quinta-feira, 26 de dezembro de 2019
tempo de amorosidade
Tempo em que todo o amor
guardado dentro de nós pede para ser derramado em forma de reconciliação,
ternura, perdão. É quando confraternizamos tudo o que construímos no ano que
passou e repensamos o que poderemos acrescentar no ano que nascerá.
Façamos de todas as nossas experiências anteriores aprendizados para o nosso melhoramento amoroso como pessoa, para que o nosso abraço se alargue do tamanho do horizonte; para que possamos sentir gratidão pela vida com suas belezas e adversidades e que possamos cumprir nossa missão nesta existência.
Que sejamos uma presença de luz, compreensão, paciência. Que sejamos mais tolerantes e olhemos para o Outro, mesmo com todas as suas diferenças, como uma extensão bonita de nós mesmos.
Façamos de todas as nossas experiências anteriores aprendizados para o nosso melhoramento amoroso como pessoa, para que o nosso abraço se alargue do tamanho do horizonte; para que possamos sentir gratidão pela vida com suas belezas e adversidades e que possamos cumprir nossa missão nesta existência.
Que sejamos uma presença de luz, compreensão, paciência. Que sejamos mais tolerantes e olhemos para o Outro, mesmo com todas as suas diferenças, como uma extensão bonita de nós mesmos.
Que exista amparo em
nossas palavras e delicadeza em nossos gestos para que possamos contribuir com
um mundo maior em alegria e esperança.
Que nossos problemas sejam sempre menores que as soluções e que sejamos do tamanho dos nossos sonhos.
Que a bondade esteja em nós, que a generosidade habite nossos corações e nossas vidas e que o entusiasmo guie nossos passos e nossas ações.
Que não tenhamos que esperar o Natal ou o Ano Novo para festejar nosso dia a dia, mas que vivamos de tal forma que tudo em nós seja abundante amorosidade para que possamos sempre estender a nossa mão àqueles que precisarem do nosso acolhimento.
Que nossos problemas sejam sempre menores que as soluções e que sejamos do tamanho dos nossos sonhos.
Que a bondade esteja em nós, que a generosidade habite nossos corações e nossas vidas e que o entusiasmo guie nossos passos e nossas ações.
Que não tenhamos que esperar o Natal ou o Ano Novo para festejar nosso dia a dia, mas que vivamos de tal forma que tudo em nós seja abundante amorosidade para que possamos sempre estender a nossa mão àqueles que precisarem do nosso acolhimento.
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Marla de Queiroz
reflexões de final de ano
Mais um ano se encerra, mais
um ciclo se fecha. É hora de rever o que deu certo e o que não deu tão certo. É
hora de arrumar as coisas, jogar fora papeis inúteis, “arrumar a casa” da vida,
do trabalho e do coração. É hora de repensar nossas atitudes, o modo como
vivemos, e mudar aquilo que foi ruim. É hora de reflexão.
Mais um ano se passou. E
o tempo não volta. O tempo é o que de mais valioso temos, e é preciso
aproveitá-lo bem. Cada ano que se passa é um tempo que não se repete – um será
sempre diferente do outro. Não deixe os seus anos passarem em “brancas nuvens”.
Persiga seus sonhos. Faça valer à pena. Aproveite as boas energias do fim do
ano, o espírito do Natal e planeje o seu futuro.
Que venha o Ano Novo! Que
não seja só mais um ano e, sim, que seja um ano ainda mais especial que o
anterior. O ano que passou deixará boas e más lembranças. Afinal, todos os anos
que passam deixam marcas, sejam elas boas ou ruins.
Final de ano, tempo de
festa e celebração, mas também tempo de reflexão, de análise e de recomeço.
Para trás está ficando o ano de 2019. Do sofrimento e das lágrimas vamos
guardar apenas a certeza de que sobrevivemos. Dos erros, guardemos a
aprendizagem. Das dificuldades, vamos lembrar o momento da superação. Devemos
sentir alegria e gratidão por mais um ano vivido e, apesar de tudo que tenha
acontecido, o importante é que chegamos até aqui, mais experientes, mais fortes
e com mais sabedoria. Sigamos firmes em nossos propósitos.
Agora é tempo de encher o
coração de otimismo, esperança e sonhos, é tempo de recomeçar e renovar, pois
um novo ano se apresenta e devemos vivê-lo e aproveitá-lo ao máximo. O próximo
ano tem tudo para ser maravilhoso! Só depende de nós. Acredite em sua
capacidade. Se respeite! Cuide de ser feliz e não desista de correr atrás dos
seus sonhos. Olhe para o ano que passou com gratidão. Agradeça pelas nítidas
evidências de que a fé vence as dúvidas, que a esperança supera o desespero,
que a coragem se sobrepõe aos sofrimentos e, finalmente, da certeza absoluta de
uma vida eterna que vem após nossa passagem por aqui.
É mais um ano que se
encerra e outro que vem pela frente. O desafio maior é saber diferenciar o
aprendizado dos erros. Com o primeiro, devemos absorvê-lo, aprimorá-lo e levar
ao próximo ano. Já no segundo, devemos aprender a não errar duas vezes no mesmo
ponto! Vamos iniciar mais um capítulo com 365 páginas em branco de história
para cada um escrever no livro da vida.
Se você fizer promessas,
cumpra. Se idealizar metas, persista, seja resiliente e alcance. Melhore seu
mundo hoje e o amanhã certamente será melhor! Transforme cada dia deste novo
ano em linhas memoráveis do livro da sua vida. Deixe boas lembranças em seu
caminho.
Por Dr. Telmo Diniz
terça-feira, 24 de dezembro de 2019
Natal, te desejo
Desejo que a
palavra-chave desta data seja crescimento.
Sim, que você cresça em
tudo aquilo que deseja.
Cresça e se enterneça.
Desejo que você confie,
que supere, que sinta, perceba, esclareça e supere seus anseios mais antigos e
seus medos mais paralisantes.
Que neste momento você
sorria para si mesma e se des-envolva com tudo o que não te faz bem, feliz.
Que você se reserve o direito
de somente fazer “a diferença” para si mesma.
E o nome disso não é
egoísmo. É autocuidado!
Porque não lhe ensinaram
a diferença você se sente em permanente dívida com o outro, quando a sua maior
credora é você mesma.
Desejo que você perceba
que a sua maior empresa é seu mundo interno. Então, cuidado com o que você diz
e acredita.
Cuidado com o que te
disseram e fizeram acreditar.
Veja o que é seu e
devolva tralhas emocionais que lhe impuseram.
Olhe para si mesma com
amor fraternal e seja para si a melhor amiga que você gostaria de ter.
Perceba a importância de
se doar.
Partilhe mais coisas
boas, notícias incríveis e livre-se dos pesos mortos.
Natale-se!
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Cláudia Dornelles
Na manjedoura estava calmo e bom. Era de tardinha, ainda não se via a estrela. Por enquanto o nascimento era só de família. Os outros sentiam, mas ninguém via. Na tarde já escurecida, na palha cor de ouro, tenro como um cordeiro refulgia o menino, tenro como o nosso filho. Bem de perto, uma cara de boi e outra de jumento olhavam, e esquentavam o ar com o hálito do corpo. Era depois do parto e tudo úmido repousava, tudo úmido e morno respirava.
Maria descansava o corpo cansado, sua tarefa no mundo seria a de cumprir o seu destino e ela agora repousava e olhava.
José, de longas barbas, meditava; seu destino, que era o de entender, se realizara.
O destino da criança era o de nascer. E o dos bichos ali se fazia e refazia: o de amar sem saber que amavam. A inocência dos meninos, esta a doçura dos brutos compreendia. E, antes dos reis, presenteavam o nascido com o que possuíam: o olhar grande que eles têm e a tepidez do ventre que eles são.
A humanidade é filha de Cristo homem, mas as crianças, os brutos e os amantes são filhos daquele instante na manjedoura.
Como são filhos de menino, os seus erros são iluminados: a marca do
cordeiro é o seu destino. Eles se reconhecem por uma palidez na testa, como a
de uma estrela de tarde, um cheiro de palha e terra, uma paciência de infante.
Também as crianças, os pobres de espírito e os que amam são recusados nas hospedarias.
Um menino, porém, é o seu pastor e nada lhes faltará.
Há séculos eles se escondem em mistérios e estábulos onde pelos séculos repetem o instante do nascimento: a alegria dos homens.
Também as crianças, os pobres de espírito e os que amam são recusados nas hospedarias.
Um menino, porém, é o seu pastor e nada lhes faltará.
Há séculos eles se escondem em mistérios e estábulos onde pelos séculos repetem o instante do nascimento: a alegria dos homens.
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Clarice Lispector
segunda-feira, 23 de dezembro de 2019
assim é a vida
Árvores caem. Celulares
ficam sem bateria. Canetas perdem a tinta bem na hora da assinatura. Iogurtes
esquecidos na geladeira passam do prazo de validade. Crianças gritam durante o
recreio. Fones de ouvido estragam logo. Sofás desbotam se expostos ao sol.
Folhagens murcham. Gatos
afiam as unhas no tapete. Óculos entortam dentro da bolsa. Chove às vezes por
quatro dias seguidos. Esmaltes descascam. Consultas médicas são desmarcadas.
Abdominais custam a dar resultado. Vizinhos escutam música ruim que entra por nossas
janelas.
Pontas de lápis quebram.
Copos também, pratos lascam. Números não identificados ligam para nossos
celulares. Motoristas de aplicativos não conhecem as ruas da cidade. Roupas
velhas emboloram. Garçons erram pedidos. Vinho mancha. Botões não fecham quando
a gente engorda. A gente engorda.
A diarista adoece e
falta. Carros enguiçados atrapalham o trânsito. Cachorros fedem quando não
tomam banho. Chaves são perdidas. Voos atrasam. Serviço de quarto de hotel é
demorado. Políticos mentem. Times empatam em 0 x 0. Horóscopos não acertam.
Discursos se arrastam. Churrascos queimam se o assador se distrai.
Violões desafinam. Amigos
somem. O dólar sobe na véspera da viagem. Histórias não batem. Sites de bancos
emperram. Ninguém compra o apartamento que colocamos à venda. Chatos nos
alugam. Idiotas apertam em todos os andares do elevador. Motores apagam no meio
do engarrafamento. Os convidados erram no presente.
Malas extraviam. Tomates
apodrecem. Testes de bafômetro dão positivo. Filhos não comem direito. Terapias
demoram. Salsichas são suspeitas. Roda-se em provas de autoescola. Corretores
de whatsapp nos constrangem. Infiltrações na parede se repetem. Prédios altos
tapam a visão. Filmes saem de cartaz. Baratas aparecem.
Chatices acontecem. E os
resmungões nos alugam.
Mas novidades aparecem.
Coisas boas se repetem. Testes de gravidez dão positivo. O beijo é demorado.
Reuniões de condomínio são desmarcadas. Pessoas interessantes ligam para nossos
celulares. Tiranos caem. Pessimistas não acertam. Dá praia por quatro dias
seguidos. Cachoeiras não fecham. Preconceitos somem. Recordes são quebrados.
Amantes se conhecem no meio do engarrafamento. A temperatura sobe na véspera da
viagem.
Vizinhos escutam música boa que entra por nossas janelas. Homofóbicos
saem de cartaz. Espumantes são abertos bem na hora da assinatura. Amores não
acabam quando a gente engorda. A vida se renova se exposta ao sol.
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Martha Medeiros
domingo, 22 de dezembro de 2019
proposta de Natal
Não, eu também não
acredito que só porque é dezembro e porque é Natal tudo vai se transformar como
num passe de mágica. O vermelho e verde dos enfeites me encanta, mas não me
ilude tanto assim! A pauta de cada um continua a mesma, embora haja sim uma
pausa de alguns dias. E acredito na importância desses dias.
Quem é católico comemora
o nascimento de Cristo, refaz seus votos. Outros cristãos comemoram de outras
formas. Quem é judeu participa do Chanukah, quem é budista medita e quem é
cético aproveita o feriado. Cada um aproveita como lhe convém. Quem tem
parentes longe se reúne, quem não tem junta os amigos. E tudo isso é muito mais
que uma mera comemoração. São os rituais que ao longo do tempo o homem criou
para se dar um pouco de fraternidade, um momento de alegria em meio aos nossos
dias tão endurecidos pela vida. E nós precisamos disso!
A mensagem deste ano é a
de uma cidadã comum, que como todos tem licença para parar por alguns dias,
celebrar a vida com as pessoas que ama e depois seguir em frente.
Celebre mais, coma e beba
menos. Alimente a alma o quanto quiser e o corpo apenas o necessário. A sua
saúde agradece. Presenteie mais com presença do que com presentes. Você será
lembrado por muito mais tempo. Mande recado para quem está longe, é saudável e
a tecnologia nos permite, mas não se esqueça de abraçar fortemente quem está
perto, quem passa o dia-a-dia com você. Em tempos de redes sociais, quem está
próximo anda carente.
Invista nos momentos,
invista nas companhias. Eu garanto a você que não existe forma melhor de “lavar
a alma” do que uma noite de prosa com pessoas agradáveis. Permita-se a saudade,
o choro pela perda de alguém querido. A lágrima liberta e precisamos de
liberdade para seguir. Permita que seus filhos vivam o encantamento do Natal,
afinal, é só na infância que o Natal tem essa magia. Daqui a pouco eles vão
crescer e você só terá a lembrança desses dias. E embora a fraternidade devesse
ser parte de nosso cotidiano, se você não o fez ainda dá tempo. Vivemos num
país desigual e ainda há muito mais necessitados do que você pode imaginar.
Converse mais, converse
com pessoas diferentes de você. Se você é jovem, converse com os mais velhos,
se é mais velho, experimente alguns minutos de conversa com a moçada. É uma
grande oportunidade de aprendizado para ambos. Seja criança por um dia. Permita-se
tirar uma lasquinha no peru, bisbilhotar o presente do próximo, tirar uma foto
descabelada, beijar a sua mãe de repente, comer uma rabanada antes da hora.
Arranque o riso das pessoas, arranque o seu riso e experimente um jeito novo de
se revigorar.
Seja qual for a sua forma
de comemorar, faça as pazes com você antes de ir. E quando for comemorar
abrace. Abrace muito e todos à sua volta. O abraço queima calorias e produz
endorfina, o hormônio da felicidade. O segredo é desatar os nós, sem desfazer
os laços!
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Leila Rodrigues
Ela terá um menino, e
você porá nele o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos pecados deles.
Tudo isso aconteceu para
se cumprir o que o Senhor tinha dito por meio do profeta:
“A virgem ficará grávida
e terá um filho
que receberá o nome de
Emanuel.”
(Emanuel quer dizer “Deus
está conosco”.)
Mateus 1:21-23 / NTLH
sexta-feira, 20 de dezembro de 2019
acreditar no Natal
Acreditei em Papai Noel
por muitos anos. Menina do interior com a fantasia sempre a mil, ele fazia
parte das minhas histórias encantadas.
Até uns 7 anos de idade,
eu também acreditava na cegonha e no coelho da Páscoa. Quando o pôr-do-sol
tingia o céu, diziam-me que os anjinhos começavam a assar aqueles biscoitos de
Natal que se faziam em todas as casas da pequena cidade.
Trovoadas de começo de
verão eram São Pedro arrastando os móveis para a fábrica de brinquedos ter mais
espaço.
Na antevéspera de Natal,
um recanto da sala era ocultado por lençóis estendidos, e ali atrás ocorria o
milagre: na noite de 24, com o coração saltando de ansiedade, a gente escutava
sininhos como que de prata: era hora. Levada pela mão da mãe ou do pai, eu
entrava na sala, de onde os lençóis tinham sido removidos, e lá estava ela: a
árvore de Natal, toda luz de velas, toda cor de esferas, e embaixo os
presentes.
Muitíssimo menos dos que
se dão hoje às crianças, mas havia presentes.
Cantávamos canções
natalinas, todo mundo se abraçava, depois abríamos os pacotes e comíamos a
ceia. No dia seguinte, chegavam tios, primos, alguns amigos. Era só isso, sem
alarde, mas com emoção. Guardei a sensação de que Natal é fraternidade, é
reconciliação, é alegria de estar junto, é a chegada de pessoas queridas, é o
tempo da família.
Para quem não a tem, é o
tempo dos amores especiais.
Não éramos
particularmente religiosos, mas uma de minhas avós, luterana convicta, na manhã
seguinte me levava à igrejinha, onde eu gostava de cantar. Algo de muito bom se
comemorava nesse tempo, o nascimento de Cristo e a esperança dos povos. Nem
tudo seria guerra e perseguição, pobreza, crueldade, injustiça.
As pessoas se queixam
muito de que o Natal hoje é só comércio. Depende de quem o comemora. Se me
endivido por todo o próximo ano comprando presentes além de minhas
possibilidades, pois no fundo acho que assim compro amor, estou transformando o
meu Natal num comércio, e dos ruins. Se entro nesses dias frustrado porque não
pude comprar (ou trocar) carro, televisão, geladeira, estou fazendo um péssimo
negócio para minha alma. E, se não consigo nem pensar em receber aquela sogra
sempre crítica, aquele cunhado cínico, aquele sobrinho malcriado, abraçar o
detestado chefe ou sorrir para o colega que invejo, estou transformando meu
Natal num momento amargo. Então, depende de nós.
Claro que há as
tragédias, as fatalidades, doença, morte, desemprego, alguma maldade – essas
não faltam por aí. Um avô meu morreu de doença muito dolorosa, na véspera de
Natal. Foi a primeira vez que vi um adulto, minha avó, chorando. Há poucos
anos, minha mãe morreu na antevéspera de Natal, depois de longuíssimo tempo de
uma enfermidade maldita. Mas foram também ocasiões de conforto e consolo,
abraço, amor e entendimento.
Na medida em que não se
podem dar muitos e caríssimos presentes, talvez até se apreciem mais coisas
delicadas como a ceia, o brinde, o carinho, os votos, a reunião da família, o
contato emotivo com os amigos, mensagens pelo correio ou e-mail, música menos
barulhenta e aroma de velas acesas.
Mais que tudo isso, o
perfume de uma esperança ainda que realista. A crise nas finanças pode
incrementar a valorização dos afetos. Se não pudermos viajar, curtiremos mais
nossa casa. Se não há como trocar velhos objetos, vamos cuidar mais dos que
temos. Se não podemos comprar o primeiro carro, vamos olhar melhor nossos
companheiros no metrô.
Vamos curtir mais nossos
ganhos em afeto.
Não é preciso ser
original para escrever sobre o Natal. A gente só quer que ele seja tranquilo e
gostoso, e que nos faça acreditar: em Papai Noel, em anjos, em famílias
amorosas ou amigos fiéis, em governantes mais justos e líderes mais capazes, em
um povo mais respeitado – em alguma coisa a gente acaba sempre acreditando.
Porque, afinal de contas,
é a ocasião de ser menos amargo, menos crítico, menos lamurioso e mais aberto
ao sinal deste momento singular, que tanto falta no mundo: a possível alegria,
e o necessário amor.
terça-feira, 17 de dezembro de 2019
lapsos
A entrevista era
para uma rádio e foi dada por telefone, o que me salvou do vexame. Os ouvintes
não me viram fechando os olhos, franzindo o cenho, buscando no fundo do cérebro
a palavra que não vinha. Cheguei a dar dois soquinhos na testa, tentando acordar
alguém lá dentro. Não adiantava. Era um verbo básico, corriqueiro, desses que a
gente usa toda hora, mas desapareceu. E eu ali, com a frase pela metade, sem
conseguir concluir. Desesperador. Esse tipo de vacilo parece durar cinco
angustiantes minutos, e não apenas cinco segundos, que é o tempo que a gente
costuma levar pra buscar uma expressão substituta.
Nada a ver com
nervosismo ao falar em público. Acontece a mesma coisa quando estou tendo uma
conversa informal: na hora que a palavra vai sair pela boca, evapora. Fico
feito uma pateta, sem lembrar o que ia dizer. Outro dia, estava recomendando
uma profissional para uma amiga, e queria usar um adjetivo para valorizá-la. E
a droga do adjetivo não vinha. “Ela é muito... como diz? Muito... muito....
como diz quando a pessoa é... quando ela não faz....”
Minha amiga
tentava ajudar. “Muito econômica? Muito honesta?”
“Não, não... Ela
é muito....ah, caramba, como diz quando a pessoa é... quando não se.... quando
fica na dela... DISCRETA!!! Ela é muito DISCRETA!!!”
Essa era eu,
exaltada pela vitória. Minha amiga e eu rimos à beça, ela também tem seus
lapsos.
A senilidade,
dizem, é a causa dessa amnésia ocasional. Pode ser, aceito o diagnóstico sem
resmungar, mas acho que, no fundo, é cansaço. A gente passa a vida dando
explicação, emitindo opiniões, tentando se fazer entender. Lá pelas tantas,
esgota. Tenho procurado falar menos e escutar mais, não por ser magnânima, mas
por pura preguiça. Não tenho mais energia para provocar discussões ou
prolongá-las. Já não me entusiasma fazer alguém mudar de ideia, buscar
argumentos para convencê-la disso ou daquilo. Muito esforço. O silêncio nunca
me pareceu tão confortável.
Assim sendo,
aproveitando que ando mais relaxada, meu vocabulário anda disperso. Às vezes,
quando estou conversando com alguém e começo a contar uma história, não
encontro um determinado verbo na ponta da língua, onde ele deveria estar. Não
sei onde se mete. Some junto com algum substantivo.
Deve acontecer
com você também, de vez em quando. Não chega a ser grave, mas é... como que
diz... é... ah, meu Deus... é.... CONSTRANGEDOR! Isso, constrangedor. Então,
por via das dúvidas, ando reduzindo as atividades em frente ao microfone e me
afastando de plateias numerosas. Para evitar fiascos, já que estou sendo
paulatinamente abandonada pelas palavras, logo por elas. De escritora para
ex-critora, em breve. Sem drama, continuemos a rir.
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Martha Medeiros
sexta-feira, 13 de dezembro de 2019
o homem ideal
Ele existe, sim. E,
graças a Deus, está muito longe da perfeição.
O homem ideal me faz rir,
mas nunca usa o riso contra mim.
Tem a rara habilidade de
saber ouvir e só diz o que é necessário, bom ou a dura e intransponível
realidade.
Compreende a diferença
entre estar presente e fazer companhia.
Não é prolixo, nem tenta
impressionar.
Não precisa entender de
vinho, charutos ou golfe; precisa ser autêntico e admitir que não entende de
vinho, charutos nem de golfe (e eventualmente confessar que gosta mesmo é de
pinga).
Ele não exige a todo
instante meu lado risonho porque sabe, como sabe de tantas outras coisas não
ditas em sentenças ou discursos, que os dias negros fazem parte de mim.
Nota as sutis alterações
de humor pelo tom da minha voz e, antes de prejulgar as razões, se predispõe a
fazer cafuné ou, sensato, cala-se ao meu lado olhando para a TV.
E não exige explicações
porque possui uma calma sabedoria que me impele em sua direção: dividir minhas
angústias e anseios com este homem é tão acolhedor quanto deitar na grama sob o
sol de outono.
O homem ideal me dá
bronca quando abuso da minha independência ou como chocolate demais e depois
reclamo do peso.
Ele compra sorvete light
e evita discussões posteriores.
Compreende que preciso da
sensação indescritivelmente libertadora de sumir por algumas horas e, mesmo não
concordando com ela, não me interroga como um oficial do DOI-Codi quando piso
em casa, levemente para não o acordar, às 2 da manhã.
O homem ideal canta.
Não precisa ser afinado,
mas sussurra (seja ao telefone ou ao vivo) canções que, num dia qualquer,
mencionei gostar.
Pode saber dançar.
E, se não souber, que
mantenha a dignidade e fique sentadinho me observando.
Também bebe.
Meio pinguço, é daqueles
que ficam charmosos de matar com um copo de uísque nas mãos.
É deliciosamente sacana
três doses acima do normal.
Enterra os bons modos e
fecha abruptamente a porta do quarto, sem tempo para que eu responda à pergunta
nem sequer formulada.
Adormece aconchegado a
mim, mas não suporta ficar agarrado durante toda a noite.
E também curte cozinhar.
Diverte-se tanto numa
loja de condimentos como diante de uma prateleira de CDs.
Não me expulsa da cozinha
mesmo que eu esteja atrapalhando.
Não me dá fusilli na boca
mas o serve no meu prato, com pouco queijo e muito molho.
O homem ideal está sempre
disposto a me ouvir, mesmo que seja nos minutos desagendados à força durante o
dia cheio, e não usa trabalho nem cansaço como desculpa para suas eventuais
faltas; as assume e, até, se desculpa.
Não se esquiva de
discutir os problemas que não se solucionam com notas de 100.
Não considera fraqueza
dizer que me ama.
Pede ajuda quando sente
que o peso colocado sobre seus ombros extrapolou sua força.
E chora.
Não faz promessas porque
sabe que nem sempre é possível cumpri-las.
Vive regido por sua
consciência e, impulsivo, assassina a etiqueta e comete atos passionais.
Então faz besteiras,
erra, engana-se.
E nem por isso deixa de
ser maravilhoso - apenas segue sendo magnífica e tropegamente humano.
O homem ideal é
imperfeito,
numa imperfeição que
combina exatamente com a minha.
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Ailin Aleixo
quarta-feira, 11 de dezembro de 2019
sempre em dezembro
Já foi moda fumar. Já foi
moda ser gordo. E tem gente que acha bonito ser anoréxico. Pergunto-me como é
que essa insanidade coletiva se prolifera? Será que um indivíduo começa e os
outros, por falta de originalidade, copiam? Uma incógnita que muitos autores
procuram responder em seus livros de autoajuda.
Porém, trazendo aos
nossos dias de hoje, a moda agora é não ter tempo. Essa é a insanidade coletiva
do momento. É bonito ser uma pessoa atarefada. Pelo menos passa a impressão de
empenho, de produtividade. O que não é nem um pouco verdade, mas é o que
modismo ditou e todos responderam "Amém".
E quando chega dezembro
então, correr vira uma obrigação social. Se você encontrar alguém que não
esteja atarefado, com a agenda cheia ou louco para o ano acabar, pode abraçar
porque este é sujeito anormal. Provavelmente esta pessoa é alguém mais evoluído
que a maioria, alguém que já transcendeu às agruras do século XXI e sabe viver
sem se deixar levar pelo consenso coletivo.
Dezembro é realmente
atípico, isto nós não vamos conseguir mudar. São confraternizações,
encerramentos, despedidas, compras, bebidas, comidas, presentes. Só de falar já
ficamos cansados. Tudo que não foi resolvido, discutido, controlado ou feito
durante o ano, procura-se fazer dentro do mês de dezembro. Desde os afazeres
mais simples até a caridade. Tivemos 11 meses para fazer e não o fizemos. E no
final do ano temos o descaramento de dizer que vamos fazer tudo em mês.
Dizem que se soubéssemos
o dia de morrer, viveríamos intensamente até o nosso penúltimo dia. Fim de ano
parece com isso. É como se, sabendo que ano vai acabar, embarcamos todos numa
corrida louca para dar a volta em nossos mundos em 30 dias. Parece uma gincana
da vida real. Todos correndo para entregar no dia 31, o prêmio de execução do
ano para si mesmo. Alguns até conseguem, embora deixem no caminho mortos,
feridos e descompensados. Mas a grande maioria morre na praia e acaba jurando
que, no próximo ano tudo vai ser diferente.
Talvez sejam essas nossas
juras platônicas de conversão que fazem de nós eternos mentirosos. Se pararmos
de prometer que vamos melhorar, quem sabe não iniciamos uma melhora sem
compromisso? Basta sairmos da onipotência de acharmos que temos que dar conta
de tudo, que somos os melhores, que ninguém é capaz de fazer melhor que nós.
Pode ser um pequeno começo para uma grande mudança. Só é preciso tentar.
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Leila Rodrigues
O homem é o único ser na
natureza que tem consciência de que vai morrer, e o futuro da raça humana será
muito melhor do que o seu presente. Mesmo sabendo que seus dias estão contados
e tudo irá se acabar quando menos espera, o homem faz da vida uma luta digna de
um ser eterno. O que as pessoas chamam de vaidade – deixar obras, filhos, fazer
com que seu nome não seja esquecido – considero a máxima expressão da dignidade
humana.
Acontece que, criatura
frágil, ele sempre tenta ocultar de si mesmo a grande certeza da Morte. Não vê
que ela é que o motiva a fazer as melhores coisas de sua vida. Tem medo do
passo no escuro, do grande terror do desconhecido, e sua única maneira de
vencer este medo é esquecer que seus dias estão contados. Não percebe que, com
a consciência da Morte, seria capaz de ousar muito mais, de ir muito mais longe
nas suas conquistas diárias – porque não tem nada a perder, já que a Morte é
inevitável.
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Paulo Coelho
segunda-feira, 9 de dezembro de 2019
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