terça-feira, 31 de março de 2015
Se você não está aqui, para que os morangos na geladeira? Talvez eles se percam antes que você volte. Talvez, em vez do chantili, eu faça um biscoito de nata com aquele creme de leite fresco. Para relembrar a infância ou algum outro lugar que não tenha você.
É incômodo pensar que eu mesma terei de decidir o que fazer com cada resto, cada marca, cada futuro desmanchado que ficou. A fechadura estragada, a luminária ainda por instalar, as paredes manchadas (vou cobri-las com papel de parede, já que pintá-las seria uma tarefa nossa).
Andei pensando - o que fazemos na falta, além de pensar? Parece que sempre fica algo a dizer. Em mim as palavras têm surgido como bolhas de sabão: remexo o pote e dali saem os mais lúcidos raciocínios. Pena que no calor da discussãoas bolhas não surjam, para nos trazer a leveza de enxergar.
Talvez fosse melhor conversar sempre por carta. Lembra quando surgiram os e-mails e um certo romantismo voltou a fazer parte da nossa vida? Hoje, retomamos a ansiedade das respostas imediatas. O conflito ganhou sua versão móvel e nos acompanha para onde formos, num aparelhinho que antes só esperávamos tocar. Nem quando estamos sós podemos levar o silêncio.
Cartas, não. Cartas são emoções embrulhadas. Enviam dor, lágrima, saudade, fascinação. Quem as recebe sente o calor de quem sente. Cartas aproximam. Já as mensagens instantâneas parecem dar a largada para uma disputa de desencantos.
Deixo registrado, então. Que o silêncio fica melhor com a sua presença. Que a iminência do fim tem o poder de colocar um holofote sobre a verdade, justo quando não há mais tempo para procurar o que se perdeu. Que nos momentos de falta fica evidente o que é de fato importante. Que só compartilhamos com os amigos os momentos difíceis a dois. Não ligo para nenhum deles depois de um dia bom, para contar detalhes da paz que sentimos juntos. Momentos serenos não são cheios de detalhes, eles simplesmente são. Talvez por isso, porque só nos ouvem na hora do aperto, eles passem a torcer pelo fim. Juntos, nós os angustiamos.
Já reparou que só é capaz de ceder numa relação quem está mais seguro e sereno? Pois é, nem sempre estamos. Penso, concluo, choro. São as águas de março fechando o verão. “A saudade é terapêutica”, dissemos um ao outro. Devo estar agora num spa.
Agora que tudo acabou, preciso dizer que foi bom. E confessar que também não foi. As coisas podem ser boas e ruins ao mesmo tempo - a sombra persegue a luz. Agora que tudo acabou, tudo começa no quarto, luz apagada, a ausência gritando feito uma louca encarcerada. Agora que tudo acabou, as paredes dizem verdades que não quero ouvir. Descubro que nada acabou. Vou até a cozinha devorar os morangos. Espera, é a campainha. Acho que é você.
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Cris Guerra
domingo, 29 de março de 2015
só na hora do aperto?
Eu não te conheço.
Não
sei se você é católico, protestante, judeu, muçulmano. Não sei se é um dos
meus, sem religião, sem igreja, mas cheio de fé. Tanto faz. Acredito naquele
velho clichê de que não importa qual a sua crença, desde que ela te faça uma
pessoa melhor.
Não
sei qual é seu Deus. Se ele é o clássico senhor de cabelos brancos, se é só um
feixe de luz, se é um negão bacana de dread, se é o cosmo, se é só um abraço
acolhedor ou se é, como para Alberto Caeiro, as flores e as árvores, e os
montes e o sol e o luar.
(mas
se você, de fato, não tem Deus nenhum, acredito que essa leitura seja perda de
tempo)
Enfim,
sobre esse seu Deus, quando é que você se lembra dele?
Lembra
de Deus num sábado de sol, ao abrir a janela? Ou será que nessa hora só lembra
da piscina, da cerveja ou da bicicleta no parque?
Lembra
de Deus ao ver uma criança na rua? Ou só quando a sua criança tem 37 graus de
febre ou notas baixas na escola?
Lembra
de Deus ao comer uma fruta fresca ou um pão quentinho? Ou só quando precisa que
sua calça feche por causa dos quilos a mais?
Lembra
de Deus quando se sente bem após um período de mal estar? Ou só enquanto há um
incômodo?
Lembra
de Deus quando vê um pedinte com olhos tristes no farol? Ou só quando ele se
aproxima de você, te causando algum tipo de medo?
Lembra
de Deus quando recebe um abraço com amor? O só quando o amor dá errado e você
precisa se reerguer?
Lembra
de Deus quando entra em sua casa tão querida? Ou só quando o trânsito não te
deixa chegar nela?
Lembra
de Deus quando faz carinho em um filhote de cachorro? Ou só quando se depara
com uma barata voadora?
Lembra
de Deus quando o médico te diz que está tudo ótimo? Ou só quando há alteração
nos exames?
Sabe
aquele amigo que só te procura na hora do aperto? Quando precisa de ombro, de
grana, de favor? E pior: ajudamos esse cara e na hora em que fica tudo bem, ele
não te dá um abraço agradecido, nem tem convida para comemorar. Só vai te
procurar uns meses depois, quando outro problema surgir.
Será
que às vezes não somos um desses com Deus? Deixando que ele participe da nossa
vida só na hora da cobrança e do aperto?
Será
que estamos sendo boa companhia para nosso Deus? Ou somos o tal cara
oportunista e folgado?
Não
acredito que nossos deuses nos abandonem.
Mas
será que quando alguém deseja que você vá com Deus ele vai com você por obrigação
ou por vontade? Vai feliz, te amparando, ou vai só cumprir sua função?
Será
que esse Deus está feliz ao nosso lado, como estamos ao lado dele? Cabe a nós
fazer com que ele esteja. E isso não é nada além do que se chama de “gratidão”.
Porque
amor, com amor se paga.
___Ruth Manus
quinta-feira, 26 de março de 2015
“Não percebi a chegada do outono. Mas eu sentia que estava embarcando numa nova estação: todas as árvores que (não) plantei, de repente, estavam nuas. E eu caminhava num tapete de folhas e flores.
Os caminhos também se estreitaram e tive uma
sucessão de perdas, ou melhor, tive uma sucessão de trocas.
E assim, como toda pessoa que tem um coração
pulsando, fiquei assustada demais com as mudanças.
Mas agora já consigo perceber beleza na nudez
de cada uma das minhas árvores prediletas.
Elas apenas estão trocando de roupa enquanto
eu troco de pele, tamanha cumplicidade.”
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Marla de Queiroz
um elogio à memória
O médico britânico Richard Smith gerou polêmica, recentemente, ao afirmar que o câncer é a melhor forma de morrer. Aos que já perderam alguém para essa doença infeliz, a pergunta que fica no ar é: como assim? Dr. Smith explica que, entre a morte súbita, a falência múltipla de órgãos, a demência ou um câncer, este último estaria em vantagem por dar ao paciente a oportunidade de se despedir dos seus afetos e prazeres, de refletir sobre a vida, de visitar certos locais pela última vez e de se preparar para a partida conforme suas crenças. A polêmica se acirrou mais ainda quando ele disse que os investimentos para pesquisar a cura do câncer deveriam, ao menos em parte, ser direcionados a estudos sobre as doenças da mente.
A primeira vez que enxerguei o câncer com olhos menos dramáticos foi ao ler o livro Por um Fio, do dr. Dráuzio Varella, em que ele relata sua comovente experiência como oncologista. Agora, ao assistir ao filme Para Sempre Alice (que achei meio fraco, diga-se), reforcei a ideia de que o câncer dispõe mesmo de alguns benefícios nessa competição macabra.
A atriz Julianne Moore ganhou o Oscar de melhor atriz ao interpretar uma mulher de 50 anos que sofre do mal de Alzheimer. Ela perde palavras, não reconhece feições, esquece com quem estava conversando, e sobre o quê. Menos mal que ainda consegue produzir flashbacks, lembrar a infância e acontecimentos remotos. Porém, nos casos em que a memória vai inteirinha para o brejo, de que adiantou ter vivido?
Não faz sentido atravessar tantos conflitos e amores, ter cometido tantos erros e acertos e não poder, lá adiante, contabilizá-los. No inventário de uma vida, vale o que se fez e o que se sentiu. Se tudo for esquecido, esvaziam-se nossos 80 anos, nossos 90 ou 100. Qualquer longevidade passará a valer um segundo.
Espero um dia olhar para fotos antigas e me reconhecer no sentido mais amplo, recordar o que eu vivia naquele momento do clique, dizer “parece que foi ontem” sem sofrimento. Quero lembrar sabores, sorrisos, gestos, enfim, os flashes que iluminam a estrada atrás de nós. Quero inclusive lembrar os arrependimentos e as dores, que vistos de longe parecerão bem menores – e essenciais. Quero rir muito de mim, me recordando de trás pra frente.
Porque, se não for assim, nossa vida terá valido para os outros, os que nos lembram, mas não terá valido para nós mesmos. Seremos uns desmemoriados sem alicerces, vagando num presente ilusório, desaparecendo a cada minuto que passa.
Se temos que morrer um dia (que jeito), que seja abraçados a nossas recordações. A integridade de uma vida está em seu reconhecimento, mesmo que, junto às boas lembranças, sejamos obrigados a reconhecer também a proximidade do fim. É o preço. Pior é morrer alienado, sem poder avaliar, através da memória, se valeu ou não a pena.
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Martha Medeiros
quarta-feira, 25 de março de 2015
(em tempos de crise híbrida e hormonal, quem pensa em diamantes?)
Drummond disse uma vez que há duas épocas na vida em que a felicidade está numa caixa de bombons: na infância e na velhice. Tudo bem, eu perdôo. Drummond não nasceu mulher, nunca teve TPM. Ele não sabia que há uma época do mês, durante toda uma vida, em que a felicidade de uma mulher mora bem ali: no doce sabor de um bombonzinho.
Mentira minha? Ah, não sei, não. “Naqueles dias”, meu bem, só um docinho na boca pra salvar o humor e acalmar os ânimos. Claro que - se possível – também queremos colo, elogios e um bom cafuné. Mas chocolate – ah, chocolate não tem erro! Ele está sempre ali. Nos esperando... Nos acalmando... Mandando baldes de serotonina para nosso corpo desassossegado. Um namorado também ajuda. Ou não. Quem não nasceu mulher nunca vai saber ao certo como é ser mulher. Como é ter um monte de hormônios no comando, nos deixando assim: à mercê de toda nossa loucura.
Ah, Deus tenha piedade de nós! (E de todos os homens que aguentam nossas maluquices!). Temos direito universal a sermos loucas e complicadíssimas uma vez por mês e, mesmo assim, continuarmos sendo amadas e queridas por nossos amigos e amores.
Já ouvi dizer que TPM é frescura. Eu confesso que não é. Ficamos chatas de verdade e ninguém – em sã consciência – quer parecer chata. (Afinal não somos burras. Ou somos?).
Às vezes fico irritada. Em outras (a grande maioria), fico emotiva e comovida com todas as dores do mundo. Por favor, grifem essa parte: com todas as dores do mundo. Sofro por todas, por tudo e choro. Choro vendo o Jornal Nacional, choro ouvindo música, choro porque o humilde velhinho tirou um botão pra pagar o pão achando que era moeda... (Ah, não!!!). E choro – copiosamente e sem fim – vendo as reprises de Greys Anatomy (porque todo hospital resolve morrer bem no dia em que eu fico menstruada?). E a mão do doutor treme, o mundo treme, o queixo treme, o humor se alterna e os homens – nossa! – como eles tremem! Morrem de medo de nós porque não sabem o que os aguardam. (Se a gente mesmo não sabe, imaginem eles!).
Por isso, hoje, num dia incrivelmente comum onde nada lá fora acontece e dentro de mim tudo ferve, milhares de bombons Sonhos de Valsa foram atraídos para o meu contexto super hormonal e consumidos sem a mínima culpa (sim, nesse período, não existe espaço para culpas!). E agora, só agora, posso dizer com a maior certeza e doçura do mundo: chocolate é o melhor amigo da mulher!
Pergunto:
em se tratando de chocolate, o que é mais importante: o tamanho ou o prazer que
ele proporciona?
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Fernanda Mello
terça-feira, 24 de março de 2015
Nunca sei o que pode ocorrer, por mais que tenha antecipado situações.
Já me acostumei com a visita do imponderável em minha vida.
Ele entra sem permissão, sem licença e muda a ordem dos
acontecimentos.
Tenho certeza que você também conhece. Ele não deixa nenhum
lar desassistido. Não compra ingressos, não paga estacionamento. Para qualquer
evento, usa carteiraço. Entra em casamento, em velório, em aniversário com a maior
cara de pau.
Quando treinamos a realidade, não programamos a sua presença
indiscutível.
É ele que manda e decide. Somos coadjuvantes de seus
repentes. Você teve que lidar com sua invasão fantasmagórica no vestibular quando
se sentia afiado e surgiu o branco, no momento de atravessar uma festa para
chamar uma colega para dançar e alguém se antecipa.
O imponderável tem preferência por quem se prepara antes para
algum teste emocional. Sua diversão é destruir nossos roteiros e planejamentos,
mostrar que não somos onipotentes, que não tem como cantar vitória no primeiro
tempo.
É uma criança grande e desengonçada, com humor sarcástico de
um velho ranzinza.
Ele não tem amigos. Não tem família. É solitário e ajuda para
o bem ou para o mal.
É como uma versão ateísta do Espírito Santo.
Vou me separar, peço a bênção aos meus amigos, memorizo o que
direi, o tom, o encadeamento das explicações, me sinto pronto e indestrutível,
mas quando me encontro com a esposa, vem também o imponderável. Ela está
cheirosa, linda, suave, nada raivosa como nos últimos dias, e cedo aos encantos
de sua doçura, fico subitamente excitado e acabo me reconciliando de novo.
Vou pedir uma mulher em namoro, depois de dois meses de
saídas e flertes. Compro um par de brincos, ensaio o discurso, escolho o
restaurante, encaminho champanhe ao gelo, tudo perfeito, até que o imponderável
aparece e ela esbarra em seu ex antes de sentar e eles se abraçam de um jeito
sensual e duvidoso que amarga os meus planos. Não digo nada do que sinto e
nunca mais nos revemos.
Vou participar de uma entrevista de emprego, é meu grande
momento profissional, nasci para fazer aquilo, fui aprovado com alta nota no
teste de conhecimentos gerais, agora é questão de um detalhe, só não responder
nenhuma doideira e se revelar minimamente equilibrado. Mas, ao entrar na sala
do RH, o imponderável caminha ao meu lado. O entrevistador é um colega da
infância, o Bola, meu alvo predileto de bullying.
O imponderável nos devolve à humildade.
Um amigo morre precocemente. Um divórcio é deflagrado na mais
alta alegria. Uma reconciliação entre inimigos mortais é sacramentada do acaso.
Tudo tem o dedo do imponderável. O impossível se transforma em possível, e o
possível se torna um fracasso.
O que nos resta é perceber que a vida é muito curta para ter
razão, mas vale é ter amor e perder a razão. Aquele que ama improvisa.
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Fabrício Carpinejar
quinta-feira, 19 de março de 2015
o verdadeiro inimigo
A corrupção dentro da Petrobras é só a ponta do iceberg – ou
alguém acredita que em outras empresas, sejam estatais ou privadas, não
acontece o mesmo?
A corrupção no Brasil é um câncer que infelizmente não é
terminal, porque não termina.
Porém, o foco hoje está na Petrobras, está no governo em
vigência, está no momento presente, e isso divide o país. Se a corrupção
estivesse sendo combatida como um mal comum a todos os partidos e a todos os
segmentos da sociedade, talvez resgatássemos a humildade e nos mobilizássemos
em busca de uma cura coletiva, mas virou uma guerra partidária. E aí sobra
ofensa para tudo que é lado.
O toma lá dá cá de acusações reflete a infantilidade da nossa
“consciência política”. Não queremos um país melhor, queremos ter razão. Analisar
o problema de forma mais ampla? Não combina com nosso sangue quente. Decretar
como inimigo a nossa própria índole está fora de cogitação.
Alguém devolve ao dono um dinheiro que encontrou na rua e
vira matéria de jornal. Prova da deformação dos nossos valores. O que era pra
ser trivial, aqui é raridade. Deixar o carro numa rua escura e retornar
encontrando-o no mesmo lugar? Ir até um posto de saúde e ser atendido na hora?
Ser educado por um professor bem pago? Tudo um “case”. O normal é o errado.
Diante de tanto errado para pouco certo, a gente não se une.
A gente se desune, brigando uns contra os outros, ofendendo, ridicularizando,
humilhando, baixando o nível da convivência. A democracia estimula a
divergência de opiniões, sustenta o diálogo entre posições conflitantes a fim
de encontrar um senso comum ou, na impossibilidade deste, um senso que
represente a maioria, mas temos nos valido da democracia para xingar, insultar.
É o Estado democrático autorizando nossa falta de educação.
Ok, às vezes, para defender nossas ideias, acabamos
denegrindo quem pensa diferente. Acontece. Porém, tenhamos mais cautela e
controle: a ofensa é o recurso de quem não tem nada a oferecer além de
agressividade.
Troquemos a ofensa por argumentos. Coloquemos nossas
divergências para dialogar. O que vem acontecendo é espetacular, máscaras
caindo, mas entendamos que o Brasil precisa deixar o sentimentalismo de lado e
agir de forma conjunta e adulta. O mais importante é garantir à nova geração
que a impunidade acabou – os políticos e empresários de amanhã têm que começar
a ter medo de roubar. Somado a isso, é urgente aprovar medidas concretas para
moralizar tudo o que envolva dinheiro. Reduzir ao máximo o “me ajuda que eu te
ajudo”.
Manifestações, críticas, desabafos, discordâncias, postagens
indignadas ou bem-humoradas fazem parte do processo de reflexão e colaboram na
mudança de mentalidade. Mas não esqueçamos que a guerra é contra a corrupção –
que é apartidária.
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Martha Medeiros
... pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar; por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos.
Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição...
1
Timóteo 6:7-9
quarta-feira, 18 de março de 2015
pequenas certezas
Eu não duvido do poder da música. Em um dia preto e branco ela me colore. Em um momento de tristeza ela traz de volta um meio sorriso. Em uma situação delicada ela me socorre.
Eu não duvido do poder do abraço. Ele transforma corações. Aproxima uma
alma da outra. É a ponte para o reencontro. Traz de volta a paz. Remove
qualquer impureza do espírito.
Eu não duvido do poder da chuva. Ela manda embora toda a desgraça,
desamor e sujeira. Deixa tudo mais puro e renovado.
Eu não duvido do poder de um sorriso. Ele quebra qualquer gelo, desmonta
uma cara feia, desarma quem trouxe munição no peito.
Eu não duvido do poder do olho no olho. Ele traz a confiança, a vontade
de acreditar, a certeza de que ainda existe salvação.
Eu não duvido do poder do sol. Ele traz a saúde, devolve a beleza e de
quebra ainda esquenta quem já congelou por dentro há tempos.
Eu não duvido do poder do perdão. Ele faz as cicatrizes ficarem mais
suaves, devolve o viço da pele, ilumina o dia e o passado.
Eu não duvido do poder do amor. Ele traz o apoio, oferece o suporte,
segura forte a mão, ajuda a segurar qualquer fardo, por mais pesado que possa
parecer.
Eu não duvido do poder da fé. Ela ampara, acalenta, acolhe, aconchega,
nos pega no colo e cantarola uma linda canção de ninar.
Eu não duvido do poder da vida. Ela ensina, reconstrói, resgata, ajuda,
reencontra. E cura.
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Clarissa Corrêa
terça-feira, 17 de março de 2015
Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o
meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de
ajudar – se possível – judeus, o gentio, negros, brancos.
Todos nós
desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver
para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de
odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra,
que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
O caminho
da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens, levantou no mundo as muralhas do ódio, e tem-nos feito marchar a passo de
ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos
sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos
deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa
inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência,
precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e
tudo será perdido.
A aviação e
o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo
eloqüente à bondade do homem, um apelo à fraternidade universal, à união de
todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo
mundo afora. Milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas. Vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que
me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós
não é mais do que o produto da cobiça em agonia, da amargura de homens que temem
o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores
sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim,
enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.”
Soldados!
Não vos entregueis a esses brutais que vos desprezam, que vos
escravizam, que arregimentam as vossas vidas, que ditam os vossos atos, as
vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo,
que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e
que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E
com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se
fazem amar e os inumanos!
Soldados!
Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo
de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um
só homem ou grupo de homens, ms dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo,
tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o
povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de faze-la uma
aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder,
unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos
assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela
promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam!
Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém
escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras
nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de
razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós.
Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!
Hannah,
estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai
rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos
entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da
cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem
ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da
esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!
[ O último discurso, de “O Grande Ditador” ]
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domingo, 15 de março de 2015
Vamos supor que a
pressão popular seja tão grande, mas tão grande que a presidente Dilma Rousseff
sofra o impeachment. Sabe quem ocuparia o cargo no lugar dela?
Uma
dica: sua mulher é gatíssima. Não, não é Aécio Neves. É Michel Temer, o vice,
cujo partido, o PMDB, está envolvido até as tampas no esquema de corrupção na
Petrobrás. Tanto quanto o PT.
Vamos
supor que Temer também, pela força do povo, seja obrigado a renunciar a
Presidência, depois de ser flagrado pela imprensa negociando propina com
empreiteiros. Sabe quem então ocuparia o posto?
Uma
dica: ele é habitué das praias cariocas e apoiou a candidatura do Luiz Fernando
Pezão ao governo do Rio no ano passado. Não, não é Aécio Neves. É Eduardo
Cunha, presidente da Câmara, também do PMDB, e que é investigado pelo Supremo
Tribunal Federal no inquérito da Operação Lava Jato, sob suspeitas de ter
participado da roubalheira na Petrobrás.
Vamos supor ainda que o
povo peça a cabeça de Eduardo Cunha,por estar com o nome mais sujo do que pau de galinheiro. Sabe
quem, pela regra, seria seu o sucessor?
Lá vai a dica: ele é senador.
Não, não é Aécio Neves. Seria Renan Calheiros, atualmente
presidente do Senado, também investigado pelo STF no caso da Petrobrás. Está
envolvido em outras cositas más das quais nós estamos carecas de saber. Menos
Renan, que deixou de estar no ano passado, depois de usar o jatinho da FAB para
ir ao Recife fazer um implante capilar.
Tantas
suposições assim pelo seguinte: o impeachment de Dilma não resolveria muita
coisa. Bastante gente vai levantar essa bandeira no protesto do próximo
domingo, dia 15, se esquecendo de duas coisas. Primeiro: Dilma não
responde a crimes que a obriguem deixar a Presidência. E segundo: mesmo que
tivesse, não adianta mais trocar de atores, quando a peça tende sempre a um
mesmo fim. Políticos vivendo felizes para sempre nas custas do povo.
O
eleitor brasileiro possui um cardápio muito bem servido de motivos para
protestar. Fica a gosto do freguês: a corrupção na Petrobrás, o alto preço
da cerveja, desemprego subindo, salários congelados, falta d’água. Pode,
inclusive, botar a culpa na Dilma, no Lula, ou mesmo no PT de maneira geral.
Mas não deveria pedir impeachment, sabendo do risco a que estaria sujeito: o
fortalecimento de figuras como Renan, Cunha, Sarney e cia, igualmente chamadas
de corruptas pelas mesmas pessoas que pedem o afastamento da presidente
petista.
Não
é hora de simplesmente fulanizar o debate sobre um problema que se mostrou
maior do que realmente imaginávamos ser com a descoberta do esquema de
corrupção na Petrobrás. Obviamente que os responsáveis pelo crime na
estatal devem ser punidos. E com rigor. Mas o ideal seria que o crime não
voltasse a acontecer.
Dilma
tem sido cobrada pelas promessas não cumpridas. Aécio Neves (agora sim, olha
ele aqui), adversário da petista no ano passado, publicou um vídeo no Facebook
expondo as contradições entre declarações e os atos da presidente. Deveria ter
aproveitado para lembrá-la também da reforma política, tema defendido pelos
dois durante a campanha presidencial e hoje engavetado no Congresso. Já até
passou da hora, mas bora falar sobre isso?
___Ricardo Chapola
ou seja,
se correr, o bicha pega. Se ficar...
sexta-feira, 13 de março de 2015
SEXO e sexo
Sexo é tudo para o homem, na primeira colocação do ranking, seguido de
futebol e carro. O quarto e o quinto lugares ainda estão vagos.
Sexo não é tudo para a mulher, situado no quinto lugar da lista, depois
de casamento, amor, romance e paixão.
Sexo é envolvimento para o homem. É capaz de morar com uma mulher que
faz sexo maravilhoso. Ele se apaixona pelo corpo para se apaixonar pela alma.
Não desgrudará daquela que transa na primeira noite, as demais madrugadas são
para confirmar que a estreia não foi uma alucinação. Admira quem é liberta de
preconceitos, safada, exigente de posições fora do convencional. A
possibilidade de experimentar uma vida extraordinária na cama arrebata sua
confiança. O macho partilha de três fantasias: converter uma lésbica, tirar uma
prostituta da profissão e casar com uma ninfomaníaca.
Para a mulher, envolvimento depende de forte retranca: segurar a
primeira noite. Pode ter sexo na primeira manhã ou na primeira tarde. Mas
primeira noite, não. Não pode aparentar facilidade, senão ele dispensará o
esforço da conquista e não lhe dará valor.
Sua metodologia é retardar o grande momento até que ele se renda ao
compromisso sério. Três dias de encontros sem nada é o ideal. Caso completar
uma semana, é matrimônio na certa. Talvez até o candidato ficar alucinado de
tesão a ponto de não diferenciar o que é real do que é imaginário. Existe um
momento em que o parceiro, embriagado pelo próprio desejo, diz sim para
qualquer pergunta. A fêmea acalenta três sonhos eróticos: que ele não ronque,
não durma no sofá e não palite os dentes. Caso a trinca de modos aconteça, ela
abrirá mão da fantasia com o dentista, o psiquiatra e o pediatra do filho.
O homem nunca reclama do casamento ao transar sete vezes por semana.
Chia diante de uma média menor. A mulher reclama do marido se ele pensa em sexo
o tempo todo.
O homem é o único mamífero que conta há quantos dias está sem transar.
Pode perguntar agora ao seu parceiro: não duvido que não mencione as horas e os
minutos. Ficar sem sexo é como uma prisão perpétua masculina. Uma contagem de
confinamento. Logo depois que ele trepa, inicia de novo seu cronômetro. É um
Sísifo dos travesseiros.
Mulher apenas contabiliza os dias de abstinência quando completa três
meses. O trimestre é um sinal preocupante, a ameaça de encalhe. Falta de sexo é
como gestação para a ala feminina, surge com uma pequena barriga.
Para o homem, o amor é prêmio de bom sexo.
Para a mulher, o sexo é brinde de amor verdadeiro.
Os dois estão sempre certos.
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Fabrício Carpinejar
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