Esta menina tão pequenina quer ser bailarina.
E jogadora de futebol. E astronauta. E médica.
Não ao mesmo tempo, não necessariamente
agora.
Mas tudo. Porque eu quero. Porque eu posso.
Porque eu sei.
E se eu não souber, eu aprendo.
Aprendo a usar o garfo certo do peixe, da salada, a taça de cada vinho, mas sento esparramada no sofá porque é mais confortável mesmo.
Abro meus próprios potes de geléia e palmito,
mas não me incomodo se tiver um homem pra fazer por mim de vez em quando. Por
pura preguiça.
Não sorrio forçada. E xingo se precisar.
Inclusive, tenho um vasto vocabulário de
palavrões. Foda-se que é feio menina falar essas coisas.
Fico mal humorada por mil motivos que não têm nada a ver com meu ciclo menstrual ou com a falta de homem ou sexo.
Odeio quando todo mundo tem certeza do que é
melhor pra mim.
Bebo cerveja, whisky, vodka, vinho. E água entre um e outro pra não morrer de porre. A dignidade é minha, eu perco se e quando eu quiser.
E, sim, eu vou arrotar mesmo que você faça
cara feia e ache ruim.
Até porque, eu prometo pedir sua opinião
quando precisar.
Eu quero colecionar brinquedos mesmo depois de adulta, bonecas ou carrinhos.
Amar odiar novela, BBB ou o que estiver
passando na TV, que seja só pra falar mal ou ter conversa com as amigas no
banheiro.
Chorar no comercial de margarina ou qualquer
coisa mais besta sem ser taxada de fresca.
Ou ser, dane-se.
Apenas ser.
Ser tudo, mesmo que não ao mesmo tempo, mesmo
que não agora.
Ser.
Ser diferente.
Ser clichê.
Ser mulher.
___Fernanda Mota