"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



segunda-feira, 30 de novembro de 2020


 #dia do síndico


sexta-feira, 27 de novembro de 2020


                                                                       
#se não comprar nada, o desconto é maior

quinta-feira, 26 de novembro de 2020


 

#dia da melancia


segunda-feira, 23 de novembro de 2020

medo do medo

 


Os medos espiam, espreitam, na parte escura do nosso inconsciente... com os anos crescem ou se esfumam, ou nos atormentam mais (ou menos).

 

Os meus eram enormes na infância, que foi a um tempo cheia de encantamento e de terror. Nunca soube por que, mas acredito que nascemos mais ou menos prontos, com uma bagagem psíquica que nos define. Algumas coisas podemos melhorar, outras farão parte da nossa personalidade e vida.

 

Já adulta jovem, morria de medo de atravessar sozinha o corredor da casa dos pais, ou mais tarde da minha. Seguidas vezes, eu adolescente, meu irmão pequeno me dava a mão, caminhava comigo até a porta de meu quarto e morria de rir. Eu me dividia entre rir de mim mesma e continuar com medo.

 

Acho que com os filhos chegando me obriguei a sacudir dos ombros essas escuras asas, pois era minha vez de cuidar dos meus pequenos amados. Hoje, não tenho medo nem de fantasmagorias, porque já tenho do lado de lá tantos mortos queridos.

 

Hoje vivemos numa era de medos: da violência, das maldades, dos desmandos e desgovernos, do empobrecimento, das dores do mundo que chegam em nossa casa o tempo todo. Sou adepta da internet, com a qual tenho me comunicado incessantemente nesses oito meses de confinamento - que respeito com alguma secreta rebeldia de menina batendo pé, eu quero, eu quero. Porém sinto no ar, no planeta, o medo óbvio dessa doença diabólica, desse vírus, de que muitos ainda debocham, que muitos desafiam e outros muitos têm direito - e dever - de recear.

 

Mesmo informada de tudo, em certos dias me desanima o ficar em casa, não receber quase ninguém, até família chegando, rara, mascarada ealcoolizada (uma amiga me perguntou, inocente e querida:Mas eles chegam bêbados?).

 

Sinto uma falta dos convívios normais de antes. De poder sair para almoçar no meu clube, pequeno e discreto, único que frequento, onde todos formamos uma família. De poder reunir no refúgio de Gramado, no mato, pessoas queridas, quando lá agora os vizinhos se cumprimentam acenando de longe.

 

Sempre fui um bicho da minha toca, uma mulher da minha casa, com meus livros, meus discos, meus amores - e por mais incrível que tenha sido a viagem, o momento de abrir a porta e chegar é sempre de uma profunda sensação de abrigo.

 

Estamos navegando todos nesse mar escuro, traiçoeiro, estranho, que até aos cientistas tem causado trabalho e perplexidades, e temos medo, sim. Não está em meus planos ir para uma UTI, ser entubada, enfim, não determino eu, mas me cuido, às vezes contrariada, revivendo tolamente a criança mimada que fui, mas a maioria das vezes curtindo tranquila os encontros virtuais, meus livros, minhas tintas e pincéis.

 

Tudo isso, tão pouco original, escrevo para dizer que o medo se justifica, é digno e necessário, precioso conselheiro, e por favor, amados leitores, amigos meus, cuidem-se. Perdoem-me, mas estes tempos de festas vão ser difíceis, intrigantes, incômodos... perigosos. Vamos inventar jeitos de amar, celebrar, sem perigo. A gente merece viver. E viver direito.

 

(Sim: eu também estou me achando muito chata escrevendo isso...)



 


Não permita que o medo direcione os seus passos. Não permita que o mau humor desarme o sorriso que enfeita a sua face. Não traga pro hoje as dores de ontem. Alague o coração de esperança e permita que o novo dia abrace apertado. Escreva novos sonhos, escreva novas histórias. 

Se (re)invente se for preciso. Não se deixe sabotar pelas incertezas, transforme a dúvida em caminhar.


Marcely Pieroni Gastaldi


 

Salmos 142:1-3

domingo, 22 de novembro de 2020


#dia universal da música


sábado, 21 de novembro de 2020

reverberação


O destino trama os dias

e desfaz o sonho: demarca

meus contornos, partes

disso que sou e serei.


Quem sabe desejei demais:
milagres não me bastaram,
mas quando eu quis ser rainha
fui simplesmente humana.

A voz da vida insiste,
chama para o que salva
ou desatina:
nem sempre a entendi.

Palavras buscam sentido
para o que fiz, falhei,
conquistei e perdi
– ou que me abandonou
nalguma esquina.

(Talvez eu precisasse é dos silêncios.)



Passo a passo a gente se afasta da tristeza mesmo que os motivos persistam, mesmo que o frio invada os espaços internos congelando o osso do sentimento. Não é mais o momento de viver uma decepção, mas de decapitá-la. Porque o que a gente merece, somente a gente sabe e deve reivindicar.

Fortalecer-se com tudo e apesar de tudo, mesmo que a dor lateje insistentemente, mesmo que haja tanto barulho no silêncio denso. Ter no caminho espiritual, ao menos, uma postura de honestidade consigo, com o outro: não se pode rezar para Deus enquanto se serve ao diabo. Desligar-se de tudo o que embaça tua visão e rasura teu riso: o comportamento alheio não é responsabilidade sua mesmo que você tenha apertado os gatilhos mentais para tal.

Não sejamos plateia da crueldade de quem se superioriza com ares profissionais de cuidador. Ninguém tem que te dar lições do alto do seu pedestal imaginário. Tua busca deve ser exatamente essa: rasgar todo e quaisquer véus de ilusão que persistam em maquiar e dar os nomes equivocados aos sentimentos.

Não confunda amor com carência. A raiva ou o medo não constroem amorosidades nem lapidam nosso comportamento. Não confunda a sensação de desamparo com impotência. Nosso eu superior tem absolutamente a força necessária para decidir e manter a decisão. Para escolher um novo protagonista dentro de um cenário transparente e respeitoso. Não fique onde seu coração não sente paz. Reescreva sua narrativa e troque os personagens.

Quando você engana, magoa, tiraniza, é o seu ego que está acessando os teus conhecimentos e fazendo o uso mais vil da tua suposta sabedoria. Muitos restam calmos perante o sofrimento causado, mas nada, absolutamente nada na vida é um ato sem consequência.

Você (es)colhe o que planta.



Salmos 32:1,2
#diariocomdeus

sexta-feira, 20 de novembro de 2020


 # dia da consciência negra

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

nada passa

 


Uma das músicas mais bonitas da MPB é aquela composta pela Nelson Motta e cantada pelo Lulu Santos, que diz que na vida tudo passa, tudo sempre passará como uma onda no mar. Linda. Mas é mentira.

 

A garota está sofrendo o diabo porque brigou com o namorado e a mãe consola com a frase de sempre: vai passar. O garoto levou bomba no vestibular e o melhor amigo diz: na próxima vez você passa. Analisando superficialmente, é verdade, a dor, um dia, cessa. Mas não se iluda: ela não bateu as botas, está apenas cochilando. Tudo passa? Nada passa!

 

É isso que ninguém tem coragem de nos dizer. A dor da perda, a dor de fracassar, a dor de não corresponder a uma expectativa, a dor de uma saudade, a dor de não saber como agir, de estar perdida, instável, de ter dúvidas na hora de fazer uma escolha, todas estas dores, que parecem pequenas para quem está de fora, nos acompanharão até o fim dos nossos dias. Elas não passam. Elas ficam. Elas aninham-se dentro da gente, o que não deve servir de motivo para pularmos de uma ponte. Mário Quintana escreveu que nós somos o que temos e o que sofremos. Sem dor, sem vida interior.

 

Não passam as dores, também não passam as alegrias. Tudo o que nos fez feliz ou infeliz serve para montar o quebra-cabeça da nossa vida, um quebra-cabeça de cem mil peças. Aquela noite que você não conseguiu parar de chorar, aquele dia que você ficou caminhando sem saber para onde ir, aquele beijo cinematográfico que você recebeu, aquela visita surpresa que ela lhe fez, o parto do seu filho, a bronca do seu pai, a demissão injusta, o acidente que lhe deixou cicatrizes, tudo isso vai, aos pouquinhos, formando quem você é. Não há nenhuma peça que não se encaixe. Todas são aproveitáveis. Como são muitas, você pode esquecer de algumas, e a isso chamamos depassou”. Não passou. Está lá dentro, meio perdida, mas quando você menos esperar, ela será necessária para você completar o jogo e se enxergar por inteiro.



#normal!



Ter vinte e poucos anos não quer dizer nada. Trinta. Quarenta. Quinze. Vinte. Noventa. 


O que importa, no fundo, é quem você é quando está sozinho. Como você é quando está acompanhado. 


O que sobra quando a luz apaga. O que resta quando o sol acorda.



 

Mateus 7:7-8

terça-feira, 17 de novembro de 2020





É, o vírus nos roubou os abraços

Pra gente se lembrar da importância desses laços:

Amizade, gentileza, perdão e misericórdia

E pode ser que a gente leve união onde houver discórdia

Luz onde houver trevas, esperança onde houver desespero

Que a gente entenda que a riqueza não é o dinheiro

E que os guerreiros de todos os serviços são essenciais

E que lembremos disso nos dias normais!

 

A cura tá no coração

Só procure mais amar do que ser amado

Onde houver discórdia, leve a união

Tamo junto e nosso amor nunca vai ser parado.

 

a cura tá no coração - Gabriel, o pensador


 


É preciso tomar cuidado com os rótulos

e as aparências, pois há muitas mulheres

mais valentes que homens,

homens mais sensíveis que crianças,

crianças mais sofridas que idosos,

idosos mais rápidos que jovens

e jovens mais sábios que idosos.


Há graduados que dão aula de ignorância

e analfabetos ensinando a vida.


E assim segue a estrada... 


Ler o rótulo de um vinho, nunca será igual

a sentir seu gosto.



 

Mateus 6:34

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

vida politizada

 


De pequena já implicava com política, essa entidade esquisita de que muito se falava. Comentários em geral não muito lisonjeiros e ficava imaginando por que alguém ambicionaria um cargo tão malvisto.

 

Certa vez, meu pai foi instado por seu partido a se candidatar à prefeitura de nossa pequena (naqueles tempos) cidade. Lembro dele se questionando, dialogando com minha mãe, caminhando de mãos nas costas no longo caminho de lajes que levava até o fim da propriedade.

 

Eu sabia que ele estava refletindo. Por fim, um dia anunciou na mesa do almoço que ia aceitar, fazer uma campanha limpa, sem falsas promessas, sem iludir as pessoas.

 

Não tenho grandes recordações de detalhes, eu devia ter seis ou sete anos, mas por algum tempo houve uma agitação diferente na casa. Meu pai saía de carro com companheiros parafazer campanha, e perguntando entendi que era pedir votos.

 

Achei esquisito, pois sendo ele conhecido e respeitado como homem culto, bom, honrado, por que não o escolheriam todos espontaneamente?

 

Quando mais uma vez perguntei, desta vez diretamente a ele, achou graça e me disse que até Cristo, vindo à Terra como candidato, não teria vitória garantida. Não entendi, mas fiquei achando perigosa e traiçoeira essa senhora Política.

 

Afinal, nessa sua única tentativa de se envolver com ela, entusiasmado com sua proposta de honradez, clareza e sinceridade, meu pai foi fragorosamente derrotado.

 

Não sei detalhes, sei de minha mãe chorando e repetindoeu te disse pra não se envolver nisso, meu pai alguns dias mais taciturno, muitos telefonemas chegando, e, por fim, alguma vez ele se dizendo aliviado,eu realmente não sirvo pra isso, muito sacrifício”.

 

Estou comentando essas memórias da remota infância nestes dias doidos em que tudo vira política, a começar pelo diabólico coronavírus:realidade ou invenção causando pânico planejado” ou “doença grave que parou o mundo, matou milhões e vai nos deixar mais pobres, atrasados e isolados, com que ninguém ainda sabe lidar direito?

 

Brigas políticas ou ideológicas (há diferenças, ideologia é palavra um pouco mais nobre?) atrasam lamentavelmente até uma possível vacina; enganam e prejudicam multidões que debocham de cuidados essenciais como isolamento e máscara; e, ao menos por aqui, deixam muita gente atordoada, agressiva, criando inimizades antes inimagináveis.

 

Talvez política não sirva para isso, mas idealmente deveria ajudar a pensar e a se posicionar para o bem geral, liderar com sabedoria e humanidade, e nos tornar um pouco mais tranquilos, realizados, ao menos esperançosos.

 

Lembro meus seis ou sete anos e nossas escolhas. Será que em algumas coisas progredimos?



 

 


A vida é um sopro.

Vivamos o hoje. Ele é tudo o que temos!



 

Salmos 37:4-5

domingo, 15 de novembro de 2020


 #já escorregou no santinho hoje?

quero ver Kamala dar sua risada


Hoje escolheremos prefeitos e vereadores em todas as cidades do país. Que os eleitos e eleitas tenham boas propostas e as cumpram, e que a gente não se arrependa do nosso voto. Fizemos nossa parte: analisamos currículos, acompanhamos debates, desconsideramos alguns partidos e agora é cruzar os dedos, pois saber no que vai dar, ninguém sabe.

 

Honestidade, inteligência e trajetória limpa são atributos básicos para acertar na escolha, mas fica melhor ainda quando, além de critérios objetivos, somos fisgados por um carisma que sobressai e provoca uma rara familiaridade: é como se a pessoa em questão fosse nossa amiga de uma vida toda. Um exemplo disso, lógico, é Kamala Harris, a vice-presidente que comandará os Estados Unidos com Joe Biden. Se ela desempenhará bem sua função, o tempo dirá, mas aquele sorrisão traz uma promessa nova.

 

Estou julgando Kamala pelo sorriso? Estou, e ela me ganhou, também, por ser uma mulher que dança. E, pra arruinar de vez minha reputação como analista política (coisa que não sou), adoro que ela use terno com tênis. Adoro. Nem vou comentar o fato de ser uma mulher negra, filha de imigrantes, e que essa diversidade é cada vez mais necessária num mundo que precisa se tornar menos engessado.

 

O universo político ainda se divide entre sisudos prolixos, que não permitem que adivinhemos o que eles sentem, e os vulgares, aqueles que tentam combater a sisudez sendo esdrúxulos. É preciso avisá-los que se pode ser espontâneo e educado ao mesmo tempo.

 

Kamala é uma boa referência neste momento em que voltamos às urnas. Ela ajuda a lembrar que as palavras importam tanto quanto as atitudes, o tom de voz, a linguagem corporal, o espírito de cada um. Líderes devem ser assertivos e determinados, mas, de minha parte, quero também que se emocionem, que sejam brincalhões, que cantem junto com a plateia num show, que não esperem que os empregados façam tudo por eles, que tenham tempo para os filhos. Que sorriam com naturalidade, que os olhos brilhem muito e que tenham facilidade em se comunicar, sem depender sempre de um ponto eletrônico no ouvido ou de um teleprompter.

 

Junto ao combate à corrupção, à violência e ao desemprego, que se elimine também a empáfia. Chega de representantes empertigados que não conseguem transmitir nada verdadeiro com a expressão do rosto. Que os que se elegerem neste dia 15 comemorem com uma gargalhada gostosa, com carinho sincero pela sua cidade e, também, com um pouquinho de espanto, aquele espanto bom e desafiador que nos atinge quando nos confiam uma missão muito séria. É através da humildade e da autenticidade que os eleitos conseguem algo raro: que seus eleitores se reconheçam neles.



 

Todo poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido

 

#o povo é o patrão

sqn


 Mateus 8:24-26


sábado, 14 de novembro de 2020

 


O voto é a única arma de que dispõem os que não têm outras armas - nem dinheiro, nem poder, nem amizades políticas.



 

 


Não é pra ser só dureza. Tem o olhar de quem ama a gente. As flores todas espalhadas pelos caminhos. O beijo bom de Deus revelado nas pequenas dádivas dos instantes.


Não é pra ser só dureza. Tem a arte. A mágica dos encontros que começam na alma. Um jeito nosso de brincar que ainda é menino. Os prazeres preferidos que continuam a existir.


Não é pra ser só dureza. Tem a gratidão sincera por um bocado de bênçãos. A paixão. Os olhos dizendo estrelas, admirados pelas belezas que se vê e aquelas que só podem ser sentidas.


Não é pra ser só dureza. Tem passarinho no ouvido. Coração que ainda sonha. Lua toda lindona. Bichinho de estimação. Música e poesia. Tem sentimento bom.


Não é pra ser só dureza. Tem o amor.



 

Jó 19:25

@biblia.verso

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

tempo de abrir espaço


 

Outro dia, vi numa rede social as imagens de um pequeno grupo de homens e mulheres fazendo uma fogueira no meio da rua para queimar máscaras – sim, as máscaras que temos usado para nos proteger da Covid-19. Enquanto as máscaras ardiam, eles gritavam:fora, comunistas!. Uma palinha do que deve ser um hospício.

 

A pandemia foi politizada, é um fato, mas tem algo mais profundo por trás desses surtos. Acho que é medo das transformações do mundo. Um medo à toa, pois não há como interromper os ciclos evolutivos da humanidade: estamos despertando para uma importante conscientização e isso não deveria ser tão perturbador. Melhor aderir logo, sair da bolha e aprender a dividir.

 

Comunista!

 

Calma, nossos extratos bancários e bens materiais se manterão privados. Falo em repartir o espaço público. Adeus aos territórios demarcados por preconceitos. Olhe para os lados. Simplesmente, olhe para os lados.

 

Já foi dada a largada para um novo modelo de convivência: homens dividindo com as mulheres os cargos, os encargos, as invenções, os prêmios, os mesmos pró-labores, a projeção acadêmica, científica, profissional. Aos poucos, eles nos escutam e compreendem a forma como enxergamos o mundo a partir de nossas próprias experiências. Depois de séculos regidos apenas pela versão masculina, eis que começa a ser escrita uma versão feminina da história.

 

Negros, brancos e pardos dividindo escritórios, altares, salões de festas, escolas, palcos, plenários, aviões, ministérios, microfones. Um compartilhamento que não se alcança através da bondade divina: é resultado de ativismo constante, de ações concretas em busca de inclusão, de movimentos que já estão aí, em curso.

 

Trans, gays, heteros: a vivência sexual de cada um deixando de ser julgada. Pense: ninguém consegue deter a natureza humana, ninguém consegue obrigar uma pessoa a trocar de desejos. Ofensas e agressões cairão cada vez mais no vazio: a potência de ser quem se é, isso ninguém mais freia.

 

Está vindo uma nova geração. Crianças e jovens que continuarão o trabalho de acomodar a todos num platô civilizatório de igualdade. Haverá resistência, claro, sempre tem alguns governos patéticos que tentam evitar que os diferentes interajam entre si. Mas o encontro já está marcado, e será amplo, horizontal, universal, sem a hierarquia estúpida e fominha de quem não consegue se desfazer de conceitos ultrapassados.

 

Final feliz no horizonte? Não se trata de felicidade, mas de justiça e acolhimento. Todos nós sairemos ganhando se pararmos de nos estranhar. Ajude, em vez de se apavorar. Qualquer gesto, mesmo que pequeno, contra o racismo, contra o machismo e contra a homofobia acelerará o que já está em andamento: o fim dessa cafonice chamada eu sou melhor do que você”.



 

ônus


A esperança me chama,
e eu salto a bordo
como se fosse a primeira viagem.
Se não conheço os mapas,
escolho o imprevisto:
qualquer sinal é um bom presságio.

Seja como for, eu vou,
pois quase sempre acredito:
ando de olhos fechados
feito criança brincando de cega.
Mais de uma vez saio ferida
ou quase afogada,
mas não desisto.

A dor eventual é o preço da vida:
passagem, seguro e pedágio.


Filipenses 4:19

terça-feira, 10 de novembro de 2020


 

#Edibar da Silva Souza Lima


 



Ser, às vezes sangra


escute a canção da vida

 


Há uma atriz que admiro muito, não diria que foi meu ídolo, mas sempre tive por ela enorme simpatia: chama-se Katharine Hepburn, e talvez a geração mais nova nem conheça.

 

Era uma jovem à frente de seu tempo, grande atriz, por longos anos de sua vida companheira de Spencer Tracy, os dois já falecidos, ele mais cedo, ela com quase cem anos. Admirei nela, entre tantas coisas, o humor um pouco sarcástico, a língua solta, o desprezo por convenções tolas, seu senso de amizade, seu respeito pela arte, pela vida.

 

Teve suas tragédias pessoais, como todo mundo. Mas comentava a inscrição sobre a lareira da casa da família, que ela herdou e onde viveu até a morte, um casarão amplo na beira do mar, em Fenwick, Connecticut. A inscrição dizia:Listen to the song of life (Escute a canção da vida).

 

Seguidamente, em tempos difíceis, lembrei disso, e comentei com alguém metido em seus próprios conflitos e dores. Porque, eu acredito nisso, a vida sempre chama, se você quiser - ou conseguir - escutar. No fundo do poço, só escutamos nossas próprias aflições ecoando nessas paredes fundas e escuras, mas aos poucos, se não formos muito mórbidos, começaremos a ouvir. Seja na pessoa de alguém, ou de um trabalho, ou da natureza, ou do lado positivo da nossa própria personalidade. E podemos reviver.

 

Estamos, já disse mil vezes, em tempos duros, confusos e sombrios. Nada mais é como já foi e muitas coisas jamais voltarão a ser. Não sou muito otimista quanto ao futuro da humanidade, não acho que seremos mais bonzinhos, mais amorosos, mais comunitários, mas mais ferozes, desconfiados, assustados, xenófobos e, claro, mais pobres. Radical? Não, sempre haverá claridade, mas vai ser muito difícil, sobretudo para os adultos, pois os jovens viverão seu próprio tempo, inseridos nele, seja como for. Não sou nada cética quanto à juventude. Mas quanto a nós, adultos e velhos... não sei. Aliás, quanto à velhice, Hepburn teve um comentário delicioso numa entrevista, aos 80:Ah, eu estou muito bem... mas não peça detalhes, e deu sua risadinha rouca.

 

Voltando à realidade do mundo, não sei se algum país acertou quanto a essa Peste, como acertou: quando pensávamos que alguns estavam livres, tudo piorou, e ainda pouco se sabe desse vírus diabólico, mesmo grandes cientistas têm suas perplexidades. Quando teremos vida normal, parecida com a anterior? No começo do novo ano? No meio? Nunca? Vamos nos habituar a falar, amar, estudar, trabalhar, a viver, de novas formas? Vamos ser todos mais pobres? Muito? Só incertezas.

 

Quando tudo parece difícil demais, chato demais (estou confinada há quase oito meses, como milhões de outros de alto risco), lembro que a canção da vida está ressoando e pode acalmar um pouco os corações mais do que justificadamente confusos e aflitos: os nossos. E seu estribilho deve ser: vai passar.



 Salmos 18:2

@biblia.verso

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

 


Tudo o que temos é o instante.