quarta-feira, 28 de abril de 2021
terça-feira, 27 de abril de 2021
eu te permito
Eu te
permito não gostares do mesmo que eu gosto.
Permito
que não tenhas os mesmos temperos em teu almoço, que não leias os mesmo livros
que eu leio ou te banhes nos mesmos mares de conhecimento nos quais mergulho.
És livre para que deixes tocar nos teus ouvidos a música que não me toca.
Teu
prazer é teu e não deves condicionar quem és pelos meus gostos.
Não
há maior desrespeito que tiranizar o prazer ou o desprazer da sensibilidade
alheia. Entretanto posso falar-te dos meus gostos e ajudar-te a me compreender
com meus prazeres, tão legítimos quanto os teus.
Eu te
permito ter os amigos que tens, mesmo que eles me causem aversão ou espanto.
Nossos corações se alimentam da comunicação e da energia que brotam de outras
vidas, mas não precisam ser das mesmas vidas. Meu alimento relacional pode ser
diferente do teu.
Querer
afastar-te dos teus queridos, seria arrancar-te a liberdade de teres os exatos
amores que te abastecem. Estaria te condenando a certa inanição e me condenando
a suprir-te de uma nutrição afetiva que nunca terei como ofertar. Mas posso
dizer, com respeito, o que penso sobre os que te acompanham, emprestando-te
meus sentidos, e deixando que a decisão sobre quem come pão contigo seja tua.
Eu te
permito creres no que quiseres e não creres naquilo que é sagrado para mim.
Teus
rituais são teus e teus são os anjos, e mesmo os demônios, que escolhestes para
abençoar ou assombrar tua vida. Também é teu o teu ceticismo. Se tens amuletos
estranhos no corpo, ideias bizarras na mente e conceitos rígidos no coração,
que nunca saiam de minha boca adjetivos que os diminuam. Afinal, a estranheza e
o juízo de bizarro e de rígido são a demonstração da estreiteza da minha
percepção, que encolhe tua complexidade para alcançar-te com minha diminuta
capacidade de compreensão. Mas posso apresentar-te, com carinho, as minhas
convicções, possibilitando novas cores em tuas paisagens mentais.
Eu te
amo e te respeito, mesmo que estejas distante em pensamento, ideias, crenças,
gostos, amizades e quereres. Talvez eu te ame justamente pelo fato de seres tão
dessemelhante de mim.
Não
preciso tornar-me quem és e nem transformar-te naquilo que sou para que nosso
amor aconteça. É bom olhar-te como um não-espelho, é bom ser sensível aos
nossos múltiplos paradoxos. E é bom que saibas que para que sejas quem és, de
fato, nunca precisastes da minha permissão.
A
afeição mais autêntica não ocorre na fusão, e sim quando os dois diferentes se
unem para ser exatamente isso: um e outro.
Kau Mascarenhas
empregadas ou secretárias
quinta-feira, 22 de abril de 2021
quarta-feira, 21 de abril de 2021
os talentos desprezados do Brasil
Desde a minha infância
até hoje, quando chega o feriado de Tiradentes, o que me vem à mente é o quadro
Tiradentes Esquartejado, de Pedro Américo. Vi a foto dessa pintura na escola,
em algum livro de História, e fiquei fascinado. Tiradentes, ou o que resta dele,
está pregado no próprio cadafalso onde morreu enforcado. A cabeça, de barba e
cabelos ruivos, está no tablado do patíbulo. Ao seu lado há um crucifixo com
Jesus agonizando, e até parece que os dois, Jesus e Tiradentes, são iguais, são
a mesma pessoa.
Abaixo, nos degraus, está
deitado o torso, com um braço, o direito, pendente. E no flanco direito foi
pregada e amarrada uma perna de Tiradentes.
A cena é fortíssima. Eu,
pequeno, não fiquei enjoado ou enojado ao vê-la. Nem me causou revolta com a
injustiça cometida com o herói. Apenas cogitei: por que esquartejaram
Tiradentes depois que ele morreu? Precisava? E por que Pedro Américo pintou
esse quadro horripilante? Ele queria chocar o observador?
Pedro Américo pintou
outro quadro impactante: o da proclamação da Independência, com Dom Pedro I em
seu cavalo, cercado de outros cavaleiros, gritando “independência ou morte!”. A
pintura é tão poderosa, que também penso nela quando se aproxima o 7 de
Setembro.
Gosto de pintura, sou um
leitor da história da arte, mas não sou entendido, longe disso. Então, o que
gostaria de saber é: por que Pedro Américo não está incluído entre os grandes
da pintura mundial? Uma questão de estilo ou o quê? Não compreendo.
As obras de Pedro Américo
são bem parecidas com as daquele francês com nome bonito, Jacques-Louis David.
Tanto que, quando leio ou penso na coroação de Napoleão, a imagem que me vem à
cabeça é um quadro de Jacques-Louis David, com Napoleão coroando Josefina.
Há outras pinturas
célebres de David, como a de Napoleão empinando seu cavalo branco, desafiador,
bravo, vencedor. Ah, e ainda tem A Morte de Marat, que é quase tão marcante
quanto o Tiradentes Esquartejado. Marat, um dos três líderes da Revolução
Francesa, está nu na banheira, apenas com uma toalha enrolada na cabeça. Seu
braço direito está caído para fora e o esquerdo segura uma folha de papel, a
última que ele leu.
Marat passava o dia na
banheira. Não por excesso de higiene ou TOC. É que, certa vez, ao fugir da
polícia, ele se refugiou nos esgotos de Paris e a água imunda e fétida,
habitada por gordas ratazanas francesas, lhe causou uma doença de pele que
provocava coceiras insuportáveis o dia inteiro. Para se aliviar, Marat enchia a
banheira de água e lá se sentava. Atendia todos os solicitantes assim, e assim
foi morto a punhaladas por uma moça que o odiava porque ele mandou o irmão dela
para a guilhotina.
Ou seja: esses artistas
tornaram viva a História. Você contempla um quadro deles e parece que viajou na
máquina do tempo. Como um diretor competente de um filme, eles transformam o
que é relatado ou escrito em realidade.
Não é qualquer um que tem esse poder. O pintor precisa imaginar a cena e reproduzi-la de modo verossímil. A pessoa olha para o quadro e conclui: “Foi assim que aconteceu”. Isso só se dá quando o artista insere na pintura elementos que estão no inconsciente coletivo. Ele tem de ser muito bom para conseguir isso. Pedro Américo conseguiu. Por que não está luzindo entre os grandes? Sei bem: porque é brasileiro e os brasileiros não festejam como deviam seus homens de talento e bravura. Ainda escrevo um livro: Os Talentos Desprezados do Brasil. Vou superar o Peninha em vendas, mas, como compensação, talvez o cite num rodapé. Ele não chega a ser um herói, mas já cometeu suas façanhas. Aguarde que em breve revelarei quem são ou outros grandes homens esquecidos do Brasil.
segunda-feira, 19 de abril de 2021
Minha avó dizia que, para
ser feliz, a gente não precisa sair do lugar, a gente tem que ser o lugar.
por que é preciso estar bem na foto
Minha querida sogra Ana
Maria me mostrou, dia desses, alguns velhos álbuns de fotografia dos pais dela.
Eram fotos em preto e branco, já meio desgastadas, em que várias pessoas da
família apareciam. Então, confirmei algo que sempre reparo, quando vejo esse
tipo de foto: antigamente, as pessoas não sorriam para a câmera.
Dê uma olhada em livros
de história que tenham fotos. Você verá que ninguém ria para o fotógrafo dos
anos 50 para trás. Faço até uma sugestão para você comprovar o que digo com
seus próprios olhos. Tenho cá a coleção História da Vida Privada no Brasil. O
volume 3 é: República: da Belle Époque à Era do Rádio. Há dezenas de fotos nas
mais de 600 páginas deste tomo, talvez centenas. Só em duas o personagem
fotografado aparece sorrindo: uma moça índia e um menino sentado em um balanço.
Por que isso? Minha tese
é de que, nos nossos dias, a felicidade é superestimada. As pessoas dizem a
todo momento: “Eu só quero é ser feliz”. E, sobre seus filhos, enfatizam: “O
que importa é ele ser feliz”.
Pois vou lhe dizer uma coisa, alegre leitor: eu quero que o meu filho seja feliz, é evidente. Mas, mais do que isso, quero que ele MEREÇA a felicidade. Quero que ele se torne um homem digno de usufruir o que a vida oferece de bom.
Essa ideia talvez seja
antiga, talvez seja do tempo das fotos que me apresentou minha amada sogra,
quando as pessoas tinham mais deveres do que direitos. Porque hoje a felicidade
não é mais vista como uma consequência. Ela é um valor em si. A pessoa tem de
estar satisfeita, tem de estar sorrindo sempre, a vida dela haverá de ser uma eterna
festa, ela tem de estar “bem na foto”. Se não for assim, as outras pessoas
pensam que algo está errado com ela.
Nas redes sociais, onde
as pessoas mais expõem suas vidas, a felicidade transborda. E o amor também,
sobretudo no Instagram das jovens. Uma moça publica uma foto e as amigas postam
comentários com declarações de amor. É o que elas dizem umas para as outras: “Te
amo”. Sério. Ou então: “Linda!” “Deusa!” “Perfeita!” “Maravilhosa!”
Não consigo entender como o mundo não é mais justo e bom, se há tanto amor envolvido nos relacionamentos. Será que é falsidade? Será que é cinismo? Eu, em todo caso, decidi: não sorrirei mais nas fotos. Nem no Instagram, aquele reino da alegria. Chega de frivolidade. Serei sério e grave, como os tempos que vivemos.
sábado, 17 de abril de 2021
Que voz horrível, está
tomando testosterona.
Malhou demais ficou
esquisita!
Viu as rugas na testa
dela?
A maldade feminina ainda
me espanta. A inveja por trás do sorriso, a falsidade disfarçada de palavras
doces. Se isso existe no universo masculino, eles camuflam muito bem, porque
percebo pouco.
Mulher, para perceber o
defeito da outra não demora dois segundos.
É quase automático. Bateu
o olho e encontrou um defeito. E quando não fala, pensa.
Então solta suas farpas
em doses homeopáticas para cada outra mulher que vê, sem se dar conta de que
cada palavra dessa é uma gota do seu veneno que escorre no canto da sua boca.
Porque será que é tão
difícil suportar o sucesso alheio?
A beleza, a elegância, a
inteligência, a prosperidade e o sucesso dos outros, só podem ser suportados
por pessoas realmente maduras.
Porque uma mulher realmente
madura, madura de amadurecida pela vida, essa sim, suporta nossas alegrias e
conquistas. Essa nos enxerga além dos nossos defeitos.
Essa é aquela amiga que
te liga pra falar que você não estava bem ontem e você não estava mesmo. É
aquela que tem a coragem de te dizer que o batom roxo não ficou legal em você e
que aquele seu namorado esquisito está te enrolando. Ela também te conta que o
seu projeto novo é arriscado e te avisa que a sua TPM está te deixando
insuportável.
Mas ela também lembra do seu
nome quando reza e chora de alegria quando você tem suas vitórias. Se ela diz
que você está linda, pode acreditar, você está mesmo. E quando vocês estão
juntas, a vida parece mais leve.
Essas sim, merecem a
nossa lembrança e o nosso carinho. E é delas que o mundo precisa!
Aquelas que fingem que
vão contar um segredo e te avisam que o seu dente está sujo. As que ajeitam
nossas coroas, sem que ninguém perceba!
um homem melhor do que Rodrigo Hilbert
Só ouço falar no Rodrigo Hilbert.
Porque o Rodrigo Hilbert é bonito, porque o Rodrigo Hilbert cozinha bem, porque
o Rodrigo Hilbert construiu, com as próprias mãos, uma capelinha para celebrar
seu casamento com a Fernanda Lima, que para feia também não serve.
Todos os homens que conheço estão com
inveja do Rodrigo Hilbert, rosnando que ele não tem defeito*, que ele faz de
tudo e é bom em tudo que faz.
É que o nosso tempo é de
especialistas. As pessoas são boas numa única atividade e só a ela se dedicam. Antes,
os homens eram mais generalistas, então os Rodrigos Hilberts pululavam como
pululam comentaristas políticos no Twitter.
Leonardo da Vinci foi um Rodrigo
Hilbert, só que maior e melhor. Ele não era apenas um grande pintor. Era
escultor também. Aliás, a obra da sua vida seria uma escultura equestre em
Milão. Era uma escultura gigantesca, que deveria deixar perplexa toda a Europa,
mas a cidade acabou entrando em guerra e o bronze do cavalo foi usado para
fazer canhões.
Canhões que, a propósito, Da Vinci
sabia fazer, bem como outras armas. E sabia ainda erguer muros intransponíveis
e cavar fossas e barragens, e, principalmente, organizar festas animadas por
engenhocas mecânicas que surpreendiam os convidados. Numa de suas festas, a
atração foi um robô, que andava e se mexia como se gente fosse. Ou seja: uma
capelinha era coisa que Da Vinci construía bocejando, para se distrair, enquanto
pintava Monalisas.
Da Vinci era loiro como Hilbert e
mais alto do que ele. Dizem que se elevava a 1m90cm. Luciano Potter um dia
disse que o Rodrigo Hilbert é o ser humano mais bonito que ele já viu. Se visse
Da Vinci, pobre Marcella! Há relatos de que Da Vinci era tão belo que as
conversas cessavam, quando ele entrava em um lugar. E ainda era forte: para
demonstrar o poder de seus músculos, gostava de entortar ferraduras com as mãos
nuas.
Mas Fernanda Lima provavelmente não
teria chance com ele. Há suspeitas de que Da Vinci fosse homossexual. Ou que
simplesmente não se interessasse por sexo. Quer dizer: nem o Potter teria
chance com ele.
Agora, o Rodrigo Hilbert do passado
não foi Da Vinci. Foi um outro personagem extraordinário: sir Walter Raleigh.
Esse pontuou como explorador, poeta, historiador, espião, guerreiro, escritor e
impagável sedutor.
Raleigh escreveu uma história da
Grécia e de Roma, além de poemas de amor como O Amante Silente. Achei, na
internet, essa tradução de Adriano Nunes, que não sei quem é, mas dou crédito:
“Comparam-se paixões bem a cheias,
correntes:
O ordinário murmúrio, e muda a
profundeza;
Então, quando a afeição gera palra,
aparenta
Que vêm da profundeza, mas do raso
chegam.
Tão ricas em palavras, em palavras
antes
Pobres descobrem-se para engendrar um
amante.”
Com essa conversinha mansa, Raleigh
conquistou ninguém menos do que a rainha. Sua abordagem tornou-se clássica: um
dia, Elizabeth caminhava com seu séquito pelas ruas embarradas de Londres e, de
repente, deteve-se em frente a uma poça d´água. Raleigh, vendo a cena, não
hesitou: sacou da capa que levava aos ombros e a estendeu sobre a água para que
a rainha não molhasse os nobres pés. Beth ficou encantada e quis saber quem era
aquele homem tão belo e galante. Em poucos dias, Raleigh tornou-se o queridinho
da corte.
Mais tarde, ele atravessou o oceano e fundou a primeira colônia britânica no continente que seria chamado de Estados Unidos. O nome da colônia? “Virgínia”, em homenagem a Elisabeth, que era conhecida como “a rainha virgem”. Era um pândego, esse Raleigh. De fato. Rodrigo Hilbert sentiria inveja dele.
*Tem sim!
O dedo indicador de sua mão esquerda
é torto devido a um acidente que sofreu quando era adolescente.
quinta-feira, 15 de abril de 2021
Não é pra ser só dureza.
Tem o olhar de quem ama a gente. As flores todas espalhadas pelos caminhos. O
beijo bom de Deus revelado nas pequenas dádivas dos instantes.
Não é pra ser só dureza.
Tem a arte. A mágica dos encontros que começam na alma. Um jeito nosso de
brincar que ainda é menino. Os prazeres preferidos que continuam a existir.
Não é pra ser só dureza.
Tem a gratidão sincera por um bocado de bênçãos. A paixão. Os olhos dizendo
estrelas, admirados pelas belezas que se vê e aquelas que só podem ser
sentidas.
Não é pra ser só dureza.
Tem passarinho no ouvido. Coração que ainda sonha. Lua toda lindona. Bichinho
de estimação. Música e poesia. Tem sentimento bom.
Não é pra ser só dureza.
Tem o amor.
eu tinha tanto medo de
ficar sozinho que eu acabava insistindo em relações ruins, ou me mantendo em
lugares apertados demais só pra não ter que lidar comigo mesmo. eu achava que
só seria interessante se tivesse alguém.
mas depois eu entendi que pra ser interessante eu precisava ser importante, primeiramente pra mim.
o amor que eu queria encontrar nos outros, precisava partir de mim primeiro.
depois eu compreendi também que o amor próprio é um exercício diário, e não existe relação alguma, ou pessoa alguma que me entregue essa sensação de amar quem eu sou, devidamente como eu mereço, como eu preciso ser amado.
não é me apertando em
relacionamentos estreitos pra tentar preencher os meus vazios que vou me amar,
é aceitando o fato de que, a responsabilidade de me dar amor, é totalmente e
exclusivamente minha.
não que os outros não
possam me oferecer afeto e me fazer sentir querido e amado.
algumas pessoas tem esse
poder de fazer a gente se sentir um pouco mais leve, mais acolhido, mas o que
eu quero dizer é que a responsabilidade de me preencher de amor, é minha.
eu tinha tanto medo de seguir sozinho, que eu oferecia as minhas mãos pra quem já nem estava ali pra segurar, até entender que eu precisava ter mais responsabilidade pelo que eu sentia, e valorizar mais o amor, e respeitar mais
tudo o que eu carregava comigo, e considerar de fato que o meu tempo é precioso demais pra ser gasto com qualquer pessoa
ou relação.
depois que eu entendi que
o amor mais importante de todos, é o meu.
eu nunca mais tive medo
de ficar sozinho.
porque sozinho eu me
encontro,
porque sozinho eu me
cuido,
sozinho eu me transformo,
ninguém faz isso por
mim.
só eu.
e é por isso que eu
escolhi essa coragem.
coragem de assumir um
relacionamento sério com o meu amor próprio.
Iandê Albuquerque
segunda-feira, 12 de abril de 2021
o jardim das palavras escritas
Há dias comentei com uma
amiga sobre as mudanças na nossa vida nestes tempos estranhos e preocupantes,
às vezes terríveis, com frestas, fendas, de claridade e beleza, afeto e paz.
Comentei que a amizade,
entre tantos afetos, era como um jardim tranquilo onde andamos de mãos dadas,
ou isolados, ou abraçados, nos sentamos em bancos, olhamos as plantas, as
nuvens, um ao outro, trocamos ideias e silêncios, em resumo, curtimos uma das
boas coisas desta vida.
E comentamos também que,
neste momento de isolamento pessoal (não gosto de “social” e já expliquei por
que), a palavra escrita adquire um valor maior. Seja em WhatsApp, seja em
e-mails, nestes sobretudo, porque aí podemos nos estender melhor.
Se assim for, trocar
e-mails com amigo ou amiga é como entrar nesse jardim um pouco secreto, onde
nos aproximamos sem nos aproximar, nos tocamos sem contato, nos alegramos ou
até magoamos de uma maneira quase etérea, aérea, e aprendemos novos jeitos de
sermos humanos.
Algo de bom tem de
acontecer, nesta fase tão dura. E a internet, que tantos criticavam sobretudo
porque absorveria demais os jovens, tornou-se esse campo de flores de Drummond,
num dos poemas dele que mais amo, que começa “Deus me deu um amor no tempo da
madureza...”, e posso dizer, em vários casos, que me deu alguma nova amizade,
ou reforçou amizades que pareciam quase supérfluas porque tão naturais. Ninguém
imaginaria um tempo em que a gente não pudesse se encontrar, se reunir, num
pequeno grupo, trocar risadas e novidades, beber um gim-tônica à sombra de uma
das lindas árvores do nosso clube preferido, pequeno e acolhedor, ou na casa de
uma de nós, ou, enfim, como já fiz muito, num lugar mágico como era o atelier
da Lou Borghetti, que frequentei por tantos anos e do qual ainda hoje sinto uma
falta pungente.
Amigo é aquele de quem,
de repente, sentimos essa falta, física, concreta, da voz, da mão, da risada,
do olhar, que buscamos e achamos nesse lugar meio novo, no WhatsApp ou no
e-mail, que começa a se revelar a mim como fonte de diálogo, mas com que antes
implicava um pouco. Não dispenso a voz do telefone, com seus recados e
silêncios, a presença física com seu contato, mas às vezes o jeito é se
conformar.
Quero deixar claro, antes
de encerrar, que nada, nada, nada, substitui a família entrando pela porta,
todos reunidos em torno da mesa de jantar, depois dos abraços, dos carinhos,
dos comentários do tipo “como esse menino cresceu”, ou “vocês estão cada vez
mais lindas”.
Mas pelo menos temos
isso, a internet, o computador, o celular, a magia que não é a de fadas e
duendes, unicórnio e príncipes encantados de décadas atrás, mas um pequeno
milagre aqui à mão, para consolar do quanto às vezes estamos sozinhos: o jardim
das palavras escritas.
A gente aprende todo dia.
Com a manhã que acorda. Com a noite que dorme.
Com a flor que de repente
ri. Aprende com o não. Aprende com o sim. Com a delicadeza inesperada. Com o
perdão que liberta. Com o coração que bate incrivelmente.
A gente aprende todo dia.
Com o desafio que aparece. Com o obstáculo vencido. Com o que cura. Com o que
dói. Aprende com o sorriso que nos faz sorrir gostoso. Com o abraço que nos
salva. Com a bondade alheia. Com a própria bondade.
A gente aprende todo dia.
Com a fé que se renova. Com a força que se revela. Com a ternura que faz o dia
ser melhor. Aprende com o que morre. Aprende com o que nasce. Com a experiência
da gente. Com a experiência contada. Aprende com a amizade. Com o olhar de quem
nos ama. Com o que nos aborrece. Com o que nos atrapalha.
Tudo é mestre.
“Quero, pois, que os homens orem em todos os lugares, levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade”.
I Tm 2:8
Jamais o cristão será
impedido de cultuar a Deus. A liberdade concedida pelo evangelho para adorar
com muitos ou com poucos, entre quatro paredes ou ao ar livre, com cânticos ou
sem cânticos, torna inexequível esse tipo de medida.
Templo não é “Casa de
Deus”. O planeta é a nossa verdadeira catedral.
sexta-feira, 9 de abril de 2021
procuro motivos
Motivos para seguir.
Motivos para seguir em
frente ainda que ou apesar de...
Motivos para seguir
fazendo a parte ainda que o outro não faça a parte dele.
Motivos para fazer o que
precisa ser feito ainda que os outros priorizem o desnecessário.
Motivos para entender os
meus limites.
Motivos para esperar a
tempestade passar.
Motivos para ir, motivos
para ficar, motivos para mudar, motivos para entender e por que não, motivo
para esperar. Motivos para levantar toda manhã e querer viver. E motivo não
se compra. Não se vende, não se empresta nem se encontra na farmácia.
Motivo é uma planta que
cada um tem plantada dentro de si. Ou você rega, cuida e nutre ou você vai
passar a vida inteira procurando-o em alguém. E vou te contar uma coisa
triste, o motivo vindo do outro, jamais vai conseguir nos satisfazer. Motivo
tem de vir de dentro pra fora. Caso contrário não é motivo, é condição.
Quando compreendemos
nossos motivos, atravessar os desafios tem outro sentido.
Qual será o seu motivo?