"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



sábado, 27 de fevereiro de 2021

 


As mãos, com o tempo, aprendem a plantar melhor porque sabem exatamente o que querem colher.

 

________Rachel Carvalho



 

a idade do posso tudo

 


Ela tem algo em torno de 70 anos, mas parece menos, como é comum hoje em dia. Dinâmica, é daquelas mulheres de personalidade que sabem conduzir uma boa conversa. No entanto, passei a reparar que suas opiniões, outrora expressadas de forma elegante, entraram no estágiofaca na bota”.

 

Ela mesma deu a pista sobre o que estava acontecendo, depois de ter feito um comentário certeiro, porém bastante duro a respeito de uma amiga:Agora eu falo mesmo, tenho idade pra isso”.

 

Esse episódio me voltou à lembrança quando li recentemente a notícia de que o ator Gerard Depardieu não acatou o pedido de uma comissária de bordo para que ele aguardasse a decolagem antes de ir ao banheiro: ele simplesmente urinou no corredor da aeronave, diante de outros passageiros.

 

Se estava tão apertado, deveria ter entrado no banheiro mesmo assim, ninguém iria segurá-lo à força, mas partir para a provocação me pareceu arrogante, a mesma arrogância que tenho percebido em pessoas que, diante da maturidade mais que estabelecida, julgam-se acima do bem e do mal.

 

Conheço pessoas de 85 e até de 90 anos que, se não esbanjam saúde, seguem firmes e fortes sobre as próprias pernas e com a cabeça igualmente funcionando bem. Aquela caricatura dos avós de cabelo branco, com as costas arqueadas, arrastando os pés e extremamente rabugentos é apenas isso, uma caricatura. Vovós, hoje, estão tendo que apresentar a carteira de identidade no caixa do banco para provar que têm direito a fila especial.

 

Ainda assim, a idade manda recado. Os joelhos já não reagem como se espera, a memória fica difusa, as chances de ser olhado com algum desejo pelo sexo oposto caem drasticamente e o futuro, bem, o futuro não é mais representado por uma infinita highway, e sim por uma estradinha de tiro curto e com placas avisando: atenção, curva perigosa.

 

O maior benefício de ter vivido tanto é, de fato, a sabedoria acumulada. Só que alguns optam por jogá-la na cara dos outros com as palavras mais afiadas que encontram, como se a sabedoria fosse um instrumento de desforra.

 

O caso do ator francês é diferente, não há sabedoria nenhuma na sua transgressão, mas é outra amostragem do “dane-se” que acomete muita gente madura. Ao alcançar uma idade avançada, parece que a elegância deixa de ser essencial para o convívio. Depois de ter passado a vida obedecendo regras e sendo cordato, o sujeito sente-se autorizado a fazer a macaquice que quiser – como faria o adolescente que ele já foi.

 

De minha parte, não me vejo na iminência de rodar a baiana por direito adquirido com a idade, mas vá saber daqui a alguns anos. De boa moça a bruxa azeda, a transformação pode se dar do dia pra noite. Basta um convite para confrontar-se com a própria finitude.


 


Porque eu, o SENHOR, teu Deus, te tomo pela tua mão direita e te digo: Não temas, que eu te ajudo.

 

Isaías 41:13

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

 


Recado para os cansados: ainda dá tempo.

Para os desiludidos: ainda dá tempo.

Para os frustrados: ainda dá tempo.

Para os desistentes: tente um pouco mais.

Você respira? Então ainda dá.


 


Temos dentro de nós uma reserva insuspeita de força que surge quando a vida nos põe à prova.


< Isabel Allende >



 

 


Uma leitora me pede que escreva sobre envelhecer. Já escrevi sobre isso tantas vezes, em artigos, crônicas, romances e poemas, que pareço me repetir sempre, mas o tema parece eterno, então vamos lá.


Considero o processo de envelhecimento, isto é, a passagem do tempo, como um processo natural. Nunca tive medo de ser adulta, ao contrário, em criança achava que eram os adultos os interessantes, felizes, sábios. Nunca tive medo de envelhecer, pois a alternativa, como todos sabem, é a morte. Vi outro dia a frasevelho é o jovem que deu certo”. Sim. Tem seu preço? Tudo tem sem preço.


Uma das questões é não ter medo de rugas, de flacidez, e com isso realizar mais e mais cirurgias, que, depois daquela inicial que embeleza, e renova, acabam por deformar e despertar piedade. Estética acima do bem-estar interior? Que desperdício.


O jeito melhor é se ocupar: pintura, escrita, aulas de qualquer coisa, muita leitura, caminhadas se corpo e saúde permitirem, amizades boas. Claro que agora, nesta fase de pandemia, tudo fica muito difícil, eu mesma estou em casa há mais de 10 meses, como tantas pessoas mais pelo mundo afora. Mas podemos nos comunicar, e distrair, e ver bons filmes, belos documentários, seja o que for que nos faça bem. Não basta, não é a mesma coisa, falta a sagrada liberdade, estamos todos, pelo mundo afora, meio deprimidos, cansados, impacientes, desanimados. Eu me incluo nessa turma.


Difícil, frustrante, triste? Mas é porque estamos numa situação ruim, especial. Velhice não é isso. Normalmente não é isolamento e afastamento de pessoas amadas. É mudança. Para aceitar com naturalidade, ou ficamos chatos. Doença? Ah, sim, o corpo não é o de anos atrás, mas vamos lembrar que jovens adoecem, jovens se matam, jovens têm perdas. Talvez as perdas agora sejam o pior, ao menos pra mim: amizades que se vão, seja por doença, seja por algum acidente, seja porque afinal a Velha Senhora é irremediável visita. Dói muito deletar os nomes no nosso celular. É pesado, sim. Porque o coração nada deleta.


Porém, o tempo não se importa com nada disso, não importamos para ele, é um rio que corre, título de um livro meu, soberano e tranquilo. E temos de nos adaptar, ou quebramos, ou nos deprimimos, ou nos isolamos, ou nos matamos.


Já não tenho a força de anos atrás: traduzia sem problema quatro, seis horas por dia, ou mais. Hoje, três horas me cansam. Porque estou doente? Não, porque tenho 82 anos. Amizades, sejam as fraternas, ou as amorosas, me importam muito mais: porque estou carente? Não sei, talvez porque saiba mais o seu valor.


A dor da alma custa a passar, precisa de mais colo, mais presença, mais carinho. Fora isso, estamos sempre aí, na luta, guerreiros e guerreiras, feito São Jorge e Joana d?Arc, e é preciso encontrar valor, alegria, contentamento, nisso que ainda podemos ser, não importando a idade. Sendo queridos, apreciando as pessoas, e tentando fazer o melhor. Tudo menos desistir choramingando, sermos amargurados ou medrosos: isso é, sim, decreto de insuperável, triste, solidão.


O tempo não existe, eu decretei assim, escrevi certa vez. E confirmo. Depende de nós.


 


O SENHOR te abençoe e te guarde; o SENHOR faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o SENHOR sobre ti levante o rosto e te dê a paz.

 

Números 6:24-26

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

o terrível e o sublime

 


Que somos animais predadores com vernizinho de civilidade, ou de humanidade se quiserem, isso me parece óbvio. Basta soltar as amarras num impulso de raiva, num momento de ódio, num fanatismo qualquer, e lá vamos nós, nada bonzinhos, matando, esquartejando, estuprando, aniquilando com mísseis ou espalhando morte e tripas com algum homem-bomba. Lá vamos nós treinar menininhos para matar com fuzis maiores do que eles. Lá vamos nós queimar prisioneiros vivos dentro de jaulas aos olhos de uma multidão.

 

Onde, quando ouvi ou li coisas parecidas? Foi no Holocausto? Está sendo em tantos holocaustos atuais? Foi Nero, que mandou matar a mãe, assassinou com pontapés na barriga sua mulher grávida, mandava empalar cristãos cobertos de óleo em postes para queimarem iluminando seus jardins? Nero, incompreensivelmente discípulo do meu amado filósofo Sêneca, cujos pensamentos sábios, harmoniosos, nobres e tranquilizadores leio e releio desde adolescente? Comentei com um de meus filhos, quando falávamos mais uma vez sobre a violência no Brasil, e também aqui, que, lendo um bocado de História, até acho que melhoramos muito. Não havia imprensa, não havia organizações, não havia democracia que botasse limite na ferocidade humana.

 

Mas hoje, mesmo tendo melhorado em relação às barbáries passadas, aqui nas nossas ruas não temos sossego. A cada dia, alguém que conheço ou que é conhecido de algum amigo é assaltado, e tudo termina com o suspiro de alívio:Ainda bem que só levaram minha carteira, meu carro, não minha vida, nem minha mulher ou meus filhos. Tivemos sorte”.

 

Que vida é essa, que pensamento funesto? Terrível atestado da nossa vergonha e conformidade, e da incompetência de quem deveria administrar o país. O crime começa a compensar. O criminoso nos controla. Saímos pouco à noite, e com receio. Não paramos o carro nos sinais vermelhos altas horas, o que aliás nos foi há tempos sugerido por uma autoridade de segurança, se não me engano. Em cidades como Rio, e lugares do Norte e Nordeste, está vivo o espírito dos jagunços, tiroteios, mortes, roubos de grandes quantias, bancos arrombados, cofres explodidos. Criminosos fugidos, às vezes mortos eles e os policiais. Apesar da pandemia assassina, essa loucura prossegue.

 

Meus filhos brincavam nos terrenos baldios perto de casa, há algumas décadas, e ninguém se preocupava com a possibilidade de tragédias hoje banais. Ao escurecer, a gente chegava na esquina, chamava,venham tomar banho e jantar!”. E vinham, suados, cansados e felizes, os pais de nossos netos, que já não andam sozinhos nem até a escola. Sei que é ingenuidade querer de volta aqueles tempos, mas podíamos estar mais civilizados.

 

O consolo é que essa humanidade sedenta de sangue também produz milagres como as obras de arte e seus autores. Van Gogh, Monet, Mozart e Bach, Shakespeare e Pessoa, os sublimes: os artistas. Mas também os mais cotidianos gestos dos jovens alegres e saudáveis, das crianças carinhosas, dos pais maravilhados, tudo o que nos faz acreditar que não produzimos só barbárie e repulsa, mas claridade, beleza, e - apesar de tudo - esperança. Muito necessária nestes tempos da Peste do século. Que nos assusta, nos intimida, e nem sempre nos faz escolher a melhor opção, além de cuidados: Vacina.





 


E não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio colheremos, se não desanimarmos.

 

Gálatas 6:9

sábado, 20 de fevereiro de 2021

inimigos

 


O apelido de Maria Tereza, para Norberto, eraQuequinha’. Depois do casamento, sempre que queria contar para os outros uma de sua mulher, o Norberto pegava na sua mão, carinhosamente, e começava:

- Pois a Quequinha...

E a Quequinha, dengosa, protestava:

-Ora, Beto!

 

Com o passar do tempo o Norberto deixou de chamar a Maria Tereza de Quequinha. Se ela estivesse ao seu lado e ele quisesse se referir a ela, dizia:

- A mulher aqui...

Ou, às vezes:

- Esta mulherzinha...

Mas nunca mais Quequinha.

 

(O tempo, o tempo. O amor tem mil inimigos, mas o pior deles é o tempo. O tempo ataca o silêncio. O tempo usa armas químicas.)

 

Com o tempo, Norberto passou a tratar a mulher por Ela.

- Ela odeia o Charles Bronson.

- Ah, não gosto mesmo.

Deve-se dizer que o Norberto, a esta altura, embora a chama-se de Ela, ainda usava um vago gesto de mão para indicá-la. Pior foi quando passou a dizer ‘essa aí’ e a apontava com o queixo.

- Essa aí...

E apontava com o queixo, até curvando a boca com um certo desdém.

 

(O tempo, o tempo. Tempo captura o amor e não o mata na hora. Vai tirando uma asa, depois cura.)

 

Hoje, quando quer contar alguma coisa da mulher, o Norberto nem olha na direção. Faz um meneio de lado com a cabeça e diz:

- Aquilo...



 

sobre a perversidade

 


o perigo da perversidade é que ela é muito sutil. um ser perverso jamais te atacará diretamente. ele vai saborear cada silêncio calculado para despertar sua agonia. ele vai tentar tolher seus lugares íntimos até que não reste qualquer espaço para manobras. ele vai te seduzir de maneira irresistível e depois te tratar com um descaso inexplicável, como se algo de errado tivesse acontecido, mas sem te dar quaisquer indícios do que possa ter sido.

 

ele será carismático com os outros, mas demonstrará impaciência em responder à sua mais simples pergunta. ele vai oscilar entre o tesão e a indiferença. você se sentirá desejada e, repentinamente, rejeitada quando o desejo demonstrado tiver se esvaído nos primeiros suspiros da manhã. e o dia seguinte se tornará um longo e agonizante ano. ele parecerá espirituoso, depois irônico, mas estará sendo crítico e sarcástico. e te deixará tão confusa que você, por momentos, não saberá identificar a crueldade que há neste tipo de comportamento.

 

os perversos são viciados em jogos de poder e controle. simplesmente, eles precisam tentar te destituir da sua autoconfiança e autoestima até que você se torne refém, dependente, desesperada. é muito difícil identificar um ser perverso e, depois se livrar dele. ele te tratará com uma instabilidade emocional absoluta. e quando tudo parecer perdido, quando você tiver decidido de maneira explícita pelo afastamento ou desligamento da relação, ele te rondará da maneira mais amorosa possível tentando te convencer de que a falta de sintonia anterior era um problema seu.

 

o perigo da perversidade é porque ela é muito sutil. e o único antídoto para se curar de uma relação doentia como esta é reunir toda a coragem que você jamais imaginou ter e partir com toda a convicção de que você não precisa continuar neste campo minado. você pode escolher um lugar de paz. você pode não ser presa de um predador voraz. você não precisa se vestir de sangue para alimentar estes vampiros.


esteja atenta. o perverso sempre parecerá um ser inofensivo e carismático. apenas com os outros. e isto te deixará com uma imensa vontade de conquistar aquilo que ele fará questão de demonstrar que não está disponível para você.



 

O homem que tem muitos amigos sai perdendo; mas há amigo mais chegado do que um irmão.

 

Provérbios 18:24

domingo, 14 de fevereiro de 2021


 

encontros e desencontros

 


Na vida, essa estranha máquina que nos carrega, nos transforma, nos faz felizes ou solitários, passamos uns pelos outros, rapidamente, demoradamente, ou em uniões e amizades permanentes, essas que resistem ao tempo e nos confortam quando mandamos um recado, um olhar, um whatsapp, um e-mail, ou até um pedido silencioso, preciso ombro, escuta, resposta, ah, a importância das respostas.

 

E assim vamos de amado em amado, amigo em amigo, grupo em grupo, como crianças em ciranda (ainda se faz isso?) trocando de mãos, de lado, estando no centro ou fora do círculo. Não controlamos a maior parte desses acontecimentos que nos exaltam ou nos deixam de coração partido, por dias, meses, anos ou... sempre.

 

Lembro de na infância só conseguir dormir tranquila, de verdade, quando o carro de meu pai entrava pelo portão, passava debaixo da minha janela, entrava na garagem: meu mundo ficava em ordem. Alguém um dia me diria: quando você está aí, meu mundo fica em ordem.

 

Há uma beleza comovente nessas ligações, mas há também uma imensa fragilidade naquele que está mais ligado, precisado, talvez encantado do que o outro. O que inevitavelmente acontece, nas melhores relações, amizades, amores.

 

Não há defesa contra esse sofrimento, que pode ser muito sutil, mas lá está. Inevitável vida, insuperável condição humana, todos no fundo uns pobres coitados, assustados, carentes, ou enganosamente prepotentes.

 

Há décadas escrevo sobre isso, de alguma forma: a incomunicabilidade causando dor, os mal-entendidos separando, a falta de coragem para falar isolando, quando queríamos união, bem-estar e segurança pelo afeto do outro. Alguma forma de presença boa, ainda que virtual. Que, aliás, em geral ele também queria dar. Mas a humana condição nem sempre permite. O medo, medo de assustar, de ferir, de ser ferido.

 

Esse assunto, sobre o qual tanto escrevi e escrevo, me cansa um pouco. Por que não podemos ser mais felizes? Ou ser felizes por um pouquinho mais de tempo? Seja lá o que isso signifique para cada um.

 

Neste momento, uma grande mancha, uma sombra escura e pegajosa se espalha sobre o planeta e atinge a todos nós, os que tivemos, teremos ou nos salvaremos da Peste moderna chamada covid, em que vários ainda não acreditam. Morrem centenas de milhares, e ainda há quem ache trama de impérios ávidos, de políticos assassinos, subserviência de povos ignorantes e miseráveis.

 

Seja como for, há desencontros por causa disso, por incrível que pareça: nos zangamos com quem acredita no vírus, nos irritamos com quem não acredita no vírus. Se não for política, agora a enfermidade, ou a possibilidade dela, provoca discordâncias, xingamentos, hostilidades.

 

Botam à prova nossa humanidade melhor, a que quer amar e ser amada, seja com que forma de afeto for, amizade, desejo, amor, não importa. Parceria. E, assim, o vírus não só mata pessoas, mas relações: que pena, que pena, que absurdo beirando o ridículo, se não fosse tantas vezes trágico.


 


E eu tenho esta vida que é toda minha, absolutamente sob minha responsabilidade. E quando eu erro, às vezes, acabo acertando, às vezes termino arrependida, mas eu tento, sempre tento. E avanço mesmo quando isto significa dar uma pausa e esperar, pois o tempo certo é o tempo do tempo mesmo e o que é melhor nem sempre é o que se anseia avidamente.

 

Felicidade é uma bestagem dessas: matar saudade, matar a fome com aquilo que se tem vontade, perder o medo, conquistar um amigo, encontrar um amor, mas estar totalmente inteiro no lugar que se escolheu. E querer bem: a si, ao Outro, ao Mundo. Um bem-querer que inunda tudo. E sossegar nossas paixões para, quando tivermos de lançar mão delas, nos mover com voracidade em direção àquilo que se quer, porque é justo e merecido.

 

Felicidade é receber uma boa notícia: um bocado de alegria inusitada que só poderia ser minha porque eu tenho esta vida onde eu vivo inteira. Esta é minha riqueza e quem cuida dela sou eu: me decepciono, me iludo, me machuco, erro, acerto, amo demasiado, tenho ímpetos de fúria, fomes de solitude, vontades insaciáveis de mato, água doce e salgada, sol e chuva. Eu tenho apetite de sonhos novos...

 

Eu vivo em pleno estado de Gratidão.


 


Jesus olhou e viu os ricos colocando suas contribuições nas caixas de ofertas. Viu também uma viúva pobre colocar duas pequeninas moedas de cobre. E disse: Afirmo-lhes que esta viúva pobre colocou mais do que todos os outros. Todos esses deram do que lhes sobrava; mas ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver”.


Lucas 21:1-4


sábado, 13 de fevereiro de 2021

Deus existe?

 


O médico J.J. Camargo conta que, às vezes, passa oito horas debruçado sobre um paciente, na sala de cirurgia. Mantém-se, durante aquele período, com a mão firme e o cérebro atento, concentrado ao extremo, empregando os conhecimentos que adquiriu na academia, em congressos e seminários, e nas décadas de experiência na profissão, sabedor de que um movimento hesitante corresponde ao desarmador de explosivos cortar o fio de cor errada.


É muita responsabilidade.

Então, ele termina o trabalho, suspira, lava-se e vai ter com a família do operado.

- Foi tudo bem! - comunica, exultante.

E os parentes do paciente exclamam: - Graças a Deus!


Camargo, nesse momento, suspira outra vez. Tudo bem, Deus até pode ter ajudado, mas e o trabalho DELE, cirurgião?


Essa anedota Camargo a contou numa entrevista que deu ao Potter, publicada em podcast. O tema era uma questão simples de ser respondida: Deus existe?”. É ainda o podcast de maior sucesso do Potter, com mais de 720 mil acessos, e ele é um profícuo produtor de podcasts, um dos pioneiros do Brasil no formato.


Ou seja: Deus ainda é um sucesso. O que não deixa de ser uma surpresa, porque hoje está na moda ser ateu, pelo menos no meio intelectual. Você dizer que acredita em Deus é visto como algo meio brega, uma espécie de superstição que não se sustenta nas profundas reflexões do intelecto humano.


Bem. Vou confessar algo só para você, meu amigo: eu acredito. Não no Deus colérico do Velho Testamento, o Deus vingativo, que anuncia:

Eu sou um Deus ciumento”.

Não.

Tampouco no Deus mágico, que desvia a bola do gol do seu time no último átimo ou que troca um sacrifício por uma graça.


Nada disso. O meu Deus é mais spinoziano, e estou falando do filósofo Baruch Spinoza, não do técnico Valdir. O Deus de Spinoza é delicado e sutil, imanente e, ao mesmo tempo, transcendente. Quer dizer: está em tudo, como ensinava Heráclito há 25 séculos.


Heráclito, que era chamado deO Obscuro”, por ser de difícil compreensão, foi quem disse que é impossível a um homem entrar no mesmo rio duas vezes, porque, na segunda entrada, ele e o rio já não serão como eram. Tudo muda, enfatizava Heráclito, e tudo faz parte do todo. Tudo é uma coisa só em constante e inexorável transformação.

Se você pensa assim, você compreende que, se fizer mal a uma parte do todo, estará fazendo mal a si próprio. É uma automutilação. Nada a ver com a tal lei de retribuição do universo, essa bobagem. O universo não castiga nem recompensa. Mas todos os atos humanos têm consequências.


É aí que se reúnem todos, Heráclito, Spinoza, Kant e os ateus que acreditam em horóscopo ou emenergias boas ou más. E eu, inclusive, por que não? Afinal, também sou filho de Deus.


#ai de mim se não fosse Deus!




 


Enquanto você vem, eu já fui e voltei duas vezes. 

Não que eu me considere muito esperta, nada disso, sou até um tanto distraída. Mas é que quando a vida te prega várias peças, chega uma hora que você acaba decorando todas elas.


Maíra Cintra


As pessoas infelizes se ocupam o tempo todo da vida dos outros. Deduzem, supõem e inventam. Esquecem, no meio da sua infelicidade, de cuidar da própria vida e não percebem que isso gera um ciclo, no qual elas se tornam cada vez mais infelizes. E frustradas pela inveja que sentem de quem cuida da própria vida e acaba colhendo momentos de felicidade. Porque a vida não é só dor, nem só alegria. A vida é um composto de momentos bons e ruins, os quais nos constroem e noz fazem evoluir.

 

Quem cuida da própria vida, busca saídas, soluções, prospera. Atrai para si coisas e pessoas boas que acabam contribuindo para seu crescimento e aprendizado. Os infelizes, não. Atraem para si apenas o que são: pessoas mesquinhas e medíocres. E colhem os frutos de suas ações. Enquanto estão ocupados cuidando da vida dos outros, fofocando, conspirando, suas vidas desandam. Se engana quem pensa que não.

 

Parafraseando uma frase que todos já conhecem: O universo conspira a favor de quem não conspira contra ninguém.


 


Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.

 

1 João 4:20

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021


 

 


A melhor parte da minha vida ainda continua sendo aqueles momentos (muitas vezes tão breves) e sem nome, que gasto (e ganho) sorrindo com quem me é importante.



Rosa de Saron Morais

vai, amor


É difícil, mas essa hora sempre chega: a de abandonar, deixar partir. Quando começa, confiamos que tudo será cristalino e empolgante. Fazemos o nosso melhor e acreditamos que nada, nenhum outro irá superá-lo. As ideias deslizam, o olhar brilha, mal controlamos o sorriso no rosto: está dando certo. Está funcionando. Você não sabe direito aonde irá chegar, mas já sente o imenso prazer em debulhar suas emoções sem pudor, dividir suas reflexões, abusar da argúcia, do humor, e se congratula: está correndo melhor do que o esperado.


Aí acontece.


De uma hora para outra, a magia embesta de falhar. Acho que foi quando você se levantou para buscar um copo d´água na cozinha. Ou talvez você não devesse ter tido o ímpeto de interromper o que está fazendo para descer até a garagem, só porque havia esquecido a máscara no console do carro. Você volta para o apartamento e ele não parece mais o mesmo. Como é que uma impressão muda tão rápido? Você não deveria ter se mexido, saído do lugar, mas ninguém pode ficar refém de uma atenção plena. Telefones tocam, uma amiga chama, alguém distrai você com outro assunto, e quando você tenta retomar de onde estava, ele já não se parece com o jeito que era.


A noite cai e você vai dormir, descansar. É provável que tenha sido apenas um pressentimento que sumirá ao amanhecer.


Mas o dia amanhece, e a realidade se sobrepõe às ilusões. Nada se mantém com o frescor do início, você já deveria saber. É mais uma relação que, como todas, dará trabalho. Você usará uma palavra que não caiu bem e terá que voltar atrás. Você insistirá, teimosa, numa ideia que não será bem compreendida. Você se sentirá desestimulada e cogitará não levar a história adiante, pensa em começar algo totalmente diferente, mas depois repensa: já chegou até aqui, investiu tanto tempo, vai dar tudo certo no final. E insiste mais um pouco.


Você gostaria que fosse perfeito, mas a perfeição é uma medida só almejada pelos tolos, você sabe perfeitamente disso, você, inclusive, declara isso aos sete ventos, por que então essa insistência em tentar corrigir até os detalhes insignificantes? Ele se tornou quem é, por mais que você ainda tente mudá-lo. E ele precisa ir ao encontro de outros olhos, você não pode mais retê-lo. Acabou. Aceite. Deixe-o partir.


É mais ou menos assim, caro leitor, que me relaciono com cada texto que escrevo. Chega a hora em que é preciso abandoná-lo, ou perderei o prazo de entrega para o jornal. Não é fácil, sempre fica no ar a sensação de que eu poderia ter me esforçado mais. E só no fim de semana seguinte, quando o reencontro alheio a mim, em meio a outros, é que descubro onde foi que eu errei.


 


Por isso, o SENHOR espera, para ter misericórdia de vós, e se detém, para se compadecer de vós, porque o SENHOR é Deus de justiça; bem-aventurados todos os que nele esperam.

 

Isaías 30:18

domingo, 7 de fevereiro de 2021


Quanto tempo a gente gasta repousando o olhar na saudade e o corpo continua friorento, com tempestades maiúsculas e sem manifestar boa vontade de levantar do confortável sofá que enverga os dias? 

Quanto tempo a gente perde com as vidraças embaçadas que obstruiu a liberdade de ver o mundo, mesmo em preto e branco? 

Quanto tempo será necessário para descascar as urgências e aprender a apadrinhar o recomeço contra toda manipulação do desânimo. Não é fácil encontrar tempo para deixar fazer valer a lista de sobrevivência da alegria. Isso choca, mas vive-se gastando o tempo com artifícios que enganosamente preenchem o vazio entre a luta e a conquista. Vive-se para deixar morrer o belo.

Catalogamos os dias com certezas, olhando o nosso próprio reflexo e acreditamos ser poderosos, de mãos cheias e corações abarrotados de vazios. Nos ocupamos dos frutos enquanto as sementes mofam por necessidade de serem plantadas. Sonegamos a verdade, inventando bonitas mentiras. Aplaudimos por impulso o que nem ainda apreciamos.

O tempo foge e morremos

 


Existem duas coisas importantes na vida: O motivo e o momento. 

Você pode ter várias vezes o mesmo motivo, mas nunca terá o mesmo momento.


 


Valorizar o que se tem não é só uma questão de gratidão, é uma questão de inteligência. Valorizar o que se tem abrange explicitar o quanto aquilo ou aquela pessoa agrega valor à sua vida, ao seu cotidiano, ao seu crescimento. Significa estar feliz com a própria conquista e não desdenhar qual criança mimada que se desinteressou pelo presente porque ele não está mais na dimensão do inalcançável.


Valorizar o que se tem é uma questão de se valorizar também. De saber que é precioso poder desfrutar do que é possível e real e merecido, não apenas idealizar, alimentar ilusões e fantasiar. É saudável ambicionar coisas novas e prosperidade sem diminuir o que já foi conquistado. Tudo, absolutamente tudo possui um valor essencial dentro do contexto no qual estamos inseridos.


VALORIZE (se)



 

 


Porque o SENHOR Deus é sol e escudo; o SENHOR dá graça e glória; nenhum bem sonega aos que andam retamente.

 

Salmos 84:11