"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



domingo, 31 de janeiro de 2016



Esta menina tão pequenina quer ser bailarina. E jogadora de futebol. E astronauta. E médica.
Não ao mesmo tempo, não necessariamente agora.
Mas tudo. Porque eu quero. Porque eu posso. Porque eu sei.
E se eu não souber, eu aprendo.

Aprendo a usar o garfo certo do peixe, da salada, a taça de cada vinho, mas sento esparramada no sofá porque é mais confortável mesmo.
Abro meus próprios potes de geléia e palmito, mas não me incomodo se tiver um homem pra fazer por mim de vez em quando. Por pura preguiça.

Não sorrio forçada. E xingo se precisar.
Inclusive, tenho um vasto vocabulário de palavrões. Foda-se que é feio menina falar essas coisas.

Fico mal humorada por mil motivos que não têm nada a ver com meu ciclo menstrual ou com a falta de homem ou sexo.
Odeio quando todo mundo tem certeza do que é melhor pra mim.

Bebo cerveja, whisky, vodka, vinho. E água entre um e outro pra não morrer de porre. A dignidade é minha, eu perco se e quando eu quiser.
E, sim, eu vou arrotar mesmo que você faça cara feia e ache ruim.
Até porque, eu prometo pedir sua opinião quando precisar.

Eu quero colecionar brinquedos mesmo depois de adulta, bonecas ou carrinhos.
Amar odiar novela, BBB ou o que estiver passando na TV, que seja só pra falar mal ou ter conversa com as amigas no banheiro.
Chorar no comercial de margarina ou qualquer coisa mais besta sem ser taxada de fresca.

Ou ser, dane-se.
Apenas ser.
Ser tudo, mesmo que não ao mesmo tempo, mesmo que não agora.
Ser.
Ser diferente.
Ser clichê.
Ser mulher.

___Fernanda Mota


Cidade pequena é assim: 
se você faz o povo aumenta e se não faz o povo inventa.


“Filhos, obedeçam a seus pais em tudo, pois isso agrada ao Senhor.”

(Colossenses 3:20)

sábado, 30 de janeiro de 2016

“o que temos pra hoje, é saudade”


#dia da saudade


Um dia desses, papo descontraído, uma colega de trabalho contou uma história que eu achei bem bonita, meu coração garimpeiro atento para descobrir preciosidades entre as outras coisas recolhidas na mina de cada instante.
Estava na casa do irmão, quando a sobrinha, criança na época, demonstrou tristeza no momento em que a tia comentou que havia chegado a hora de ir embora.
“Você vai me deixar sozinha?”
“Não, querida, você não vai ficar sozinha, vai ficar com a sua mãe e com o seu pai…”
A menina, numa dessas sábias tiradas amorosas que criança diz sem cerimônia, e adulto, por mais que sinta tão sinceramente, tantas vezes fica encabulado pra dizer, mandou esta:
“Eu sei, mas eu vou ficar sozinha de você!”


Ao entardecer no mato, a casa entre bananeiras,
pés de manjericão e cravo-santo, aparece dourada.
Dentro dela, agachados,
na porta da rua, sentados no fogão, ou aí mesmo,
rápidos como se fossem ao Êxodo, comem
feijão com arroz, taioba, ora-pro-nobis,
muitas vezes abóbora.
Depois, café na canequinha e pito.
O que um homem precisa pra falar,
entre enxada e sono:
Louvado seja Deus!


Saudade não mata, mas engorda 


“Como tenho saudade
dos meses que se passaram,
dos dias em que Deus
cuidava de mim

Jó 29:2

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016



Para ser totalmente livre, a pessoa precisa estar absolutamente consciente, pois nosso cativeiro está enraizado na nossa inconsciência; ele não vem de fora.

__Osho

Solteiro não é um estado civil, é um estado de paz.

a dor do crescimento


Eu tentava descrever como era aquela dor, mas não encontrava jeito. Acontecia nas pernas, nas duas ao mesmo tempo. Não era fadiga muscular, não era um machucado, nem torção, nada tinha inflamado, eu não havia batido com elas numa mesa, nem tropeçado, não parecia nem mesmo dor, e sim um incômodo, um alerta interno. Eu podia caminhar, até correr, se quisesse. Mas não estava tudo bem, e quando eu vencia a vergonha de não conseguir explicar exatamente o que sentia e me queixava daquilo que nem parecia existir de tão aleatório alguém dizia: não esquenta, é a dor do crescimento.

Um diagnóstico poético demais para uma criança. Como assim, dor do crescimento? Eu crescia numa velocidade irritantemente lenta, tão poucos centímetros por ano, não acreditava que esse ganho ínfimo de estatura, imperceptível, pudesse originar dor. Dor vem do choque, vem do baque, deixa marca, tem motivo, não poderia nascer assim de um alongamento que ninguém conseguia enxergar a olho nu. 

Reumatismo também não era, porque reumatismo era doença de avós. Tudo bem que eu já estivesse com quase 11 anos, mas não era assim tão velha. 

“É dor do crescimento, menina, todo mundo tem, não te bobeia. Já já passa”. 

Não passou. Apenas subiu das pernas para o coração e depois foi ainda mais para cima, alojando-se no cérebro. Abandonou os membros inferiores e passou a fazer turismo em duas regiões de mais prestígio. Essa transferência aconteceu logo que eu parei de alongar verticalmente e virei o que se chama por aí de gente grande e estabilizada. 

Mas gente grande continua crescendo? 

Pois é. Não me peça para explicar, porque sigo não encontrando um jeito de. Às vezes dói no peito, às vezes na cabeça, às vezes nos dois lugares ao mesmo tempo, mas não há nada sangrando, e também não é fadiga, mesmo já se tendo vivido bastante e cansativamente. Torção... Não, também não. De novo, ninguém esbarrou numa mesa, nenhuma parte do corpo ficou roxa, não é um arranhão, nem parece dor. 

Então é o quê? Um esgotamento por fazer sempre as mesmas perguntas irrespondíveis, por se retorcer com questões que aparentam ter soluções simples, mas não têm, por não aceitar que seja difícil o que deveria ser fácil, por se flagrar tendo reações contundentes quando a vontade era de chorar baixinho, por tentar estabelecer uma forma de vida que organize o caos, mesmo sabendo que o caos está sempre atrás da porta rindo das nossas tentativas de controlá-lo. Nada fica roxo, mas turva a visão. Nada deixa cicatriz aparente, mas não fecha. Fica aberto, latente, insistentemente lembrando a existência daquilo que não se explica, sobre o qual pouco se conversa, mas que, de alguma forma, também faz a gente ganhar em estatura. 

Ainda é a dor do crescimento, e não cessa.


Não deixes de fazer bem a quem o merece, estando em tuas mãos a capacidade de fazê-lo. Não digas ao teu próximo: Vai, e volta amanhã que to darei, se já o tens contigo. 

Provérbios 3:27-28

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016


Um relógio de R$800,00 marca a mesma hora que um relógio de R$80,00.
Uma carteira de R$600,00 guarda o mesmo dinheiro que uma carteira de R$60,00.
Se você viajar na primeira classe ou na classe econômica, chegará ao mesmo destino.
A solidão em uma casa de 300 m² é a mesma que em uma casa de 30 m².

Um dia você se dá conta, de que sua felicidade não vem das coisas materiais, e sim da alegria que sente por estar vivo, ter uma vida útil e poder compartilhar, falar, rir, sonhar e cantar com quem você quiser. 

Essa é a verdadeira felicidade!



Você (es)colhe o que planta.



Poema é o mel das palavras.
Eu sou um enxame!

__Manoel de Barros


“E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus; muitos verão essas coisas... e confiarão no Senhor”

Salmos 40:3

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

#simplesassim

apaixonado


Se estou apaixonado, eu aparo a barba, ajeito o cabelo, dobro as borrifadas do perfume, visto roupa nova, engraxo os sapatos, escolho a melhor cueca, reviso as meias para não usar nenhuma com furo, escovo os dentes seis vezes ao dia, volto à academia, largo o terapeuta.

Se estou apaixonado, não basta me arrumar, eu tenho que deixar a casa prendada. Pago faxineira, retiro as tralhas dos fundos, conserto a maçaneta frouxa há um ano, troco o chuveiro frio, compro incenso e aromatizador, seleciono velas com cheiro, gasto em ridículos sabonetes coloridos, descarto toalhas velhas e esfarrapadas, seleciono novos lençóis e roupa de cama, passo na feira para escolher as melhores frutas, forro a geladeira de cerveja.

Limparei ainda o carro coberto da poeira da estrada, esvaziarei o lixo do chão, aplicarei cera na carcaça para renovar o brilho.

Se estou apaixonado, não basta me arrumar e arrumar a casa e arrumar o carro, eu me preocupo com o interfone do prédio que não funciona direito, com as luzes apagadas do corredor, com a porta emperrada da saída da garagem. Peço providência pessoalmente ao zelador e por escrito ao condomínio. Posso virar síndico somente para dar um jeito logo e impressionar quem desejo. Eu me antecipo a contratempos e adversidades. Não pretendo que nada atrapalhe o que estou sentindo. Serei jardineiro, mecânico, pedreiro, todas as profissões de muque. Buscarei também sofisticação em tutoriais do YouTube: aprenderei receita de risoto siciliano, decorarei passos de forró, assistirei a degustações de vinhos.

Se estou apaixonado mesmo, não basta me arrumar e arrumar a casa e arrumar o carro e arrumar o edifício onde moro, eu começo a escrever ao Dmae para corrigir vazamento na rua, telefono para a Secretaria de Obras para melhorar a iluminação da praça, peço que cortem a grama dos canteiros em meu bairro, incomodo para que seja pintado o meio-fio apagado. Eu me transformo em vereador voluntário, em prefeito de graça. Não me importo em suar, trabalhar, penar, cansar. A vadiagem acabou. Quero deixar tudo bonito para o meu amor passar.

Se estou apaixonado de verdade, sou capaz de fazer em uma semana tudo o que adiei a vida inteira.
Deus já deveria estar apaixonado pela mulher quando criou o mundo em sete dias.


Se esta rua, se esta rua fosse minha, 
eu mandava, eu mandava ladrilhar, 
com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes, 
para o meu, para o meu amor passar 

Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal. 

Mateus 6:34

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016



Nunca o termo “chique” foi tão usado para qualificar pessoas como nos dias de hoje.
A verdade é que ninguém é chique por decreto. E algumas boas coisas da vida, infelizmente, não estão à venda. Elegância é uma delas.
Assim, para ser chique é preciso muito mais que um guarda-roupa ou closet recheado de grifes famosas e importadas. Muito mais que um belo carro italiano.
O que faz uma pessoa chique, não é o que essa pessoa tem, mas a forma como ela se comporta perante a vida.

Chique mesmo é ser discreto.
Quem não procura chamar atenção com suas risadas muito altas, nem por seus imensos decotes e nem precisa contar vantagens, mesmo quando estas são verdadeiras.
Chique é atrair, mesmo sem querer, todos os olhares, porque se tem brilho próprio.

Chique mesmo é ser discreto, não fazer perguntas ou insinuações inoportunas, nem procurar saber o que não é da sua conta.
É evitar se deixar levar pela mania nacional de jogar lixo na rua.

Chique mesmo é dar bom dia ao porteiro do seu prédio e às pessoas que estão no elevador.
É lembrar-se do aniversário dos amigos.

Chique mesmo é não se exceder jamais!
Nem na bebida, nem na comida, nem na maneira de se vestir.

Chique mesmo é olhar nos olhos do seu interlocutor.
É “desligar o radar” e o telefone, quando estiver sentado à mesa do restaurante, prestar verdadeira atenção a sua companhia.
Chique mesmo é honrar a sua palavra, ser grato a quem o ajuda, correto com quem você se relaciona e honesto nos seus negócios.
Chique mesmo é não fazer a menor questão de aparecer, ainda que você seja o homenageado da noite.

Chique do chique é não se iludir com “trocentas” plásticas do físico, quando se pretende corrigir o caráter. Não há plástica que salve grosseria, incompetência, mentira, fraude, agressão, intolerância, ateísmo, falsidade.

Mas, para ser chique, chique mesmo, você tem, antes de tudo, de se lembrar sempre de o quão breve é a vida e de que, ao final e ao cabo, vamos todos terminar da mesma maneira, mortos sem levar nada material deste mundo.

Portanto, não gaste sua energia com o que não tem valor, não desperdice as pessoas interessantes com quem se encontrar e não aceite, em hipótese alguma, fazer qualquer coisa que não lhe faça bem, que não seja correta.

Lembre-se: o diabo parece chique, mas o inferno não tem qualquer glamour!
Porque, no final das contas, chique mesmo é crer em Deus!

Investir em conhecimento pode nos tornar sábios, mas Amor e Fé nos tornam humanos!

__Glória Kalil

Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte. 

Provérbios 14:12

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016



Eu sinto medo da solidão, mas de tanto temer me acostumei com a presença dela e agora ela faz parte de mim. Tenho medo dos meus pensamentos, do barulho dos trovões e da noite. Tenho medo da minha imaginação e das minhas palavras que simplesmente acontecem sem medo.

Tenho um medo doído de nunca conseguir me sentir bonita. Mais medo ainda de admitir que toda a minha falta de vaidade é só um refúgio pra minha baixa-estima. Tenho medo da minha eterna insatisfação – e aí eu percebo que usei a palavra eterna, e a eternidade me dá medo pra cacete.

Eu sinto medo de dormir, porque eu sei que vou ter que acordar e acordar me dá um medo violento. Também tenho medo de ser fria demais, por isso exagero e acabo tendo muito mais medo de ser de verdade, porque eu tenho medo das minhas verdades.

Sinto medo de crescer e mais medo ainda de ser pra sempre criança. Tenho medo de pensar que já sou adulta e que a juventude é passageira. Morro de medo da velhice e de me sentir impotente. A impotência me dá ânsia de vômito, e eu quase vomito de tanto medo que eu tenho de vomitar.

Eu me contorço de medo de saber que existe alguém que vá me fazer feliz, e aí eu choro de medo da alegria que eu vou sentir, porque eu sempre me aproximo mais de mim na tristeza. Eu tenho pavor da finitude da paixão, aí eu sempre encurto o caminho e acabo sofrendo de medo de não me apaixonar de verdade nunca mais. Eu sempre tenho mais medo que se apaixonem por mim do que de me apaixonar por alguém, porque eu sei o que é sofrer por quem não merece.

Tenho medo da minha insegurança, que me deixa tão sem chão que eu preciso me reafirmar o tempo todo. Aí eu fico tão de saco cheio que eu tento acreditar um pouco em mim sem essa mania de auto-afirmação e morro de medo de ser só mais uma pra todos. Eu morro de medo de não atender expectativas, aí eu fico nervosa e não atendo mesmo e fico me sentindo a pior das criaturas. Eu tenho medo de ser a pior das criaturas.

Eu tenho medo que descubram que eu falo sozinha, que percebam que a minha loucura é permanente. Eu sinto medo dos meus personagens, que de tão reais criam vida própria e me fazem perder o controle. Eu tenho medo da minha falta de controle e muito, mas muito, mais medo de quando eu posso controlar qualquer coisa.

Eu sinto medo dos meus sonhos, porque eles sempre me trazem surpresas e eu sempre acabo acreditando que um dia elas vão acontecer. Eu tremo e gaguejo de medo de parecer ridícula e a minha preocupação se torna tão ridícula que eu tenho medo que descubram o que acontece aqui dentro.

Eu tenho tanto medo da saudade que eu sinto do que não aconteceu, que viver cada dia se tornou uma constante busca por um passado que eu não vivi. E o meu maior medo (um medo filho-de-uma-puta que não me abandona um segundinho sequer) é não viver de verdade.


__Marina Melz

Estou namorando a Vida. Casei com a Felicidade. Sou amante da Alegria. Divorciado da Tristeza. E de vez em quando, dou uns pegas na Loucura.


#tãofamiliar


(...) Enfim, tenho agradecido por estar vivo e ter andado por onde andei e ter vivido tudo o que vivi e ser exatamente como sou.




É muita irresponsabilidade colocar a sua felicidade na palma da mão de outra pessoa. Ninguém é obrigado a carregar o fardo de te fazer feliz. O outro existe para caminhar de mãos dadas ao nosso lado, não para nos carregar nas costas.


Beba das águas da sua cisterna, das águas que brotam do seu próprio poço. 

(Provérbios 5:15)

terça-feira, 19 de janeiro de 2016


“Se não tem como evitar a tempestade, aprenda a se divertir na chuva”


“Há de chegar a hora em que com alegria, você vai se cumprimentar ao chegar à porta de casa, em seu próprio espelho, e cada um sorrirá diante da acolhida do outro...”

__Derek Walcott


para “alguns”, essa hora já chegou... hehehehe

Você percebe que as pessoas são inteligentes quando elas conseguem rir de si mesmas, gente ignorante só consegue rir dos outros.


sou de touro quando entro na arena
com a cabeça baixa e os olhos abertos
farejando quem quer me matar e me comer
sou de leão quando sacudo a cabeleira
dando a senha para que se aproximem
sintam meu cheiro de fêmea e menina
sou de câncer quando caio de cama
doente sem vacina e sem chance
deixando que ardam meus erros fatais
sou de gêmeos quando digo sim e não
quero e não quero e ambos
há várias rainhas no comando do reino
sou de sagitário quando enterneço e choro
miro a flecha rumo ao berço
quero voltar pra onde não existe problemas
sou de aquário quando rejeito comida
quando me falta ar embaixo do chuveiro
meus banhos são quentes demais
sou de libra quando ganho dinheiro
embolso meu estoque de bons atos
ninguém paga meu prato feito
sou de áries quando faço loucuras
e como as faço e como as convoco
porém quieta pra não alertar os invejosos
sou de virgem quando abro as pernas
ofereço o vermelho dos lábios
arremesso um grito e feneço
sou de escorpião quando me ferro
meto os pés pelas mãos e tudo lateja
onde mais dói é na cabeça
sou de peixe quando salgada
não há pele como a minha
não há carne mais tenra
sou de capricórnio quando me açoitam
batam mais e batam tudo
que eu nasci doze vezes foi para isso mesmo


Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens.

(Mateus 5:13)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016


Isso vale para muita gente...

A banda toca, a menina passa, o sinal abre, tem um poste, faixa de pedestres, tem baiana, tem pagode, tem gente. Muita gente...
E a “gente” ali, com a cabeça abaixada, digitando no celular. 

E se a “gente” parasse pra ver a banda que toca, o sol que se põe, a menina que passa?

Para que a gente não passe como mortos-vivos. Porque a vida passa!


(de uma reportagem que vi, em algum canal)

três regras


Não prometa nada quando estiver feliz; 
não responda nada quando estiver irritado; 
não decida nada quando estiver triste. 



Que a cada amanhecer eu tenha a humildade de agradecer tudo que possuo. Um lar, uma família, um corpo saudável, uma mente imperfeita, um trabalho, um prato de comida.

Que a cada entardecer eu consiga vislumbrar alguma luz, um pouco de serenidade, maturidade e paciência.

Que a cada anoitecer eu tenha a sinceridade de reconhecer cada passo em falso, cada palavra mal colocada, cada desculpa entalada na garganta, cada pequena solidão sentida.

Que a cada dia eu me mantenha firme, não desvie do caminho escolhido, não esqueça meus propósitos, não desista dos meus sonhos.

Que a cada segundo eu consiga pensar, falar e sentir coisas boas. E que consiga ajudar quem passa pela minha vida.

Que assim seja. Sempre.


“O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará.”
Salmos 23:1

sábado, 16 de janeiro de 2016

o sonho dos ratos


Era uma vez um bando de ratos que vivia no buraco do assoalho de uma casa velha. Havia ratos de todos os tipos: grandes e pequenos, pretos e brancos, velhos e jovens, fortes e fracos, da roça e da cidade.

Mas ninguém ligava para as diferenças, porque todos estavam irmanados em torno de um sonho comum: um queijo enorme, amarelo, cheiroso, bem pertinho dos seus narizes. Comer o queijo seria a suprema felicidade…

Bem pertinho é modo de dizer. Na verdade, o queijo estava imensamente longe porque entre ele e os ratos estava um gato… O gato era malvado, tinha dentes afiados e não dormia nunca. Por vezes fingia dormir. Mas bastava que um ratinho mais corajoso se aventurasse para fora do buraco para que o gato desse um pulo e, era uma vez um ratinho. Os ratos odiavam o gato.

Quanto mais o odiavam mais irmãos se sentiam. O ódio a um inimigo comum os tornava cúmplices de um mesmo desejo: queriam que o gato morresse ou sonhavam com um cachorro.

Como nada pudessem fazer, reuniram-se para conversar. Faziam discursos, denunciavam o comportamento do gato (não se sabe bem para quem), e chegaram mesmo a escrever livros com a crítica filosófica dos gatos. Diziam que um dia chegaria em que os gatos seriam abolidos e todos seriam iguais. “Quando se estabelecer a ditadura dos ratos”, diziam os camundongos, “então todos serão felizes”.

– O queijo é grande o bastante para todos, dizia um.
– Socializaremos o queijo, dizia outro.

Todos batiam palmas e cantavam as mesmas canções.
Era comovente ver tanta fraternidade. Como seria bonito quando o gato morresse! Sonhavam. Nos seus sonhos comiam o queijo. E quanto mais o comiam, mais ele crescia. Porque esta é uma das propriedades dos queijos sonhados: não diminuem: crescem sempre. E marchavam juntos, rabos entrelaçados, gritando: “o queijo, já!”…

Sem que ninguém pudesse explicar como, o fato é que, ao acordarem, numa bela manhã, o gato tinha sumido. O queijo continuava lá, mais belo do que nunca. Bastaria dar uns poucos passos para fora do buraco. Olharam cuidadosamente ao redor. Aquilo poderia ser um truque do gato. Mas não era.

O gato havia desaparecido mesmo. Chegara o dia glorioso, e dos ratos surgiu um brado retumbante de alegria. Todos se lançaram ao queijo, irmanados numa fome comum. E foi então que a transformação aconteceu.

Bastou a primeira mordida. Compreenderam, repentinamente, que os queijos de verdade são diferentes dos queijos sonhados. Quando comidos, em vez de crescer, diminuem.

Assim, quanto maior o número dos ratos a comer o queijo, menor o naco para cada um. Os ratos começaram a olhar uns para os outros como se fossem inimigos. Olharam, cada um para a boca dos outros, para ver quanto queijo haviam comido. E os olhares se enfureceram.

Arreganharam os dentes. Esqueceram-se do gato. Eram seus próprios inimigos. A briga começou. Os mais fortes expulsaram os mais fracos a dentadas. E, ato contínuo, começaram a brigar entre si.

Alguns ameaçaram a chamar o gato, alegando que só assim se restabeleceria a ordem. O projeto de socialização do queijo foi aprovado nos seguintes termos:
“Qualquer pedaço de queijo poderá ser tomado dos seus proprietários para ser dado aos ratos magros, desde que este pedaço tenha sido abandonado pelo dono”.

Mas como rato algum jamais abandonou um queijo, os ratos magros foram condenados a ficar esperando. Os ratinhos magros, de dentro do buraco escuro, não podiam compreender o que havia acontecido.

O mais inexplicável era a transformação que se operara no focinho dos ratos fortes, agora donos do queijo. Tinham todo o jeito do gato o olhar malvado, os dentes à mostra.


Os ratos magros nem mais conseguiam perceber a diferença entre o gato de antes e os ratos de agora. E compreenderam, então, que não havia diferença alguma. Pois todo rato que fica dono do queijo vira gato. Não é por acidente que os nomes são tão parecidos.