"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Adeus, ano velho


Cancela, cancela todas as lembranças ruins de 2012 que as linhas estão quase acabando! Traz o saldo de todas essas decepções que se passaram e deixa aí pendurado na tal conta do destino. Mais um livro vem aí, todo ansioso, com páginas limpinhas pra gente rabiscar uma nova história. Hoje, sinceramente, eu só quero que 2012 termine bem. Só isso e nada mais. E, pra 2013 – se puder fazer algum pedido -, eu quero saúde e fé. Com o resto eu me viro. Não tenho medo de viver.

Eu sei, eu sei que bate aquele friozinho na espinha. Mas, o legal é isso: a emoção de não saber. Porque, se a gente soubesse, que graça teria? Eu não gosto de fim de ano, do clima de Natal, não sei, pode até ser esquisitice, sei lá. Mas, não gosto. Acho um saco de nostalgia pesado demais que se estende num mês que se arrasta cheio de devia-ter-feito-isso, não-devia-ter-feito-aquilo. Gosto mesmo é da sensação do começo, a sensação de que a vida é sempre um [re]começo e que as esperanças nunca acabam porque há sempre um dia e mais outro e mais outro... ao mesmo tempo, com a sensação de que só temos o hoje. Na verdade, a vida é um frio na barriga, uma eterna montanha russa de emoções.

De 2012, eu só levo o que for bom. O que não foi, deixa pra lá. Deixa guardado no meio daqueles borrões perdidos que um dia escrevi, mas que hoje já nem sei pra que canto desse mundo de meu Deus o vento levou. Hoje eu sei – de poucas coisas, mas sei – que o ódio só faz mal pra quem o mantém. Coisa ruim a gente só leva se quiser. Além do mais, a vida é uma antítese, tão certa e tão incerta, tão previsível e tão imprevisível que é. Sendo assim, porque carregar tanto peso desnecessário? Pra que tanto ódio, se amar é muito melhor?

E, na virada, quero mais é me vestir de mim. Quero a paz de estar de coração leve e bem acompanhado. Quero a certeza de que Deus estará sempre presente e, pra onde quer que eu vá, seja lá que história escrever, terei sempre a Sua companhia caminhando ao meu lado, embora muitas vezes não O sinta.

Que 2012 vá embora com todas as suas lições dadas e que, sem medo, aceitemos mais um ano que não aguenta mais de ansiedade pra nascer. Agarra aquelas pessoinhas especiais pela camisa e leva junto pra 2013, corre e vai ser feliz! A vida te espera, novinha em folha, cheia de expectativa e muita fé pra doar.


Tudo o que vejo são telas digitais, um novo mundo feito de chips e megabytes, e você vêm falar de amor, um amor que deixaria a todos incrédulos por ser real demais.

Não recebi suas cartas, mas sei que elas foram escritas, o universo regido por ícones eletrônicos induz a fantasias telepáticas. Ser intuitiva também é uma forma de conexão, há muitas cartas extraviadas viajando pelo espaço, sem fios ou cabos, sem satélites, palavras silenciadas e igualmente transmitidas. Amor é um troço raro e sempre de vanguarda.

Também escrevo minhas cartas que não são postadas, cartas digitalizadas no sonho, um mundo de excelentes intenções, nostalgias, poesias, essas coisas quase fluviais.

Você vem falar de amor de um modo que emociona, e eu vou falar de amor como se fosse sua resposta. Agradeço, primeiramente, o amor recebido e negado, demonstrado e não, seus adjetivos, seus diagnósticos e o tempo percorrido, se foi um amor de verão ou se comemorou vinte bodas anuais, o amor que sinto não é dado a configurações, o amor transcende, nunca foi mortal como a gente.

Gosto destes sons, embala o amor a rima, navego empurrada pelos ais e por sufixos e sílabas que remam, remam, aqui vão minhas palavras navais. O amor não tem ancoradouro, porto, cais – o amor é navegante e recolhe pessoas neste mar de distraídos, salva vidas. O amor que você narra e a mim dirige é amor primitivo, fora de catálogo, é sorte dos amores ambientais, estão por toda parte, para senti-lo requer apenas querê-lo. Conceitos fugazes do amor? Não creio. Há os amores produzidos e os amores naturais, os amores duros e os rarefeitos, há os que nascem do peito e os ancestrais, amores vários, todos iguais.

Em diversas cartas há seu apelo e sua culpa pelo amor não-vivido. O amor vive apesar de nós, tudo o que se sente é validado por ser existente, não sofra mais. Foram cartas não assinadas, não enviadas, talvez escritas por mais de uma pessoa, tanto faz. São cartas de amor, e mesmo com angústia e anonimato, sobrevive nelas o tesouro de um sentimento bruto, porém não violento. O amor comentado nestes tempos que correm é produto, assunto de revistas e jornais, o amor nos tempos que correm deveria ir mais devagar, aceitarem-se múltiplos, gozo, gás. Você que escreve mentalmente, você que escreve cartas para ficar, você que não sabe direito que amor é esse e que só quer se desculpar, você que ama livre e você, entre grades, você que ama em pensamento, você e você e você, nós todos e nossos amores ornamentais, que ainda nos fazem chorar e mal entender, carentes existenciais, você e você e você e nossas cartas abortadas, digamos para nós mesmos: comunicar é lindo e gritar o amor é nobre, dizer te amo é bálsamo e mais ainda, escutar. Mas o amor independe, o amor, remetente, é transcrito no olhar, há quem entenda e há quem procure lê-lo em outro lugar. Amor é carta que mesmo extraviada está ora chegando e partindo, e pode cair em mãos que não as destinadas, mas onde estiverem as palavras, escritas ou caladas, onde estiverem os desejos e seus códigos postais, não importa a data em que foram selados, serão sempre cartas de amor e amores que alcançaram seus finais.”


... as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.

2 Coríntios 5:17

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012


Desejo que essa passagem do dia 24 para 25 de dezembro faça jus ao título de "Noite Feliz".
Que cada um possa estar na companhia das pessoas que lhe são mais importantes na vida. 
Se beber, não dirija.
Se não gostar de algum presente, sorria mesmo assim.
Se não estiver alegre, tente. Se estiver, compartilhe o seu bom momento. 
E se acreditar em Deus, reze e agradeça, sem discriminar ninguém.

Feliz Natal a todos!

Durante o dia, eu torço para as horas passarem logo e o expediente acabar de uma vez.
Durante a semana, de segunda até quinta eu torço desesperadamente para a sexta chegar.
Só aos sábados, domingos e feriados é ao contrário -- eu torço para o tempo passar devagar, bem devagar, e tento aproveitar cada minuto.

Depois de passar a maior parte do ano torcendo para o tempo passar logo, é estranho chegar no Natal reclamando que o tempo está passando rápido.
Ele está atendendo as minhas preces e, ainda assim, reclamo.
Mas é só impressão minha, ou o tempo realmente está passando mais rápido que deveria?

Esse prefácio é para contar que este foi o primeiro ano em que não consegui montar a árvore de natal.
O problema não é a árvore, entendem?
O problema é que há poucos anos eu queria montar a árvore no fim de outubro, assim que o Natal dobrava a esquina e acenava -- muito, muito antes dele chegar na minha frente.
E já é a tarde do dia 24 de dezembro e eu não montei a árvore de Natal.

Gustavo e eu fomos até um shopping, compramos alguns presentes e, na saída, passamos em um quiosque de plantas para comprar um pinheirinho.
O nosso primeiro pinheirinho de verdade.
Ao entrarmos no táxi para voltarmos para casa, o motorista perguntou:
- Vocês vão me desculpar, mas não é tarde demais para montar árvore, não?
- Não, moço. Antes tarde do que nunca.

O meu desejo para vocês é que neste Natal o tempo passe devagar, bem devagar.
E que em 2013 ele continue em ritmo lento, para dar bastante tempo de vocês aproveitarem cada minuto.

(Marcele Fernandes)

Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros.
E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz.

Isaías 9:6

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012


Entre as diversas formas de mendicância,
a mais humilhante é a do amor implorado.
* * *

Das torturas natalinas


Sou favorável ao amigo visível. Aquilo que é feito escondido não pode ser bom, somente gera constrangimento.

Amigo Secreto merecia se chamar de Sofrimento Secreto.
Não tem como se divertir numa brincadeira onde seu principal desafeto pode lhe dar um presente. Ou você pode estar nas mãos do sujeito mais pão-duro do serviço.
Como ficar à vontade se tirou o nome do seu chefe?

Nunca vi ninguém pulando de alegria, vibrando por participar da confraternização.

Amigo Secreto é uma praga do Natal, que saiu das empresas para estragar a ceia das famílias.
Amigo Secreto é trocar o presente espontâneo por um brinde. É trocar a loja pelo camelô.
Amigo Secreto é ir a um rodízio de pizza para comer somente uma fatia.

A pior coisa do Amigo Secreto é quem faz suspense demais. Procura competir com Fidel Castro.
A pior coisa do Amigo Secreto é também quem não faz suspense nenhum. Preguiçoso e sem vontade.
Todos erram as características na hora do anúncio. É um festival de constrangimentos.

Amigo Secreto dá chance para os tarados cantarem suas colegas. Oficializa o assédio sexual.
A Lei de Murphy criou o Amigo Secreto.
A lembrança que você recebe consegue ser muito menor do que o limite estabelecido. Você sempre será prejudicado. Terminará com um CD muquirana ou um pacote de meias.

Amigo Secreto é uma reunião de condomínio procurando ser Orçamento Participativo.
Amigo Secreto é uma rifa sonhando ser Mega Sena.
Amigo Secreto é fingir que você é feliz no trabalho.

"Veja por este ângulo: a espera se justifica por você ser tão especialzinha e única, feito uma flor bonita em encostas arenosas.
Confia em mim, ele vai te encontrar.
Mas siga sua intuição, não perca tempo e beleza com rapazes feitos para outras garotas.
Só pelo andar da carruagem você já sabe quem vem dentro."

Pois o Senhor é o nosso juiz,
o Senhor é o nosso legislador,
o Senhor é o nosso rei; é ele que nos salvará.

Isaías 33:22

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Da trilogia “3 posts para reler antes do Fim do Mundo”: 2011


The end of the world...

. Rapaz é ofendido e por isso mata duas crianças e um adolescente que passeavam de bicicleta.
. Ainda sem solução o caso do calouro de Medicina que foi encontrado morto numa piscina depois de uma sessão de trotes.
. Guarda mata por engano um rapaz que foi buscar a namorada no colégio.
. Vereador acusado de agiotagem.
. Prefeituras desviam verba destinada à educação.
. Deslizamento de terra mata 41 pessoas na Colômbia.
. 48 casas incendiadas numa cidade americana.
. Pilotos condenados a pagar 42 milhões de indenização por causa de uma greve ilegal.
. Cinco dias antes de ser executado, um teste de DNA prova a inocência de um preso que cumpria pena há 12 anos.
. Toneladas de remédios estragam num galpão da Secretaria de Saúde de Minas.
. Força de Paz é recusada em Kosovo.
. Massacre dos Carajás faz três anos sem nenhum culpado punido.
. Os kits de emergência que foram obrigatórios nos carros são doados a hospitais.
. Um temporal deixa dois mil desabrigados numa pequena cidade.
. Previsão de neve no sul do Brasil.
. Mulher viúva há nove meses ainda não conseguiu enterrar o marido, que foi considerado indigente quando deu entrada no hospital.
. Policiais fazem treinamento para conter uma manifestação antiaborto nos EUA.
. Banco Central gastou um bilhão e meio para socorrer os bancos Marka e Fonte Cindam.
. FHC rebate as críticas que sofreu da CNBB.
. ACM debocha de FHC.
. Fronteira do Suriname é a nova porta de entrada da cocaína no Brasil.
. Uma parte do ouro garimpado no Pará serve para pagar traficantes.

Boa-noite!

Esse não é um resumo dos males do século, e sim as notícias que foram ao ar pelo Jornal Nacional na sexta-feira, dia 16 de abril de 1999, uma data que escolhi aleatoriamente. Dei-me o trabalho de anotar absolutamente tudo o que foi noticiado, boquiaberta com tanto descalabro em apenas 45 minutos de uma única edição jornalística. Excetuando-se a doação dos kits aos hospitais e a chegada da neve na serra gaúcha, o resto são exemplos de negligência, ignorância, brutalidade, abusos, desgoverno e, vá lá, fatalidades.

Muita gente acredita que o mundo terminará numa explosão atômica ou na queda de um meteoro gigante, qualquer coisa assim, apocalíptica.
Começo a achar que não.
Talvez o fim do mundo já esteja sendo vivido, só que em doses homeopáticas, um pouco a cada dia, pra gente se acostumar com a dor.

"Ficou na memória dos meus olhos o clarão do sorriso dos seus.
Depois disso, tudo o que sorri pra mim com algum sol faz eu lembrar de você."

Gastei todas as minhas mentiras na paixão.
Gastei todas as minhas verdades no amor.
O que sobrou sou eu.

O caminho é este
tem pedra, tem sol
tem bandido, mocinho
tem você amando
tem você sozinho.
É só escolher
ou vai, ou fica.

Fui.

Senhor, tem misericórdia de nós; pois por ti esperamos!
Sê tu a nossa força cada manhã, nossa salvação na hora do perigo.

Isaías 33:2

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Da trilogia “3 posts para reler antes do Fim do Mundo”: 2010


Das responsabilidades

Cansei de me flagrar em circunstâncias em que eu jurava que havia ocorrido uma falha do cenógrafo na montagem do ambiente: tudo o mais poderia estar no lugar correto, mas não era para eu estar ali.

Aí era um tal de listar os supostos culpados, lamentar a má sorte, um blablablá triste toda vida, sob o fundo musical de “Ó, Deus, como sou infeliz”.
Muitas cenas depois, porque só o tempo é capaz de nos dar olhos que veem um pouco além das aparências, comecei a encaixar as peças daquelas tais circunstâncias e a perceber que estive exatamente onde eu me coloquei.
Nem um centímetro a mais nem a menos.
Eram os meus sentimentos, minhas dores pendentes de cura, minha resistência à mudança, minhas crenças equivocadas sobre mim, que me atraíam para aqueles cenários.
Peças encaixadas, descobri que, no fim das contas, a roteirista o tempo todo era eu.

Se a história não me agrada, preciso aprender a reescrevê-la até que se torne parecida com a ideia que passa pelo meu coração.
O roteiro só muda quando eu assumo a minha responsabilidade por ele e me trabalho para ser capaz de modificá-lo.

Não adianta culpar o cenógrafo.

Daqui: http://amar-gareth.blogspot.com.br/2010/12/responsabilidade.html

Amor queria tanto saber
onde ponho meu eu que é você
e esse teu eu que sou eu?

este teu eu em que me sou,
onde vais dispor?

Já nos misturamos tanto.

Passamos metade da vida à espera daqueles que amamos
e a outra metade a deixar os que amamos.

Felicidade começa com Fé

               Moacyr Franco

Estado civil:
apaixonada e comprometida com a felicidade.

Eu, o Senhor, sou o seu vigia, rego-a constantemente e a protejo dia e noite para impedir que lhe façam dano.

Isaías 27:3

domingo, 16 de dezembro de 2012


"Estou no começo do meu desespero e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa''
(Adélia Prado)

Mulher...
Se tiver coragem de passar por mais alegrias e desilusões - e a gente sabe como as desilusões devastam - terá que ser meio doida.
Se preferir se abster de emoções fortes e apaziguar seu coração, então a santidade é a opção.

Eu nem preciso dizer o que penso sobre isso, preciso?
Pra começo de conversa, não acredito que haja uma única mulher no mundo que seja santa.
Os marmanjos devem estar de cabelo em pé: como assim, e a minha mãe???
Nem ela, caríssimos, nem ela.
Existe mulher cansada, que é outra coisa.
Ela deu tanto azar em suas relações que desanimou.
Ela ficou tão sem dinheiro de uns tempos pra cá que deixou de ter vaidade.
Ela perdeu tanto a fé em dias melhores que passou a se contentar com dias medíocres.
Guardou sua loucura em alguma gaveta e nem lembra mais.

Toda mulher é doida. Impossível não ser.
A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar nosso poder de sedução para encontrar 'the big one', aquele que será inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais.
Uma tarefa que dá para ocupar uma vida, não é mesmo?
Mas, além disso, temos que ser independentes, bonitas, ter filhos e fingir de vez em quando que somos santas, ajuizadas, responsáveis, e que nunca, mas nunca, pensaremos em jogar tudo pro alto e embarcar num navio-pirata comandado pelo Johnny Depp, ou então virar uma cafetina, sei lá, diga aí uma fantasia secreta, sua imaginação deve ser melhor que a minha.

Eu só conheço mulher louca.
Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada, dramática, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante.
Pois então. Também é louca. E fascinante.
Todas as mulheres estão dispostas a abrir a janela, não importa a idade que tenham.
Nossa insanidade tem nome: chama-se Vontade de Viver até a Última Gota.
Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora.
E santa, fica combinado, não existe.
Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseja mais nada?
Você vai concordar comigo: só sendo louca de pedra.

Estas memórias ou lembranças são intermitentes e, por momentos, me escapam porque a vida é exatamente assim.
A intermitência do sonho nos permite suportar os dias de trabalho.

Muitas de minhas lembranças se toldaram ao evocá-las, viraram pó como um cristal irremediavelmente ferido.

As memórias do memorialista não são as memórias do poeta.
Aquele que viveu talvez menos, porém fotografou muito mais e nos diverte com a perfeição dos detalhes; este nos entrega uma galeria de fantasmas sacudidos pelo fogo e a sombra de sua época.

Talvez não tenha vivido em mim mesmo, talvez tenha vivido a vida dos outros.

Do que deixei escrito nessas páginas se desprenderão sempre – como nos arvoredos de outono e como no tempo das vinhas – as folhas amarelas que vão morrer e suas uvas que reviverão no vinho sagrado.

Minha vida é uma vida feita de todas as vidas: as vidas do poeta.

Senhor, tu és o meu Deus; eu te exaltarei e louvarei o teu nome, pois com grande perfeição tens feito maravilhas, coisas há muito planejadas.

Isaías 25:1

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Dos re-começos


O ano está no final - mais uma vez - e nem chegamos perto de entender o que tínhamos p'ra entender.
Ou chegamos talvez.
Na verdade tanta coisa cuspida na minha cara não serviu de muito proveito.
Na verdade, fiz o que eu tinha que fazer, você também, todos nós fizemos e ainda estamos fazendo.
Sabemos que fizemos.
Ego por ego, tempos dois dentro da mesma briga, entre tantas e tantas e tantas coisas iguais das quais só dependemos das diferenças o tempo inteiro.
Nós brigamos, discutimos, magoamos e fomos magoados.
Mas é fácil assim, os "meus" erros, as minhas crenças.
Não fui eu quem desistiu primeiro e nem por último.
Não lavei as mãos.
E os erros dos outros sempre são fáceis de perceber, e os nossos?
Eu tive a minha chance de sonhar com você, de acreditar, mas não.
Agora é a sua vez de sonhar e acreditar.
Fácil de quem joga romances pela janela e os esquece completamente, difícil de quem joga e não os esquece.
E depois são as cobranças de culpas passadas, arrependimentos passados, de quem deitou, deitou, e quem não deitou, não deita mais.
Não sou canalha, não joguei a tua (in)certeza fora, só deduzi.
Deixar p'ra trás sem movimento, sem orgulho de si, nunca vai mudar os fatos tão fatos, como uma história contada por muitos e vivida por poucos.
A gente continua por aí se lamentando entre os bueiros e calçadas da vida, mais não sei lá por quanto tempo.
Não sei os motivos de silêncio, nem os motivos de pedradas.
Só sei que incomoda, como "Tell me that I'm special even when I know I'm not".

365 dias depois, dessa vez não sou eu quem vai sonhar com você, ou que talvez te ligue, ou que talvez te ame.

Deus é a minha salvação; terei confiança e não temerei.
O Senhor, sim, o Senhor é a minha força e o meu cântico; ele é a minha salvação!

Isaías 12:2

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012


Hoje de manhã, "do nada", comecei a rir das besteiras que as pessoas postam nas redes sociais em relação ao fim do mundo.
Quem tem uma página no Facebook, Twitter, sabe do que estou falando.
Fazem tanta piada sobre o fim do mundo que imaginei: e se fosse verdade? Se amanhã (ou no dia 21/12/12) não estivéssemos mais aqui?

Aí me veio à mente o filme "O amor pode dar certo", a cena em que a personagem principal, que está com uma doença grave e em fase terminal, está conversando com o namorado dela e diz a ele que tem pensado nas últimas vezes! Pensado na última vez que usou um lápis, afagou um cachorro, a última vez que tocou piano. E completa mais ou menos assim: foram tantas coisas que eu fiz pela última vez, mas nem estava prestando a devida atenção.
Aí que eu comecei a pensar nas coisas que gosto de fazer, nas pessoas que queria ter sempre por perto. E pensei no mundo acabando mesmo no dia 21/12/12 e nas coisas que eu gostaria de fazer pela última ou primeira vez.

Morder a tampa de uma caneta enquanto estudo, pisar na grama com os pés descalços, ter um encontro com o mar. Cantar enquanto viajo com a minha família, pintar as unhas, comer um pote enorme de sorvete, mandar cartas para todos que amo, passar uma noite acordada conversando com pessoas queridas, fazer amizades falando sobre o tempo, me declarar, abraçar por mais de um minuto, voar de asa-delta, ir a uma festa e dançar, dançar, dançar... até os pés pedirem para parar!

Participar de um luau, tocar violoncelo, provar todos os sabores de Mentos, me apaixonar e ser correspondida, fazer cócegas, sentir cócegas, chorar porque algo muito bom me ocorreu, sentir o vento batendo no meu rosto. Rever meus filmes preferidos. Receber um presente inesperado de uma pessoa que eu não vejo há muito tempo. Conhecer pessoalmente alguns amigos da alma. Ir, pelo menos, a três shows de bandas / cantores que eu goste muito. Viajar, pelo menos, para dois lugares que eu sempre quis conhecer, comer pudim, tomar um banho de rio. Um banho de chuveiro. Compartilhar segredos. Saber que posso confiar. Saber que confiam em mim. Descansar minha alma ao lado de alguém.

São tantas as coisas que gostaria de fazer.
O fim do mundo se anuncia a todo momento, a cada vez que respiramos.
A gente nunca sabe quando será o fim do nosso mundo. E é por isso que faço força para me manter com a consciência tranquila e para ter as pessoas que amo por perto. É por isso que temos que pensar, mesmo que vez ou outra, nos nossos sonhos e fazer esforços para realizá-los. É por isso que tudo que a gente quer reviver ou viver deve ser enfrentado na vida real. Ser tirado do texto, da composição bonitinha.

Guerreiros que somos, arrisco dizer que todo dia é uma batalha ganha, todos os dias devemos agradecer por ter vencido o fim do mundo!
Manter-se vivo, feliz, confiante e cheio de garra dá um trabalho danado. É a nossa batalha diária.
Somos heróis e heroínas à procura de paz, serenidade, do embalo necessário para manter a vida sempre alerta. Somos guerreiros em busca de sorrisos, abraços e um bônus que garanta a sobrevivência de amanhã.
Todos os dias reconstruímos o que restou.
Se você está lendo este texto, é para você que eu digo: mais uma batalha foi ganha. Você foi um dos sobreviventes

Quando pensei em escrever algo sobre o fim do mundo, mandei um sms para uma amiga informando a ela minha ideia para o texto, ao que ela respondeu: "O mundo não vai acabar antes que eu te abrace". E me fez sorrir. Porque saber que sou querida e lembrada é um dos maiores bônus que recebo diariamente.
É coisa muito boa... É lindo saber que em algum lugar do mundo alguém pensa no abraço antes de cogitar o fim.
E de gente assim, a minha vida está cheia, graças a Deus.

Por isso o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel.

Isaías 7:14

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Do grito


- Não sei o que está acontecendo comigo, diz a paciente para o psiquiatra.
Ela sabe.

- Não sei se gosto mesmo da minha namorada, diz um amigo pra outro.
Ele sabe.

- Não sei se quero continuar com a vida que tenho. Pensamos em silêncio.
Sabemos sim.
Sabemos tudo o que sentimos porque algo dentro de nós grita.
Tentamos abafar esse grito com conversas tolas, elucubrações, esoterismo, leituras dinâmicas, namoros virtuais, mas não importa o método que iremos utilizar para procurar uma verdade que se encaixe nos nossos planos: será infrutífero.
A verdade já está dentro, a verdade se impõe, fala mais alto que nós, ela grita.

Sabemos se amamos ou não alguém, mesmo que esteja escrito que é um amor que não serve, que nos rejeita, um amor que não vai resultar em nada.
Costumamos desviar esse amor para outro amor, um amor aceitável, fácil, sereno.
Podemos dar todas as provas do mundo de que não amamos uma pessoa e amamos outra, mas sabemos, lá dentro, quem é que está no controle.

A verdade grita. Provoca febre, salta aos olhos, desenvolve úlceras.
Nosso corpo é a casa da verdade, lá de dentro vêm todas as informações que passarão por uma triagem particular: algumas verdades a gente deixa sair, outras a gente aprisiona e finge esquecer.
Mas há uma verdade única: ninguém tem dúvida sobre si mesmo.
Podemos passar anos nos dedicando a um emprego sabendo que ele não nos trará recompensa emocional.
Podemos conviver com uma pessoa mesmo sabendo que ela não merece confiança.
Fazemos essas escolhas por serem mais sensatas ou práticas, mas nem sempre elas estão de acordo com os gritos de dentro, aquelas vozes que dizem: vá por este caminho, se preferir, mas você nasceu para o caminho oposto.

Até mesmo a felicidade, tão propagada, pode ser uma opção contrária ao que intimamente desejamos.
Você cumpre o ritual todinho, faz tudo como o esperado, e é feliz, puxa, como é feliz.
E o grito lá dentro: mas você não queria ser feliz, queria viver!

- Eu não sei se teria coragem de jogar tudo para o alto.
Sabe.

- Eu não sei por que sou assim.
Sabe.

Tema a Deus e guarde os seus mandamentos, pois isso é o essencial para o homem.
Pois Deus trará a julgamento tudo o que foi feito, inclusive tudo o que está escondido, seja bom, seja mal.

Eclesiastes 12:13-14

terça-feira, 11 de dezembro de 2012


O Natal está chegando...
Todo mundo fica agitado, é preciso comprar presentes no cartão de crédito, fazer dívidas a serem pagas no outro ano, preparar comilanças...
Mas, afinal de contas, por que tanto agito?
Eu acho que a maioria se agita sem saber porque. E, se soubessem, não se agitariam...
Pois eu vou dizer o que penso do por que do Natal.

O Natal é o dia em que se para tudo a fim de se contar e a fim de se ouvir uma estória, a mais bela e a mais simples jamais contada.
Todo esse agito por causa de uma estória? É.

A estória do Natal é uma estória do mundo dos mágicos, dos bruxos, das fadas, das varinhas de condão, dos encantamentos. As estórias têm poderes mágicos.
Vocês já notaram que, quando a gente ouve uma estória que nos comove, ela entra dentro da gente, faz a gente rir, faz a gente chorar, faz a gente amar, faz a gente ficar com raiva?
As estórias dos mundos dos mágicos saltam das páginas dos livros onde estão escritas, entram dentro da gente e se alojam no coração. Quando isso acontece a estória fica viva, toma conta do nosso corpo e da nossa alma, e nós passamos a ser parte dela.

Pois a estória do Natal faz isso com a gente.
Quando vai chegando o Natal eu fico com saudade das músicas antigas de Natal (tem de ser das antigas; as modernas não servem) e começo a folhear meus livros de arte, onde estão as pinturas do presépio.

É muito simples: um menininho que nasceu em meio aos bois, vacas, ovelhas, cavalos, jumentos...

Era menininho pobre. Mas diz a estória que quando ele nasceu aconteceu uma mágica com o mundo: tudo ficou diferente: as árvores se cobriram de vaga-lumes, as estrelas brilharam com um brilho mais forte, e até uns reis deixaram os seus palácios e foram ver o nenezinho.
A visão do menininho os transformou: eles largaram suas coroas, jóias e mantos de veludo junto com os bichos, na estrebaria.
Quem vê o menininho fica curado de perturbação.

Perturbados são os adultos que, ao falar sobre Deus, imaginam um ser muito grande, muito poderoso, muito terrível, ameaçador, sempre a vigiar o que fazemos para castigar.

Pois o Natal diz que isso é mentira.
Porque Deus é uma criancinha. Ele está muito mais próximo de vocês do que dos adultos. E foi essa mesma criancinha que, depois de crescida, disse que para estar com Deus bastava voltar a ser criança.

Se os adultos, antes de comprar presentes e preparar ceias, se lembrassem da estória, eles ficariam curados da sua doidice.
Na noite do Natal que se aproxima, antes de abrir os presentes, antes de começar a comedoria, peça ao seu pai ou à sua mãe: “Por favor, conte a estória do menininho...”

Lembre-se do seu Criador nos dias da sua juventude,
antes que venham os dias difíceis
e antes que se aproximem os anos em que você dirá:
"Não tenho satisfação neles"

Eclesiastes 12:1

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Aos frouxos


E aí eu me pergunto: o que leva um homem a despertar vontades em uma mulher se não tem a pretensão/ação de realizá-las?
Não sei se o problema é a minha pouca paciência ou minha extrema objetividade ou se o problema está nos homens frouxos de hoje em dia.
Me desculpem a força da expressão, mas esse foi o adjetivo que melhor coube a essa espécie tão diversificada de homens.
Os frouxos que me desculpem, mas toda mulher gosta mesmo é de atitude.
Se tem uma coisa que acaba com o pouco de paciência de qualquer uma de nós é um homem ‘em conflito’.
Quer, mas não quer. Diz, mas não faz.
Se for pra amar, ame. Adoce, mas não faça doce.
Garanto, mulher nenhuma vai cair no seu papo se as palavras não virarem ações.
Não adianta ser bonito, arrumadinho, fortão, simpático, educado e etc.
A atitude faz a diferença.
Sabe aquele famoso ‘quê’? Pois é, esse tão famoso quê é o ingrediente que anda faltando em muitas receitas.

Qualquer homem pode ser um príncipe encantado na vida de qualquer mulher, se não for um frouxo.
Caso seja, sinto muito, o castelo desmorona e o sapo volta pro brejo.
Mulher não gosta de homem que espera, que promete. Aliás, mulher não gosta de promessas, gosta do feito, inesperado.
Toda mulher sonha com aquele cara que vai te acolher e te esquentar no seu colo forte e protetor e, de vez em quando, arriscar algumas palavrinhas de amor - por que não?
Sabe, amor tem que ser de corpo inteiro. Tem que ser de alma inteira.
Mulher gosta mesmo é daquilo que tira o fôlego e depois devolve o ar.
Mulher gosta de aventura, de riscos e detesta homem que mede consequências.
Mulher gosta de amor ladrão. Amor que rouba horas do dia em sorrisos bobos.
Mulher não gosta de homem que ame mais ou menos, que queira mais ou menos, de nada que não desperta nem ódio e nem paixão.
Amor pela metade é amor sem serventia.
Mulher não gosta de amor covarde.
Amor de homem frouxo não serve nem pra passatempo.

Quando você fizer um voto, cumpra-o sem demora, pois os tolos desagradam a Deus; cumpra o seu voto.
É melhor não fazer voto do que fazer e não cumprir.

Eclesiastes 5:4-5

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

a saga de um quase-herói


Você,
que foi caçador de bicho papão
que venceu a guerra nas estrelas
que treinou o Senna nas pistas
que ensinou o super-homem a voar

Você,
que coreagrafou o Fred Astaire
que foi professor de canto do Elvis 
que compôs Imagine pro Lennon
que ensinou Baden Powell tocar

Você,
que é pai, referência, alicerce
que é “amigo de fé, irmão, camarada”
que cuida de tanta gente
que até esquece de se cuidar

Você,
que ‘pegou’ a Janis no Woodstock
que despertou a ‘Bela Adormecida’
que hoje é meu namorado
que me faz bem e que escolhi amar



* Se o quadradismo dos meus gestos
vai de encontro aos intelectos
que não usam o 'nuvensdealgodão' como expressão

Que me perdoem se eu insisto neste tema
mas não sei fazer poema ou canção
que fale de outra coisa que não seja o amor

...
... eu já nem sei se é meninice ou cafonice o meu amor
* Licença poética - aqui

Das faxinas


Há muitas coisas boas em se mudar de casa ou apartamento. Em princípio, toda e qualquer mudança é um avanço, um passo à frente, uma ousadia que nos concedemos, nós que tememos tanto o desconhecido. Mudar de endereço, no entanto, traz um benefício extra. Você pode estar se mudando porque agora tem condições de morar melhor, ou, ao contrário, porque está sem condições de manter o que possui e necessita ir para um lugar menor. Em qualquer dos dois casos, de uma coisa ninguém escapa: é hora de jogar muita tralha fora. E, se avaliarmos a situação sem meter o coração no meio, chegaremos a um previsível diagnóstico: quase tudo que guardamos é tralha.

Começando pelo segundo caso: o de você estar indo para um lugar menor. Salve! Considere isso uma simplificação da vida, e não um passo atrás. Não haverá espaço para guardar todos os seus móveis e badulaques. Se você for muito sentimental, vai doer um pouquinho. Mas não é um crime ser racional: olhe que oportunidade de ouro para desfazer-se daquela estante enorme que ocupa todo o corredor, e também daquela sala de jantar de oito lugares que você só usa em meia dúzia de ocasiões especiais, já que faz as refeições do dia-a-dia na copa. Para que tantas poltronas gordas, tanta mobília herdada, tantos quadros que, pensando bem, nem bonitos são? Xô! Leve com você apenas o que combina e cabe na sua nova etapa de vida. O que sobrar, venda, ou melhor ainda: doe. Você vai se sentir como se tivesse feito o regime das nove luas, a dieta do leite azedo, ou seja lá o que estiver na moda hoje para emagrecer.

No caso de você estar indo para um lugar maior, vale o mesmo. Aproveite a chance espetacular que a vida está lhe dando para exercitar o desapego. Para que iniciar vida nova com coisa velha? Ok, você foi a fundo de caixa e não sobrou nada para a decoração, compreende-se. Pois leve seu fogão, sua geladeira, sua cama, seu sofá e o imprescindível para não dormir no chão. Pra começar, isso basta. Coragem: é hora de passar adiante todas as roupas que você pensa que vai usar um dia, sabendo que não vai. Hora de botar no lixo todas as panelas sem cabo, os tapetes desfiados, as almofadas com rombos, os discos arranhados, as plantas semimortas, aquela lixeira medonha do banheiro, os copos trincados, os guias telefônicos de três anos atrás, todas as flores artificiais, as revistas empoeiradas que você coleciona, a máquina de escrever guardada no baú, o aquário vazio o violão com duas cordas. Tudo isso e mais o que você esconde no armário da dependência de serviço. Vamos lá, seja homem.

Caso você não esteja de mudança marcada, invente outra desculpa qualquer, mas livre-se você também da sua tralha. Poucas experiências são tão transcendentais como deixar nossas tranqueiras pra trás.