"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 26 de julho de 2018

casa de vó



Eu faço todo o possível para respeitar a opinião e o gosto alheios. Ainda não cheguei à tolerância total, mas tenho feito progressos. Hoje consigo aceitar tranquilamente que alguém considere água tônica uma delícia ou que seja fã da Banda Calypso. Cada um na sua. Mas preciso evoluir mais, muito mais, porque ainda fico perturbada quando alguém diz que foi passar a lua-de-mel na Disney. Tudo bem, é uma escolha, um direito, o que tenho a ver com isso? Ainda assim, não consigo evitar o espanto. Dois adultos apaixonados em lua-de-mel na Disney. Jantando com o Mickey!

Isso não significa que eu seja desprovida de espírito lúdico e de apreço à fantasia. Certa vez ouvi a Luana Piovani, num programa de tevê, dizer que a casa dos avós dela foi sua Disney. Bingo. A casa da minha avó também foi, Luana. Tinha uma espécie de morro nos fundos da casa, todo gramado, que dava para um outro nível do quintal. Bem no centro desse morro (deve ser um morrinho, mas a memória de uma criança não respeita proporções exatas) havia uma pequena escada de pedras, porém a gente subia sempre pela grama, claro. Éramos treze primos fazendo trekking naquele latifúndio. Lá em cima havia a churrasqueira e algumas árvores, mas o mais tentador era um quartinho misterioso, um depósito meio sem função, nosso QG infantil, que às vezes servia de casa de bonecas, em outras, de redação de jornal - eu tinha o topete de escrever as aventuras da família.

Se os fundos da casa eram mágicos, a casa propriamente dita era nossa Neverland. Tinha lareira, tinha adega, tinha sótão. Era como estar dentro de um cenário de filme, e havia também a Lúcia, uma empregada alemã que parecia uma agente da Gestapo, nunca vi loira tão séria e retesada, mas preparava um cachorro-quente que jamais os Estados Unidos viram igual. Sério: a casa da avó da gente desbanca qualquer Epcot Center.

Hoje essas casas antigas estão sendo derrubadas para dar lugar a prédios imensos, mas mesmo dentro de um apartamento é possível existir “uma casa de avó”, porque casa é só uma maneira de chamar, o que vale é o espírito do lugar, e havendo uma avó que entende seu papel de proprietária não de um imóvel, mas de um segredo, estará garantida a magia.  Casa de vó é onde a lasanha e o pastelão ganham um sabor diferente, onde os ponteiros do relógio correm mais lentos, onde os ruídos são mais audíveis, onde o teto parece mais alto, onde a luz entra mais discreta entre as persianas, onde os armários escondem roupas antigas e fundos falsos, e só isso é falso, tudo mais é verdadeiro. Casa de vó é onde os brinquedos não surgem prontos, são inventados na hora. É onde a gente encontra os restos da infância dos nossos pais. E fotos de bisavós, de tios... epa, este sujeito aqui, quem é? Acalme-se, é o namorado novo da sua avó, você achou que ela ficaria viúva para sempre? Ela é sua avó, não um Matusalém.

Se as avós não são as mesmas de antigamente, em suas casas ainda sobrevive um encanto que não muda. Serão sempre lugares secretos onde encontraremos um instrumento sem uso, alguns recortes de jornal, anéis coloridos, um bicho meio pulguento, uma máquina de escrever ou de costura, algo que seja estranho aos olhos de uma criança - e espaço, muito espaço para uma imaginação que não é estimulada nem na Disney nem na rotina maluca de hoje, só mesmo lá dentro, no endereço do nosso afeto mais profundo, onde tudo é permitido.

#dia dos avós




Assim já não sou eu quem vive, mas Cristo é quem vive em mim. E esta vida que vivo agora, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se deu a si mesmo por mim.

Gálatas 2:20 / NTLH

quarta-feira, 25 de julho de 2018


“O escritor original, enquanto não está morto, é sempre escandaloso.”

Simone De Beauvoir
#dia do escritor


perder a viagem




Você pede ao patrão para sair mais cedo do trabalho, pega um ônibus lotado, vai para um consultório médico que fica no centro da cidade, gasta seus trocados, seu tempo e seu humor, e, ao chegar, esbaforido e atrasado, descobre através da secretária que sua hora, na verdade, está marcada para semana que vem. Sinto muito, você perdeu a viagem.

Todo mundo já passou por uma situação assim, de estar no lugar errado e na hora errada por pura distração. Acontecendo só de vez em quando, tudo bem, vai pra conta dos vacilos comuns a qualquer mortal. O problema é quando você se sente perdendo a viagem todos os dias. Todinhos. É o caso daqueles que ainda não entenderam o que estão fazendo aqui.

Estão perdendo a viagem aqueles que não se comprometem com nada: nem com um ofício, nem com um relacionamento, nem com as próprias opiniões. Estão sempre flanando, flutuando, pousando em sentimento nenhum, brigando por idéia nenhuma, jamais se responsabilizando pelo que fazem, pois nada fazem. Respirar já lhes é tarefa árdua e suficiente. E os dias passam, e eles passam, e nada fica registrado, nada que valha a pena lembrar.

Estão perdendo a viagem aqueles que, em vez de tratarem de viver, ficam patrulhando a existência alheia, decretando o que é certo e errado para os outros, não tolerando formas de vida que não sejam padronizadas, gastando suas bocas com fofocas, seus olhos com voyeurismo, sem dedicar o mesmo empenho e tempo para si mesmo.

Estão perdendo a viagem aqueles preguiçosos que levam semanas até dar um telefonema, que levam meses até concluir a leitura de um livro, que levam anos até decidir procurar um amigo. Pessoas que acham tudo cansativo, que acreditam que tudo pode esperar, que todos lhe perdoarão a ausência e o descaso.

Estão perdendo a viagem aqueles que não sabem de onde vieram nem tentam descobrir. Que não sabem para onde ir e nem tentam encontrar um caminho. Aqueles para quem a televisão pode tranqüilamente substituir as emoções.

Estão perdendo a viagem aqueles que se entregam de mão beijada às garras do tédio.



Mais do que na força das palavras, eu acredito no poder das atitudes. Na grandeza dos gestos. Nas sutilezas das ações. 
Guarde seus dizeres para utilizá-los depois que fizer. Eles serão apenas um complemento. 

Palavras quando não nadam sincronizadas com nossos pés, não chegam a lugar algum. Não dizem absolutamente nada. 
É na coerência das ações que a gente se encontra e o outro nos reconhece.”



Lembrem disto: quem planta pouco colhe pouco; quem planta muito colhe muito. Que cada um dê a sua oferta conforme resolveu no seu coração, não com tristeza nem por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria. E Deus pode dar muito mais do que vocês precisam para que vocês tenham sempre tudo o que necessitam e ainda mais do que o necessário para fazerem todo tipo de boas obras. 

2 Corintios 9:6-8 / NTLH

segunda-feira, 23 de julho de 2018



Espere por mim, moreno,
Espere que eu chego já
O amor por você moreno
Faz a saudade me apressar.

[ Espere por mim, morena / Gonzaguinha ]


#partiu Belô


O rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos.

De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim na rua entre os camelôs. Vezes outras a entrevejo no espelho de uma joalheria. A mulher madura, com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, tem qualquer coisa de Melina Mercouri ou de Anouke Aimé.

Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda.

A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas as envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo.

A mulher madura é assim: tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.

A adolescente, com o brilho de seus cabelos, com essa irradiação que vem dos dentes e dos olhos, nos extasia. Mas a mulher madura tem um som de adágio em suas formas. E até no gozo ela soa com a profundidade de um violoncelo e a sutileza de um oboé sobre a campina do leito.

A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto. Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos. Por isto as suas mãos são líricas no drama e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril.

O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história. Inscrições se fizeram em sua superfície. Seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade. Ela conhece seus mecanismos, apalpa suas mensagens, decodifica as ameaças numa intimidade respeitosa.

Sei que falo de uma certa mulher madura localizada numa classe social, e os mais politizados têm que ter condescendência e me entender. A maturidade também vem à mulher pobre, mas vem com tal violência que o verde se perverte e sobre os casebres e corpos tudo se reveste de uma marrom tristeza.

Na verdade, talvez a mulher madura não se saiba assim inteira ante seu olho interior. Talvez a sua aura se inscreva melhor no olho exterior, que a maturidade é também algo que o outro nos confere, complementarmente. Maturidade é essa coisa dupla: um jogo de espelhos revelador.

Cada idade tem seu esplendor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago de juventude, um brilho de raquetes e pernas sobre as praias do tempo. Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um descubra o fulgor do próprio corpo.

A mulher madura está pronta para algo definitivo.

Merece, por exemplo, sentar-se naquela praça de Siena à tarde acompanhando com o complacente olhar o vôo das andorinhas e as crianças a brincar. A mulher madura tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia. Descolou-se da superfície das coisas. Merece profundidades. Por isto, pode-se dizer que a mulher madura não ostenta jóias. As jóias brotaram de seu tronco, incorporaram-se naturalmente ao seu rosto, como se fossem prendas do tempo.

A mulher madura é um ser luminoso é repousante às quatro horas da tarde, quando as sereias se banham e saem discretamente perfumadas com seus filhos pelos parques do dia. Pena que seu marido não note, perdido que está nos escritórios e mesquinhas ações nos múltiplos mercados dos gestos. Ele não sabe, mas deveria voltar para casa tão maduro quanto Yves Montand e Paul Newman, quando nos seus filmes.

Sobretudo, o primeiro namorado ou o primeiro marido não sabem o que perderam em não esperá-la madurar. Ali está uma mulher madura, mais que nunca pronta para quem a souber amar.

Affonso Romano de Sant'Anna



“Normalidade é uma ilusão: o que é normal para uma aranha é uma calamidade para a mosca.”

Mortícia Addams


Portanto, comete pecado a pessoa que sabe fazer o bem e não faz. 

Tiago 4:17 / NTLH

domingo, 22 de julho de 2018

mãezinha por toda a vida


Valorize a sua mãe. Será a única a visitá-lo no presídio, mais ninguém. A sua mulher, os seus filhos, o seu pai e os seus irmãos podem e não podem comparecer na sala de espera, depende do jeito como viveu e amou, depende do que fez antes.

Já a mãe dispensa pré-requisitos. Não exige condicional nenhuma: ela irá visitá-lo com certeza, será a primeira da fila, a última a sair, não importa o que aconteça, se tem razão ou está absolutamente errado, se cometeu o pior dos crimes ou o menor dos males, se é um monstro ou um tolo, se foi preso pelo colarinho branco ou por mão grande.

Mãe não julga. Não sai de perto. Não escolhe o lado. Mãe será a única que jamais o abandonará. Estará defendendo-o quando perder o crédito com o banco e a credibilidade com os advogados, estará preparando a sua comida predileta e levando numa marmita qualquer que seja o inferno.

Portanto, cuide de sua mãe. Ela será a única que não o demitirá com o tempo. Só existe uma pessoa fiel e leal no mundo, por maiores que sejam as divergências e a distância cultural entre vocês.

Aproveite a velhice de sua mãe, leve-a para passear semanalmente, convide para um cinema ocasionalmente, busque-a em casa para caminhar e tomar sol no parque, dê um presente fora de hora, compre um chocolate de exceção da dieta.

Divida os seus dias na bonança, pois somente ela estará com você na pobreza e na desgraça, na adversidade e na doença, mais ninguém.

Só ela rezará por você quando igreja nenhuma acreditar mais em sua salvação. Só ela manterá a confiança quando não encontrar mais padre e pastor dispostos a recolher sua alma. Só ela ouvirá sua versão até o fim quando não restar mais nenhum ouvido crente em sua inocência. Só ela cumprirá as promessas e os pactos.

Que perdoe o meu sacrilégio, mas bênção de mãe vale mais do que a de papa, mais do que a de anjo, mais do que a de santo. Mãe não desiste diante de um milagre, começa a acreditar porque é impossível.

Mãe tem um ventre que não cicatriza inteiramente, tem um coração que jamais despeja, tem uma fé que não se abala e jamais fecha por completo o quarto da infância.

Ofereça carinho e amparo a sua mãe enquanto desfruta de condições, enquanto é fácil, não a abandone ao acaso e à sorte, preserve a sua derradeira amizade, cultive a sua definitiva confidência.

Mãe é a última fronteira do amor.


“A ausência de respeito, cortesia, boas maneiras ou admiração, cria um estado de pobreza, não importa quanto dinheiro se possui”.

(Deepak Chopra)


“Faça a descoberta de si mesmo, e aos poucos você descobrirá que é mais seguro e compensador valorizar-se.”



Quem roubava que não roube mais, porém comece a trabalhar a fim de viver honestamente e poder ajudar os pobres.

Efésios 4:28  / NTLH

sexta-feira, 20 de julho de 2018


sexta-feira, 13 de julho de 2018

Carla Bruni e o rock’n’roll



Carla Bruni, ex-top model, cantora, compositora e primeira dama da França entre 2008 e 2012, declarou em entrevista, que seu casamento com o presidente Nicolas Sarkozy foi muito rocknroll, usando uma expressão pouco usual para definir um relacionamento. Geralmente, as relações amorosas estão mais para tango argentino.

A comparação com o rock veio do fato de ela, que sempre teve uma vida agitada, independente e fora dos padrões, ter se atrevido a um envolvimento formal com um chefe de Estado, cuja convivência exige o cumprimento de protocolos bem convencionais.

E a recíproca é verdadeira, pois não são muitos os mandatários de uma nação que se divorciam e depois se casam com uma artista que já é mãe e que tem no currículo namorados como Eric Clapton e Mick Jagger. Às favas com o bom-mocismo, o casal bancou o arranjo inusitado e parece levar muito bem sua relação.

O conceito “rock’n’roll”, ao menos da forma como foi utilizado por Carla Bruni, nada tem a ver com noitadas, bebedeiras e drogas. Diz ela que sua rotina com o marido é bastante tranquila e discreta, e o que a fez se apaixonar por Sarkozy foi a descoberta de que ele, um dos homens mais poderosos do mundo, era um dedicado amante da jardinagem. Como se explica esse bolero em lugar do heavy metal?

Por muito tempo, o rock sobreviveu de sua má fama. O músico Frank Zappa certa vez disse que um repórter de rock é um jornalista que não sabe escrever, entrevistando gente que não sabe falar, para pessoas que não sabem ler. Ajudou a colocar uma laje sobre qualquer sofisticação que o rock viesse a almejar – ainda bem que o rock nunca teve essa pretensão, mas teve outras e parece que as realizou.

O rock’n’roll deixou de ser apenas um gênero de música. Dizer que ele simboliza atitude virou um clichê intragável, mas foi o que Carla Bruni tentou exprimir com sua declaração, só que sob um enfoque ampliado.

A rebeldia do rock nada mais tem a ver com cortes de cabelo, modos de vestir ou hábitos ilícitos, e sim com o que lhe amparou os primeiros passos, lá atrás, nos tempos de Chuck Berry e Elvis Presley: a liberdade de fazer o que se quer, a despeito do que os outros vão pensar. Criar música não só para a alma, mas para o corpo. Provocar reações físicas, despertar os ânimos, desafiar o silêncio. Acordar.

Não é preciso guitarras para fazer barulho. As pessoas mais roqueiras que conheço são apreciadoras de jazz, bossa nova e música clássica. Um casamento rock’n’roll nada mais é do que um compromisso entre um homem e uma mulher com facilidade em aceitar mudanças, coragem para sair das zonas de conforto, capacidade de surpreender e autoconfiança para ser quem verdadeiramente são, estejam no palco em que estiverem.

É por isso que o rock, até então um substantivo que designava um estilo musical, expandiu-se. Analisado como postura de vida, foi promovido a adjetivo.

#dia do rock!


Alguém diz que sou bondosa:
está tão enganado que dá pena.
Alguém diz que sou severa,
e acho graça. 
Não sou áspera nem amena:
estou na vida como o jardineiro
se entrega em cada rosa:
corte, sangue, dor e aroma, para
que a beleza fique na memória
quando a flor passa.

(Amar é lidar com espinhos
de quem ama por inteiro:
Com força, não com fraqueza.)


Não dê testemunho falso contra ninguém. 

Êxodo 20:16  / NTLH

quarta-feira, 11 de julho de 2018



Já me perdi
em olhos azuis,
castanhos,
pretos,

mas ah!
Nesses teus olhos verdes,
neles eu me encontrei.

#modificado

o início da infidelidade


Não é nenhuma operação complexa definir a origem da infidelidade. Não depende de nenhum truque adivinhatório e macete psicanalítico.

A traição tem o seu início quando você passa a apagar as mensagens do WhatsApp. Se está apagando é que sabe que fez algo errado, que falou o que não devia, que passou do ponto, que abriu a guarda.

Ao deletar o histórico de um bate-papo e sumir com as próprias palavras, já tem a consciência do perigo daquele contato.

Você automaticamente se condenou, percebeu que existe um farto potencial para a sua companhia concluir de que se trata de um novo romance.

Conhece muito bem a sua namorada ou namorado, a sua esposa ou marido, para antecipar o que será dito a respeito da conversinha mole.

Se avaliou o material como ameaça à relação ou como gerador de ciúme, era para logo dar um basta ao mi-mi-mi.

As regras da monogamia são claras. Não existe meio-termo, atenuantes, desculpas. 

Sedução é traição, assim como um beijo é traição, assim como o sexo é traição.

Eliminar o conteúdo do celular tampouco trará tranquilidade, apenas lhe deixará com mais pinta de culpado.
O correto é voltar lá e desfazer insinuações, esclarecer as entrelinhas e objetivamente mostrar que não está a fim.

Remover as provas é dar seguimento para o erro, é proteger o flerte com o anonimato, é guardar a escada para depois pular a cerca, é assumir o risco de envolvimento, por mais que diga que não é nada, que só ocultou para não perder tempo explicando e que desejava evitar brigar por bobagem.

Quem não deve não teme, não precisa de modo algum adulterar os fatos. Deixa tudo documentado, registrado, do jeito que aconteceu.

WhatsApp editado é deslealdade.



Já reconheci em mim a arrogância sob o disfarce da mística.
Quis ser o deus de Deus,
dizendo a Ele o que seria melhor a ser feito.
Em minhas orações eu me descobri conselheiro Dele,
como se eu tivesse o conhecimento da verdade,
e Ele não.
O tempo desconstruiu os pilares desta falsa religiosidade. Percebi que aquela forma de rezar provocava em mim uma terrível desproteção.
Ao me imaginar acima de Deus, naturalmente perdia a oportunidade de Tê-lo como pai que tudo sabe de mim.
Hoje eu prefiro apresentar a Ele a minha vida.
Sem pedidos,
sem lamúrias.
E o que Dele vier, por meio de sua graça,
mas também de meu esforço e trabalho,
eu sei que é só o que realmente preciso.

Creia no Deus do impossível,
mas não alimente a pretensão de saber o que deve ser feito.
Rezar não é dar ordens a Deus.


O fim de uma coisa vale mais do que o seu começo. 

Eclesiastes 7:8-a / NTLH

terça-feira, 10 de julho de 2018



A expressão “tudo acaba em pizza” é muito usada para se referir a uma situação que não foi solucionada e ficou da mesma maneira que começou. Pode se referir a situações de impunidade, quando alguém não é responsabilizado por um ato grave que tenha cometido.
Ela se popularizou durante a crise política de 90, para depor Fernando Collor. 
Hoje, é uma dura crítica ao vício nacional sobre a impunidade dos crimes políticos.

Mas quem foi o primeiro a usar a expressão?
O jornalista Milton Peruzzi é o pai da criança. 
As histórias contam que a expressão foi criada para uma matéria da Gazeta Esportiva. 
Na década de 60, o clube do Palmeiras passava por uma série de conturbações, e os dirigentes do clube ficaram mais de 14 horas fazendo uma reunião para decidir o futuro do time.
Após a reunião, todos os dirigentes (que estavam morrendo de fome), pediram 18 pizzas gigantes. Milton Peruzzi estava presente na reunião e, no dia seguinte, publicou uma matéria com o seguinte título: “Crise do Palmeiras termina em pizza.”

A partir daí a expressão começou a ser utilizada para todos os tipos de brigas, acusações e escândalos que no final terminavam bem ou sem solução.

#dia da pizza

domingo, 8 de julho de 2018



Sou minha
ainda assim sou um tantinho dele
que é um pouco meu

Líria Porto

carta aos meus filhos adolescentes





Nossa relação mudará, não se assustem, continuo amando absurdamente cada um de vocês. Estarei sempre de plantão, para o que der e vier. Do mesmo jeito, com a mesma vontade de ajudar.

É uma fase necessária: uma aparência de indiferença recairá em nossos laços, uma casca de tédio grudará em nossos olhares.

Mas não durará a vida inteira, posso garantir.

Nossa comunicação não será tão fácil como antes. A adolescência altera a percepção dos pais; tornei-me o chato daqui por diante.

Perdi o favoritismo, não adianta surgir quicando uma bola e convidá-los para jogar - não acharão graça nenhuma. A bola só trará preguiça. Seguirão com as suas conversas no celular e seus afazeres. Levarei várias negativas em meus convites para piscina, cinema, teatro e jantares.

Prometo não levar para o lado pessoal, não ficarei ofendido por ser posto em segundo plano.

Eu me preparei para a desimportância, guardei estoque de cartõezinhos e cartas de vocês pequenos, colecionei na memória as declarações de “eu te amo” da última década, ciente de que não ouvirei nenhuma jura por um longo tempo.

A vida será mais árida, mais constrangedora, mais lacônica. É um período de estranheza, porém essencial e corajoso. Todos experimentam isso, em qualquer família, não tem como adiar ou fugir.

Serei obrigado agora a bater no quarto de vocês e aguardar uma licença. Existe uma casa chaveada no interior de nossa casa. Não desfruto de chave, senha, passaporte. Não posso aparecer abrindo a porta de repente. A educação aumentará a minha ansiedade, desesperará a minha saudade. Às vezes mandarei um WhatsApp apenas para saber onde estão, mesmo quando estiverem dentro do apartamento. Passarei essa vergonha.

Perguntarei como estão e ganharei monossílabos de presente. Talvez um ok. Talvez a sorte de um tudo bem. As confissões não acontecerão espontaneamente.

Nem tenho como arrumar a bagunça da escrivaninha e as roupas pelo chão. Irei me conter para não mexer em nada. Que difícil ser pai e não interferir. É uma profunda reeducação, doloroso aprendizado.

Não há mais como aparecer mandando, tudo o que eu falar receberá uma resposta irônica, e exigirá uma explicação de minha parte.

Durante a infância, vocês aceitavam qualquer parada. Eu é que me mostrava o difícil, o ocupado pelo trabalho. Puxavam a manga de minha camisa para largar o computador e cumprir as promessas. A situação se inverteu. Hoje sou o mendigo pela atenção de vocês.

Não haverá alegria para passear comigo pela rua. O sol é capaz de aborrecê-los. O prato do almoço vai esfriar na mesa - óbvio que me avisarão que querem dormir e comer mais tarde, de preferência sozinhos.

“Me deixe em paz” despontará como refrão diante de qualquer cobrança.

Precisarei ser mais persuasivo. Nem alcanço alguma ideia de como, para mim também é uma experiência nova, tampouco sei agir. Os namoros e os amigos assumirão as suas prioridades.

Verei vocês somente saindo ou chegando, desprovido de convergência para um abraço demorado.

Serei o velho de vocês. As minhas piadas serão velhas. O meu vocabulário será velho. As minhas implicâncias serão velhas. As minhas ordens serão velhas. Os meus programas serão de velho.

Já não me acharão um máximo, já não sou grande coisa. Perceberam os meus pontos fracos, decoraram os meus defeitos, não acreditam mais em minhas histórias, não sou a única versão de vocês. Qualquer informação que digo, vão checar no Google.

Mas vamos sobreviver: o meu amor é imenso para resistir ao teste da diferença de idade e de geração. Espero vocês do outro lado da ternura, quando tiverem a minha idade.