Eu não te conheço.
Não
sei se você é católico, protestante, judeu, muçulmano. Não sei se é um dos
meus, sem religião, sem igreja, mas cheio de fé. Tanto faz. Acredito naquele
velho clichê de que não importa qual a sua crença, desde que ela te faça uma
pessoa melhor.
Não
sei qual é seu Deus. Se ele é o clássico senhor de cabelos brancos, se é só um
feixe de luz, se é um negão bacana de dread, se é o cosmo, se é só um abraço
acolhedor ou se é, como para Alberto Caeiro, as flores e as árvores, e os
montes e o sol e o luar.
(mas
se você, de fato, não tem Deus nenhum, acredito que essa leitura seja perda de
tempo)
Enfim,
sobre esse seu Deus, quando é que você se lembra dele?
Lembra
de Deus num sábado de sol, ao abrir a janela? Ou será que nessa hora só lembra
da piscina, da cerveja ou da bicicleta no parque?
Lembra
de Deus ao ver uma criança na rua? Ou só quando a sua criança tem 37 graus de
febre ou notas baixas na escola?
Lembra
de Deus ao comer uma fruta fresca ou um pão quentinho? Ou só quando precisa que
sua calça feche por causa dos quilos a mais?
Lembra
de Deus quando se sente bem após um período de mal estar? Ou só enquanto há um
incômodo?
Lembra
de Deus quando vê um pedinte com olhos tristes no farol? Ou só quando ele se
aproxima de você, te causando algum tipo de medo?
Lembra
de Deus quando recebe um abraço com amor? O só quando o amor dá errado e você
precisa se reerguer?
Lembra
de Deus quando entra em sua casa tão querida? Ou só quando o trânsito não te
deixa chegar nela?
Lembra
de Deus quando faz carinho em um filhote de cachorro? Ou só quando se depara
com uma barata voadora?
Lembra
de Deus quando o médico te diz que está tudo ótimo? Ou só quando há alteração
nos exames?
Sabe
aquele amigo que só te procura na hora do aperto? Quando precisa de ombro, de
grana, de favor? E pior: ajudamos esse cara e na hora em que fica tudo bem, ele
não te dá um abraço agradecido, nem tem convida para comemorar. Só vai te
procurar uns meses depois, quando outro problema surgir.
Será
que às vezes não somos um desses com Deus? Deixando que ele participe da nossa
vida só na hora da cobrança e do aperto?
Será
que estamos sendo boa companhia para nosso Deus? Ou somos o tal cara
oportunista e folgado?
Não
acredito que nossos deuses nos abandonem.
Mas
será que quando alguém deseja que você vá com Deus ele vai com você por obrigação
ou por vontade? Vai feliz, te amparando, ou vai só cumprir sua função?
Será
que esse Deus está feliz ao nosso lado, como estamos ao lado dele? Cabe a nós
fazer com que ele esteja. E isso não é nada além do que se chama de “gratidão”.
Porque
amor, com amor se paga.
___Ruth Manus