"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 26 de dezembro de 2019


tempo de amorosidade


Tempo em que todo o amor guardado dentro de nós pede para ser derramado em forma de reconciliação, ternura, perdão. É quando confraternizamos tudo o que construímos no ano que passou e repensamos o que poderemos acrescentar no ano que nascerá.

Façamos de todas as nossas experiências anteriores aprendizados para o nosso melhoramento amoroso como pessoa, para que o nosso abraço se alargue do tamanho do horizonte; para que possamos sentir gratidão pela vida com suas belezas e adversidades e que possamos cumprir nossa missão nesta existência.

Que sejamos uma presença de luz, compreensão, paciência. Que sejamos mais tolerantes e olhemos para o Outro, mesmo com todas as suas diferenças, como uma extensão bonita de nós mesmos.

Que exista amparo em nossas palavras e delicadeza em nossos gestos para que possamos contribuir com um mundo maior em alegria e esperança.

Que nossos problemas sejam sempre menores que as soluções e que sejamos do tamanho dos nossos sonhos.

Que a bondade esteja em nós, que a generosidade habite nossos corações e nossas vidas e que o entusiasmo guie nossos passos e nossas ações. 

Que não tenhamos que esperar o Natal ou o Ano Novo para festejar nosso dia a dia, mas que vivamos de tal forma que tudo em nós seja abundante amorosidade para que possamos sempre estender a nossa mão àqueles que precisarem do nosso acolhimento.

reflexões de final de ano


Mais um ano se encerra, mais um ciclo se fecha. É hora de rever o que deu certo e o que não deu tão certo. É hora de arrumar as coisas, jogar fora papeis inúteis, “arrumar a casa” da vida, do trabalho e do coração. É hora de repensar nossas atitudes, o modo como vivemos, e mudar aquilo que foi ruim. É hora de reflexão.

Mais um ano se passou. E o tempo não volta. O tempo é o que de mais valioso temos, e é preciso aproveitá-lo bem. Cada ano que se passa é um tempo que não se repete – um será sempre diferente do outro. Não deixe os seus anos passarem em “brancas nuvens”. Persiga seus sonhos. Faça valer à pena. Aproveite as boas energias do fim do ano, o espírito do Natal e planeje o seu futuro.

Que venha o Ano Novo! Que não seja só mais um ano e, sim, que seja um ano ainda mais especial que o anterior. O ano que passou deixará boas e más lembranças. Afinal, todos os anos que passam deixam marcas, sejam elas boas ou ruins.

Final de ano, tempo de festa e celebração, mas também tempo de reflexão, de análise e de recomeço. Para trás está ficando o ano de 2019. Do sofrimento e das lágrimas vamos guardar apenas a certeza de que sobrevivemos. Dos erros, guardemos a aprendizagem. Das dificuldades, vamos lembrar o momento da superação. Devemos sentir alegria e gratidão por mais um ano vivido e, apesar de tudo que tenha acontecido, o importante é que chegamos até aqui, mais experientes, mais fortes e com mais sabedoria. Sigamos firmes em nossos propósitos.

Agora é tempo de encher o coração de otimismo, esperança e sonhos, é tempo de recomeçar e renovar, pois um novo ano se apresenta e devemos vivê-lo e aproveitá-lo ao máximo. O próximo ano tem tudo para ser maravilhoso! Só depende de nós. Acredite em sua capacidade. Se respeite! Cuide de ser feliz e não desista de correr atrás dos seus sonhos. Olhe para o ano que passou com gratidão. Agradeça pelas nítidas evidências de que a fé vence as dúvidas, que a esperança supera o desespero, que a coragem se sobrepõe aos sofrimentos e, finalmente, da certeza absoluta de uma vida eterna que vem após nossa passagem por aqui.

É mais um ano que se encerra e outro que vem pela frente. O desafio maior é saber diferenciar o aprendizado dos erros. Com o primeiro, devemos absorvê-lo, aprimorá-lo e levar ao próximo ano. Já no segundo, devemos aprender a não errar duas vezes no mesmo ponto! Vamos iniciar mais um capítulo com 365 páginas em branco de história para cada um escrever no livro da vida.

Se você fizer promessas, cumpra. Se idealizar metas, persista, seja resiliente e alcance. Melhore seu mundo hoje e o amanhã certamente será melhor! Transforme cada dia deste novo ano em linhas memoráveis do livro da sua vida. Deixe boas lembranças em seu caminho.

Por Dr. Telmo Diniz



“Não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. 
Basta a cada dia o seu próprio mal.” 

Mateus 6:34

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Natal, te desejo


Desejo que a palavra-chave desta data seja crescimento.
Sim, que você cresça em tudo aquilo que deseja.
Cresça e se enterneça.

Desejo que você confie, que supere, que sinta, perceba, esclareça e supere seus anseios mais antigos e seus medos mais paralisantes.
Que neste momento você sorria para si mesma e se des-envolva com tudo o que não te faz bem, feliz.
Que você se reserve o direito de somente fazer “a diferença” para si mesma.
E o nome disso não é egoísmo. É autocuidado!
Porque não lhe ensinaram a diferença você se sente em permanente dívida com o outro, quando a sua maior credora é você mesma.

Desejo que você perceba que a sua maior empresa é seu mundo interno. Então, cuidado com o que você diz e acredita.
Cuidado com o que te disseram e fizeram acreditar.
Veja o que é seu e devolva tralhas emocionais que lhe impuseram.
Olhe para si mesma com amor fraternal e seja para si a melhor amiga que você gostaria de ter.
Perceba a importância de se doar.
Partilhe mais coisas boas, notícias incríveis e livre-se dos pesos mortos.

Natale-se!



Na manjedoura estava calmo e bom. Era de tardinha, ainda não se via a estrela. Por enquanto o nascimento era só de família. Os outros sentiam, mas ninguém via. Na tarde já escurecida, na palha cor de ouro, tenro como um cordeiro refulgia o menino, tenro como o nosso filho. Bem de perto, uma cara de boi e outra de jumento olhavam, e esquentavam o ar com o hálito do corpo. Era depois do parto e tudo úmido repousava, tudo úmido e morno respirava. 
Maria descansava o corpo cansado, sua tarefa no mundo seria a de cumprir o seu destino e ela agora repousava e olhava. 
José, de longas barbas, meditava; seu destino, que era o de entender, se realizara. 
O destino da criança era o de nascer. E o dos bichos ali se fazia e refazia: o de amar sem saber que amavam. A inocência dos meninos, esta a doçura dos brutos compreendia. E, antes dos reis, presenteavam o nascido com o que possuíam: o olhar grande que eles têm e a tepidez do ventre que eles são.

A humanidade é filha de Cristo homem, mas as crianças, os brutos e os amantes são filhos daquele instante na manjedoura. 
Como são filhos de menino, os seus erros são iluminados: a marca do cordeiro é o seu destino. Eles se reconhecem por uma palidez na testa, como a de uma estrela de tarde, um cheiro de palha e terra, uma paciência de infante. 
Também as crianças, os pobres de espírito e os que amam são recusados nas hospedarias. 

Um menino, porém, é o seu pastor e nada lhes faltará. 

Há séculos eles se escondem em mistérios e estábulos onde pelos séculos repetem o instante do nascimento: a alegria dos homens.



Pois o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a jovem que está grávida dará à luz um filho e porá nele o nome de Emanuel.

Isaías 7:14 / NTLH

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

assim é a vida


Árvores caem. Celulares ficam sem bateria. Canetas perdem a tinta bem na hora da assinatura. Iogurtes esquecidos na geladeira passam do prazo de validade. Crianças gritam durante o recreio. Fones de ouvido estragam logo. Sofás desbotam se expostos ao sol.

Folhagens murcham. Gatos afiam as unhas no tapete. Óculos entortam dentro da bolsa. Chove às vezes por quatro dias seguidos. Esmaltes descascam. Consultas médicas são desmarcadas. Abdominais custam a dar resultado. Vizinhos escutam música ruim que entra por nossas janelas.

Pontas de lápis quebram. Copos também, pratos lascam. Números não identificados ligam para nossos celulares. Motoristas de aplicativos não conhecem as ruas da cidade. Roupas velhas emboloram. Garçons erram pedidos. Vinho mancha. Botões não fecham quando a gente engorda. A gente engorda.

A diarista adoece e falta. Carros enguiçados atrapalham o trânsito. Cachorros fedem quando não tomam banho. Chaves são perdidas. Voos atrasam. Serviço de quarto de hotel é demorado. Políticos mentem. Times empatam em 0 x 0. Horóscopos não acertam. Discursos se arrastam. Churrascos queimam se o assador se distrai.

Violões desafinam. Amigos somem. O dólar sobe na véspera da viagem. Histórias não batem. Sites de bancos emperram. Ninguém compra o apartamento que colocamos à venda. Chatos nos alugam. Idiotas apertam em todos os andares do elevador. Motores apagam no meio do engarrafamento. Os convidados erram no presente.

Malas extraviam. Tomates apodrecem. Testes de bafômetro dão positivo. Filhos não comem direito. Terapias demoram. Salsichas são suspeitas. Roda-se em provas de autoescola. Corretores de whatsapp nos constrangem. Infiltrações na parede se repetem. Prédios altos tapam a visão. Filmes saem de cartaz. Baratas aparecem.
Chatices acontecem. E os resmungões nos alugam.

Mas novidades aparecem. Coisas boas se repetem. Testes de gravidez dão positivo. O beijo é demorado. Reuniões de condomínio são desmarcadas. Pessoas interessantes ligam para nossos celulares. Tiranos caem. Pessimistas não acertam. Dá praia por quatro dias seguidos. Cachoeiras não fecham. Preconceitos somem. Recordes são quebrados. Amantes se conhecem no meio do engarrafamento. A temperatura sobe na véspera da viagem. 
Vizinhos escutam música boa que entra por nossas janelas. Homofóbicos saem de cartaz. Espumantes são abertos bem na hora da assinatura. Amores não acabam quando a gente engorda. A vida se renova se exposta ao sol.


#dia do vizinho



“Não permitam que se ache alguém entre vocês que faça encantamentos; que seja médium, consulte os espíritos ou consulte os mortos. 
O Senhor tem repugnância por quem pratica essas coisas” 

(Deuteronômio 18.11-12)

domingo, 22 de dezembro de 2019




Para hoje, amor.
Para amanhã, também!
Tolerância e leveza.
Menos disputa, menos razão.
Mais mãos dadas, humildade e coração!

Carolina Salcides


proposta de Natal


Não, eu também não acredito que só porque é dezembro e porque é Natal tudo vai se transformar como num passe de mágica. O vermelho e verde dos enfeites me encanta, mas não me ilude tanto assim! A pauta de cada um continua a mesma, embora haja sim uma pausa de alguns dias. E acredito na importância desses dias.

Quem é católico comemora o nascimento de Cristo, refaz seus votos. Outros cristãos comemoram de outras formas. Quem é judeu participa do Chanukah, quem é budista medita e quem é cético aproveita o feriado. Cada um aproveita como lhe convém. Quem tem parentes longe se reúne, quem não tem junta os amigos. E tudo isso é muito mais que uma mera comemoração. São os rituais que ao longo do tempo o homem criou para se dar um pouco de fraternidade, um momento de alegria em meio aos nossos dias tão endurecidos pela vida. E nós precisamos disso!

A mensagem deste ano é a de uma cidadã comum, que como todos tem licença para parar por alguns dias, celebrar a vida com as pessoas que ama e depois seguir em frente.

Celebre mais, coma e beba menos. Alimente a alma o quanto quiser e o corpo apenas o necessário. A sua saúde agradece. Presenteie mais com presença do que com presentes. Você será lembrado por muito mais tempo. Mande recado para quem está longe, é saudável e a tecnologia nos permite, mas não se esqueça de abraçar fortemente quem está perto, quem passa o dia-a-dia com você. Em tempos de redes sociais, quem está próximo anda carente.

Invista nos momentos, invista nas companhias. Eu garanto a você que não existe forma melhor de “lavar a alma” do que uma noite de prosa com pessoas agradáveis. Permita-se a saudade, o choro pela perda de alguém querido. A lágrima liberta e precisamos de liberdade para seguir. Permita que seus filhos vivam o encantamento do Natal, afinal, é só na infância que o Natal tem essa magia. Daqui a pouco eles vão crescer e você só terá a lembrança desses dias. E embora a fraternidade devesse ser parte de nosso cotidiano, se você não o fez ainda dá tempo. Vivemos num país desigual e ainda há muito mais necessitados do que você pode imaginar.

Converse mais, converse com pessoas diferentes de você. Se você é jovem, converse com os mais velhos, se é mais velho, experimente alguns minutos de conversa com a moçada. É uma grande oportunidade de aprendizado para ambos. Seja criança por um dia. Permita-se tirar uma lasquinha no peru, bisbilhotar o presente do próximo, tirar uma foto descabelada, beijar a sua mãe de repente, comer uma rabanada antes da hora. Arranque o riso das pessoas, arranque o seu riso e experimente um jeito novo de se revigorar.

Seja qual for a sua forma de comemorar, faça as pazes com você antes de ir. E quando for comemorar abrace. Abrace muito e todos à sua volta. O abraço queima calorias e produz endorfina, o hormônio da felicidade. O segredo é desatar os nós, sem desfazer os laços!


Ela terá um menino, e você porá nele o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos pecados deles.
Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito por meio do profeta:
“A virgem ficará grávida
e terá um filho
que receberá o nome de Emanuel.”
(Emanuel quer dizer “Deus está conosco”.)

Mateus 1:21-23 / NTLH

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019


acreditar no Natal


Acreditei em Papai Noel por muitos anos. Menina do interior com a fantasia sempre a mil, ele fazia parte das minhas histórias encantadas.

Até uns 7 anos de idade, eu também acreditava na cegonha e no coelho da Páscoa. Quando o pôr-do-sol tingia o céu, diziam-me que os anjinhos começavam a assar aqueles biscoitos de Natal que se faziam em todas as casas da pequena cidade.

Trovoadas de começo de verão eram São Pedro arrastando os móveis para a fábrica de brinquedos ter mais espaço.

Na antevéspera de Natal, um recanto da sala era ocultado por lençóis estendidos, e ali atrás ocorria o milagre: na noite de 24, com o coração saltando de ansiedade, a gente escutava sininhos como que de prata: era hora. Levada pela mão da mãe ou do pai, eu entrava na sala, de onde os lençóis tinham sido removidos, e lá estava ela: a árvore de Natal, toda luz de velas, toda cor de esferas, e embaixo os presentes.

Muitíssimo menos dos que se dão hoje às crianças, mas havia presentes.

Cantávamos canções natalinas, todo mundo se abraçava, depois abríamos os pacotes e comíamos a ceia. No dia seguinte, chegavam tios, primos, alguns amigos. Era só isso, sem alarde, mas com emoção. Guardei a sensação de que Natal é fraternidade, é reconciliação, é alegria de estar junto, é a chegada de pessoas queridas, é o tempo da família.

Para quem não a tem, é o tempo dos amores especiais.
  
Não éramos particularmente religiosos, mas uma de minhas avós, luterana convicta, na manhã seguinte me levava à igrejinha, onde eu gostava de cantar. Algo de muito bom se comemorava nesse tempo, o nascimento de Cristo e a esperança dos povos. Nem tudo seria guerra e perseguição, pobreza, crueldade, injustiça.

As pessoas se queixam muito de que o Natal hoje é só comércio. Depende de quem o comemora. Se me endivido por todo o próximo ano comprando presentes além de minhas possibilidades, pois no fundo acho que assim compro amor, estou transformando o meu Natal num comércio, e dos ruins. Se entro nesses dias frustrado porque não pude comprar (ou trocar) carro, televisão, geladeira, estou fazendo um péssimo negócio para minha alma. E, se não consigo nem pensar em receber aquela sogra sempre crítica, aquele cunhado cínico, aquele sobrinho malcriado, abraçar o detestado chefe ou sorrir para o colega que invejo, estou transformando meu Natal num momento amargo. Então, depende de nós.

Claro que há as tragédias, as fatalidades, doença, morte, desemprego, alguma maldade – essas não faltam por aí. Um avô meu morreu de doença muito dolorosa, na véspera de Natal. Foi a primeira vez que vi um adulto, minha avó, chorando. Há poucos anos, minha mãe morreu na antevéspera de Natal, depois de longuíssimo tempo de uma enfermidade maldita. Mas foram também ocasiões de conforto e consolo, abraço, amor e entendimento.

Na medida em que não se podem dar muitos e caríssimos presentes, talvez até se apreciem mais coisas delicadas como a ceia, o brinde, o carinho, os votos, a reunião da família, o contato emotivo com os amigos, mensagens pelo correio ou e-mail, música menos barulhenta e aroma de velas acesas.

Mais que tudo isso, o perfume de uma esperança ainda que realista. A crise nas finanças pode incrementar a valorização dos afetos. Se não pudermos viajar, curtiremos mais nossa casa. Se não há como trocar velhos objetos, vamos cuidar mais dos que temos. Se não podemos comprar o primeiro carro, vamos olhar melhor nossos companheiros no metrô.

Vamos curtir mais nossos ganhos em afeto.

Não é preciso ser original para escrever sobre o Natal. A gente só quer que ele seja tranquilo e gostoso, e que nos faça acreditar: em Papai Noel, em anjos, em famílias amorosas ou amigos fiéis, em governantes mais justos e líderes mais capazes, em um povo mais respeitado – em alguma coisa a gente acaba sempre acreditando.

Porque, afinal de contas, é a ocasião de ser menos amargo, menos crítico, menos lamurioso e mais aberto ao sinal deste momento singular, que tanto falta no mundo: a possível alegria, e o necessário amor.



“Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação.” 

2 Timóteo 1:7

terça-feira, 17 de dezembro de 2019


É junto dos “bão” que a gente fica “mió”.


lapsos


A entrevista era para uma rádio e foi dada por telefone, o que me salvou do vexame. Os ouvintes não me viram fechando os olhos, franzindo o cenho, buscando no fundo do cérebro a palavra que não vinha. Cheguei a dar dois soquinhos na testa, tentando acordar alguém lá dentro. Não adiantava. Era um verbo básico, corriqueiro, desses que a gente usa toda hora, mas desapareceu. E eu ali, com a frase pela metade, sem conseguir concluir. Desesperador. Esse tipo de vacilo parece durar cinco angustiantes minutos, e não apenas cinco segundos, que é o tempo que a gente costuma levar pra buscar uma expressão substituta.

Nada a ver com nervosismo ao falar em público. Acontece a mesma coisa quando estou tendo uma conversa informal: na hora que a palavra vai sair pela boca, evapora. Fico feito uma pateta, sem lembrar o que ia dizer. Outro dia, estava recomendando uma profissional para uma amiga, e queria usar um adjetivo para valorizá-la. E a droga do adjetivo não vinha. “Ela é muito... como diz? Muito... muito.... como diz quando a pessoa é... quando ela não faz....”

Minha amiga tentava ajudar. “Muito econômica? Muito honesta?”

“Não, não... Ela é muito....ah, caramba, como diz quando a pessoa é... quando não se.... quando fica na dela... DISCRETA!!! Ela é muito DISCRETA!!!”

Essa era eu, exaltada pela vitória. Minha amiga e eu rimos à beça, ela também tem seus lapsos.

A senilidade, dizem, é a causa dessa amnésia ocasional. Pode ser, aceito o diagnóstico sem resmungar, mas acho que, no fundo, é cansaço. A gente passa a vida dando explicação, emitindo opiniões, tentando se fazer entender. Lá pelas tantas, esgota. Tenho procurado falar menos e escutar mais, não por ser magnânima, mas por pura preguiça. Não tenho mais energia para provocar discussões ou prolongá-las. Já não me entusiasma fazer alguém mudar de ideia, buscar argumentos para convencê-la disso ou daquilo. Muito esforço. O silêncio nunca me pareceu tão confortável.

Assim sendo, aproveitando que ando mais relaxada, meu vocabulário anda disperso. Às vezes, quando estou conversando com alguém e começo a contar uma história, não encontro um determinado verbo na ponta da língua, onde ele deveria estar. Não sei onde se mete. Some junto com algum substantivo.

Deve acontecer com você também, de vez em quando. Não chega a ser grave, mas é... como que diz... é... ah, meu Deus... é.... CONSTRANGEDOR! Isso, constrangedor. Então, por via das dúvidas, ando reduzindo as atividades em frente ao microfone e me afastando de plateias numerosas. Para evitar fiascos, já que estou sendo paulatinamente abandonada pelas palavras, logo por elas. De escritora para ex-critora, em breve. Sem drama, continuemos a rir.





“A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos do Senhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes.” 

(Salmos 19:7)

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019


#dia do pedreiro
6ª feira 13

o homem ideal


Ele existe, sim. E, graças a Deus, está muito longe da perfeição.
O homem ideal me faz rir, mas nunca usa o riso contra mim.
Tem a rara habilidade de saber ouvir e só diz o que é necessário, bom ou a dura e intransponível realidade.
Compreende a diferença entre estar presente e fazer companhia.
Não é prolixo, nem tenta impressionar.
Não precisa entender de vinho, charutos ou golfe; precisa ser autêntico e admitir que não entende de vinho, charutos nem de golfe (e eventualmente confessar que gosta mesmo é de pinga).
Ele não exige a todo instante meu lado risonho porque sabe, como sabe de tantas outras coisas não ditas em sentenças ou discursos, que os dias negros fazem parte de mim.
Nota as sutis alterações de humor pelo tom da minha voz e, antes de prejulgar as razões, se predispõe a fazer cafuné ou, sensato, cala-se ao meu lado olhando para a TV.
E não exige explicações porque possui uma calma sabedoria que me impele em sua direção: dividir minhas angústias e anseios com este homem é tão acolhedor quanto deitar na grama sob o sol de outono.

O homem ideal me dá bronca quando abuso da minha independência ou como chocolate demais e depois reclamo do peso.
Ele compra sorvete light e evita discussões posteriores.
Compreende que preciso da sensação indescritivelmente libertadora de sumir por algumas horas e, mesmo não concordando com ela, não me interroga como um oficial do DOI-Codi quando piso em casa, levemente para não o acordar, às 2 da manhã.

O homem ideal canta.
Não precisa ser afinado, mas sussurra (seja ao telefone ou ao vivo) canções que, num dia qualquer, mencionei gostar.
Pode saber dançar.
E, se não souber, que mantenha a dignidade e fique sentadinho me observando.
Também bebe.
Meio pinguço, é daqueles que ficam charmosos de matar com um copo de uísque nas mãos.
É deliciosamente sacana três doses acima do normal.
Enterra os bons modos e fecha abruptamente a porta do quarto, sem tempo para que eu responda à pergunta nem sequer formulada.
Adormece aconchegado a mim, mas não suporta ficar agarrado durante toda a noite.
E também curte cozinhar.
Diverte-se tanto numa loja de condimentos como diante de uma prateleira de CDs.
Não me expulsa da cozinha mesmo que eu esteja atrapalhando.
Não me dá fusilli na boca mas o serve no meu prato, com pouco queijo e muito molho.

O homem ideal está sempre disposto a me ouvir, mesmo que seja nos minutos desagendados à força durante o dia cheio, e não usa trabalho nem cansaço como desculpa para suas eventuais faltas; as assume e, até, se desculpa.
Não se esquiva de discutir os problemas que não se solucionam com notas de 100.
Não considera fraqueza dizer que me ama.
Pede ajuda quando sente que o peso colocado sobre seus ombros extrapolou sua força.
E chora.
Não faz promessas porque sabe que nem sempre é possível cumpri-las.
Vive regido por sua consciência e, impulsivo, assassina a etiqueta e comete atos passionais.
Então faz besteiras, erra, engana-se.
E nem por isso deixa de ser maravilhoso - apenas segue sendo magnífica e tropegamente humano.

O homem ideal é imperfeito,
numa imperfeição que combina exatamente com a minha.



“Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas.”

Filipenses 4:8

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

sempre em dezembro



Já foi moda fumar. Já foi moda ser gordo. E tem gente que acha bonito ser anoréxico. Pergunto-me como é que essa insanidade coletiva se prolifera? Será que um indivíduo começa e os outros, por falta de originalidade, copiam? Uma incógnita que muitos autores procuram responder em seus livros de autoajuda.

Porém, trazendo aos nossos dias de hoje, a moda agora é não ter tempo. Essa é a insanidade coletiva do momento. É bonito ser uma pessoa atarefada. Pelo menos passa a impressão de empenho, de produtividade. O que não é nem um pouco verdade, mas é o que modismo ditou e todos responderam "Amém".

E quando chega dezembro então, correr vira uma obrigação social. Se você encontrar alguém que não esteja atarefado, com a agenda cheia ou louco para o ano acabar, pode abraçar porque este é sujeito anormal. Provavelmente esta pessoa é alguém mais evoluído que a maioria, alguém que já transcendeu às agruras do século XXI e sabe viver sem se deixar levar pelo consenso coletivo.

Dezembro é realmente atípico, isto nós não vamos conseguir mudar. São confraternizações, encerramentos, despedidas, compras, bebidas, comidas, presentes. Só de falar já ficamos cansados. Tudo que não foi resolvido, discutido, controlado ou feito durante o ano, procura-se fazer dentro do mês de dezembro. Desde os afazeres mais simples até a caridade. Tivemos 11 meses para fazer e não o fizemos. E no final do ano temos o descaramento de dizer que vamos fazer tudo em mês.

Dizem que se soubéssemos o dia de morrer, viveríamos intensamente até o nosso penúltimo dia. Fim de ano parece com isso. É como se, sabendo que ano vai acabar, embarcamos todos numa corrida louca para dar a volta em nossos mundos em 30 dias. Parece uma gincana da vida real. Todos correndo para entregar no dia 31, o prêmio de execução do ano para si mesmo. Alguns até conseguem, embora deixem no caminho mortos, feridos e descompensados. Mas a grande maioria morre na praia e acaba jurando que, no próximo ano tudo vai ser diferente.

Talvez sejam essas nossas juras platônicas de conversão que fazem de nós eternos mentirosos. Se pararmos de prometer que vamos melhorar, quem sabe não iniciamos uma melhora sem compromisso? Basta sairmos da onipotência de acharmos que temos que dar conta de tudo, que somos os melhores, que ninguém é capaz de fazer melhor que nós. Pode ser um pequeno começo para uma grande mudança. Só é preciso tentar.



O homem é o único ser na natureza que tem consciência de que vai morrer, e o futuro da raça humana será muito melhor do que o seu presente. Mesmo sabendo que seus dias estão contados e tudo irá se acabar quando menos espera, o homem faz da vida uma luta digna de um ser eterno. O que as pessoas chamam de vaidade – deixar obras, filhos, fazer com que seu nome não seja esquecido – considero a máxima expressão da dignidade humana.

Acontece que, criatura frágil, ele sempre tenta ocultar de si mesmo a grande certeza da Morte. Não vê que ela é que o motiva a fazer as melhores coisas de sua vida. Tem medo do passo no escuro, do grande terror do desconhecido, e sua única maneira de vencer este medo é esquecer que seus dias estão contados. Não percebe que, com a consciência da Morte, seria capaz de ousar muito mais, de ir muito mais longe nas suas conquistas diárias – porque não tem nada a perder, já que a Morte é inevitável.




“Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes que não sabes.” 

Jeremias 33:3

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019


# ontem foi dia da justiça