#dia da secretária
segunda-feira, 30 de setembro de 2019
quinta-feira, 26 de setembro de 2019
segunda-feira, 23 de setembro de 2019
Depois de um longo
inverno sempre vem a primavera, tempo de renascer dos brotos, da esperança, dos
dias claros, a vida renasce e é tempo das surpresas de Deus!
Por mais longo que seja o
inverno ele só dura uma estação, ele tem início, meio e fim e assim é o ciclo
de todos os anos.
Comparando a nossa vida
com as estações do ano, às vezes, parece que não vamos sair do inverno, do
tempo ruim, das previsões sombrias. Toda dor tem seu tempo, todo frio tem sua
intensidade e o agasalho ideal para suportá-lo. Tudo, absolutamente tudo que
vivemos, pode nos ensinar algo, fazer-nos crescer, criar resistências e defesas
e até, no final de tudo, proporcionar realização e felicidade.
Olha a experiência que as
águias americanas vivem no inverno para renascer na primavera: as águias mais
velhas procuram uma fenda no cume da montanha mais alta, para poder se desfazer
de suas penas, de suas garras e até de seu bico. O cume da montanha a mantém
livre dos predadores, justamente no tempo onde ela não tem nenhuma defesa, e
sem o seu bico e as garras, ela vai viver das reservas de energia que acumulou
no verão. Como podemos ver, a natureza não é tão cruel como se pensa, a águia
precisa passar por tudo isso para sobreviver mais uns trinta anos e poder
perpetuar a espécie com águias mais resistentes, e a nova águia vai surgir na
Primavera.
A natureza foi feita para
sofrer mudanças, neste tempo se renovam todas as coisas. Para que surja a primavera,
com os dias claros e coloridos pelas flores, foi preciso passar por dias
escuros e frios do inverno. Não acontece exatamente assim na nossa vida?
É assim que a Canção Nova
vive a expectativa da primavera. A nossa história sempre provou que, nesta
estação, é tempo de renovação. O ar sombrio dá lugar ao colorido das flores, os
dias mais claros, cheios de vida e de esperança, reacendem em nossos corações
as novidades de Deus.
É um tempo de graças, de
deixar para trás o que era velho, pois essa é a promessa do Senhor: “Não deveis
ficar lembrando as coisas de outrora, nem é preciso ter saudades das coisas do
passado. Eis que estou fazendo coisas novas, estão surgindo agora e vós não
percebeis? Sim, no deserto eu abro um caminho, rasgo rios na terra seca.”
(Isaías 43, 18 – 19). Tem gente que diz: “a minha vida tem somente duas
estações: muito quente ou muito frio, minha vida é um deserto”. Mas, esta é a
promessa de Deus para você: “o deserto vai florir!”.
Nossa vida é marcada pelo
tempo que vivemos que se chama “chronos”, esse que se vive pelo relógio, as
estações do ano, dias, meses e pelo “kairós”, que significa tempo da Graça de
Deus, para mim e para você. Por isso, abra-se ao novo, às novidades e surpresas
de Deus para você. Tempo dos presentes de Deus, das mudanças.
O amor de Deus que
pairava sobre o frio do inverno, agora aquece as sementes que brotam da terra e
do tronco das plantas nascem as flores vivas e cheias de cor.
Onde estão agora as
sombras do inverno? Os dias frios, as noites longas? Tudo termina agora com o
colorido das flores. Isso nos prova que tudo passa, até o mais longo inverno
tem seu tempo e, depois, o que fica é a fortaleza das raízes que cresceram
escondidas.
Padre Luizinho
Membro da Comunidade
Canção Nova
#primavera
sábado, 21 de setembro de 2019
a lenda do Umbu
#dia da árvore
O Umbú é uma árvore
grande e folhuda que cresce no pampa.
Muitas vezes é solitária,
erguendo-se única no descampado e atrai os campeiros, os tropeiros, os
carreteiros que fazem pouso sob sua proteção. O tronco do Umbu é muito grosso,
as raízes fora da terra são grandes, mas ninguém usa a madeira da árvore - não
serve para nada, mesmo. É farelenta, quebradiça, parece feita de uma casca em
cima da outra.
Por quê?
Pois não vê que quando
Deus, nosso Senhor criou o mundo, ao fazer as árvores perguntava a cada uma
delas o que queria na terra.
A laranjeira, o pessegueiro,
a macieira, a pereira e assim por diante, quiseram frutos deliciosos. O
pau-ferro, o angico, o ipê, o açoita-cavalo, a guajuvira,
pediram madeira forte.
- E tu, Umbú, queres
também frutos doces e madeira forte?
- Nada, Senhor. -
respondeu o Umbú.
- Eu quero apenas folhas largas para as sesteadas dos gaúchos
e uma madeira tão fraca que se quebre ao menor esforço.
- A sombra, eu compreendo
- disse o Senhor.
- Mas porque a madeira fraca?
- Porque eu não quero que
algum dia façam dos meus braços a cruz para o martírio de um justo.
E Deus, nosso Senhor, que
teve o filho crucificado, atendeu o pedido do Umbú.
lenda gaúcha
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quinta-feira, 19 de setembro de 2019
quarta-feira, 18 de setembro de 2019
independência
“Quantos anos a gente
leva para se tornar independente? Alguns atravessam a vida sem realizar esta que,
para mim, é a conquista mais importante do ser humano.
Não importa a idade da
pessoa, se é casado ou solteiro, empregado ou patrão: falo da independência de
quem se sustenta por dentro, uma independência de atitude.
Você tem que estar
preparado para morar sozinho se assim a vida lhe exigir. Tem que estar
preparado para compartilhar o teto com outra pessoa sem cobrar dela adesão
total às suas ideias e nem impor as suas. Tem que estar preparado para viver
longe de seus pais, seja porque eles foram para outra cidade, seja porque você
foi, seja porque todos se foram. Tem que estar preparado para amar sem ser
amado, para ser despedido injustamente, para perder um amigo querido, para ver
seus ideais sumirem com o tempo.
Claro que você vai
sofrer. Ser independente não é ser de ferro.
É saber sair das
situações com uma força inesperada. Independência é aceitar a si mesmo antes da
aprovação alheia. É defender a própria verdade e ter humildade para mudar de
opinião caso seja surpreendido por melhores argumentos. Ser independente é
preferir ir ao cinema com alguém, mas não perder o filme por falta de companhia. É
vibrar quando lhe abrem um champanhe, mas não deixar de comemorar sozinho se a
sua alegria basta para o brinde.
Ser independente é fazer
tudo o que se gosta junto de quem mais se gosta, incluindo a si mesmo.”
É, Dedé, hoje a
maioridade bate à sua porta te oferecendo independência, mas te cobrando
responsabilidades e escolhas.
Hoje começa uma nova
etapa da sua vida.
Parabéns e feliz 18 anos!
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Martha Medeiros
meu filho grande
Só pode saber que está
morrendo quem tem um filho.
O filho é a régua da
existência. Ele mede o meu fim. Mede o tamanho de minhas realizações. Mede o
meu salário. Mede a minha folga. Mede a minha dispersão. Mede a minha loucura e
a minha sanidade. Mede a minha vontade de acordar. Mede a minha felicidade. Mede
a minha paciência com imprevistos.
Podemos até nos enganar
sozinhos, só que não tem como disfarçar a fundura do cotidiano diante dos
filhos.
O filho é a nossa
largura, a nossa dimensão, é quando o mundo nos abraça e também nos esmaga.
O desemprego dói mais
sendo pai. Um desaforo dói mais sendo pai. A risada é mais estridente sendo
pai. Um elogio é mais desconcertante sendo pai.
Eu me acostumei a me
encarar no espelho e desprezo as rugas, os pés-de-galinha, as olheiras. Não
acompanho a minha idade - é como se mantivesse a vitalidade de um jovem por
dentro do raciocínio.
O filho me devolve o meu
tempo, o tempo findo e vindo da aparência.
Ele quebra as superfícies
espelhadas e a fixação dos hábitos.
Não há mais como mentir a
minha idade quando observo que ele me ultrapassou na altura, que usa calça 42,
que o tênis abandonou o 37, que os meses são anos para o adolescente, que não
compreende as minhas gírias, que as minhas piadas não têm graça, que ele já é
adulto e adquiriu uma melancolia no olhar, própria de quem já se frustrou
alguma vez comigo.
Pelo filho, descubro que
envelheço. Mas, por ele, não quero morrer.
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Fabrício Carpinejar
segunda-feira, 16 de setembro de 2019
filho meu!
Hoje você faz 33 anos! E pensar que há quase trinta e quatro era só́ um exame positivo.
E surpresa, medo, esperança,
frio na barriga, a certeza de não estar preparada.
Quando te vi pela primeira vez, 33 anos atrás, deixei escapar um “Então é de verdade?”
Ainda me faço essa pergunta. Você é a verdade que cresceu em mim, a despeito do medo e da minha incredulidade.
Ter um filho é brincar de ser Deus. Um perigo, uma loucura, uma imensidão.
Quando te vi pela primeira vez, 33 anos atrás, deixei escapar um “Então é de verdade?”
Ainda me faço essa pergunta. Você é a verdade que cresceu em mim, a despeito do medo e da minha incredulidade.
Ter um filho é brincar de ser Deus. Um perigo, uma loucura, uma imensidão.
Você é um milagre! Espelho dos meus defeitos, lição sobre minha ingenuidade, indiferença
aos meus medos. A expectativa e o nunca esperado.
Você é o contador das minhas histórias, minha aula diária de ser gente.
Amo as surpresas a cada instante, amo a vida que não planejamos. Companheiros e nunca solitários. Cúmplices, mas nunca dependentes.
O que pude fazer de mais bonito foi ensinar você a viver bem sem mim.
Você é o contador das minhas histórias, minha aula diária de ser gente.
Amo as surpresas a cada instante, amo a vida que não planejamos. Companheiros e nunca solitários. Cúmplices, mas nunca dependentes.
O que pude fazer de mais bonito foi ensinar você a viver bem sem mim.
Você é uma surpresa diária
de mim. Meu projeto de ser melhor, minha maturidade no grito, minha muda de
gente que vingou.
Amo você, filho. Feliz
ano novo!
(modificado)
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Cris Guerra,
Datas
O Espírito do Senhor
estará sobre ele e lhe dará sabedoria e conhecimento, capacidade e poder.
Ele temerá o Senhor, conhecerá
a sua vontade e terá prazer em obedecer-lhe.
Ele não julgará pela
aparência, nem decidirá somente por ouvir dizer.
Mas com justiça julgará
os necessitados e defenderá os direitos dos pobres.
Isaías 11:2-4 / NTLH
domingo, 15 de setembro de 2019
sexta-feira, 13 de setembro de 2019
Hoje é meu aniversário! Faço 59 anos e estou
muito feliz.
Gosto de aniversários, acredito que é uma honra ter nascido, e
isso tem que ser celebrado.
Muita gente não gosta e eu respeito, mas acho uma
pena a pessoa não curtir uma data tão sua, tão significativa: pô, nascemos!
É
uma sorte.
Que outra alternativa existe no mundo? O nada!
Então é isso, queria
compartilhar com vocês a alegria que me dá esse 13 de setembro, me despedir do
inferno astral e arrancar para os últimos meses do ano com muita energia.
Não canto o “Parabéns pra você”. É a música mais desanimada que eu conheço.
Odeio, odeio.
Todos os anos, o “parabéns” que eu canto pra mim mesma tem letra
do Lulu Santos: “Eu quero um novo começo de era/de gente fina elegante sincera/com
habilidade/pra dizer mais sim do que não!”
É isso aí, não há tempo
que volte, amor, vamos viver tudo o que há pra viver…
#modificado
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Eu,
Martha Medeiros
quarta-feira, 11 de setembro de 2019
bem vindo ao Século XXI
Aqui o sexo é livre e o
amor se tornou um bolso cheio de notas.
Onde perder o celular é
pior do que perder os teus valores.
Onde a moda é fumar e beber, e se não fizer isso, você está obsoleto.
Onde a moda é fumar e beber, e se não fizer isso, você está obsoleto.
Onde o banheiro se tornou
estúdio para fotos e a igreja, o lugar perfeito para check in.
Século XXI, onde homens e
mulheres temem uma gravidez muito mais que HIV.
Onde o serviço de entrega
de pizza chega mais rápido do que a ambulância.
Onde as pessoas morrem de
medo de terroristas e criminosos muito mais do que temem a Deus.
Onde as roupas decidem o
valor de uma pessoa e ter dinheiro é mais importante do que ter amigos ou até
mesmo família.
Século XXI, onde as
crianças são capazes de desistir dos seus pais pelo seu amor virtual.
Onde os pais esquecem de
reunir a família à mesa para um jantar harmonioso, conversando sobre o dia a
dia pois estão entretidos no seu trabalho ou celular.
Onde homens e mulheres
muitas vezes, só querem relacionamentos sem obrigações e seu único
“compromisso” se torna posar para fotos e postar nas redes sociais jurando amor
eterno.
Onde o amor se tornou
público ou uma peça de teatro.
Onde o mais popular ou o
mais seguido com mais curtidas em fotos é aquele que aparenta esbanjar felicidade;
aquele que posta fotos em lugares legais e badalados rodeados por “amizades
vazias” com “amores incertos” e “famílias desunidas”.
Onde as pessoas se esqueceram de cuidar do espírito, da alma vazia e resolveram cuidar e cultuar os seus corpos.
Onde as pessoas se esqueceram de cuidar do espírito, da alma vazia e resolveram cuidar e cultuar os seus corpos.
Onde vale mais uma
lipoaspiração para ter o corpo desejado do “mundo artístico” do que um diploma
universitário.
Onde uma foto na academia
tem muito mais curtidas do que uma foto estudando ou praticando boas ações.
Século XXI, aqui você só
sobrevive se jogar com a “razão”, e você é destruído se agir com o teu coração!
terça-feira, 10 de setembro de 2019
segunda-feira, 9 de setembro de 2019
o Alzheimer e a luz da alma
Todos temos dentro de nós temas que retornam, ressurgem,
transfigurados, com diversas máscaras e roupagens, e insistem em aparecer: são
os fantasmas de cada um. Em geral, manifestam-se na forma de sonhos,
inexplicados medos, breves euforias. O assunto que hoje retomo é a doença de
Alzheimer, abordado frequentemente em reportagens, artigos médicos, palestras
de psiquiatras, e experiências dramáticas da vida real. Terrível doença que
acompanhei intimamente por mais de uma década, quando foi ocupando, em minha
velha mãe, tudo aquilo que antes tinha sido ela – que passou a não ser ninguém,
ou a ser um enigma.
Aos poucos, de filha, fui
me tornando a cuidadora, a visita e, por fim, a estranha. Seu universo fora
reduzido ao próprio mundo interior: ali comemorava 15 anos, ali era noiva ou tinha
um bebê, ali me tratava de “senhora”, ou me entregava algum pequeno objeto
invisível que para ela devia ser muito precioso. “Cuidado!”, me recomendava, “cuidado
com isso!”, e eu o recebia com as duas mãos em concha, para que ela não se
afligisse. Foi ficando mais bem-humorada na alienação do que nos últimos anos
de lucidez ameaçada, nos quais eventualmente perguntava: “Será que estou
ficando louca?”. E a gente respondia, tentando parecer natural: “Que bobagem,
eu estou muito mais esquecida do que você!”.
Um dos dramas de quem
convive com isso é aprender a entrar nesse mundo, e não tentar algemar a pessoa
doente ao que para nós é a “realidade”, pois isso provoca angústia inútil. De
alguma forma, aprendemos a acompanhar a pessoa amada para dentro dos limites de
seu novo registro, procurando amenizar, não atormentar mais, até que isso se
torna impossível. Quem amamos não sabe mais de nós. É dramático assistir ao
abandono dos bons modos, ao isolamento social, ao desconhecimento dos
familiares e amigos e, por fim, à reclusão total num aparente nada.
Eventualmente minha mãe
parecia a mulher elegante de outros tempos: “Você quer uma bebida?”, perguntava
dez vezes, porque ao indagar já o tinha esquecido, naquele território onde eu
não era ninguém. O que se passaria naquela paisagem para mim vazia? Certamente
havia consciência: pois minha mãe falava, ria, cantava baixinho para alguém que
ninguém mais via, cada vez mais fechada ao meu desejo de algum contato. De
mulher grande e saudável passou a uma velhinha minúscula, mas resistia à morte:
essa tem lá a sua medida de tempo, que nunca entendemos. Quando é a sua hora,
chega como uma faminta ave de rapina, ou aguarda como um lento animal que
hiberna. Chega muito cedo, ou espera demais, às vezes.
Aconchegada na sua
cápsula de fantasias, da última vez que vi minha mãe doente, ela, que havia
muito não falava, entreabriu os olhos e disse nitidamente para si mesma, para
alguém – para ninguém: “Que bom estar assim, tão leve e tão jovem”. Nem mais
uma palavra, nem um brilho de reconhecimento no olhar quando me inclinei para
ela. Logo se enrolou de novo nos lençóis e na ausência.
Poucos dias depois, simplesmente não acordou mais. Fechava-se a última porta desse tão longo corredor pelo qual minha mãe tinha se perdido. A Senhora Morte chegou, com grande atraso, e num gesto casual recolheu a lamparina em que já não havia luz. Levou consigo a velha dama que na verdade fazia muitos anos deixara o palco da sua vida, cortinas ainda abertas e, nos bastidores, algumas vezes, o que parecia ser a sua voz, seu passo enérgico, e seu riso alegre – tudo que mais recordo dela agora.
Poucos dias depois, simplesmente não acordou mais. Fechava-se a última porta desse tão longo corredor pelo qual minha mãe tinha se perdido. A Senhora Morte chegou, com grande atraso, e num gesto casual recolheu a lamparina em que já não havia luz. Levou consigo a velha dama que na verdade fazia muitos anos deixara o palco da sua vida, cortinas ainda abertas e, nos bastidores, algumas vezes, o que parecia ser a sua voz, seu passo enérgico, e seu riso alegre – tudo que mais recordo dela agora.
Por que de repente
resolvi voltar ao triste assunto? Talvez porque essa grande peste do século,
sobre a qual pouco se sabe, seja um tão duro aprendizado para quem observa do
lado de cá desse mistério. Não é preciso, aliás, haver motivo para uma crônica,
pois muitas vezes elas se manifestam sozinhas: querem ser escritas, e eu
assisto enquanto, neste computador, elas mesmas se escrevem.
sábado, 7 de setembro de 2019
mulher independente
Estava autografando meu
livro na Feira quando uma senhora alta, elegante, já bem madura, chegou
sorridente pra mim e disse: “Acho-te uma mulher fenomenal”. Eu, toda sorrisos,
tomei o livro que ela tinha em mãos e me preparei para escrever uma dedicatória
bem carinhosa. Ela então complementou: “Mas eu não queria ser casada contigo:
tu és muito independente!”.
Concluí a dedicatória,
agradeci a gentil presença dela, enquanto que meu coração começou a bater de
forma mais lenta. “O que estou sentindo?”, perguntei a mim mesma, em silêncio.
Tristeza, respondi a mim mesma, em silêncio, enquanto a próxima pessoa da fila
se aproximava.
Em que eu seria mais
independente do que qualquer outra mulher? Quase todas as que conheço
trabalham, ganham seu próprio sustento, defendem suas opiniões e votam em seus
próprios candidatos. Algumas não gostam de ir ao cinema sozinhas, já eu não me
importo. Poucas moraram sozinhas antes de casar, eu morei. Quase nenhuma, que
eu lembre, viajou sozinha, eu já. E nisso consta toda minha independência, o
que não me parece suficiente para assustar ninguém.
Fico imaginando que essa tal
“mulher independente”, aos olhos dos outros, pareça ser uma pessoa que nunca
precise de ninguém, que nunca peça apoio, que jamais chore, que não tenha
dúvidas, que não valorize um cafuné. Enfim, um bloco de cimento.
Quando eu comecei a ter
idade pra sonhar com independência, passei a ler afoitamente os livros de
Marina Colasanti – foram eles que me ensinaram a importância de abrir mão de
tutelas e a se colocar na vida com uma postura própria, autônoma, mas nem por
isso menos amorosa e sensível. Independência nada mais é do que ter poder de
escolha. Conceder-se a liberdade de ir e vir, atendendo suas necessidades e
vontades próprias, mas sem dispensar a magia de se viver um grande amor.
Independência não é sinônimo de solidão. É sinônimo de honestidade: estou onde
quero, com quem quero, porque quero.
Sobre a questão da
independência afugentar os homens, Marina Colasanti brincava: “Se isso for
verdade, então ficarão longe de nós os competitivos, os que sonham com mulheres
submissas, os que não são muito seguros de si. Que ótima triagem”.
Infelizmente, a ameaça
que aquela senhora acredita que as independentes representam não é um
pensamento arcaico: no aqui e agora ainda há quem acredite que ser um bibelô
(ou fazer-se de) tem lá suas vantagens. Eu não vejo quais. Acredito que a
independência feminina é estimulante, alegre, desafiadora, vital; enfim, uma
qualidade que promove movimentação e avanço à sociedade como um todo e aos
familiares e amigos em particular. “Eu preciso de você” talvez seja uma frase
que os homens estejam escutando pouco de nós, e isso talvez lhes esteja fazendo
falta. Por outro lado, nunca o “eu amo você” foi pronunciado com tanta verdade.
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Martha Medeiros
quarta-feira, 4 de setembro de 2019
tem homem no mercado
Aconteceu há algum tempo no Rio. Uma mulher
colocou um anúncio classificado no jornal em busca de um homem que fosse
disponível, hétero e que ganhasse ao menos dois mil reais por mês. Se era
piada, funcionou, porque gerou boas gargalhadas. Esta mulher solteira procura
não reivindicou honestidade, inteligência, bom humor ou conhecimento geral
resumiu-se ao básico do básico. Que o produto não tivesse compromisso com
ninguém, que gostasse de mulher e pagasse suas próprias contas.
O que significa que o que sobra por aí é
justamente o oposto. A comunidade gay só aumenta. Se o candidato for
surpreendentemente hétero, é provável que tenha alguma namorada escondida na
manga. E se for hétero, livre e desimpedido, maravilha - mas talvez não tenha
grana nem para um pastel de vento, vai encarar?
Vai.
Porque o que mais se propaga por aí é a frase
“Não tem homem no mercado”, e a mulherada que, como se sabe, não faz outra
coisa na vida a não ser se dedicar às pesquisas no super, se apavora e acaba
aceitando qualquer promoção. Homem duro? Serve. Homem casado? Serve. Homem que
mora com a mãe aos 45 anos? Serve. Sendo homem, serve.
Até que o cenário piora: é bandido? Serve.
Desrespeita você? Serve. Bate em você? Serve.
Aí a mulher morre nas mãos desse delinquente e
ninguém entende.
Vamos dar um rewind? Começando por parar de
divulgar essa ameaça boba de que não tem homem no mercado. Tem, sim. Tem um
monte de homem solteiro, separado e viúvo que sonha em encontrar uma mulher
madura, companheira e independente. É verdade que há mais mulheres no mundo do
que homens, a vantagem é deles, mas apostar no desabastecimento das gôndolas é
o caminho mais curto para fazer bobagem. Você acaba se contentando com o que
sobrou no fundo da prateleira, já com o prazo de validade vencido.
Quando vemos um homem sem mulher, pensamos: é
porque ele não quer uma.
Quando vemos uma mulher sem homem, pensamos: é
porque nenhum deles a quis.
Se insistirmos nessa mentalidade medieval,
continuaremos propensas a aceitar qualquer carne de pescoço que se passe por
filé. Não há por aí quem diga que somos especialistas em detectar os desajustes
de ofertas? Então, vamos tratar de pesquisar bem e levar coisa melhor pra casa.
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Martha Medeiros
segunda-feira, 2 de setembro de 2019
“de repente, não mais que de repente”
De repente, começaram a
me chamar de senhora. Rótulos e bulas de remédio ficaram ilegíveis e eu, que
nunca usei óculos, passei a usar um multifocal. Pra completar, na minha
cabeceira apareceu um livro da Jane Fonda.
Envelhecer não é para os
fracos. Ainda mais num país em que a palavra soa como um crime. A pessoa faz
aniversário e já sai tentando arrumar uma identidade falsa.
Acontece que, em 20 anos,
seremos um país com mais idosos do que crianças. Feliz de quem estiver disposto
a lidar com o amadurecimento com mais humor e alegria.
Na próxima semana, eu faço 59 anos,
entro oficialmente no meu 60º ano de vida. E, quer saber? Estou adorando. Me
sinto mais inteira e nunca tive tantos planos. “Mas você tá bonitona”, me
disse um amigo. Repare quanto preconceito numa frase. Por que será que é tão
difícil associar envelhecimento e beleza?
Acho que tudo é uma
questão de ponto de vista. Ninguém vai querer me convencer de que só existem
vantagens.
(...)
E não tem essa de dizer
que “não tenho mais 20 anos”. Tenho todas as idades em mim. A vida está mais
leve e menos dramática. Finalmente sei escolher as batalhas que valem a pena.
Aprendi com o tempo a optar pelo simples.
Faço o que posso para me
sentir melhor, mas estou certa de uma coisa: o que envelhece mesmo é essa
obsessão pela juventude.
Amadurecer é aprimorar a
capacidade de discernir as coisas e, por que não, a flexibilidade para mudar
de opinião, coisa que faço hoje com um pé nas costas – não literalmente,
claro.
Quantas vezes teimei em
mudar o outro. Quero mais é transformar a mim mesma e deixar para trás a
obrigação de provar qualquer coisa pra qualquer um. Se meu corpo não é mais
tão flexível, minhas ideias nunca o foram tanto.
Demorei 59 anos pra
chegar aqui. Agora eu quero é aproveitar.
(modificado)
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Cris Guerra
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