Hoje escolheremos prefeitos e vereadores em todas as cidades do país. Que os eleitos
e eleitas tenham boas propostas e as cumpram, e que a gente não se arrependa do
nosso voto. Fizemos nossa parte: analisamos currículos, acompanhamos debates,
desconsideramos alguns partidos e agora é cruzar os dedos, pois saber no que
vai dar, ninguém sabe.
Honestidade, inteligência
e trajetória limpa são atributos básicos para acertar na escolha, mas fica
melhor ainda quando, além de critérios objetivos, somos fisgados por um carisma
que sobressai e provoca uma rara familiaridade: é como se a pessoa em questão
fosse nossa amiga de uma vida toda. Um exemplo disso, lógico, é Kamala Harris,
a vice-presidente que comandará os Estados Unidos com Joe Biden. Se ela
desempenhará bem sua função, o tempo dirá, mas aquele sorrisão traz uma
promessa nova.
Estou julgando Kamala
pelo sorriso? Estou, e ela me ganhou, também, por ser uma mulher que dança. E,
pra arruinar de vez minha reputação como analista política (coisa que não sou),
adoro que ela use terno com tênis. Adoro. Nem vou comentar o fato de ser uma
mulher negra, filha de imigrantes, e que essa diversidade é cada vez mais
necessária num mundo que precisa se tornar menos engessado.
O universo político ainda
se divide entre sisudos prolixos, que não permitem que adivinhemos o que eles
sentem, e os vulgares, aqueles que tentam combater a sisudez sendo esdrúxulos.
É preciso avisá-los que se pode ser espontâneo e educado ao mesmo tempo.
Kamala é uma boa
referência neste momento em que voltamos às urnas. Ela ajuda a lembrar que as
palavras importam tanto quanto as atitudes, o tom de voz, a linguagem corporal,
o espírito de cada um. Líderes devem ser assertivos e determinados, mas, de
minha parte, quero também que se emocionem, que sejam brincalhões, que cantem
junto com a plateia num show, que não esperem que os empregados façam tudo por
eles, que tenham tempo para os filhos. Que sorriam com naturalidade, que os
olhos brilhem muito e que tenham facilidade em se comunicar, sem depender
sempre de um ponto eletrônico no ouvido ou de um teleprompter.
Junto ao combate à
corrupção, à violência e ao desemprego, que se elimine também a empáfia. Chega
de representantes empertigados que não conseguem transmitir nada verdadeiro com
a expressão do rosto. Que os que se elegerem neste dia 15 comemorem com uma
gargalhada gostosa, com carinho sincero pela sua cidade e, também, com um
pouquinho de espanto, aquele espanto bom e desafiador que nos atinge quando nos
confiam uma missão muito séria. É através da humildade e da autenticidade que
os eleitos conseguem algo raro: que seus eleitores se reconheçam neles.