Estava autografando meu
livro na Feira quando uma senhora alta, elegante, já bem madura, chegou
sorridente pra mim e disse: “Acho-te uma mulher fenomenal”. Eu, toda sorrisos,
tomei o livro que ela tinha em mãos e me preparei para escrever uma dedicatória
bem carinhosa. Ela então complementou: “Mas eu não queria ser casada contigo:
tu és muito independente!”.
Concluí a dedicatória,
agradeci a gentil presença dela, enquanto que meu coração começou a bater de
forma mais lenta. “O que estou sentindo?”, perguntei a mim mesma, em silêncio.
Tristeza, respondi a mim mesma, em silêncio, enquanto a próxima pessoa da fila
se aproximava.
Em que eu seria mais
independente do que qualquer outra mulher? Quase todas as que conheço
trabalham, ganham seu próprio sustento, defendem suas opiniões e votam em seus
próprios candidatos. Algumas não gostam de ir ao cinema sozinhas, já eu não me
importo. Poucas moraram sozinhas antes de casar, eu morei. Quase nenhuma, que
eu lembre, viajou sozinha, eu já. E nisso consta toda minha independência, o
que não me parece suficiente para assustar ninguém.
Fico imaginando que essa tal
“mulher independente”, aos olhos dos outros, pareça ser uma pessoa que nunca
precise de ninguém, que nunca peça apoio, que jamais chore, que não tenha
dúvidas, que não valorize um cafuné. Enfim, um bloco de cimento.
Quando eu comecei a ter
idade pra sonhar com independência, passei a ler afoitamente os livros de
Marina Colasanti – foram eles que me ensinaram a importância de abrir mão de
tutelas e a se colocar na vida com uma postura própria, autônoma, mas nem por
isso menos amorosa e sensível. Independência nada mais é do que ter poder de
escolha. Conceder-se a liberdade de ir e vir, atendendo suas necessidades e
vontades próprias, mas sem dispensar a magia de se viver um grande amor.
Independência não é sinônimo de solidão. É sinônimo de honestidade: estou onde
quero, com quem quero, porque quero.
Sobre a questão da
independência afugentar os homens, Marina Colasanti brincava: “Se isso for
verdade, então ficarão longe de nós os competitivos, os que sonham com mulheres
submissas, os que não são muito seguros de si. Que ótima triagem”.
Infelizmente, a ameaça
que aquela senhora acredita que as independentes representam não é um
pensamento arcaico: no aqui e agora ainda há quem acredite que ser um bibelô
(ou fazer-se de) tem lá suas vantagens. Eu não vejo quais. Acredito que a
independência feminina é estimulante, alegre, desafiadora, vital; enfim, uma
qualidade que promove movimentação e avanço à sociedade como um todo e aos
familiares e amigos em particular. “Eu preciso de você” talvez seja uma frase
que os homens estejam escutando pouco de nós, e isso talvez lhes esteja fazendo
falta. Por outro lado, nunca o “eu amo você” foi pronunciado com tanta verdade.