"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



domingo, 16 de dezembro de 2012


Estas memórias ou lembranças são intermitentes e, por momentos, me escapam porque a vida é exatamente assim.
A intermitência do sonho nos permite suportar os dias de trabalho.

Muitas de minhas lembranças se toldaram ao evocá-las, viraram pó como um cristal irremediavelmente ferido.

As memórias do memorialista não são as memórias do poeta.
Aquele que viveu talvez menos, porém fotografou muito mais e nos diverte com a perfeição dos detalhes; este nos entrega uma galeria de fantasmas sacudidos pelo fogo e a sombra de sua época.

Talvez não tenha vivido em mim mesmo, talvez tenha vivido a vida dos outros.

Do que deixei escrito nessas páginas se desprenderão sempre – como nos arvoredos de outono e como no tempo das vinhas – as folhas amarelas que vão morrer e suas uvas que reviverão no vinho sagrado.

Minha vida é uma vida feita de todas as vidas: as vidas do poeta.