"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quarta-feira, 31 de julho de 2013


Estou de costas guardadas, a poder de minhas rezas.


carta extraviada 3


Não é da minha natureza esperar que me deem liberdade, não espero pelo pouco que há de essencial na vida. Sendo liberdade uma delas, eu mesmo me concedo. Ser livre não me ensinou a amar direito, se por direito entende-se este amor preestabelecido, mas me ensinou as sutilezas do sentimento, que, afinal, é o que o caracteriza e o torna pessoal e irreproduzível. Te amo muito, até quando não percebo.

O amor que eu sinto pode parecer estranho, e é por isso que o reconheço como amor, pois não há amor universal: não, caríssima. Não há um amor internacional, assim como são proclamados os cidadãos do mundo. Cada cidadão, um coração, e em cada um deles, códigos delicados. Se não é este o amor que queres, não queres amor, queres romance, este sim, divulgadíssimo. Te amo muito, e não sinto medo.

Bela e cega, buscas em mim o que poderias encontrar em qualquer canto, em todo corpo, homens e mulheres ao alcance de teus lábios e dedos, romance: conhecido o enredo, é fácil desempenhá-lo. E se casam os românticos, e fazem filhos e fazem cedo.

O amor que sinto poderia gerar casamento, pequenos acertos, distribuição de tarefas, mas eu gosto tanto, inteiro, que não quero me ocupar de outra coisa que não seja você, de mim, do nosso segredo. Te amo muito, e pouco penso.

Esta carta não chegará, como não chegarão ao seu entendimento estas palavras risíveis, estes conceitos que aos outros soariam como desculpa de aventureiro ou até mesmo plágio, já que não há originalidade na idéia, muito difundida, porém bastante censurada. Serei eu o romântico, o ingênuo? Serei o que quiseres em teu pensamento, tampouco me entendo, mas sinto-me livre para dizer-te: te amo muito, sem rendimento, aceso, amor sem formato, altura ou peso, amor sem conceito, aceitação, impassível de julgamento, aberto, incorreto, amor que nem sabe se é este o nome direito, amor, mas que seja amor. Te amo muito, e subscrevo-me.

sempre tem espaço no amor


Tinha sete anos quando meu pai saiu de casa.
Foi minha maior solidão.
Concluído o almoço, ia ao seu armário mexer nas roupas que ficaram do divórcio.
Reconstruía o pai na cama de casal.
Por ordem, colocava a boina, a camisa de linho, a gravata sobre a camisa, a calça, o cinto, o carpim e os sapatos.
Era meu quebra-cabeça em tamanho natural.
Conversava longamente com seu traje estendido no lençol, imaginando que meu pai sesteava.

Um dia minha mãe me pegou falando com os tecidos.
– O que você está fazendo, Fabrício?
– Nada, passando roupa. Brincando de passar roupa.

Eu brincava de ser filho, no fundo. Brincava de saudade. Brincava de reconciliação.
Lembrei dessa cena da infância ao separar metade de meu armário para uso de minha namorada.
Nunca tive problema em ceder território. Prefiro oferecer as prateleiras. Não sou fã do vazio.
Retirar minhas coisas é me selecionar. Não sofro com o ato, não é nenhuma renúncia.
É a alegria de mostrar que a minha vida estava incompleta mesmo, que ela veio me preencher.

Enfrentei várias mudanças nos meus 40 anos.
Já partilhei quarto com dois irmãos, onde tinha direito a somente três gavetas para encaixotar a minha tralha. Como é que comprimia a adolescência em pequena cômoda? E ainda sobravam frestas para esconder os gibis.
Depois ganhei um quarto sozinho e espalhei as roupas e ocupei todo o compartimento. Tampouco compreendia como guardava tudo em três gavetas e em seguida faltava espaço com o armário inteiro livre. Aquilo me intrigava. Redobrei atenção nas aulas de Física, porém a poesia é que solucionou o desafio.
Na vida adulta, após morar sozinho e acompanhado, solteiro e casado, fui entendendo que tenho mais espaço na estreiteza. Eu me organizo melhor na generosidade. Eu me penso melhor quando divido. Eu me cuido melhor quando alguém está comigo.
Não tenho interesse em ganhar um closet, desfrutar de um quarto aos casacos ou aos sapatos.

Independência é conviver feliz dentro da intimidade.
A ambição é deixar que minhas roupas casem também com as roupas dela, que nada fique isolado e casmurro, perdido e avulso.

Hoje estiquei a blusa da namorada na cama.
Melhor sentir saudade na presença do que na ausência.
Vou fingir que estou passando roupa de novo.


Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego.
Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: “O justo viverá pela fé”.

Romanos 1:16-17

terça-feira, 30 de julho de 2013

em que esquina dobrei errado?


Aconteceu em Paris. Estava sozinha e tinha duas horas livres antes de chamar o táxi que me levaria ao aeroporto, de onde embarcaria de volta para o Brasil. Mala fechada, resolvi gastar esse par de horas caminhando até a Place des Vosges, que era perto do hotel. Depois de chuvas torrenciais, fazia sol na minha última manhã na cidade, então Place des Vosges, lá vou eu. E fui.

Sem um mapa à mão, tinha certeza de que acertaria o caminho, não era minha primeira vez na cidade. Mas por um desatino do meu senso de orientação, dobrei errado numa esquina. Em vez de ir para a esquerda, entrei à direita. Mais adiante, aí sim, virei à esquerda, mas não encontrei nenhuma referência do que desejava. Segui reto: estaria a Place des Vosges logo em frente? Mais umas quadras, esquerda de novo. Gozado, era por aqui, eu pensava. Não que fosse um sacrifício se perder em Paris, mas eu parecia estar mais longe do hotel do que era conveniente. Mais caminhada, e então, várias quadras adiante, não foi a Place des Vosges que surgiu, e sim a Place de la Republique. Eu tinha atravessado uns três bairros de Paris, mon Dieu.

Perguntei a um morador o caminho mais curto para voltar à rua onde ficava meu hotel, e ele me apontou um táxi. Teimosa, pensei: ainda tenho um tempinho, voltarei a pé. E assim foram minhas duas últimas horas em Paris, uma estabanada andando às pressas, saltando as poças da noite anterior, olhando aflita para o relógio em vez de flanar como a cidade pede. Cheguei bufando no hotel, peguei minha mala e, por causa da correria, esqueci no hall de entrada uma gravura linda que havia comprado e que planejava trazer em mãos no voo. Tudo por causa de uma esquina que dobrei errado.

Foram apenas duas horas inúteis e cansativas, e duas horas não é nada na vida de ninguém. Mas quanta gente perde a vida que almejou por ter virado numa esquina que não conduzia a lugar algum?

Alguns desacertos pelo caminho fazem a gente perder três anos da nossa juventude, fazem a gente perder uma oportunidade profissional, fazem a gente perder um amor, fazem a gente perder uma chance de evoluir. Por desorientação, vamos parar no lado oposto de onde nos aguardava uma área de conforto, onde encontraríamos pessoas afetivas e uma felicidade não de cinema, mas real. Por sair em desatino sem a humildade de pedir informação a quem conhece bem o trajeto ou de consultar um mapa, gastamos sola de sapato à toa e um tempo que ninguém tem para esbanjar. Se a vida fosse férias em Paris, perder-se poderia resultar apenas numa aventura, mesmo com o risco de o avião partir sem nós. Mas a vida não é férias em Paris, e aí um dia a gente se olha no espelho e enxerga um rosto envelhecido e amargurado, um rosto de quem não realizou o que desejava, não alcançou suas metas, perdeu o rumo: não consegue voltar para o início, para os seus amores, para as suas verdades, para o que deixou pra trás. Não existe GPS que assegure se estamos no caminho certo. Só nos resta prestar mais atenção.

o Papa é pop


A passagem do Papa pelo Brasil já provocou fenômenos suficientes para serem estudados por décadas. 
A seguir, sete milagres que o Papa fez e você não percebeu, verdadeiros milagres de Francisco:
1) Andou de carro no Rio de Janeiro de janela aberta e não foi assaltado.
2) Fez o povo brasileiro aplaudir um argentino.
3) Andou no meio da polícia do Rio e não apanhou.
4) Encontrou Renan Calheiros e não foi acusado de nada.
5) Encontrou o governador e não gritou: “Cadê o Amarildo*?”.
6) Ficou engarrafado no Rio e não apareceu nenhum vendedor de Biscoito Globo.
7) Usou saia em Copacabana e não levou cantada.

Mas... o Papa se preveniu de qualquer imprevisto que poderia ter.
Ao descer, uma das primeiras frases dita por ele foi:
“Não trago ouro nem prata...”!
Aí ele já desanimou os políticos e os assaltantes!!!

(Antonio Augusto Soares)



rdb:
*Amarildo Souza Lima, 47 anos, pai de 6 filhos, pedreiro, morador da rocinha. 
Desapareceu depois de prestar depoimento a policiais da UPP, 
em 14/07 pp.
Nas últimas semanas, os moradores da Rocinha já realizam vários protestos 
perguntando “Onde está o Amarildo?”.
 Enquanto isso, no Facebook, as hashtags #OndeEstaOAmarildo e #CadeOAmarildo 
ganham repercussão internacional.



Há maior felicidade em dar do que em receber.

Atos 20:35

segunda-feira, 29 de julho de 2013


Das orações que tenho pra hoje, essa é a que vem primeiro:
“Que a força do bem seja dez vezes maior que a do mal. Amém.”


A previsão é que com a chegada de uma nova frente fria o céu fique nublado e haja trovoadas esparsas...

Contudo, o tempo ainda é o melhor remédio.


Acho tão lindas essas paradas de ‘amor’, cara!
Tudo muito perfeito, à la panos passados!
Fofo demais, bonitinho demais, arrumadinho demais: DEMAIS!
A teoria é o blá blá blá mais lindo que já puderam inventar!
Na prática, a roupa é largada; a fofura e a beleza nem sempre existem e, outra, tudo parece levar ao imperfeito.
Mas tem uma vantagem: é um laço duradouro!
Observe: eu disse laço! Laço não aperta, não sufoca e se desatar você o refaz de outra forma, podendo até ficar mais bonito, mais ‘jeitoso’!

Cuidado: nem todo amarrado desajeitado é laço; nem tudo é sinal de amor!
Para ser ‘perfeito’ não precisa ser ‘certinho’!


Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa.

Atos 16:31

sexta-feira, 26 de julho de 2013

hoje é o dia deles


A palavra avó nos remete à infância, quando passávamos o domingo numa casa aconchegante cheirando à comida, com toalhinhas de crochê decorando todos os ambientes e um quarto sempre na penumbra, com móveis de madeira maciça e uma enorme cadeira de balanço, onde cochilava a matriarca. Parece com a casa da sua avó também? Pois guarde esta imagem na lembrança, pois ela não se reproduzirá tão cedo. 
Já não se fazem mais avós como antigamente.

Os estereótipos não são criados do nada: as avós eram assim mesmo, de cabelo branco e óculos pendurados no nariz. Toda família que se preze teve sua Dona Benta, e a imagem é tão forte que até hoje os comerciais de tevê insistem em caracterizar as vovós como senhoras idosas, rechonchudas, com aventais amarrados na cintura, cabelos presos num coque e aquele ar de quem não faz outra coisa na vida a não ser torta de amoras. 
E os avôs? Seja na televisão ou no rádio, todos têm voz de Papai Noel, enquanto que, na realidade, os avôs da nova era estão mais para Mick Jagger, que aliás já tem um neto. Acorde: os avós de hoje não lembram mais de canções de ninar, mas sabem de cor a letra Satisfaction.

Quer dizer que o lobo mau conseguiu engolir nossa vovozinha? As que usavam touquinha e tinham voz rouca foram papadas, sim, meus pêsames. Mas olhe agora, o que vemos? Avôs de jeans, dirigindo jipes, cabelo pintado, óculos escuros. Avôs e avós que trabalham, que viajam, que dão festas, que namoram. Avós que fazem lipo, aeróbica, jogam paddle e suspiram não pelo Lima Duarte, mas pelo Victor Fasano. Será que elas sabem pregar um botão? Não custa tentar, mas se a empreitada der errado, não complique. Ela terá o maior prazer em levar a netinha para comprar uma roupa nova no shopping. E o almoço de domingo? Também mudou. As avós de hoje não andam dispostas a engordar nem um grama com macarronadas familiares e muito menos a quebrar suas garras vermelhas lavando panelas. Que tal um buffet frio, muita água mineral e salada de frutas? Combinado, ela entra com a água.

Netos e netas, não sintam-se desamparados. As avós de hoje são muito mais participantes. Podem não lembrar direito das histórias de Gulliver, Pele de Asno ou Gato de Botas, mas têm histórias pessoais tão encantadoras quanto. São mais divertidas e menos preconceituosas. Têm mais saúde e disposição para enfrentar parques, teatrinhos, zoológicos. E o fato de buscarem a eterna juventude não lhes tirou um pingo do afeto que sentem pela terceira geração. Ao contrário: nunca vi tantas avós apaixonadas por seus netos. É um amor enorme, desinteressado, sem o ônus do compromisso, só do prazer. Sempre foi assim, mas agora há um fator novo: hoje as mulheres têm menos filhos, e em conseqüência, menos netos. Antigamente a família era gigantesca, e não havia memória que chegasse para lembrar o nome de toda a criançada. Hoje são os dois ou três, dá até para providenciar um mini-hotelzinho em casa para hospedá-los no final de semana. Tem mais: o limite de idade para engravidar foi muito ampliado, e hoje uma mulher pode ser mãe e avó quase ao mesmo tempo, encurtando as diferenças entre uma e outra. Se por um lado estamos perdendo a imagem romântica da avó que cozinha, faz tricô e tem roseiras no quintal, por outro estamos ganhando uma avó bonitona, que tem o maior orgulho ao falar de nós para as amigas e que sempre estará disposta a nos dar um colo. Desde que esteja com uma roupa de microfibra, bem entendido.

O amor, que é o que interessa, não mudou. Mas mudaram as avós. Danuza Leão, Baby Consuelo, Constanza Pascolato e tantas outras mulheres que falam gíria, bebem cerveja e estão sempre prontas para uma novidade são avós tanto quanto as nossas saudosas velhinhas de casaquinho nos ombros. Vera Fischer, Betty Lago, Regina Duarte e tantas outras gatas desta geração também já têm filhos adolescentes que não tardam a procriar. Passarão, como toda mulher, pela menopausa, pela osteosporose e por outros distúrbios da idade, mas certamente não aceitarão o papel de uma avó caseira, bordadeira e sem outra ambição que não seja cuidar dos netos. Sempre se disse que a avó era uma “segunda mãe”. Pois ela nunca esteve tão parecida com a primeira.


#rdb:

À vocês,
avô: “pai sem exigências” e
avó: “mãe com açúcar”, parabéns!!!
Com vocês, aprendemos grandes lições de vida!

O dia 26 de julho é dedicado aos vovôs e vovós,
porque é o dia de Santa Ana e São Joaquim,
pais de Maria e avós de Jesus.
Eles são os padroeiros dos avós.


Deus não faz acepção de pessoas

Atos 10:34

quinta-feira, 25 de julho de 2013

look do dia


Aqui tá um frio de doer os ossos, bater os dentes, encarangar* as juntas, ficar com as unhas roxas, pé duro, cabelo gelado e alma congelada.

A melhor maneira de encarar um dia frio é mantendo o coração aquecido

*(en.ca.ran.gar)
v.
Tornar difíceis os movimentos do corpo de (alguém ou si mesmo), ou tê-los dificultados pela ação do frio

quarta-feira, 24 de julho de 2013

tem som de sanfona no céu


♫ Olha!
Que isso aqui tá muito bom
Isso aqui tá bom demais
Olha!
Quem tá fora quer entrar
Mas quem tá dentro não sai... ♫♫

(Isso aqui tá bom demais / Dominguinhos)

juntando as escovas de dentes


Eu me disse:
Escovas de dentes juntas, jamais.
Eu lhe disse:
Roupas íntimas no guarda-roupas, jamais.

De repente, uma escova estava lá
De repente roupas estavam lá
Demoradamente estávamos lá.

Então eu me disse:
Por que juntar se separar é o destino dos juntos?
Então eu lhe disse:
Por que não juntar se juntar é destino dos separados?

(Carlos Sena)

A briga mais humilhante é a que transforma a confidência em ofensa.

Acorda, coração!
A sua função é bater, e não apanhar.


... É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens!

Atos 5:29

terça-feira, 23 de julho de 2013



Quando não nos deixarmos influenciar pelo cinzento dos outros, é provável que tenhamos momentos mais coloridos.

[Francisco Moreira]

simples assim


Não gosto de modinha. Sou convencional, ou antiquada, se preferir. Mas não gosto mesmo de seguir o que todo mundo segue. Sou chata. Gosto do diferente. Sou do contra mesmo. Não visto uma roupa só porque vi fulano usar na TV, não calço um sapato verde limão fluorescente só porque as cores vibrantes estão na moda. Eu não. Visto o que me faz sentir bem. Também não ando ligando pra opinião de ninguém pra saber o que ela acha. Minha personalidade mora nos meus gestos, minhas atitudes falam muito mais de mim do que a roupa que eu visto por fora.

Assim eu sou com as pessoas. Até hoje, quem mais me cativou – de verdade - me ganhou pelos detalhes, pelo jeito de ser e por tudo aquilo de grande que vi caber no seu coração. Não ligo se fulano veste marca tal, usa bolsa chique ou rasga dinheiro. O que me conquista não tem preço. O que eu tenho a oferecer também não tem preço. Odeio homem que se acha O superior, O lindo, O maravilhoso, O senhor de qualquer mulher que quiser. Odeio aquele tipo que chega balançando a chave do carro com olhar de caçador como quem escolhe a presa que quiser. Odeio mulher que se submete a esse tipo. Odeio mulher que não se respeita e depois reclama que homem não presta.

O mundo anda tão torto, sabe. As pessoas se perderam e nem sabem direito pra onde vão. Eu vejo menininhas brincando de ser mulher e garotinhos achando que são homens. Sinto pena. Um corpinho bacana, um estilo “arrumadinho” e uma boa dose de futilidade é o que anda na moda. A sociedade pede e oferece gente de plástico, sem sentimento, sem amor, bonecos que fugiram das caixas, pessoas ocas. Desculpa, não me enquadro nessa moda.

Tenho certa aversão por gente fresca. Tenho pavor a gente metida. Eu gosto de gente simples, gente do bem, que sabe o que quer e respeita o outro. Eu gosto de gente rica de coração. Acho mesmo que ainda sou muito ingênua pra conviver com o cinismo desse mundo.


Não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos.

Atos 4:12

segunda-feira, 22 de julho de 2013

fizemos tudo errado


Não deveríamos ter nos beijado nos primeiros minutos.
Não deveríamos ter dormido de conchinha já na primeira noite.
Não deveríamos atravessar as madrugadas rindo.
Não deveríamos transformar todo abraço em esquina.
Não deveríamos denunciar nossos pensamentos, permitir o ciúme, expor os nossos defeitos.
Não deveríamos, é o que os amigos me ensinaram. Para conquistar alguém, é obrigatório esconder o jogo, fingir independência, disfarçar o arrebatamento.

Falhamos, amor. Somos afoitos, ansiosos, sinceros.

Fracassamos no drama, perdemos a concentração. Somos péssimos atores do desejo.

Nossa história poderia ser diferente.


Eu não deveria ter atendido ao telefone no primeiro toque.

Você não deveria ter atendido ao interfone no primeiro chamado.
Eu não deveria ter dito que sentia saudade na segunda hora.
Você não deveria ter dito que sonhava comigo.
Eu não deveria ter pedido em namoro no segundo dia.
Você não poderia ter aceitado.
Eu não poderia ter mandado flores.
Você não deveria ter regado as plantas de minha casa.
Eu não deveria ter apresentado meu filho no final de semana.
Você não deveria ter tomado um Nescau em nossa segunda noite.
Eu não deveria ter deitado em seu colo para assistir tevê.
Você não deveria ter me apresentado sua mãe e seu pai na primeira semana.
Eu não deveria ter convidado para uma festa do trabalho no terceiro dia.
Você não deveria ter deixado um vestido em meu armário.
Eu não deveria falar de minha vida de solteiro.
Você não deveria descrever seus antigos relacionamentos.
Eu não deveria ter separado uma prateleira para colocar suas roupas.
Você não deveria ter segurado o guarda-chuva.
Eu não deveria abrir a porta do carro e puxar sua cadeira no restaurante.

Pecamos, tropeçamos na bondade.

Você não deveria ter dito que nunca teve tanta intimidade com alguém.
Eu não deveria ter dito que a amava depois da terceira noite.
Bem que nos avisaram que seduzir é se aguentar, é se conter, é não demonstrar os próprios sentimentos.

Fizemos tudo errado, por isso estamos juntos.

Amor é exceção, amor é quebrar as regras.



Jesus é ‘a pedra que vocês, construtores, rejeitaram, e que se tornou a pedra angular’.

Atos 4:11

sábado, 20 de julho de 2013

aos meus amigos (embrulhado com papel de beijo)


Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.

A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.

E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!

Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar.
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os.


O amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade.

Provérbios 17:17

quarta-feira, 17 de julho de 2013


- Você tem bom gosto?
- Tenho!
- Posso lamber para comprovar?


Ela tinha a beleza tranquila da maturidade.
Alguns fios de cabelo branco davam ao seu rosto um encanto especial.
De hábitos domésticos e simples, um de seus prazeres era assentar-se numa poltrona e entrar na bolha que a leitura cria.
Quem lê está num outro mundo, muito distante.

O marido a observava de longe. Olhos que observam são aqueles que olham quando o outro não está olhando. Seu olhar era o de apaixonado que desconfia, olhar de ciúme. Os olhos do ciumento vigiam.
Vigiam gestos, movimentos, horas, sorrisos.
Vigiam porque as modulações silenciosas e distraídas da pessoa amada podem conter revelações sobre aquilo que ela esta pensando.

O ciumento suspeita que o ser amado lhe esconda alguma coisa.
Olha na esperança de ver algo escondido, de entrar dentro do segredo do outro. O ciumento detesta os pensamentos.
Por mais que os vigie, eles estão além de sua vigilância.
Ele queria adivinhar seus pensamentos.
E a sua vigilância se exacerbava quando ela sorria ou ria.
Como explicar este sorriso se ele, o marido, não estava dentro do livro?
Ela não precisava dele pra ser feliz.
Porque ali, mergulhada no livro, o marido não existia...

O ciúme nasce quando se toma consciência de que a pessoa amada é livre. Ela é um pássaro pousado no ombro.
Nada o prende. Pode voar quando quiser.


Arrependam-se, pois, e voltem-se para Deus, para que os seus pecados sejam cancelados

Atos 3:19

terça-feira, 16 de julho de 2013

já anoiteceu


Estamos aqui reunidos para celebrar o casamento de Stefan e Eliza.
Quero agradecer a presença dos familiares e dos amigos convidados.

Sem querer, o casal está realizando o sonho de minha mãe.
É, minha mãe gostaria que um de seus filhos fosse padre. Não entendia a desigualdade divina, como o vizinho teve três padres e uma freira em sua família e Deus não reservou nenhum para ela.
Sei que os poetas aproximam corações, mas não esperava tanto.

Amor tem algo de louco. Insano. Vocês vivem juntos há seis anos, há 12 anos se conhecem.
O tempo passa rápido para os outros, não para vocês. O tempo está vivo em vocês. Minucioso. Detalhista. Obcecado.
É como ficar o dia inteiro em casa. E, de repente, perceber que anoiteceu.
“Já anoiteceu!”  é uma das expressões mais bonitas. Já anoiteceu significa que não controlamos as horas. Já anoiteceu é sinônimo de alegria, de esquecer o que há lá fora por aquilo que carregamos dentro.

Casar é anoitecer. É quase a perguntar: “Como chegamos aqui?”
Eu respondo: Vocês não notaram. Apaixonados, não se preocuparam com a janela. Vocês anoiteceram. Um olhando o outro. Preocupados apenas em um olhar o outro.
Está noite lá fora enquanto sempre é manhã para os dois.

Parece que foi ontem, parece que foi na próxima semana, parece que acabaram de se encontrar.
O amor torna tudo sempre recente. O mais antigo é também agora.

Lembro de uma história de meu avô. Ele era do interior do estado e visitou os filhos na capital. Perante uma escada rolante, não vacilou, como todos faziam na época. Subiu, desajeitado, cuidando para não enroscar os longos cadarços na esteira movediça.
Seus filhos, espantados com a coragem, logo perguntaram:
- Como você não teve medo?
Ele respondeu de bate-pronto, sem modéstia:
- Ora bolas, nada demais, na viagem de carro eu sou a escada rolante da paisagem.

Quando amamos, não reparamos os degraus; somos a escada.

É certo que todos vão envelhecer, menos Stefan para Eliza e Eliza para Stefan. Guardarão a imagem intocável da primeira vez que se observaram.

Não vão envelhecer, porque o amor perdoa o tempo. As rugas, os vincos, os cabelos grisalhos, nada disso virá para quem ama. Não virá porque um dia Stefan olhou para Eliza e se convenceu: nunca mais vou esquecê-la. Eliza olhou para Stefan e se bastou: nunca mais vou esquecê-lo. E aquele rosto apanhado em segredo - como uma água-forte – é uma espécie de resistência.

Vocês podem esquecer que existiram, nunca que se amaram.
Podem esquecer qualquer coisa, até a si mesmos, mas nunca mais poderão esquecer que se amam.

O rosto de Eliza é a promessa de Stefan. O rosto de Stefan é a promessa de Eliza. Quando vocês acariciam suas feições, tocam em palavras. E palavras de amor não podem ser apagadas, nem corrigidas. Palavras são destinos.

Tentem escolher uma única lembrança alegre de vocês... Descobrirão que será difícil selecionar. Não há como escolher, não é que faltem lembranças boas, sobram lembranças boas, e ambos não desejam injustiçar nenhuma delas.

Na verdade, a memória do casal tornou-se uma só recordação. Ininterrupta. Perdas, festas, intimidade, risos, suspiros, brincadeiras, dores, superações, tudo está junto. Misturado.

A tal ponto que Stefan talvez tenha inserido Eliza em suas fotos de infância. Encontrou um jeito de fazê-la participar de toda a sua história. A tal ponto que Eliza talvez tenha colado a figura de Stefan no seu álbum de fotografias de pequena.

Quando se ama alguém, ama-se a vida inteira daquela pessoa. Inclusive o que não se viveu.
Para alguns, gentileza é dar flores, elogiar. Não é isso! Não há gentileza maior do que preservar sua mulher ou seu marido na linguagem. No dia-a-dia, na rotina e na miudeza do verbo. Ser afetuoso no sopro e na saliva. Cuidar dele, cuidar dela em cada palavra.

Há alguém que sabe mais do Stefan do que Eliza?
Duvido.
Há alguém que sabe mais de Eliza do que Stefan?
Duvido.

O casamento é quando finalmente abrimos a nossa guarda. Não deixamos nada de fora. Contamos o que não entendemos, partilhamos o que não conseguimos sofrer sozinho - nos dividimos inteiramente.

Se você, Stefan, conhece a fraqueza, os segredos, as dúvidas, os medos de Eliza, tem uma única obrigação durante a vida: protegê-la! Porque qualquer destrato seu irá doer nela duas vezes, porque ela não mais se defende de você.

Se você, Eliza, conhece a delicadeza, o espanto, os pavores, o luto de Stefan, tem uma única obrigação durante a vida: protegê-lo! Porque qualquer ofensa sua irá doer nele duas vezes, porque ele não mais se defende de você.

Confiança é o elo do amor. Podemos amar, mas sem confiança o amor não se mantém. A confiança é uma amizade renovada pela admiração, uma lealdade que a morte não interrompe.

- Stefan: Você ama Eliza?
- Eliza: Você ama Stefan?

Confiar dispensa qualquer nova pergunta ao ouvir o “eu te amo”. O que vier depois disso será resposta.
Como esse casamento.
Eu abençôo os noivos. Casados em nome da poesia.

#rdb:
Este texto foi interpretado pelo autor, na cerimônia de casamento de Eliza e Stefan, 
no dia 29/03/08, na Vila Mariana, em São Paulo.

“Quem melhor do que meu poeta preferido para celebrar o amor?” 
foi o argumento de Eliza para convencer o Fabrício.

E eu achei lindo, é claro!

Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo!
Eu venci o mundo.

João 16:33

segunda-feira, 15 de julho de 2013


Homem burro é como churro: pode até dar água na boca quando se olha, mas mal se acaba de comer e já causa indigestão.
Sem falar na culpa que bate por não termos gasto as calorias em algo mais refinado... coisa bem comum de acontecer quando aqueles drinques invadem os neurônios causando uma fome tão poderosa que espanca o raciocínio.

Nunca fui fã de moços que pedem sanduíche de “mortandela”, muito menos daqueles que discutem a obra de Mohsen Makhmalbaf em oposição à de Jafar Panahi e a sua importância no cinema iraniano atual.
Os dois tipos, apesar de separados por um oceano de bibliografia, sofrem de uma completa falta de noção do mundo e de quando calar a boca.
Ambos, apesar das diferenças, são igualmente burros.
E esse, pra mim, é o maior defeito que um homem pode ter.

Pança se perde diminuindo a ingestão do barril semanal de chope.
Pelo na orelha se resolve com uma tesourinha.
Mas, burrice, só nascendo de novo.
Adquirir cultura até dá pra conseguir na mesma encarnação, mas não adianta nada saber tudo sobre a obra de Rachmaninoff e não perceber que boteco com os amigos não é ambiente, nem hora, de exibir os conhecimentos artísticos.
Eis aqui meu ponto: a inteligência vai muito além de enfileirar conhecimentos.
Um homem inteligente é aquele que sabe quando ser bocó e contar a piada dos pontinhos e a hora de virar um gentleman e usar sua cultura e panca de bom.

Inteligência, nesse sentido, é um tesão.
É uma delícia ser surpreendida por comentários sarcásticos, respostas inusitadas.
Não saber de cor e salteado o discurso do outro, as reações.
Não existe nada mais agradável do que uma pessoa cuja companhia é, mesmo depois de muito tempo, surpreendente.

Um homem inteligente sabe muito bem que dois vestidinhos pretos (por mais parecidos que sejam) não têm a mesma alma.
Um homem inteligente discorda sem brigar e, se for preciso, briga, mas sem transformar a noite em uma longa disputa pela razão - ele sabe que, nessas horas, ninguém tem razão.

Peitão delineado e coxonas grossas são realmente apetitosos.
Mas eu troco fácil um bíceps bem definido por uma conversa envolvente regada a álcool.
Porque, no final, o que me excita é aquilo que está escondido não nas calças, mas por detrás daquele sorriso.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

saudade do simples


O homem sempre é atrasado para amadurecer. Na escola, a menina anseia namorar e ele pensa unicamente em futebol. A menina de doze anos formou seu corpo e pisou na adolescência e o guri da mesma idade ainda está imberbe e não tem nenhum interesse em largar as briguinhas com os colegas.
Temos um retardo de três anos em relação ao time feminino.

Na vida adulta seguimos levando surra. A revolução sexual chegou muito antes para elas.

O macho agora que se deslumbrou em fazer sexo oral, por exemplo. É emblemática sua necessidade de posar como moderno. Não abdica da preliminar. Sua primeira atitude na transa é se dedicar a chupar sua parceira. Nem tirou a roupa e está chupando.
Cheio de boas intenções, ele se perde. Confunde o oral com maratona. A mulher ou dorme ou cansa de esperar a penetração.

Homem, quando busca agradar, exagera. E o exagero é broxante, pois ultrapassa a linha do prazer para desembocar na compaixão.
Obcecado em se tornar inesquecível, não equaciona o recado: a mulher não quer massagem, mas sexo.

Um dos seus erros é se ressentir do papai-mamãe. Acha que é um modelo antiquado, anacrônico, que lembra seus avós.
Adota variadas acrobacias, menos papai-mamãe. Para não ser acusado de conservador e machista, não desce mais da gangorra.

O homem vem sofrendo um medo tremendo de ser homem.

Um pouco mais e o papai-mamãe será extinto, injustamente.
É a posição mais romântica, mais sincera, mais transparente que existe.
É feita para quem ama de verdade.
O papai-mamãe é olhar nos olhos, é oferecer o peso do corpo, é confessar o pulmão.
São as pernas firmemente entrelaçadas. São os seios comprimidos no peito. São os braços estendidos em oferta.
Complica para qualquer um fingir orgasmo, complica para qualquer um fugir com a imaginação.
É o encaixe perfeito para arranhar as costas, morder o pescoço, cochichar aos ouvidos.
Movimento obsceno e messiânico, rude e suave.

No papai-mamãe, você pode ciscar um beijo enquanto o outro estiver gemendo, você pode observar o outro gozando, você pode segurar a mão para mostrar que não há desigualdade no grito.
Aliás, só no papai-mamãe as pessoas andam de mãos dadas também na cama.

João 14:27


Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou.
Não a dou como o mundo a dá.
Não se perturbem os seus corações, nem tenham medo.

terça-feira, 2 de julho de 2013

das bodas de cristal

#cliquenaimagem

Eu quero estar ao seu lado onde quer que haja sol, lua, céu, mar, chuva, vento, frio, calor, inverno, verão, primavera, outono, floresta, deserto, água, fogo, riqueza, pobreza, conhecimento, ignorância, saúde, doença, abundância ou escassez.

Eu me sinto genuinamente feliz por ter te encontrado e só tenho que te agradecer por tudo que vivemos nesses 3 anos!

dos amores maduros


Participei de um evento em São Paulo em que foi debatida a sexualidade nos dias atuais. Para não chegar lá com um blablablá muito pessoal, fiz o tema de casa: li o que psicanalistas e ensaístas tinham a dizer sobre o assunto. Encontrei muita coisa interessante, mas um aspecto me chamou a atenção: ao falar de amor e sexo, a visão da maioria dos teóricos abrange apenas o jovem e suas expectativas, principalmente no que diz respeito à importância da procriação na escolha do parceiro.

O assunto é visto pela ótica de quem planeja construir um relacionamento e tudo o que isso inclui: a herança emocional deixada pelos pais, a pressão social de formar uma família, a influência da religião, a interferência dos filhos no convívio do casal, as regras impostas pela coletividade, a necessidade de firmar-se profissionalmente para alcançar estabilidade, enfim, todo o projeto de vida de quem está dando os primeiros passos nesse admirável mundo das convenções e ética comportamental.

Tudo muito bem fundamentado, mas há um personagem que fica de fora desses estudos: é a pessoa de meia-idade que já se apaixonou umas 10 vezes, que já casou e descasou, teve filhos e talvez netos e que hoje está livre para iniciar um novo relacionamento, e de um jeito bem mais desencanado do que qualquer jovem de 20 anos.

Ora, esse homem ou essa mulher já atravessou o desfiladeiro: pulou para o lado de lá. Os filhos estão criados, a vida estabilizada, as expectativas do tipo “até que a morte os separe” já foram arquivadas, não carece mais de aprovação externa e está dando uma banana para as convenções: chegou a hora de se divertir. Quem escreve sobre eles? Melhor dizendo: quem escreve sobre nós?

Circulam por aí muitas interrogações sobre amor e sexo que pessoas vividas já responderam para si mesmas. Depois de terem cumprido boa parte das regras pré-estabelecidas, agora é o momento de viver 24 horas de cada vez, sem idealizações. Querem um amor descomplicado e sem amarras.

Estamos com pouco suporte teórico, mas existimos. Não fazemos questão de endereço compartilhado, troca de alianças, contrato assinado. Não nos debulhamos diante de juras de amor eterno porque já entendemos “que o pra sempre, sempre acaba”.

Não precisamos de um ninho de amor financiado para pagar a perder de vista, nem de vestido de noiva, nem de anel de compromisso, nem de muitos planos. Estamos quites com nossa juventude, já gastamos as ilusões, agora nos restou o melhor da vida: ela própria, simplesmente. A vida que temos na mão para consumo imediato. Sem discussões excessivas sobre moral, sem excesso de argumentações psicológicas, sociológicas ou com qualquer lógica.

São poucos os que escrevem sobre nós e sobre a relação que queremos construir hoje. Pensando bem, talvez seja melhor. Quanto mais livre de teorias, mais solto o amor.