"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 31 de outubro de 2019



 Que neste dia, tenhamos à nossa disposição, um emaranhado de coisas boas!

#fique por dentro
Dizem que as aranhas simbolizam o destino, 
representando seguir em frente, através das teias. 

#halloween



Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo?

(2 Coríntios 6:14-15)

terça-feira, 29 de outubro de 2019

#dia das flores

# dia do livro

segunda-feira, 28 de outubro de 2019


Serviço público ruim é culpa do servidor!

Eu provavelmente serei crucificado e perseguido pelo que irei dizer hoje por aqui. Porém, preciso por para fora algo que me incomoda faz tempo. E antes de xingar muito nos comentários, apenas pelo título, peço que leia o texto inteiro, prometo que tudo fará sentido. O serviço público brasileiro, em geral, é alvo de muitas críticas. Muitas, mesmo. E a grande maioria, tem fundamento. Claro que existem críticas injustas, mas vou abordar aqui um certo viés pelo qual muitos não olham, ou evitam olhar.

O funcionalismo está em alta, principalmente porque recentemente o congresso aprovou a criação de 14 mil novos cargos, a serem preenchidos por concurso. E mesmo afirmando que o Brasil está na maior crise de sua história, ninguém reclamou da criação destes cargos, pois para muitos concurseiros profissionais é a chance de conseguir o emprego dos sonhos. 

A grande questão é que vejo todos os dias pessoas reclamando de serviços públicos. E como servidor público eu até tento defender a categoria e mostrar que nem todos os servidores são iguais. Sou concursado e trabalho na secretaria de saúde de uma prefeitura. Desde a faculdade eu tenho tido contato com o serviço público, seja por estágios, por processos seletivos ou concursos nos quais fui aprovado, tendo testemunhado muita coisa ruim. E, às vezes, fica difícil argumentar ou mesmo defender a classe. A maioria não ajuda!

Mas o problema começa muito antes! No momento em que entramos na escola somos “treinados” a estudar para entrar numa faculdade e passar em um concurso público. A escola, em muitos casos, nada mais é do que um gigantesco cursinho preparatório. Muito do que você “aprende” lá, não servirá para mais nada na vida, depois de aprovado em um vestibular ou concurso.

A meta de vida de muitos brasileiros passa a ser, justamente, a aprovação em um “bom concurso público”, para ter estabilidade e “uma vida boa”! A coisa ficou tão séria que, hoje, existem milhares de cursinhos especializados em concursos, e dezenas de milhares de concurseiros, os profissionais em concurso (eu sei que está repetitivo, mas o que posso fazer?). Esse mercado, diga-se de passagem, é bastante lucrativo, e atrai todo tipo de parasitas. Inclusive muitos palestrantes que ensinam truques e dão dicas para passar em concursos sem nunca terem passado em nenhum.

A maioria dos concurseiros, aliás, são pessoas que não querem trabalhar de verdade. Alguém lhes disse que funcionário público não trabalha, e é justamente isso que eles querem, receber para ficar à toa. Essa, na verdade, é a imagem que a maioria dos brasileiros têm dos servidores públicos no país: ser concursado é o mesmo que não ter que trabalhar mais na vida. E, apesar de criticarem todos, uma grande parte gostaria de estar no lugar deles.

O problema maior do concurseiro profissional é que ele passa a vida pulando de concurso em concurso. Não que isso seja errado. Temos que lutar sempre por uma oportunidade melhor de trabalho. O problema é que a aprovação passa a ser vista como objetivo maior, apenas levando-se em conta o salário, e a maioria nem se interessa em aprender o ofício para o qual foi aprovado, ou mesmo prestar um serviço de qualidade ao usuário daquele serviço. Afinal, a passagem deles por ali será curta, e logo, logo, ele passará em outro concurso deixando o órgão atual desfalcado.

Essa situação gera um custo enorme para a máquina pública. Ao serem convocados, grande parte dos concursados não tem ideia do que fazer, pois passam anos estudando, e muitas vezes nem chegam a trabalhar, na prática, em sua área de formação. Então é preciso treinar o sujeito. O processo, às vezes, é lento. E muitas vezes depois de treinado o sujeito pede remoção ou exoneração, por não ter gostado do serviço ou ter passado em outro concurso. E, lá vai o Estado convocar outro servidor, esperar quase um mês para que ele tome posse, levar outros meses para treiná-lo, e assim, o serviço ao público fica prejudicado e o povo é quem paga o pato.

A grande ironia neste caso, é que muitos dos concurseiros são justamente os primeiros a bater o pé contra as “bolsas” do governo. São eles quem gritam que os impostos deles não devem ser gastos para sustentar ninguém etc. e tal. Porém, receber para não trabalhar às custas do governo, tá liberado, afinal ele passou anos estudando e fez por merecer tal cargo, não é verdade?

É claro que existem muitos problemas no serviço público. A começar pela destinação correta de recursos, que depende da arrecadação e dos políticos, eleitos por nós, que são responsáveis por decidir para onde cada centavo arrecado vai e como deve ser gasto. Ao pararmos para analisar a situação do serviço público brasileiro vamos perceber que praticamente todos os problemas passam pelo mesmo catalizador: O Servidor Público.

O Servidor público é o principal responsável pela situação lastimável dos nossos serviços públicos. A começar pelos políticos eleitos. Sim, prefeitos, vereadores, senadores, deputados, governadores e presidentes são servidores públicos, eleitos para trabalhar em prol da população. Infelizmente, a grande maioria trabalha apenas pensando em si mesmo, ou no máximo de forma a beneficiar amigos e familiares. Verbas e recursos são desviados ou mal gastos, e muitos projetos são desenvolvidos pensando em favorecer poucos. Nós somos culpados. Eles foram selecionados e aprovados, por nós, no maior processo seletivo do país: as eleições!

Depois disso, entramos no segundo nível de servidores. Os comissionados e de confiança. São servidores escolhidos por politicagem ou favorecimento descarado. Muitos assumem cargos sem estarem preparados para tal. Aí começa outro grande problema do serviço público: A má gestão. É comum ver secretários e gestores sem o mínimo de conhecimento necessário para estar no cargo. Muitos não sabem nada sobre gestão ou estrutura governamental, e não buscam, sequer, aprender algo. Afinal, sempre haverá um assessor ou auxiliar para fazer o serviço pesado. O bom mesmo é usar dinheiro público para fazer cursos e congressos em cidades turísticas, e nem assinar a lista de frequência destes eventos.

Por fim, temos os concursados! Aqueles que ralaram muito estudando para poderem trabalhar sem fazer nada. Essa cultura é tão forte no Brasil que muitos acham que funcionário público não precisa trabalhar e não pode ser demitido. Isso dá a muitos um sentimento de liberdade terrível. Acham que podem trabalhar quando querem, ondem querem e da forma que querem. E nada do que fizerem será suficiente para que sejam demitidos.

É triste constatar que “Proatividade” é uma palavra quase extinta no serviço público. A grande maioria dos servidores não querem fazer absolutamente nada. Ao pedir para alguém te ajudar com algo, ou fazermos algo para que o serviço ficasse melhor ou mais eficaz, é muito comum ouvir xingamentos ou risadas. Eles se limitam a fazer suas funções, e se negam a fazer qualquer função não prevista no edital. Isso mesmo, alguns servidores andam com o edital à tira colo, para não terem que fazer absolutamente nada que não esteja previsto nas atribuições do seu cargo, quando prestaram o concurso.

Ao questionar profissionais, por exemplo sobre infrações cometidas no trabalho, muitos dizem: funcionário público não pode ser mandado embora! É muito comum profissionais de saúde, por exemplo, reclamar de pacientes que vão aos hospitais e postos de saúde, apenas para pegar atestado, tumultuando o atendimento e lotando as unidades. Não que isso não aconteça. O brasileiro é malandro por natureza.

Por outro lado, já vi inúmeros servidores faltando com a desculpa de que estavam doentes, chegando a apresentar atestados falsos ou “arranjados” com um médico colega de trabalho, e postando fotos em passeios, viagens e até mesmo em outros trabalhos por fora. O pobre não pode pegar atestado. O servidor público sempre tem um amigo que “ajeita” as coisas pra ele. A hipocrisia do brasileiro está em todos os lugares!

Eu entendo, que há, sim, a necessidade de se valorizar o servidor, em muitos órgãos ou prefeituras. Já vi concursos, na minha área, oferecendo salários bem abaixo do piso nacional da categoria, o que não diminui o número de inscritos, diga-se de passagem. Depois os mesmos que aceitaram esses valores ao realizar as provas, passam o tempo todo reclamando e querendo obter algum lucro ilícito no local de trabalho.

Além disso, existe uma outra cultura nociva no Brasil: A de que bens públicos não são de ninguém. Não entra na cabeça do povo de que todo bem público é nosso. Tanto usuários quanto profissionais não têm o menor zelo por bens públicos. É comum entrar em repartições, escolas ou hospitais e encontrar cadeiras quebradas, paredes riscadas, objetos destruídos, bens sucateados. Ninguém liga. Ninguém se toca que o que é público é de todo mundo.

Já vi funcionários levando materiais básicos pra casa, como canetas e lápis, afinal não é de ninguém. Será que o sujeito estava passando por um problema financeiro tão terrível em casa para precisar furtar materiais que custam menos de um real? Não existe preocupação em zelar pelo bem público. Se vai usar o banheiro, urinam no chão. Se vão beber água 20 vezes no dia, vão usar 20 copos diferentes. A situação é tão absurda que já vi funcionários quebrarem, de propósito, máquinas e equipamentos apenas para não terem que trabalhar. E ainda riam pelos corredores, dizendo que naquela semana estariam de folga.

Muitos não respeitam, inclusive, os próprios colegas. Já trabalhei em locais em que servidores furtavam celulares e dinheiro de colegas distraídos. Já vi servidores furtando, inclusive, lanches na geladeira do refeitório, que pertenciam a outros colegas. Esses devem ser “o orgulho da mamãe!” Claro que esses casos não são regra! Existem muitas pessoas comprometidas no serviço público, que dão seu sangue no trabalho. Pena que os bons servidores são ofuscados pelo brilho negativo dos maus servidores. Ao reclamar de um serviço, sempre reclamamos do local, no geral, nunca do servidor específico.

Confesso que já vi tanta coisa no serviço público que cheguei a achar que terceirizar todos os serviços seria a maneira mais eficaz de melhorar a máquina pública. Afinal, a grande maioria parece estar disposta apenas a ganhar dinheiro, sem oferecer nada em troca. Por isso, talvez os serviços públicos brasileiros sejam tão ruins, são apenas reflexo de quem está por trás deles.

Claro que existe esperança, a começar pelos servidores públicos que são eleitos por nós. Temos a chance de selecionar novos “funcionários” para trabalharem de verdade por nós, e deixar que saiam todos os que estão lá, sem fazer nada importante. Quem sabe, eles não criem leis que possam otimizar todos os serviços, e nos dar ferramentas para ter um atendimento de excelência. Isso só vai acontecer, porém, quando todos entendermos que serviço público ruim é culpa de servidor público ruim, e que políticos, gerentes, diretores, cargos de confiança, nomeados e concursados são todos servidores públicos, cada um com sua parcela de culpa. Inclusive o povo. Sim, a culpa também é minha e sua!

Bruno Rodrigues Ferreira (https://portal6.com.br/2016/06/07/servico-publico-ruim-e-culpa-do-servidor/)
#dia do funcionário público

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

vida de artista


Ainda ela, claro. A quantidade de homenagens pelos 90 anos de Fernanda Montenegro será sempre insuficiente diante da sua grandeza. Aproveitando a data festiva, também li “Prólogo, ato, epílogo”, uma forma de me aproximar desta mulher com quem conversei timidamente uma única vez, por um minuto, quando fomos apresentadas por uma amiga em comum. E de conhecer não só sua história, mas a história do teatro brasileiro.

Entre tantas recordações, Fernanda menciona no livro a época em que era preciso ter uma carteirinha emitida pela Polícia Federal para poder transitar pelas ruas à noite. A imposição era destinada a duas categorias de profissionais: os atores de teatro e as prostitutas. Essa abjeta forma de controle acabou fomentando um preconceito que, mesmo já tendo diminuído, sobrevive de forma subliminar: a de que toda atriz é puta.

Quando menina, achava a coisa mais linda ser atriz, mas nem cogitei em me aventurar. Fui criança nos anos 60 e início dos 70, quando os costumes começavam a ser revolucionados, mas não ainda na minha casa. Meus pais, mesmo sendo frequentadores do melhor teatro, não aplaudiriam: sonhavam em ter uma filha “normal”, e eu, sem vocação pra rebeldia, fui fazer Comunicação e virei publicitária. Mais adiante, acabei dando um jeito de atuar: passei a criar personagens fictícios através da escrita, que também é uma forma de ir além do próprio eu.

Ditadores perseguem artistas porque sabem que eles são porta-vozes dos desejos da população, o isso lhes parece subversivo, então estigmatizam a classe e, muitas vezes, censuram. Já o cidadão comum não tem razão para desprestigiar um artista, a não ser que se sinta incomodado por um estilo de vida que, vá saber, evidencie suas frustrações. O artista, mesmo não sendo célebre, vive da sua arte, ama o que faz, usa os sentimentos como matéria-prima, reconhece a comédia e a tragédia da nossa humanidade, analisa as questões com a mente aberta, defende a liberdade e não se deixa regrar por convenções. Uma afronta aos que não conseguem lidar com essa entrega absoluta a uma existência plena. O fascínio pode acabar virando raiva. Joga pedra na Geni!

Todas as pessoas – inclusive as putas, senhores - têm ao menos um talento, que pode estar ligado a um esporte ou à gastronomia ou moda, jardinagem, bordado, computação, humor, música, não sei, você é que sabe qual é o seu dom. Alguma coisa você faz muito bem, mesmo que de forma amadora. Pois trate com gentileza o artista que você também é. O seu dom, ainda que infinitamente mais modesto que o de Fernanda Montenegro, é que ajuda a tornar o mundo menos rude. Quem coloca o mínimo de inspiração e paixão no que faz, sempre devolve algo de bom pra sociedade.

#dia do dentista


#dia do macarrão

terça-feira, 22 de outubro de 2019

o que deixar para nossas crianças



Aos que detestam datas marcadas, porque as consideram exploração comercial, digo que concordo em parte: explora-se a nossa burrice existencial básica, que se submete aos modismos, às propagandas, ao consumismo desvairado. Pais se endividam para comprar brinquedos e objetos caros e supérfluos para crianças que poderiam fazer coisa bem mais interessante, como jogar bola, pular corda, ler um livro, armar um quebra-cabeça, praticar esporte. Isso acontece na Páscoa, no Dia das Crianças, no Natal, em cada aniversário. Nesse aspecto, acho que os dias marcados para celebrar coisas positivas se tornam – para os tolos e frívolos, os desavisados – coisa negativa, fonte de tormento e preocupação.

Mas, visto sob outro prisma, não acho ruim existirem datas em que a gente é levada a lembrar, a demonstrar o afeto que se dilui no cotidiano, a fazer algum gesto carinhoso a mais. A prestar uma homenagem: refiro-me agora à data vizinha do Dia das Crianças, o Dia do Professor, celebrado na semana passada. Ofício tão desprestigiado, por mal pago, pouco respeitado e mal amado, que milhares e milhares de jovens escolhem outra carreira. E não me falem em sacerdócio: o professor, ou a professora, precisa comer e dar de comer, morar e pagar moradia, transportar-se e pagar transporte, comprar remédio, respirar, viver. Além disso, deveria poder estudar, ler, comprar livros, aperfeiçoar-se e descansar para enfrentar o dia-a-dia de uma profissão muito desgastante.

Então, reunindo a ideia das duas datas, crianças e mestres, reflito um pouco sobre o que me sugeriu dias atrás um amigo:
 – Escreva sobre que mundo estamos deixando para nossas crianças, pois vai nascer minha primeira neta, e essa questão se tornou premente em minha vida.

Pois é. Criança tem entre muitos outros esse dom de nos dar um belo susto existencial: abala as estruturas da nossa conformidade, nos torna alertas, nos deixa ansiosos. O que estou fazendo por ela, o que posso fazer por ela, quem devo ser ou me tornar para representar um bem para esse neto ou neta, filho ou filha, aluno ou aluna?

Se forem as crianças de minha casa, a questão se torna crucial, e o amor é a dádiva primeira. E aí entram também os casais, tema por vezes espinhoso. Temos em casa um clima fundamentalmente bom e harmonioso, apesar das naturais diferenças e dificuldades? Por baixo do cotidiano de aparente rotina corre um rio de afeto ou grassam discórdia e rancores? Como apresentamos ao imaginário infantil a figura do nosso parceiro ou parceira? Lembro aqui a atitude infeliz de tantas mulheres: desabafar diante dos filhos, pequenos ou adultos, sua raiva e insatisfação. Pior: usar os filhos para manipular emocionalmente o parceiro, usando-os para promover a própria vitimização e tornar quase um monstro o pai deles.

Vão mais uma vez dizer que privilegio os homens, mas essa postura, vingativa, cruel e mesquinha, é muito mais freqüente nas mulheres, sobretudo nas separadas. Não somos todas umas santas, não somos boazinhas. A mãe-vítima e a santa esposa me assustam: hão de cobrar, com altos juros, todo esse sacrifício.

Enfim: que legado deixamos para as crianças? Primeiro, vem o legado pessoal: quem somos, quem podemos ser, quem poderíamos nos tornar, para que elas tenham um mínimo de confiança, um mínimo de amor por si próprias, um mínimo de otimismo para poder enfrentar a dura vida.
Depois, podemos olhar para fora e imaginar um mundo, pelo menos um país, onde elas não tenham de presenciar espetáculos degradantes de corrupção, melancólicos jogos de interesse ou de poder. Onde os líderes sejam honrados, onde seus pais não se desesperem nem descreiam de tudo. Onde todos tenham escolas sólidas com professores bem pagos e bem preparados. Onde, em precisando, elas disponham de hospitais excelentes e médicos em abundância, de higiene em sua casa, comida em sua mesa, horizonte em sua vida.

E que as crianças possam ter a seu lado, mais que um anjo da guarda, a Senhora Esperança: ela será a melhor companheira e o mais precioso legado.




“Qual de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la?” 

(Lucas 14:28)

domingo, 20 de outubro de 2019


#enxergando além da aparência
Minha irmã descobriu um câncer de mama há exatamente um ano. Acompanhamos de perto todo o tratamento, as quimioterapias, o enjoo, a queda de cabelo. A imunidade baixa nos apavorou, às vezes, reações alérgicas nos assustaram. Tratamento hormonal e algumas sessões de radioterapia, fechamos um ano com o tumor sumido. Bye, bye tumor.

O cabelo da minha irmã vai voltar a crescer, você não. Como diz minha irmã, “vamos sambar na cara do câncer!”. Ela fala isso mas eu não gosto que ela fale essas coisas, porque obviamente tenho medo do câncer, um dia, voltar. Mas ela fala essas coisas com surpreendente positividade, e acho que isso foi fundamental para o sucesso do tratamento.

Pra todos nós, foi um ano nervoso, de muitas lições. Aprendemos a estar mais juntos, a valorizar mais a vida. Todo mundo resolveu fazer uma bateria de exames, coisa que a gente não fazia há anos. Aprendemos a admirar o tempo juntos. Nos falamos mais, declaramos mais nosso amor uns pelos outros. Essas coisas, no momento de dor, se tornaram mais fortes. O que aprendemos durante o sofrimento fica pra sempre.

Contudo, ninguém sofreu mais do que minha mãe. O coração de uma mãe que sente a possibilidade de perder um filho não se recupera fácil. Ainda hoje, minha mãe chora ao falar da descoberta do tumor. Já faz um ano, mas ela repete: “Eu queria que tivesse sido comigo. Não me conformo”. Uma mãe não aceita que nada de ruim aconteça aos filhos. Deseja a própria morte, nunca a dos seus. Uma mãe não se conforma com a ingratidão do acaso. “Que fosse em mim”, ela diz.

Mal sabe ela que nós sentimos o mesmo. Sei que vai acontecer um dia, mas não poderia perder minha mãe. Sofreríamos todos muito mais. Preferimos que seja conosco. Nos unimos, nos tratamos, superamos. Mas perder nossa rocha, nosso norte, seria muito grave.

O amor de família é uma força irracional. São essas cordas imaginárias que nos mantêm unidos, conectados mesmo a distância, esbarrando nas imprevisibilidades da vida. Celebrando nossas risadas e lágrimas em conferências por vídeo. Brindando com um vinho barato, cada um na sua cidade, a dádiva que é estar vivo. Pensando sempre uns nos outros. Pensando sempre uns nos outros. É o que chamam de família.


“Que a gente possa ser mais irmão, mais amigo, mais filho e mais pai ou mãe, mais humano, mais simples, mais desejoso de ser e fazer feliz.”



Domingos, antes de começar a entristecer e, para que isto não aconteça (porque tem sempre alguma coisa meio esquisita nos meus domingos), me dou missões grandiosas. Agora, por exemplo, estava tomando conta da paisagem. No processo, observei se as plantas estavam no lugar adequado para absorver toda esta água celeste que, para elas, pode ser benta. Cumpridas as tarefas mais importantes, planejo mentalmente como será minha semana: e tento me visualizar bem.
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Quando começa a anoitecer e o vento frio desabilita minha vontade de andar por aí, eu fico aqui dentro de mim tomando conta das minhas cobranças emocionais. Porque preciso entender o meu tamanho e meus limites para transcender o que é possível. Cuido também do que é pernicioso: maus pensamentos, fofocas, insultos, críticas muito ríspidas e sem consistência, etc., não alimento. Solidão que não é minha e tenta se aninhar aqui, devolvo. Desilusões amorosas que buscam uma mente vazia para perturbar, afasto. Nada como ter cada coisa no seu lugar. Nada como ser a pessoa que quando você olha para dentro está lá.
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Desejo um amor demasiado dentro de um coração sossegado.



“Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a tua fidelidade!”

Lamentações 3:22-23

sexta-feira, 18 de outubro de 2019


#dia do médico

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

primavera



E quando o problema for muito grande e quando a dor parece ser tamanha e quando a fila parece ser interminável e quando tudo parece ser o que não deveria…
Recomece...

Gosto da primavera.
Gosto dessa estação porque ela encarna a beleza do recomeçar. As árvores com folhas novas, as sementes transformadas em frutos, frutos arrebentando de maduros, mudança de cores, mudança de humores, refazer, caminhar de novo e de novo e sempre… Eis o mistério da vida. Eis o princípio das coisas: começar e recomeçar.

Gosto da primavera justamente por isso! E penso nessa crônica misturando os sabores da manga, da jabuticaba, do cajá ao gosto das palavras, de todas as palavras que, juntas, formam um painel da cidade nessa estação tão bonita e pulsante…

Gosto da primavera porque gosto da primavera! Ora… Gosto porque gosto! E gosto do gosto desta crônica que, embora pequena, tem a pretensão de ser um bom dia, um olá, um oi, um abraço, um conforto para quem lê. É só um texto tentando traduzir a beleza de um tempo: o tempo de fazer de novo!

Então, recomece os planos. Trace rumos. Caia na estrada. Mergulhe. Veja. Sinta o sol e o vento e o calor. Sinta as frutas todas. Gostos vários. Sinta o prazer da vida. Mas sinta agora! Sem demora… Possibilidades! E não idade! Idades!

Gosto da primavera porque ela me faz pensar exatamente sobre esta força incrível que é o recomeço.

Recomece!

__Campista Cabral

Pessoas vão embora de todas as formas: vão embora da nossa vida, do nosso coração, do nosso abraço, da nossa amizade, da nossa admiração, do nosso país. E, muitas a quem dedicamos um profundo amor, morrem. E continuam imortais dentro da gente. A vida segue: doendo, rasgando, enchendo de saudade... Depois nos dá aceitação, ameniza a falta trazendo apenas a lembrança que não machuca mais: uma frase engraçada, uma filosofia de vida, um jeito tão característico, aquela peculiaridade da pessoa.

Mas pessoas vão embora. As coisas acabam. Relações se esvaem, paixonites escorrem pelo ralo, adeuses começam a fazer sentido. E se a gente sente com estas idas e também vindas, é porque estamos vivos.

Cuidemos deste agora. Muitos já se foram para nos ensinar que a vida é só um bocado de momento que pode durar cem anos ou cinco minutos. E não importa quanto tempo você teve para amar alguém, mas o amor que você investiu durante aquele tempo.

Segundos podem ser eternidades... ou não. Depende da ocasião.



“Isto não é de admirar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz.” 

(2 Coríntios 11:14)

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

joker



Que personagem adotar para que a sociedade preste atenção em nós? Nascemos carentes: precisamos de quem nos alimente e nos proteja, e dá-lhe biquinho, choro, mamãe eu quero. Com sorte, receberemos amor e comida em troca, e aí será a hora de entrar para a escola: como ser benquisto em território desconhecido? Nossa adequação ajudará a fazer amigos, nossas estranhezas resultarão em bullying. Figurino, maquiagem e texto poderão facilitar nossa entrada na vida que sonhamos ter. “Seja você mesmo” é um conselho que só serve para aqueles que já sabem quem são, mas até aqui, estamos falando de quem ainda está tentando descobrir quem é – e como se fazer notar.

Arthur Fleck já está bem grandinho e ainda não sabe qual é a sua turma. Tenta fazer seu trabalho direito, mas é desprezado e humilhado. Os distúrbios mentais que traz da infância não ajudam nada. É um desajustado e tudo indica que continuará fantasiando que é popular e atraente, enquanto só apanha da vida. Até que entra em colapso: descobre que foi enganado pela única pessoa que o amava. Fim de linha. Só lhe resta virar o jogo da forma mais trágica que há. Estou falando dele, o Coringa que está em cartaz comovendo multidões.

Um bandido comovente? Muito prazer. Mais um ser humano que precisa de amor e atenção, como todos. Quem não tem uma coisa nem outra, busca alternativas patéticas e até mesmo radicais para consegui-las (inevitável pensar nas redes sociais, onde cada um pode abrir sua janelinha e dizer: “olha eu aqui!” A internet é o picadeiro de todos nós, inclusive de malucos ávidos por se transformarem em super-heróis, mesmo que às avessas).

Coringa é um arrebatador filme de ficção sobre um personagem que todos conhecem, o arqui-inimigo do Batman. Só que o maniqueísmo recorrente dos quadrinhos deu lugar a uma inquietante indagação: de que lado, afinal, eu estou? Inevitável torcer por Arthur Fleck (interpretado pelo magistral Joaquin Phoenix), um pobre diabo que alguém muito “bonzinho” resolveu presentear com uma arma, a fim de que ele pudesse se proteger por conta própria, e o resto da história não é difícil de imaginar, Gotham City é aqui.

O mundo não é dividido entre bons x maus, e sim entre visíveis x invisíveis, acolhidos x desacolhidos, escutados x ignorados. “Seja você mesmo” é uma falácia para muitos, pois dificilmente saberemos quem somos se não tivermos uma certidão de nascimento e o registro de um afeto e de um cuidado verdadeiro nos primeiros anos de vida. Sem isso, caímos no mundo com uma bola vermelha no nariz, sendo ridículos para que nos percebam, até que a nossa dor atinja em cheio o coração alheio: comova-se ou morra.

Não é um conto de fadas, mas o filme, de forma meio cínica, termina com o romântico lettering The End em letras cursivas– como se a busca pela nossa identidade terminasse um dia.


terça-feira, 15 de outubro de 2019



“Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.”

Paulo Freire
#dia do professor



“Ouça os conselhos e esteja pronto para aprender; assim, um dia você será sábio.”

Provérbios 19:20 / NTLH

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

infância com início, meio e fim


Fui vários meninos. Sou adulto porque brinquei tudo o que podia na infância. Gastei a infância. Usei a infância. Encardi a infância. Envelheci a infância.

Fui o menino das bolinhas de gude. Meu dedão é um gatilho de bolitas.

Fui o menino do futebol de botão. Chamava o meu time de Resto do Mundo e sempre acabava como o vice-campeão do bairro - jamais ganhei do Rodrigo, meu irmão mais velho.

Fui o menino do Banco Imobiliário, Detetive, War, Pula-Pirata, Playmobil, Pinogol, Aquaplay e Atari.

Fui o menino do Forte Apache, com índios montando ataque à cavalaria, escondidos nas samambaias da varanda.

Fui o menino que não comprava cachorro, adotava vira-lata manco e perdido nas redondezas (antes da carrocinha achá-los).

Fui o menino do carrinho de rolimã. Ia para escola seguindo o rastro das rodas nas lajes.

Fui o menino que tirava a fofolete da caixinha de fósforo das colegas para colocar uma barata no lugar.

Fui o menino do ioiô, havia campeonato na escola para demonstrar manobras como estrela, pêndulo de relógio e cachorro passeando.

Fui o menino das pipas. Os fios elétricos colecionavam as minhas invenções coloridas.

Fui o menino de jogar pedras no rio. Criava círculos perfeitos em lançamentos rasantes. O rio nunca afundou em meus olhos.

Fui o menino de jogar bola de garagem a garagem. A turma parava a partida quando passava um carro.

Fui o menino do pião, minha bailarina, meu ciclone de estimação, rezando por mais uma pirueta, e que um novo giro levasse as tristezas embora.

Fui o menino do caçador, do esconde-esconde, do polícia-ladrão, de encontrar vãos e subir nos telhados.

Fui o menino de roubar frutas da casa dos outros. Um dia devolvo.

Fui o menino de jogar bexiguinha do alto dos prédios nas pessoas. Fazia o cálculo mental, atirava sem olhar, me escondia e esperava o grito de quem passava pela minha rua.

Fui o menino de só voltar para a residência quando já era noite, quando o sol também cansava, quando a lua não tinha mais força para disputar corrida, quando o jantar estava na mesa e eu ainda precisava tomar banho.

Hoje crianças já são adolescentes ao nascer e crescem sem ter infância.



#12/10 - dia das crianças e dia da leitura

Ontem um menino que brincava me falou
que hoje é semente do amanhã...

[ Semente do Amanhã  / Gonzaguinha ]


“Deixem que as crianças venham a mim e não proíbam que elas façam isso, pois o Reino do Céu é das pessoas que são como estas crianças.”

Mateus 19:14 / NTLH