais calma, mas com o interesse de seguir crescendo.
Tenho os anos em que os sonhos começam a acariciar com os dedos e as ilusões se convertem em esperança.
Tenho os anos em que o amor, às vezes, é uma chama intensa, ansiosa por consumir-se no fogo de uma paixão desejada.
E outras vezes é uma ressaca de paz, como o entardecer em uma praia.

Quantos anos tenho?
Não preciso de um número para marcar, pois meus anseios alcançados, as lágrimas que derramei pelo caminho ao ver minhas ilusões despedaçadas…
Valem muito mais que isso.

O que importa se faço vinte, quarenta ou sessenta?!
O que importa é a idade que sinto.
Tenho os anos que necessito para viver livre e sem medos.
Para seguir sem temor pela trilha, pois levo comigo a experiência adquirida e a força de meus anseios.

Quantos anos tenho? Isso a quem importa?
Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e o que sinto.


Mesmo não florescendo a figueira, não havendo uvas nas videiras; mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação.

Habacuque 3:17,18

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016


cinza, é justamente a cor do meu humor, por ter que trabalhar hoje!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016



Não desfrute somente o sol, aprecie também a lua. 
Não desfrute somente a calmaria, aproveite a tempestade. 
Tudo isso enriquece a existência. A vida não acontece somente dentro de uma casa, de uma cidade, de um país: ela tem de ser experimentada dentro do universo. 
A felicidade é um jeito de viver, é uma conduta, é uma maneira de estar agradecido ao sol, à lua, a quem lhe estende a mão e também a quem o abandona, pois certamente nesse abandono está a possibilidade de você descobrir a força que existe em seu interior.
A felicidade não é o que as pessoas têm, mas o que elas fazem com isso.

___ Roberto Shinyashiki 

Tenham um pouco de paciência comigo vai, é só uma fase em que estou exigente e acho tudo um porre. 
Um grandessíssimo porre.

cinzas de um carnaval


Havia uma inquietação no ar. Alguma coisa misteriosa que impulsionava maus presságios. Vestígios da noite passada ainda compunham o cenário do quarto. A presença toda dele depois de tanta ausência. Os dois recém-saídos da mesma história, reféns de seus afetos, carências e, novamente, aquela urgência e a fome um do outro sendo consumada naquele espaço. Não sabia ao certo como foram parar ali, quem propôs o quê, quem pagou o táxi. Fora a quantidade de preservativos usados, pouca coisa tecia um detalhe ou outro. Olhou ao redor, o corpo afundado na cama, uma indisposição de retornar à rotina, a preguiça de fazer um café amargo pra curar a ressaca. Cortinas fechadas, um fiapo de dia recortava desenhos na parede azul. Em algum momento quis olhar pela janela: a paisagem cinza, não havia sol. E o passado instalado ao lado direito da cama, impregnando o lençol com o cheiro dele tão familiar, quase esquecido.

Relembrando o encontro na noite anterior nem sabia que quando o viu ainda havia um pingo de saudade daqueles olhos bêbados. Estavam alegres no mesmo bloco, amigos perdidos na multidão. Fizeram-se companhia e depois do gole na bebida quente, um beijo. Cansados, sentaram na areia contemplando o mar e dissertaram brevemente sobre suas vidas: tanto tempo, outros namoros terminados, referenciais desfeitos, uma ou outra paixão platônica, mas nada tão intenso, tão estável, duradouro.

“Você encontrou, finalmente, a sua mulher ideal?”... Sim, mas a perdi de vista quando não acreditei que eu a merecia”... E você, amou alguém?”... “Talvez, parece que depois que acaba não se sabe mais ao certo o que nos uniu”.

Ele ainda dormia quando debruçou seus olhos naquela imagem e sentiu um restinho de saudade de abraçá-lo como antes, de encaixar-se naquele corpo, abandonada. Ele abriu os olhos. Aqueles olhos bêbados. Em seguida abriu um sorriso, os braços e a puxou pra perto. Beijou sua testa, seu rosto e disse um “bom dia” preguiçoso antes de vestir a roupa com uma expressão impune. A gente se vê...”, disse juntando a chave, a carteira, o celular... Te ligo qualquer dia desses...” fechando a porta atrás de si. Deixou-a com a frase evasiva ecoando, costurando desfechos. Deixou uma inquietação que se pensava superada. Agora restava recomeçar algo que parecia ter completado: teria que recomeçar a esquecê-lo.

Afundou a cabeça no travesseiro, cobriu o rosto com o lençol e tentou retomar a consciência de que os elementos que tinha não eram suficientes pra recompor um romance despedaçado. Talvez apenas lhe rendesse mais um desses poemas que doem.


Melhor é o pouco com o temor do SENHOR, do que um grande tesouro onde há inquietação. 

Provérbios 15:16

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

e a poligamia?


Se a poligamia fosse lei, nada seria fácil. Alegria em excesso desanda em embriaguez e termina em ressaca e dor de cabeça. O prazer em dobro triplica a incomodação. Imagine vocês, mulheres, com a possibilidade de se casar com dois homens. Marmanjo junto é máfia de criança. Eles ficariam na sala jogando videogame nas folgas, gritando, bebendo cerveja e pedindo mais uma revanche.

Voto minoritário na programação, perderia o comando da tevê, não contaria com a complacência para assistir a seriados e filmes românticos. Seus dois maridos seriam melhores amigos, alimentariam segredos entre si e responderiam tudo de maneira monossilábica para evitar discussões. Restaria o chuveiro para chorar. A privada nunca teria a tampa abaixada, os frascos e as garrafas jamais estariam bem fechados, as bandejas de gelo morreriam vazias.

Os homens de casa fariam aquelas porquices masculinas – arroto, flatulência, palitos e cotonetes sujos em lugares improváveis – e passariam o dia impunes porque estariam em maioria dentro da residência.

Uma toalha molhada na cama irrita, agora ponha duas em sequência e os lençóis formarão um repentino banhado. Pense o que seria dirigir um carro com dois copilotos palpitando sobre o melhor caminho ou pressionando para estacionar numa vaga do tamanho de uma bicicleta?

Raciocine a frustração de aparecer com corte novo no cabelo e nenhum dos dois reparar a mudança. Mentalize o constrangimento de dissuadir sexo ao despertar com dois homens excitados roçando suas pernas quando você ainda nem escovou os dentes ou tomou café da manhã.

Pois é. O paraíso mora dentro do inferno.

Agora sonhem vocês, homens, com a chance de subir ao altar com duas mulheres ao mesmo tempo.

O que significaria contentar duas sogras? Aguentaria almoçar na casa de uma no sábado e depois em outra no domingo? Sabe o desespero que é quando uma mulher não consegue hora com sua manicure? Pois preveja duas não conseguindo um encaixe e entrando em pânico.

Multiplique a demora para sair a uma festa, tem paciência? Acompanharia a dupla pelo rali dos provadores dos shoppings? Onde deixará suas roupas ao dividir o armário com duas mulheres? Na despensa da cozinha? Dentro de uma mala debaixo da cama?

Se é uma maratona fazer uma mulher gozar, como satisfazer duas? Não poderia pregar os olhos antes de cumprir a tabela. E não invente de adiar o prazer de uma delas para o dia seguinte sob o risco de difamação.

Seria obrigado a decorar duas datas de aniversário, de início de namoro, de primeiro beijo, de primeiro abraço, de primeiro jantar, de primeira festa, afora peculiaridades de gostos e tamanhos da roupa. E nunca poderia confundir a com b, o que geraria uma crise ciumenta sem precedentes.

Casado com duas mulheres, gastaria metade de seu tempo curtindo e comentando as fotos delas nas redes sociais. E ai se visualizasse uma mensagem no whatsapp e não respondesse no ato. Ou se respondesse uma e esquecesse a segunda.

A exclusividade é um luxo. Não reclame de monogamia. Não é à toa que o Carnaval só dura quatro dias.



E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo. 

Hebreus 9:27