"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



domingo, 28 de abril de 2019


#dia da sogra


a sogra é parente por afinidade e,
ainda que o casamento se dissolva,
esse vínculo permanece.

a nora que mamãe pediu a Deus



Não existe cantada mais mentirosa que “você é a nora que mamãe pediu a Deus”. Mulher esperta não cai nessa. Nem Gisele Bündchen é a nora que a mãe do Tom Brady sonhou. Porque as mães não pedem nora nenhuma pra Deus, elas nem tocam neste assunto com Ele. É bem mais provável que, em suas preces, peçam de joelhos é para que seus filhos não se amarrem na primeira biscat..., quer dizer, na primeira moça que encontrarem. Esses garotos são muito bobinhos, se deixam enrolar por qualquer par de pernas, Senhor.

É uma generalização, obviamente. Assim como não é verdade que todos os homens odeiam suas sogras, não é verdade que todas as mulheres odeiam suas noras, até porque odiar demanda muito desgaste de energia. Mas um ciumezinho, rola. Não são poucas as cartas que me chegam de garotas querendo incinerar as sogras por causa do desprezo delas. E cartas de homens perguntando o que fazer para a mãe tratar um pouco melhor a namorada deles.

Em geral, as sogras tratam bem as noras. O problema é que por melhor que desempenhem, fica pairando no ar que tudo não passou disso: um desempenho. Um papel ensaiado. Os sorrisos são generosos demais. Os elogios, forçados demais. O abraço, apertado demais, como se não fosse um carinho, e sim uma tentativa deliberada de quebrar a costela da querida. E o uso abusivo de diminutivos (oi, Lucinha, meu amorzinho, você está tão desagalhadinha...) demonstra o esforço hercúleo que ela está fazendo para tentar ser gentil, além de deixar claro que não aprovou o decote. Desagalhadinha, sei.

Sogra e nora que são como mãe e filha, totalmente à vontade uma com a outra, com afeto 100% autêntico, sem jamais rolar uma crítica ferina pelas costas? Só se a nora for ex-nora. Aí ela vira uma santa criatura, a nora que a mamãe realmente pediu a Deus.

Por que, santo Cristo? A gente ama o tesouro da vida delas, qual é o problema? O problema é que ele nos ama também. Aí não tem perdão.



Deus abrirá o céu, onde guarda as suas ricas bênçãos, e lhes dará chuvas no tempo certo e assim abençoará o trabalho que vocês fizerem. 
Vocês emprestarão a muitas nações, porém não tomarão emprestado de ninguém.

Deuteronômio 28:12 / NTLH

sábado, 27 de abril de 2019

amor em obras



Relacionar-se requer resiliência, paciência, compreensão.
O amor não nasce pronto, ele é uma constante construção, é uma obra que parece nunca acabar. Ele é feito de ajustes diários, de erros e acertos que, quando respeitados, só nos fazem crescer e amadurecer.

As pessoas mudam, assim como o amor.
Com o passar do tempo (pense em quase uma década!), as pessoas já não serão as mesmas do começo. Alguns eventos importantes poderão ter influência nessas mudanças e, inevitavelmente, discordâncias irão ocorrer.

Não existe relacionamento perfeito, em que não há espaço para brigas, não há tempo para rusgas, para cara feia e bico, nem motivo para discussões.
Não existe relacionamento sem momentos ruins, sem fases difíceis, sem dias pesados.

Manter uma relação não é fácil, leve e colorido.
Apesar disso, acredito que, quando existe a vontade, respeito, amor e amizade, combinados com maturidade e interesse, é o suficiente para uma relação perfeita dentro de suas inúmeras imperfeições.

Namoro é assim, feito de recomeços diários.
Alguns dias são feios e chuvosos. Outros são ensolarados, bonitos. E são esses que fazem a gente esquecer de quando estava nublado.

É quando tudo está de cabeça pra baixo que a gente percebe o quanto o amor é forte, porque é fácil continuar do lado dando risada, brincando, curtindo.
Difícil é aturar a TPM, o mau humor, a menopausa, as manias, a personalidade, o gênio forte, a ranzinzice, os problemas do dia a dia. 
Difícil é engolir a vontade de desistir, de jogar tudo fora e continuar ali lado a lado.

Acho que amar é exatamente isso: resistir, mesmo depois de descobrir que contos de fadas não existem e “felizes para sempre” precisam ser reconstruídos todos os dias.

Então, no tempo que nos for determinado, vamos buscar, sempre, transparência, lealdade, cumplicidade, diálogo, liberdade, confiança, admiração, empatia e, acima de tudo, reciprocidade.
Que essas sejam a base, o alicerce e o pilar de sustentação de nosso relacionamento. Basta permitirmos!

Vamos nos permitir sermos amados por quem nós somos, com nossos defeitos, falhas e qualidades.

Vamos nos permitir estarmos sempre juntos e, apesar dos dias ruins, termos a vontade e a capacidade de reconstrução.

O amor não é algo exato. Por que um relacionamento deveria ser?

#9 anos de permissão


relacionamento perfeito


A mim, sempre buscando explicações e significados porque tão pouco entendo, me ocorre falar ou escrever exatamente sobre aquilo que menos sei. Trabalho interminável, espécie de suplício de Tântalo: o pobre todo dia empurrando montanha acima uma grande pedra que voltava a rolar pela encosta, a fim de que o torturado recomeçasse mais uma vez.

Querer alcançar o significado das coisas, da vida, das gentes, de seus relacionamentos e desencontros, é um pouco assim.

Seguidamente me indagam – ou tento imaginar – o que seria um relacionamento perfeito. Eu ia escrever “casamento”, mas preferi a outra palavra, porque ela não tem nada a ver com cartório e burocracia, opressão ou coerção social e familiar: tem a ver com querer se ligar a alguém, e querer continuar ligado.

Cada dia, ao acordar, fazer de novo a escolha: eu quero mesmo é você comigo.
Mas “perfeito” é uma palavra tola: perfeição, só no céu de todas as utopias. Aqui, nesta nossa terra nada utópica, perfeição me pareceria um pouco entediante: como, nada a reclamar, tudo assim direitinho?

Olho pela janela e bocejo: muito sem graça, a tal perfeição. O céu com anjos tocando harpa pelo tempo sem tempo me deixava pasmada já na infância. Nada mais? Nem uma brincadeira proibida, um escorregão nas nuvens, uma risada na hora do sagrado silêncio... nem uma transgressãozinha na ordem celestial?

Minha alma indisciplinada não encontraria alimento nem estímulo, e ia-se desfazer em fiapo de nuvem embaixo de algum armário onde se guardassem os relâmpagos e os trovões, e todas as duras sentenças.

Então, relacionamento perfeito, nem pensar.

Mas uma ligação de cumplicidade e ternura, de sensualidade e mistério, ah, essa eu acho que pode existir. Como todos os contratos (não falo dos de papel mas de corpo, coração e mente), esse precisa ser renovado de vez em quando: a gente tira o contrato da gaveta da alma, e discute. Briga talvez, chora, reclama, mas ainda ama, ainda deseja. Ainda quer o abraço, o passo no corredor, o corpo na cama, o olhar atento por cima da xícara de café... quer até a desorganização e a ruptura, para depois de novo o que é bom se reconstruir.

Que seja vital: isso me parece uma boa parceria. Que seja dinâmica, seja lá o que isso significa em cada caso. Pelo menos, não acomodada; mas muito aconchegante.
Que seja sensual e amiga, essa ligação: se não gosto do outro como ser humano, com seus defeitos, sua generosidade e egoísmo, força e fragilidade, se não o quereria como amigo... como então, mesmo com tempero do desejo, posso me relacionar com ele para uma vida a dois?

O tema é quase infinito: pois cada caso é um caso, assim como cada casal é um casal, e cada fase da vida do indivíduo ou dos dois é diferente.
O bom é quando essa constante transformação se faz para maior cumplicidade, e não mais distanciamento.

Que um relacionamento não seja prisão; que não seja enfermaria nem muleta; mas que seja vida, crescimento (turbulências eventuais incluídas).
Que seja libertação e ajuda mútua; não fiscalização e condenação, a sentença pronunciada numa frase gélida ou num olhar acusador, ar de reprovação ou lamúria explícita.

Que seja cumplicidade, porque a vida já é difícil sem afetos. O som dos passos no corredor pode ser um conforto inacreditável, o corpo ao lado na cama uma âncora para a alma aflita. O entendimento recíproco é um oásis no isolamento desta nossa vida pressionada por tempo, dinheiro, regras, mil solicitações de família, trabalho, grupo social, realidade do mundo.

Que seja presença e companhia, o relacionamento bom: pois a solidão é um campo demasiado vasto para ser atravessado a sós.



Quem ama é paciente e bondoso.
Quem ama não é ciumento, nem orgulhoso, nem vaidoso.
Quem ama não é grosseiro nem egoísta; não fica irritado, nem guarda mágoas.
Quem ama não fica alegre quando alguém faz uma coisa errada,
mas se alegra quando alguém faz o que é certo.
Quem ama nunca desiste, 
porém suporta tudo com fé, esperança e paciência.

1 Coríntios 13:4-7 / NTLH

quinta-feira, 25 de abril de 2019


construção



Gosto demais do Fabricio Carpinejar, de quem tenho o privilégio de ser amiga. E é para prestigiá-lo que abro essa crônica com uma citação extraída da ótima entrevista que ele deu para a revista Joyce Pascowitch: “O início da paixão é estratosférico, as pessoas não param quietas exibindo tudo que podem fazer. Depois passam a confessar o que realmente querem. A paixão é mentir tudo o que você não é. O amor é começar a dizer a verdade”.

É mais ou menos isso. No começo, a sedução é despudorada, inclui, não diria mentiras, mas um esforço de conquista, uma demonstração quase acrobática de entusiasmo, necessidade de estar sempre junto, de falarem-se várias vezes por dia, de transar dia sim, outro também. A paixão nos aparta da realidade, é um período em que criamos um universo paralelo, é uma festa a dois em que, lógico, há sustos, brigas, desacordos, mas tudo na tentativa de se preparar para algo muito maior. O amor.

É aí que a cobra fuma. A paixão é para todos, o amor é para poucos.

Paixão é estágio, amor é profissionalização. Paixão é para ser sentida; o amor, além de ser sentido, precisa ser pensado. Por isso tem menos prestígio que a paixão, pois parece burocrático, um sentimento adulto demais, e quem quer deixar de ser adolescente?

A paixão não dura, só o amor pode ser eterno. Claro que alguns casais conseguem atingir o Éden – amarem-se apaixonadamente a vida inteira, sem distinção das duas “eras” sentimentais. Mas, para a maioria, chega o momento em que o êxtase dá lugar a uma relação mais calma, menos tórrida, quando as fantasias são substituídas pela realidade: afinal, o que se construiu durante aquele frenesi do início? Uma estrutura sólida ou um castelo de areia?

Quando a paixão e o sexo perdem a intensidade é que aparecem os pilares que sustentam a história – caso existam. O que alicerça de fato um relacionamento são as afinidades (não podem ser raras), as visões de mundo (não podem ser radicalmente opostas), a cumplicidade (o entendimento tem que ser quase telepático), a parceria (dois solitários não formam um casal), a alegria do compartilhamento (um não pode ser o inferno do outro), a admiração mútua (críticas não podem ser mais frequentes que elogios), e principalmente, a amizade (sem boas conversas, não há futuro). Compatibilidade plena é delírio, não existe, mas o amor requer ao menos uns 65% de consistência, senão o castelo vem abaixo.

O grande desafio dos casais é quando começa a migração do namoro para algo mais perene, que não precisa ser oficializado ou ter a obrigação de durar para sempre, mas que não pode continuar sendo frágil. Claro que todos querem se apaixonar, não há momento da vida mais vibrante. Mas que as “mentirinhas” sedutoras do início tenham a sorte de evoluir até se transformarem em verdades inabaláveis.



Olho para os montes e pergunto:
“De onde virá o meu socorro?”
O meu socorro vem do Senhor Deus,
que fez o céu e a terra.

Salmos 121:1-2 / NTLH

segunda-feira, 22 de abril de 2019


#descobrimento do Brasil

domingo, 21 de abril de 2019


#dia de Tiradentes

quinta-feira, 18 de abril de 2019

ovos de chocolate


Um lixeiro bateu a minha porta para me desejar uma “feliz Páscoa”, na esperança de que minha resposta seria uma nota de dez reais. Aí, só de maldade, eu disse: “Lhe dou se você me disser o que é Páscoa”. 
Ele não hesitou, sabia muito bem o que era Páscoa: “Páscoa, doutor, é aquele dia quando a gente compra uns ovos de chocolate para as crianças...” 
Dei-lhe os dez reais. 
Todo mundo sabe que Páscoa é dia de comer ovos de chocolate. O lixeiro sabia o que todo mundo sabe. No domingo de Páscoa todos dão, como presentes, ovos de chocolate.

Se eu dissesse para o lixeiro que Páscoa é dia de poesia ele não entenderia. A poesia se faz com metáforas. As metáforas são mentirosas. 
O carteiro, amigo do Neruda, disse: “Sou um barco batido pelas ondas”. Mentira. Ele era um carteiro. Não era um barco batido pelas ondas. Nenhuma pessoa, jamais, foi um barco batido pelas ondas. No entanto qualquer pessoa sabe o que o carteiro queria dizer. Sabe, porque todos nós nos sentimos, por vezes, como barcos batidos pelas ondas. 
Esse sentimento, entretanto, não pode ser dito em linguagem literal. 
A poesia é a linguagem das coisas que não podem ser ditas. O poeta diz a sua própria experiência. Mas esta fala, nascida dos sentimentos dele, individuais, tem um poder de reverberação. Ao bater em nós — como o repicar de um sino, ao longe — o corpo estremece emocionalmente. Esse estremecer é a prova de que o poeta, dizendo o absolutamente particular, disse o absolutamente universal.

A Páscoa é um poema. Metáfora. Fala sobre o nosso destino, diante da Morte. Ou, de maneira mais precisa, fala do destino da Vida, diante da Morte. 
Há uma lei da ciência, a 2ª lei da termo-dinâmica, que diz que o destino do universo é a morte. No fim dos tempos, o universo morrerá. 
Isso me dá uma grande tristeza. Para dizer a verdade, não me importo muito com a minha eternidade. Mas pensar que o universo vai morrer, isso é muito triste. Adeus barcos, gaivotas, árvores, pássaros, cachorros, crianças, música, amizade, comida, amor: tudo se transformará em nada, eternamente. 

A morte é o fim. Pois a metáfora da Ressurreição é uma afirmação louca de que a verdade é o contrário: a morte se transformará em vida. Essa afirmação poética está contida na metáfora de um homem que, havendo descido à sepultura, voltou a viver. A semente é enterrada. Se continuar como sempre foi, morrerá. Mas se morrer, brotará como árvore. Todo túmulo é um canteiro.

A função dos dias sagrados, quando se faz uma interrupção nas rotinas da vida, é fazer pensar. Ovos de Páscoa nos fazem pensar. O poema da Ressurreição nos obriga a pensar. A estória não é história, um relato do que aconteceu no passado e, por que aconteceu no passado, nunca mais vai acontecer. A estória da Ressurreição é algo que não aconteceu porque acontece sempre. Ela não pertence ao tempo. Pertence à eternidade. E o eterno não é o tempo sem fim, mas o tempo que é sempre presente. A metáfora de Páscoa nos questiona sobre o que estamos fazendo com a nossa própria vida. Versos de Whitman: “Quem anda duzentas jardas / sem vontade / anda seguindo o próprio funeral / vestindo sua própria mortalha”. 
Há muitos mortos com a aparência de vivos. 
A estória da Ressurreição é um desafio para nos livrarmos da mortalha.

Mas o poema, numa outra estrofe, diz que o Ressuscitado subiu aos céus — uma forma poética de dizer que o corpo, a vida, enche o universo inteiro. 
Na linguagem dos reformadores protestantes o corpo de Cristo é “ubiquo” — está em todos os lugares, até na mais efêmera flor, no menor grão de areia, no mais singelo gesto de amor. Por detrás dos espaços infinitos e do silêncio das estrelas que horrorizava Pascal, há um Rosto que nos olha tranquilamente e nos desafia a sair das sepultura e a viver.



De fato, a mensagem da morte de Cristo na cruz é loucura para os que estão se perdendo; mas para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus.

1 Coríntios 1:18 / NTLH

terça-feira, 16 de abril de 2019


a secretária e a patroa


Estreou semana passada o filme francês A Datilógrafa, que ainda não vi e possivelmente não verei em função do meu pouco tempo livre. Minha patroa anda cada vez mais ocupada, e quem segura o rojão sou eu, claro.

Mas seria ótimo assistir a um filme onde, finalmente, sou protagonista. Pelo que ouvi dizer, a história se passa em 1958, quando as mulheres estavam começando a colocar as manguinhas de fora. Uma garota de 21 anos recebe de presente uma máquina de escrever e resolve aventurar-se no excitante mercado de trabalho, esforçando-se para ser uma boa secretária, que era a atividade adequada às moças daquela época.

Depois o filme parece que vira uma competição, e daí por diante não sei mais nada, mas o resumo inicial me fez lembrar de quando ganhei, aos 13 anos, uma Olivetti Lettera 32. Tirei-a do estojo com o maior cuidado e suspirei: estava ali o passaporte para a profissão que eu sempre havia sonhado exercer.

Fiz um curso de datilografia e passei a praticar todo dia. Comecei a escrever poemas só para exercitar os dedos no teclado, eu que até então me atrevera apenas aos diários escritos à mão. Vinha um verso, vinha outro, e eu ali, treinando, fazendo de conta que era poeta, até que tivesse idade suficiente para virar a secretária que eu desejava ser.

Num acesso de loucura, acabei mandando uns poemas para uma editora e, pra encurtar a história, publicaram um livro meu. Já trabalhava como redatora publicitária nessa época, porque tinha que ganhar algum dinheiro, mas lembro que, quando faltava uma secretária na agência, eu me oferecia para ficar no lugar dela. E tive meu dia de telefonista também.

O tempo passou e lancei outro livro, e mais outro, e depois da poesia veio a crônica, abandonei a propaganda, fui apresentada ao computador, comecei a escrever para vários jornais, meus textos passaram a ser adaptados para o teatro, iniciei na ficção e aí aconteceu: virei secretária de mim mesma.

Hoje, realizada, passo 80% do dia atendendo ligações, respondendo toneladas de e-mails, avaliando contratos, agendando entrevistas, negociando prazos de entrega, indo ao cartório para reconhecer firma, ao correio para remeter livros, ao super para fazer as compras da casa, negociando cachês com revistas, trocando mensagens com a contadora, marcando sessões de fotos, providenciando vouchers de hotéis e passagens aéreas para os compromissos fora do Estado, autorizando publicações de textos em livros didáticos, avaliando novas propostas de trabalho e me desculpando em nome da minha patroa por ela não conseguir atender todos os pedidos de leitura de blogs.

Não sei o que seria dela se não contasse comigo para esse serviço de secretariado, se bem que hoje a madame abusou: me botou para escrever sua coluna. Espero que não acostume, só me falta ter que assumir os seus 20% restantes de tempo.



“Repara bem no que desejou, conseguiu e como está lidando com isto. 
Repara que não há felicidade sem provação e que a rotina não se transforma sozinha. Repara que se não nos movimentarmos em direção à harmonia, valorizando o que temos ao invés de supervalorizar os desconfortos, nosso crescimento pessoal, emocional e espiritual está ameaçado. 

A alegria é consequência de um processo de determinação e ação para obtê-la. Não espere que o que tem não esteja mais aqui para lamentar o abraço não dado, a carícia que não foi feita no descuido de um fragmento de tempo. Que se queremos da vida a plenitude em todos os aspectos, temos, antes de tudo, que saber administrá-los. 

Se você está no trabalho, trabalhe. Se está em casa, esteja em casa. Se está sozinho, aproveite esta solitude para crescer. 
Se está acompanhado, apreenda o Universo de cada um que o rodeia. 
Não espere para valorizar quando outro tiver aquilo que já foi seu porque descobriu antes de você o valor que aquilo, aquela pessoa tem.

Repara, repara bem. 
E se isto tudo não tiver importância, esqueça...

Mas não lamente.”



Porque Deus amou o mundo tanto, que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna.” 

(João 3:16)

segunda-feira, 15 de abril de 2019


prece da experiência



Ó Senhor, tu sabes melhor do que eu que estou envelhecendo a cada dia. Sendo assim, Senhor, livra-me da tolice de achar que devo dizer algo, em toda e qualquer ocasião.

Livra-me, também, Senhor, deste desejo enorme que tenho de querer pôr em ordem a vida dos outros.

Ensina-me a pensar nos outros e a ajudá-los, sem jamais me impor sobre eles, mesmo considerando, com modéstia, a sabedoria que acumulei e que penso ser uma lástima não passar adiante.

Tu sabes, Senhor, que desejo preservar alguns amigos e uma boa relação com os filhos, e que só se preservam os amigos e os filhos quando não há intromissão na vida deles.

Livra-me, também, Senhor, da tolice de querer contar tudo com detalhes e minúcias e dá-me asas no assunto para voar diretamente ao ponto que interessa.

Não me permita falar mal de alguém.
Ensina-me a fazer silêncio sobre minhas dores e doenças. Elas estão aumentando e, com isso, a vontade de descrevê-las vai crescendo a cada dia que passa.

Não ouso pedir o dom de ouvir com alegria a descrição das doenças alheias; seria pedir demais. Mas, ensina-me, Senhor, a suportar ouvi-las com alguma paciência.

Ensina-me a maravilhosa sabedoria de saber que posso estar errado em algumas ocasiões. Já descobri que pessoas que acertam sempre são maçantes e desagradáveis.

Mas, sobretudo, Senhor, nesta prece de envelhecimento, peço: Mantenha-me o mais amável possível.

Livra-me de ser santo.
É difícil conviver com santos! 
Mas um velho ou uma velha rabugentos, Senhor, é obra prima do capeta.
Me poupe para que eu seja tolerado.

Amém!

#colaboração do Neckyr



O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida verdadeira?

Marcos 8:36 / NTLH

quarta-feira, 10 de abril de 2019

se o homem amasse mulher como ama futebol



O que aconteceria se o homem, aqui vale o homem normal, a média dos homens -aquele cara simples, tarado por mulher, cerveja e futebol – gostasse tanto da sua amada como gosta do seu time do peito?

Seria uma revolução. Mudaria tudo. Tudo mesmo. Repare:
Para começar, o macho jamais deixaria a sua fêmea. Nunca, never. Homem que é homem muda de sexo mas não muda de time.

Mesmo quando ela se sentisse a pior das criaturas, por baixo mesmo, mesmo quando ela blasfemasse aos céus e se queixasse ao espelho que estava gorda e autoestima despencara.

Muito pelo contrário. Isso seria motivo para aumentar ainda mais o amor e até para renovar a paixão, com garantia eterna de fidelidade, como ocorre quando o time do homem cai para a Segundona do campeonato –“Eu nunca vou te abandonar, Corinthians”.

Se o homem gostasse da mulher pelo menos 50% como ama o seu time, nem uma bola nas costas, uma traição, como uma derrota incompreensível, seria motivo para o fim do relacionamento. No futebol, assim como no amor, tudo seria perdoável.

Se o macho normal gostasse da cria da sua costela como quem aprecia um Flu, um Fla,um São Paulo, um Peixe, um Palmeiras, um Bahia, um Santa Cruz, um Galo, um Grêmio, arranjaria tempo para ir com ela ao cinema ou jantar fora pelo menos duas vezes por semana –no mínimo empataria com o tempo que dedica ao clube.

Apreciasse sua mulher como é chegado ao futebol, o sujeito trocaria pelo menos uma mesa-redonda na tv por um conversa com a dama. Em vez da crise no Vasco, tentaria entender a derrota que virou seu casamento.

Se o Cruzeiro anda tão bem, brilha na dianteira do firmamento, por que não melhorar também, amigo,  a posição na tabela no jogo dentro e casa? Deixar tudo mais celeste, o amor azulzinho em um céu de brigadeiro?

Não sejamos exagerados. Bastaria dedicar 30% do que se devota ao time do peito. Teríamos uma mudança radical na vida dos casais.

Imagina se o torcedor do Goiás, caro Rogério Bueno, cantasse assim para a namorada, como canta para o time esmeraldino: “Pra vencer tem que ser guerreiro/ Pra te ver sou sempre o primeiro…”

O cara é capaz de morrer por um triunfo do Furacão, do Coxa ou do Sport, o cara chora pelo Botafogo, o cara come toda a água do planeta pelo Vitória, o timbu deixa o lar doce lar para ir sofrer em São Lourenço da Mata…

Se o homem gostasse tanto da sua mulher como gosta do seu clube o domingo seria outro. Quando o time fosse derrotado, ele se confortaria no amor e no sexo da princesa. Não é o que acontece. A desgraça no futebol o inviabiliza na cama. É batata.

No caso da mulher doente por futebol, mesmo uma corintiana, creio que a relação seja outra. Na alegria ou na tristeza clubística, ela é a mesma. Consegue separar o desejo com o amado do placar domingueiro.

Como diria meu amigo Nick Hornby, não há termômetro que entenda o macho e essa febre de bola.

__por Xico Sá





Você me pede ajuda para resgatar a mulher de sua vida. Pede um poema. Pede uma frase que toque o coração dela e liberte o perdão do ressentimento.

Desculpe, eu não tenho. Por mais que sofra pela sua situação.
Verdades atrasadas não significam nada para mim.

Por que só descobriu agora que é a mulher de sua vida? Por que teve que trair para perceber que ela era a mulher de sua vida? Teve que estar com outra mulher para comparar? Não dava para notar antes? Não era suficiente o que viveram juntos?

É uma contradição. Se fosse a mulher de sua vida, não precisaria de novas mulheres.

Sua culpa é egoísmo. Está pensando em si, em manter aquilo que tinha apesar de não mais merecer. Não está pensando nela, no quanto ela sofreu ao saber que você não é o que diz, não é o que promete e que a sua palavra não corresponde às suas ações.

Não há empatia de sua parte, apenas uma tentativa desesperada e individualista de se livrar do próprio erro, de se safar, de garantir a impunidade.

Depois de sair com outra e levar os segredos da relação para uma estranha, fica difícil acreditar. Depois de trocar a longa intimidade pelo sexo fútil, depois de rifar a confiança, depois de escolher a dissimulação no lugar da sinceridade, ela não tem como acreditar que é a sua prioridade. 

Morreu a admiração: tornou-se um homem comum, sem graça para ela. 

Aquilo que lhe destacava entre tantos foi posto fora. Você é capaz de mentir, você é capaz de magoar, você é capaz de fingir, como qualquer estranho.

A fidelidade é o que torna alguém especial. Por não depender de mais ninguém para ser feliz. É a maior declaração de amor que existe. 

Ainda mais quando é a mulher de sua vida.



Aqueles que trabalham pela paz vão lançando a semente da paz, que lhes dará uma colheita de justiça.

Tiago 3:18 / NTLH