"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



sexta-feira, 29 de abril de 2011

Casamento Real... Eu não fui!!!


Comprei um liquidificador Mallory nas Casas Bahia (10 x no carnê) e mandei entregar.

Optei por não ir.
Era muita frescura... não podia um monte de coisas: não podia usar celular, não podia encostar na "Sua Majestade", não podia puxar conversa com os nobres.
Não podia isso, não podia aquilo!!!

Será que podia respirar? Espirrar tenho certeza que não…

Aff... que festinha maçante!


Thanks pelo convite, "Sir" Charles...
Felicidades aos pombinhos e vida longa à rainha!

Declaração de amor


Tentei dizer quanto te amava, aquela vez, baixinho
mas havia um grande berreiro, um enorme burburinho
e, pensando bem, o berçário não era o melhor lugar.
Você de fraldas, uma graça, e eu pelado lado a lado,
cada um recém-chegado
você sem saber ouvir,
eu sem saber falar.

Tentei de novo, lembro bem, na escola.
Um PS no bilhete pedindo cola
interceptado pela professora como um gavião.
Fui parar na sala da diretora e depois na rua
enquanto você, compreensivelmente, ficou na sua.

A vida é curta, longa é a paixão.

Numa festinha, ah, nossas festinhas, disse tudo:
“Eu te adoro, te venero, na tua frente fico mudo”
E você não disse nada. E você não disse nada.
Só mais tarde, de ressaca, atinei.
Cheio de amor e cuba, me enganei
e disse tudo para uma almofada.

Gravei, em vinte árvores, quarenta corações.
O teu nome, o meu, flechas e palpitações:
No mal-me-quer, bem-me-quer, dizimei jardins.
Resultado: sou persona pouco grata
corrido a gritos de “Mata! Mata!”
por conservacionistas, ecólogos e afins.

Recorri, em desespero, ao gesto obsoleto:
“Se não me segurarem faço um soneto”
E não é que fiz, e até com boas rimas?
Você não leu, e nem sequer ficou sabendo.
Continuo inédito e por teu amor sofrendo
Mas fui premiado num concurso em Minas.

Comecei a escrever com pincel e piche
num muro branco, o asseio que se lixe,
todo o meu amor para a tua ciência.
Fui preso, aos socos, e fichado.
Dias e mais dias interrogado:
era PC, PC do B ou alguma dissidência?

Te escrevi com lágrimas , sangue, suor e mel
(você devia ver o estado do papel)
uma carta longa, linda e passional.
De resposta nem uma cartinha,
nem um cartão, nem uma linha!
Vá se confiar no Correio Nacional.

Com uma serenata, sim, uma serenata
como nos tempos da Cabocla Ingrata
me declararia, respeitando a métrica.
Ardor, tenor, a calçada enluarada…
havia tudo sob a tua sacada
menos tomada pra guitarra elétrica.

Decidi, então, botar a maior banca
no céu escrever com fumaça branca:
“Te amo, assinado..” e meu nome bem legível.
Já tinha avião, coragem, brevê
tudo para impressionar você
mas veio a crise, faltou o combustível.

Ontem você me emprestou seu ouvido
e na discoteca, em meio do alarido,
despejei meu coração.
Falei da devoção há anos entalada
e você disse “Eu não escuto nada”.

Curta é a vida, longa é a paixão.

Na velhice, num asilo, lado a lado
em meio a um silêncio abençoado
direi o que sinto, meu bem.
O meu único medo é que então
empinando a orelha com a mão
você me responda só: “Hein?”

"Vi um casal de velhinhos surdos brigando de pertinho.
O amor é um casal de velhinhos surdos.
Pode brigar, mas não vai embora.
Fica perto. "

Eu me refugiarei à sombra das tuas asas, até que passe o perigo.

(Salmo 57:1)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Uma fábula chatinha


Sentado à beira do caminho, o homem cansado ficou quieto, espiando a vida que passava.

Era uma vez um homem cansado que ia indo por um caminho. Tinha passado do meio-dia, a tarde estava ficando muito quente. No ar azul e claro não soprava nenhum vento.
O homem procurou a sombra de uma árvore, sentou e ficou ali, quieto.
Até que passou um surfista. Ia de moto, sem camisa, a bermuda colorida, a prancha amarrada na garupa da moto. Abanou para o homem sentado, mas ele não se mexeu.

“Coitado” — pensou o homem. — “Vai indo assim todo animado. Parece que não sabe que vai morrer um dia.”

Remexeu a areia com um pedacinho de pau, mas sem prestar atenção.
Então passou uma velhinha que parecia saída de um livro de histórias infantis. Usava um vestido escuro, comprido, e carregava no ombro uma dessas latas de metal, cheia de leite. Caminhava muito depressa.

“Coitada” — pensou o homem. — “Velha desse jeito, pra que tanta pressa? A morte vai chegar logo — e aí?”

Acendeu um cigarro, ficou soltando anéis de fumaça contra o céu cada vez mais azul.
Aí passaram duas moças de braço dado. Parecia que recém tinham tomado banho, tão fresquinhas estavam. Os cabelos ainda molhados brilhavam ao sol. Cochichavam e riam muito, olhando o homem sentado, que nem olhava para elas.

“Coitadas” — o homem pensou. — “Tão assanhadinhas. Ah, se elas soubessem que a morte existe e pode chegar a qualquer momento…”

Ficou um rastro de perfume no ar, mas ele nem respirou mais fundo nem nada.
De repente um passarinho começou a cantar, no galho bem acima dele. Ouviu um pouco, depois cuspiu de lado.

“Coitado” — o homem pensou. — “Esse idiotinha fica cantando à toa, de repente vem um moleque, joga uma pedra e pronto, acabou.”

Estendeu as pernas, mas logo as recolheu assustado.
De longe, vinha um barulho forte como o de um exército em marcha. O homem fixou bem os olhos na curva da estrada. Até que apontou um elefante lá longe. Depois vieram tigres, macacos, camelos, mágicos, equilibristas: era um circo passando. Os palhaços fizeram micagens especiais para ele, mas o homem não deu atenção. A bailarina, equilibrada num pé só sobre o pônei branco, jogou uma rosa vermelha de tule a seus pés, mas ele não apanhou.

“Coitados” — pensou o homem. — “Quanta ilusão. Um dia o circo pega fogo, a morte chega e de que serviu essa alegria toda?”

Com a ponta do pé, empurrou para longe a rosa vermelha.
Nesse momento, ia passando um casal de namorados. O rapaz pegou a rosa, sacudiu para afastar a poeira, depois colocou-a nos cabelos da moça. Ela sorriu, e agradeceu com um beijo. Ele respondeu com outro, ela com outro — e assim foram indo, aos beijos, até sumirem.

“Coitados” — pensou o homem. — “Amor, amor: não tem besteira maior. Casam, têm filhos, ficam velhos, doentes. Um dia morrem e pronto.”

A tarde quase já tinha virado noite, quando um vulto encapuzado veio se aproximando. Ele precisou apertar os olhos para ver melhor. Mesmo assim, não via direito a cara do vulto que se aproximava cada vez mais, até parar bem na frente dele.

— Quem é você? — o homem perguntou. A figura afastou o capuz, mostrou os dentes arreganhados e disse:

— Sou a Morte. Posso sentar ao seu lado?

O homem deu um pulo.
— Não — ele disse. — Já está ficando tarde e eu ainda tenho muito o que fazer.

Virou as costas e saiu correndo, sem olhar para trás.

Porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca".

“Ficar bem nem sempre deixa outras opções.
É estranho quando as coisas simplesmente têm de terminar.
É o estágio onde todos os sentimentos já evoluíram para um nada.
É o nada que você optou para parar de sentir dor.
No início você briga, chora, faz drama mexicano.
Então percebe que é cansativo demais manter esse jeito de levar as coisas.
Acostuma-se.
Não que pare de doer, mas que cai no seu entendimento que às vezes perdemos algo e não há solução. No fim você coloca um sorriso no rosto e finge que é sincero, até que a vida o faça realmente ser. Talvez os amores eternos sejam amenos e os intensos, passageiros. 
É isso.”

Interpretação livre

~> Como um pássaro escapamos da armadilha do caçador;
a armadilha foi quebrada, e nós escapamos. <~

                                                                                 Salmos 124:7

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Das Mimosas


Até que enfim
O teu plano desabou, deu cupim
Teu filme queimou, tá queimado

Procura teu gado, vai comer capim

(Orkut - aqui)


“Não vos iludis, pobres mortais, eis que a justiça talha mas não farda e a vaca poderá ir para o brejo: vacum brejus est”.


Como a vida é tecelã imprevisível, e ponto dado aqui vezenquando só vai ser arrematado lá na frente.

Das constatações


Eu não sou tão forte quanto eu previa,
nem tão fraca quanto eu temia.
Não tenho o passo rápido como eu gostaria,
nem paraliso como poderia.
Aprendi a me equilibrar nos extremos.
Se não tenho o direito de escolher
todos os acontecimentos,
me posiciono de acordo com os fatos.
No final, o que me move não é forte o suficiente
pra me derrubar,
mas é intenso o bastante pra me fazer ir além.
 
“Não é difícil encontrar a mentira.

Difícil é se esconder da verdade.”

(Guilherme Mazork)

"Mas virá o dia em que
a verdade vai surgir
Nem alegria e nem tristeza
Será o dia do alívio

...


A missão é seu escudo
E a verdade sua espada"

Tomara...

"Que as mentiras alheias não confundam as nossas verdades,
mesmo que as mentiras e as verdades sejam impermanentes. "
Amém!!!

Lucas 12:2 ~> "Não há nada escondido que não venha a ser descoberto,
ou oculto que não venha a ser conhecido."

terça-feira, 26 de abril de 2011


Bastava o perfume que os cabelos deixavam nos travesseiros
e aquele beijo trocado em plena tarde de uma segunda feira agitada.
Bastava aquela conversa sobre um assunto sem nexo no café da manhã
e as gargalhadas do ser amado vendo TV em plena madrugada.
Bastava estarem abraçados e ainda deitados num dia preguiçoso
e implicarem antes de um passeio por causa de uma saia minúscula.
Bastava mesmo que fosse uma briguinha antes de começar o dia
e você ficar pensando o dia todo em alguma forma de reconciliação.
Bastava que ele chegasse, mesmo esquecendo das compras da semana
e que ela te perguntasse a cada minuto se você a amava.

(...)

São nessas pequenas horas que se descobre ter sido feliz,
Mas isso é coisa que demora uma vida toda para se perceber.

Encontros preciosos não são necessariamente os que nos trazem jardins já floridos.

São, um bocado de vezes, aqueles que nos ofertam mudas.

das decisões


Duas sementes descansam lado a lado em solo fértil.

A primeira semente disse:
- Eu quero crescer! Quero enviar minhas raízes às profundezas do solo e fazer meus brotos rasgarem a superfície da terra. Quero abrir meus botões como bandeiras anunciando a chegada da primavera. Quero sentir o calor do sol em meu rosto e a benção do orvalho da manhã em minhas pétalas!

E assim ela cresceu.

A segunda semente disse:
- Tenho medo. Se eu enviar minhas raízes às profundezas, não sei o que encontrarei na escuridão. Se rasgar a superfície dura, posso danificar meus brotos. Se eu deixar que meus botões se abram e um caracol tentar comê-los? E se abrir minhas flores e uma criança me arrancar do chão? Não, é muito melhor esperar até que eu me sinta segura.

E assim ela esperou.

Uma galinha, a procura de comida, encontrou e rapidamente comeu a semente à espera de segurança.

Moral da História:
"Os que se recusam a correr riscos e crescer,
normalmente são engolidos pela vida"

O tempo (d)e um casal...


Superlativizar o futuro em detrimento do agora, aparentemente minimiza a irracionalidade da fuga... a diferença do tempo os uniu, os separou, os uniu novamente quando ela incompleta, vulnerável,
assegurou a completude dele...

Quando aparentemente o abismo é abissal, lá está ela - a Arte - como sempre eficaz para aproximá-los, sua linguagem traduz muitas vezes o inefável e possibilita o encontro de almas aparentemente desencontradas pela miopia causada pela beleza exterior.

A arte dá a ele o que na cabeça dele o tempo tirou... para ela, a arte acrescenta o que com os anos ele ganhou... mero detalhe que destrói castelos... a música, o abrir os livros, o mostrar as telas de Goya, o discurso claro, a riqueza do léxico, e claro, o fascínio da fotografia... tudo isso amalgamado, difícil acreditar, mas não lhe permitiu enxergar com clareza seu objeto de desejo... não enxergou por dentro, apenas por fora!

Ela teve que perder uma parte dela, para ele ganhar confiança no todo dele... ela teve que morrer um pouco para rejuvenescer os horizontes dele...
claro que poderia ser diferente fora da perspectiva da sétima arte!
Mas, definitivamente, não foi.

"Fatal" fala de amor, de redescoberta, de permissividade!

(encontrado no blog "Corpocomente")


> A velhice não é para covardes.

> Mulheres bonitas são invisíveis e nunca vemos a pessoa, porque somos bloqueados pela barreira da beleza.

> Ficamos tão deslumbrados pelo exterior que não enxergamos o interior.

Sempre ao seu lado


Eles (cães) nos ensinam o significado da lealdade, e a nunca esquecermos aqueles que amamos.


PS: Achei o filme lindo, triste e tocante. Uma bela lição de amizade.
Não recomendo para quem tem alergia a pêlo de cachorro, pois vai dar muito trabalho para segurar as lágrimas.

Os sãos não necessitam de médico, mas sim os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento. 
Marcos 2:16-17

segunda-feira, 25 de abril de 2011


'Pôs-se a dançar nua sobre o telhado gritando muito alto que precisava de espaço, e pediu também um segundo chopp enquanto ele achava que era-um-bom-começo-se-ela-soubesse-desenvolver-bem-a-trama, mas ela apagou o cigarro e resmungou que trama, cara, eu não sei desenvolver bosta nenhuma, tenho preguiça de imaginar o que vem depois'

salvem as baleias


Mais um feriadão que acabou...

Deusdocéu, pisei na jaca esses dias!

Estou um queixinho de mola e as tentações estavam por todos os lados.
Impossível resistir.

Do saldão da páscoa – uma deliciosa orgia alimentar: comida di buteco, cerveja, bacalhoada, cerveja, churrasco, cerveja, peixe assado, cerveja, feijoada, cerveja (ic!), peixada, cerveja (ic!... ic!). Mas, o que superou mesmo foi a rabada* com polenta de agrião.
Sem puxa-rabismo... digo, saquismo... ficou uma marravilha!
Posso jurar: é de comer rezando.
Como o ‘Nuvens’ não é um blog de culinária, fica mantido o segredo da receita.

Para finalizar (comigo, né?!)... ovo de chocolate com um ‘recheio’ peculiar: garrafinhas de licores sortidos (coisa phynna!).
Diria que um Kinder Ovo da idade adulta.

Essa comilança pascal é um pecado para a forma de qualquer cristão e como não sou/estou muito adepta de malhação, me resta a opção de correr (da balança, de preferência) para me redimir.

Sem mais delongas, desejo uma semana “balanceada” a quem passar por aqui.

* Isso me fez lembrar uma música (maliciosa) do Teodoro e Sampaio:

O meu prato predileto é uma boa rabada
Quando eu quero eu vou direto lá pra casa da cunhada
É uma boa cozinheira isso eu posso garantir
Ela sabe muito bem como deve me servir

Eu já provei várias vezes não estou falando à toa
Porque a minha cunhada em rabada é muito boa

Os vizinhos estão sabendo da fama que ela tem
Já estão de olho nela querendo comer também
Provar da sua rabada e o tempero que ela faz
Seu tempero é muito bom, bem gostoso e quero mais

Faz uma loucura por mim


Faz uma loucura por mim
Sai gritando por aí bebendo e chora
Toma um porre picha um muro que me adora
Faz uma loucura por mim

Fica até de madrugada perde a hora
Sai comigo pra gandaia noite afora
Só assim eu acredito nessa história
Que você sentiu saudades de me ter

Põe na prática besteiras da memória
Pensa menos, faz de tudo, manda ver
Vem pra dentro tenta ser da mesma escória
Como já fiz mil loucuras por você

Nós dois se é pra recomeçar que seja até o fim
Nós dois se não é pra ficar não gaste o teu latim
Nós dois só posso te aceitar ao ver que você
Faz uma loucura por mim

Depois que você me provar que vai fazer assim
Depois você pode provar o que quiser de mim
Depois já posso acreditar que você foi capaz
De uma loucura por mim

Faz uma loucura por mim
Se tem outra em tua vida manda embora.

(Alcione - Composição: Chico Roque/Sergio Caetano)

Eu que simbolicamente
morro várias vezes só para
experimentar a ressurreição…

"Tudo tem seu apogeu e seu declínio...
É natural que seja assim, todavia, quando tudo parece convergir para o que supomos o nada, eis que a vida ressurge,
triunfante e bela!...
Novas folhas, novas flores, na infinita benção do recomeço!"

Fiore della Passione

A flor do maracujá

Encontrando-me com um sertanejo
Perto de um pé de maracujá
Eu lhe perguntei:
Diga-me caro sertanejo
Porque razão nasce roxa
A flor do maracujá?

Ah, pois antonce eu lhi conto
A estória que ouvi contá
A razão proque nasce roxa
A frô do maracujá


Maracujá já foi branco
Eu posso inté lhe ajurá
Mais branco qui a caridadi
Mais branco do que o luá


Quando as frô brotava nele
Lá pros confim do sertão
Maracujá parecia
Um ninho de argodão

Mais um dia, há muito tempo
Num meis que inté num mi alembro
Si foi maio, si foi junho
Si foi janêro ou dezembro


Nosso Sinhô Jesus Cristo
Foi condenado a morrê
Numa cruiz crucificado
Longe daqui como o quê


Pregaro Cristo a martelo
E ao vê tamanha crueza
A natureza inteirinha
Pois-se a chorá di tristeza

Chorava us campu
As fôia e as ribêra
Sabiá também chorava
Nos gaio da laranjêra


E havia junto da cruiz
Um pé de maracujá
Carregadinho de frô
Aos pé de nosso sinhô


I o sangue de Jesus Cristo
Sangue pisado de dô
Nus pé du maracujá
Tingia todas as frô

Eis aqui seu moço
A estória que eu vi contá
A razão proque nasce roxa
A frô do maracujá.


(Catulo da Paixão Cearense)

Recebi da amiga Ana Rita - através do orkut - e achei lindo de vivê!!!

terça-feira, 19 de abril de 2011

desejo...


Uma feliz e abençoada páscoa...
recheada de muito amor
e doces momentos
“E eu digo o tempo todo:
o teu ser é conjunto do meu,
assim adoçamos nossas vidas.”

Das dúvidas pascais


- Papai, o que é Páscoa?
- Ora, Páscoa é ... bem ... é uma festa religiosa!
- Igual Natal?
- É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.
- Ressurreição?
- É, ressurreição. Marta, vem cá!
- Sim?
- Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.
- Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?
- Mais ou menos ... Mamãe, Jesus era um coelho?
- Que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola? Ave Maria!
- Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?
- É filho, Jesus e Deus são a mesma pessoa. Você vai estudar isso no catecismo. Chama-se a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
- O Espírito Santo também é Deus?
- É sim.
- E Minas Gerais?
- Sacrilégio!!!
- É por isso que a Ilha da Trindade fica perto do Espírito Santo?
- Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas quando você for no catecismo a professora explica tudinho!
- Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?
- Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.
- Coelho bota ovo?
- Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!
- Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
- Era, era melhor, ou então urubu.
- Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né? Que dia que ele morreu?
- Isso eu sei: na sexta-feira santa.
- Que dia e que mês?
- ??????? Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na sexta-feira santa e ressuscitou três dias depois, no sábado de aleluia.
- Um dia depois.
- Não, três dias.
- Então morreu na quarta-feira.
- Não, morreu na sexta-feira santa ... ou terá sido na quarta-feira de cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois!
- Como?
- Pergunte à sua professora de catecismo!
- Papai, por que amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?
- É que hoje é sábado de aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.
- O Judas traiu Jesus no sábado?
- Claro que não! Se ele morreu na sexta!!!
- Então por que eles não malham o Judas no dia certo?
- É, boa pergunta. Filho, atende o telefone pro papai. Se for um tal de Rogério diz que eu saí.
- Alô, quem fala?
- Rogério Coelho Pascoal. Seu pai está?
- Não, foi comprar ovo de Páscoa. Ligue mais tarde, tchau.
- Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
- Cristo. Jesus Cristo.
- Só?
- Que eu saiba sim, por quê?
- Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?
- Coitada!
- Coitada de quem?
- Da sua professora de catecismo!!!

Agora é diferente, virou venda frenética de chocolates, pacote turístico, meia dúzia de filmes bíblicos pela tevê (Victor Mature, Deborah Kerr, Jean Simmons). Mas naquele período jurássico quando nasci e cresci, Semana Santa era coisa séria. Não apenas séria, mas misteriosa. Mais que misteriosa, até mesmo um pouco aterrorizante.

Vários e vagos mistérios, alguns até hoje não esclarecidos. Não se podia comer carne — e não só na Sexta-Feira Santa não, que hoje fazem um bacalhauzinho e pronto. A semana toda, ninguém comia carne. “O corpo de Cristo”, diziam, e era inevitável sentir-se meio canibal só em pensar num bom bife. Havia também a obrigação do silêncio. Não se podia brincar barulhento demais, rir muito alto, tinha-se que manter ar contrito, enlutado. Cantar então era um sacrilégio brabo, principalmente na Sexta- Feira, quando não se podia nem ligar o rádio. Mas se o rádio continuava funcionando — e tocando música —, por que não se podia ligá-lo? E os donos das rádios, por que perdiam tempo com as emissoras no ar se era proibido sintonizá-las? De que adianta uma rádio no ar, se ninguém escuta? Não havia resposta. Havia, isto sim, silêncios demais nas Semanas Santas de antigamente.

“Jesus morreu” era a única resposta. E lá estavam na Igreja os santos todos cobertos por panos roxos e pretos, assustadores.

Na Sexta-Feira (e por que “da Paixão” ninguém explicava), uma mórbida, lívida estátua de Cristo dentro de um caixão de vidro. Me fascinavam as gotas de sangue, rubis sobre a pele. Muitas vezes tive a tentação de arrancar uma com a unha, guardá-la só para mim. O medo do pecado mortal era o que me detinha. No dia em que Cristo está morto, diziam, cada pecado multiplicava-se por mil, pois era também o dia em que o demônio estava solto. E com toda corda, poderosíssimo. Na Sexta-Feira Santa tinha-se que andar na ponta dos pés, falar em voz muito baixa e não cometer absolutamente nenhum pecado — mesmo os mais bestas, tipo espetar bumbum de formiga com agulha de costura — para não atrair o demônio. Com ele solto, pecados normalmente leves tinham a sua gravidade multiplicada, eram capazes de arrastar alguém ao fogo dos infernos por toda a eternidade.

No Sábado de Aleluia, Jesus ressuscitava. Podia-se começar a gritar, a cantar, a dizer palavrão, enfim: a pecar à vontade outra vez. Mas ninguém explicava por que toda aquela tristeza do dia anterior, se todo mundo sabia que Cristo acabaria ressuscitando no dia seguinte. Era puro fingimento? Hoje sei, era mesmo. Ou não fingimento, mas liturgia, rito. Mistério maior era no domingo, acordar cedo para procurar pela casa toda os ninhos feitos em caixas de sapato, com papel de seda, palha e cola de farinha de trigo danada pra embolar. Os ninhos estavam cheios de ovos de chocolate deixados pelo coelhinho da Páscoa. Ótimo, claro, que criança não adora se empapuçar de sugar blues?

Mas ninguém nunca explicava qual a relação entre a morte e a ressurreição de Cristo com ovos de chocolate. E muito menos com coelhos. Galinha de Páscoa seria mais lógico. Ou pata, vá lá. Agora, coelho? E tem mais: não era coelha, era coelho mesmo. Coelho então também bota ovo? Só na Páscoa, talvez. Ou talvez apenas faça ovos, não ponha, eu refletia. Eu refletia muito naquele tempo.

Nos anos seguintes devo ter perguntado sobre isso, e até mesmo ouvido alguma resposta satisfatória. Vagamente, na minha cabeça, ronda uma lenda qualquer, talvez polonesa. Ou quem sabe misturo isso àquela tradição polonesa de pintar ovos de Páscoa (aliás, tenho um lindo que ganhei em Curitiba). Acho que não prestei atenção, pelo menos não lembro de nada. Também não quero que me expliquem agora. Tem muita coisa que, francamente, cá entre nós, não faço mesmo questão de saber.

... Ressuscitou
Ele não está aqui!
[Marcos 16:6]


A Páscoa existe para nos lembrar de um espetáculo inigualável chamado RESSURREIÇÃO!

Páscoa...
Ressurreição do sorriso. Ressurreição da alegria de viver.
Ressurreição do amor. Ressurreição da amizade.
Ressurreição da vontade de ser feliz.
Ressurreição dos sonhos, das lembranças e de uma verdade que está acima de qualquer símbolo:
Cristo morreu, mas ressuscitou e fez isso somente para nos ensinar a matar os nossos piores defeitos e ressuscitar as maiores virtudes do íntimo de nossos corações.

Que esta seja a verdade da sua Páscoa!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

das pérolas

[Analisando a canção]
De olhos vermelhos (o bicho tava doidão)
De pêlo branquinho (deve ser coroa também)
De pulo bem leve (boiola)
Eu sou o coelhinho (diz ser manhoso)
Sou muito assustado (uuuuuuuuh…. nooossa!)
Porém sou guloso (Huuumm... aí tem)
Por uma cenoura… (assumiu!!!)
Já fico manhoso (definitivamente boiola)
Eu pulo pra frente, eu pulo pra trás (versos altamente eróticos)
Dou 1000 cambalhotas (Kama Sutra)
Sou forte demais! (pit-boy)
Comi uma cenoura (assumiu messssmo)
Com casca e tudo (com proteção pelo menos)
Tão grande ela era… (aff…)
Fiquei barrigudo! (Aaaaaaahhh bom… era coelha!!!)

"O Luis Fernando escreveu uma crônica hilariante sobre a Páscoa. Foi um diálogo absurdo entre um menino, seu pai e sua mãe, sobre o sentido dessa festa. A crônica termina com uma observação justíssima do menino.
Disse ele: 'Eu acho que ao invés de "coelho da Páscoa" deveria ser "galinha da Páscoa..." Pois é claro. Todo mundo sabe que coelhos não botam ovos. E todos sabem que galinhas botam ovos...'

Confesso minha ignorância: não sei como é que o coelho entrou nessa estória.
Para início de conversa é preciso lembrar que os textos sagrados não fazem referência alguma a esse animalzinho fofo.
Quem foi que teve a idéia de torná-lo o personagem mais importante dessa celebração cristã?
Certamente um gozador. E para tornar a estória mais absurda, fizeram com que os coelhos, que não botam ovos, botassem ovos de chocolate...
Nos tempos de Jesus Cristo havia chocolate?
Acho que não.
Galinhas não são seres poéticos. Na poesia elas sempre aparecem como bichos engraçados, cacarejantes, de inteligência curta, cuja única função é botar ovos e serem transformadas em canja.
Assim é compreensível que vocês não gostem da idéia de galinhas de Páscoa.
Eu também não gosto.
Mas poderia ser "pombas de Páscoa".
Pombas são seres teológicos. Começando com a Arca de Noé.
A se acreditar no relato do Antigo Testamento, Noé, para se certificar de que o dilúvio acabara, soltou um corvo.
Confesso que se eu fosse Noé teria adotado um método mais simples. Teria aberto a janela da arca e esticado o pescoço para fora. Eu veria, então, que a chuva havia terminado e que as plantas já estavam soltando os seus brotos.
Será que Noé acreditava que o corvo, depois de voar, voltaria para dar um relatório? Como é que o corvo comunicaria os seus achados?
O corvo ingrato não voltou. Desde então eles ficaram aves de má fama, injustamente.
Vendo que o corvo não voltava e sem se dar conta do método mais fácil que sugeri, ele soltou uma pomba.
Ah! Ave maravilhosa!
Voou, viu, apanhou um ramo verde de oliveira, e o trouxe para Noé!
É preciso notar que as oliveiras daqueles tempos extraordinários deveriam ser diferentes das oliveiras de agora. As oliveiras de agora certamente estariam mortas, depois de passar tanto tempo debaixo d'água. Oliveiras não são plantas sub-aquáticas. Foi então que, pelo galho de oliveira que a pomba lhe trouxera, Noé ficou sabendo que o dilúvio havia chegado ao fim.
Desde então as pombas passaram a ser símbolos teológicos: símbolos de pureza, símbolos de paz.
Uma das telas mais comoventes de Picasso é uma menina com uma pombinha nas mãos.
De fato as pombas têm um jeitinho de mansidão.
O que não acontece com os corvos negros de bico torto.
Bom para os corvos, mau para as pombas.
As pombas passaram a serem usadas como aves a serem sacrificadas no templo pelas razões mais incríveis.
Se não me falha a memória as mulheres, terminado seu período menstrual de impureza, deveriam sacrificar pombas no templo para se purificarem.
Pobres pombas! O templo era uma sangüeira.
Quem quiser saber mais sobre a sangüeira do templo que leia o livro de Saramago, "O evangelho segundo Jesus Cristo".
Os corvos, pela esperteza do primeiro corvo que não voltou, ficaram livres desse triste destino.
Vem então o Novo Testamento que sacraliza definitivamente as pombas, ao relatar que o Espírito Santo é uma pomba.
Sobre isso leia-se o poema de Alberto Caeiro em que ele conta como Jesus voltou à terra, tornado outra vez menino.
É lindo.
Brincadeira de lado, o embaraço dos pais e a pergunta do menino revelam a confusão que marca essa festa. Ninguém sabe direito o que é que está sendo celebrado.
E, para dizer a verdade, acho que são bem poucos aqueles que fazem alguma celebração.
Antigamente semana santa era coisa séria.
Lembro-me da procissão do enterro, os panos roxos, a banda de música tocando a marcha fúnebre de Chopin, as matracas, as mulheres mais piedosas carregando pedras na cabeça, como penitência...
Isso mesmo: as mulheres carregavam pedras na cabeça.
Como é bem sabido, Deus gosta de ver os seus filhos e filhas sofrer.
Isso para não dizer da quaresma que a antecede, tempo em que as hostes do mal, demônios de todos os tipos, assombrações, mulas sem cabeça, almas penadas, ficavam soltas e todo mundo tinha medo de sair à noite.
Sempre havia alguém que relatava, pela salvação da mãe morta, que havia visto uma mula sem cabeça numa encruzilhada à meia-noite.
Meia noite era a hora do medo. E no escuro ouvia-se o zunido sinistro dos berra-bois.
Semana Santa era um tempo metafísico, entre o céu e o inferno.
Agora é diferente.
Páscoa é domingo, pé de cachimbo, cachimbo é de barro, bate no jarro, jarro é de ouro, bate no touro, touro é valente, chifra a gente, a gente é fraco, cai no buraco, buraco é fundo, acabou-se o mundo...
Páscoa é fim de semana santa, feriado de três dias, a praia está esperando, hora de se preparar para a viagem...
Contou-me um sacerdote da Igreja Ortodoxa Russa que lá a Páscoa é uma grande festa.
O comunismo não foi capaz de destruir a alma do povo.
Pela manhã as pessoas saem pelas ruas e se cumprimentam dizendo: "Cristo ressuscitou!" E o outro responde, com uma risada: "Sim, ele ressuscitou!" (A obra sinfônica de Rimski-Korsakov "A grande Páscoa russa" é linda". E agora percebo que faz muito tempo que não a ouço.).
Entre nós, país onde 99% das pessoas acreditam em Deus (acreditam porque acham que, se não acreditarem, é capaz de ele, Deus, enviar algum castigo...), a Páscoa é como uma casca de cigarra presa no tronco de uma árvore.
Vazia. Morta. Não tem nada lá dentro.
Mas já foi o corpo de um ser vivo que, cansado de ficar preso na casca, criou asas e voou.
A Páscoa, com seus ovos de chocolate, é celebração inconsciente de um tempo que não existe mais, tempo em que se acreditava.
Os ovos de chocolate, vocês sabem, são tão ocos quanto as cascas de cigarra...
Na tradição cristã mais antiga a semana santa era um teatro, o drama da vida dentro de uma casca de noz. Teologia mínima.
Duas cenas apenas. Primeira cena: a morte e o seu horror parecem triunfar. Segunda cena: a vida sai do túmulo de pedra, deixando-o vazio como uma casca de cigarra.
A Adélia diz: "De vez em quando Deus me castiga, me tira a poesia. Olho uma pedra e vejo uma pedra..."
Tem gente que ouve o canto das cigarras e ouve apenas o canto das cigarras.
Tem gente que fala Páscoa e só vê ovo de chocolate.
Pensam na ressurreição como algo aconteceu, faz muito tempo, num lugar distante. (Impossível. mortos não ressuscitam.) E pensam em algo que acontecerá de novo num tempo distante, muito longe, no futuro (Impossível. Mortos não ressuscitarão.).
Mas a poesia não conhece nem o passado e nem o futuro.
O passado sobre que a poesia fala é presente na memória e nos sentimentos. O futuro sobre que a poesia fala é presente na esperança.
Assim os poemas da ressurreição falam sempre do presente.
A Morte é agora.
Nós somos o túmulo.
"Quem anda duzentos metros sem vontade anda seguindo o próprio funeral vestindo a própria mortalha..." Muita gente morreu e não percebeu. Mas a Ressurreição pode acontecer também agora.
Tenho, no meu escritório, uma tela de Pierro della Francesca (1410 - 1492) chamada "Ressurreição".
A pedra do túmulo corta a tela em duas partes. Na parte de cima, com seu pé sobre a pedra, o Cristo ressuscitado. Na parte inferior, encostados à pedra, os guardas adormecidos.
Perguntam-me sobre o sentido da tela. Respondo que não sei o sentido da tela.
As telas têm muitos sentidos.
Eu só posso dizer os pensamentos que aquele quadro me faz pensar.
E digo: enquanto os guardas da morte estão dormindo, o divino que mora em nós sai do sepulcro.
Sabem disso as cigarras.
Caminhando hoje pela manhã na fazenda Santa Elisa eu ouvi o seu canto.
Já haviam deixado suas cascas nos troncos das árvores.
Agora são seres alados. Cantam e voam, a procura do amor...
Acho que estão celebrando a Páscoa..."