"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



terça-feira, 30 de junho de 2020

relacionamento à distância


Ele me contou a história em um tom baixo de voz. Terminaram a relação, mas a cicatriz não havia fechado. Ele ainda gostava dela, só que não deu certo. Namoraram durante quase um ano, ele morando em Porto Alegre, ela em Vitória do Espírito Santo. Mais de 2.000km os separavam. Não podiam pegar um avião todos os meses. Tinham seus empregos, suas famílias. Culpava a distância pelo fim. Agora era tratar de conhecer outra pessoa para se reerguer. “Já entrei no Tinder”, disse ele. Tive vontade de rir, mas ele não parecia estar fazendo piada. Fiz cara de “agora vai”, sem convicção.

Relacionamento à distância – não são todos assim, hoje? Em vez de conviver, viramos uns bisbilhoteiros. Compreensível, já que esse troço chamado rede social captura mesmo. Se você é seguidor de gente interessante, então, é um vício, pois são muitos textos bem escritos, fotos originais, comentários divertidos, dicas de livros e filmes. Ainda assim, moderação e tino: ninguém é tão estupendo como se apresenta no mundo virtual. Onde foi parar nosso lado sombrio?

Fraquezas, angústias, dúvidas: não há espaço para eles no Instagram e no Facebook. Dá a impressão que ninguém chora ou se atrapalha no cotidiano – são raros os que expõem sua bad trip (o ego não deixa). Normal, mas é bom lembrar que quem aprisiona sua dor não se relaciona, não pra valer. Intimidade se atinge com divisão de fardo, troca. Paixões e amigos dão sentido à nossa vida porque ajudam a nos passar a limpo, a colarmos nossas fraturas, a nos tornarmos pessoas melhores. Cultuo a solidão, como já disse mil vezes, mas ela é um pit-stop, apenas. Se escolho estar sozinha o tempo inteiro, sem interagir com as emoções dos outros e sem expressar as minhas inquietudes de viva voz, não evoluo, nada evolui.

Meu amigo conhecia profundamente sua namorada capixaba? Pouco, pois o WhatsApp não dá conta da nossa humanidade, não substitui olhares e abraços. Difícil demonstrar nossos desconfortos através de mensagens online, então dá-lhe oba-oba. Resultado: depressão virou epidemia e os suicídios se sucedem porque, entre outros motivos, as pessoas se sentem inadequadas por estar sofrendo, o que é um absurdo. Sofrer é adequado. Sofrer é normal. Todo mundo sofre, mesmo que não pareça. E não parece mesmo, pela tremenda distância estabelecida entre o nosso eu real e o real dos outros.

Do quarto dos pais ao quarto dos filhos pode existir um corredor de 2.000km a separá-los. Entre a minha cadeira no restaurante e a sua, abre-se uma cratera a cada vez que colocamos o celular sobre a mesa e ficamos checando as redes em vez de conversar, rir, fazer confidências. 

Relacionamento à distância é silêncio a dois, pode estar acontecendo aí mesmo dentro do seu casamento perfeito.

bem dito seja o amor


Bem dita seja a palavra Amor disparada pelo peito, que faz da ação o verbo pro sujeito, que estica a frase até compor a narrativa ou a canção. 

Bendito seja o amor que transforma o ínfimo em infinito, que traz a oração pro pensamento mais aflito, que apressa a atitude da intenção.

Bem dita seja a palavra Amor que faz do nome um mantra, transforma a saudade em esperança e traz dentro da carta a letra com a força do punho e o movimento da mão. 

Bendito seja o amor que encurta distâncias e suprime abismos, acolhe os sentimentos imprecisos e veste pensamento e gesto enquanto despe o coração.
Bendito seja o amor que só sendo fluido se solidifica, que só sendo livre se torna conquista, que só sendo ação se torna fato. 

Bem dita seja a palavra Amor que por ser tão viva, lúdica e lírica jamais será consumida pelo silêncio, só pelo ato.


#conto de fadas


Salmos 31:15
#diariocomdeus_

segunda-feira, 29 de junho de 2020


#entre a COVID e a morte

difícil ser feliz



Nestes dias sombrios, nestes tempos escuros, confusos, politicamente insanos e quanto à saúde do mundo mais confusos ainda, perigosos, assustadores - ou somos todos uns bobos manipulados??? -, parece até coisa de Pollyanna falar em ser feliz.

Parece mais um insulto, como dizer ao quase enforcado no cadafalso que assobie um sambinha. Está difícil. Estamos nervosos, irritados, assustados, ou fingindo não ser nada de mais e saindo às ruas sem máscara nem cuidado, todo mundo se contaminando, a covid piorando por quase toda parte, e a gente fazendo de conta que não é nada.

Ando cansada dessa loucura. Cansada do nosso mau humor, irritação, medo e agressividade ou falsa alegria porque temos medo. Me faltam palavras boas, bonitas, tranquilizadoras, porque está tudo muito ruim mesmo, e nem bandeira vermelha ou preta ou dos infernos convence muita gente a se cuidar. A ficar em casa se puder, a usar máscara e álcool gel, a não se amontoar. A não encher a paciência alheia com medos, sustos, fragilidades e humores péssimos.

Está difícil, sim. Nem pensar em ser “feliz”, ou alegrinho, ou dançar e cantar, porque ficar meio calminho já é muito.

Além do mais, a política no país está um lixo, uma confusão, uma brincadeira de maus palhaços que nos submetem a caprichos, mentiras, horrores mil, e nem sabemos como reagir ou a quem reclamar.

O que está acontecendo neste país? Neste mundo em que o presidente do dito maior país do mundo brinca de modo sinistro com a peste do século 21? Não sei o que dizer nem a quem reclamar, mas, por favor, vamos procurar um pouco de calma e bom senso.

Meu pai, velho e brilhante advogado, dizia que a lei tem pouco a ver com bom senso. Pode até ser, ele sabia das coisas. A lei não garante a justiça, ok. Mas alguma sensatez, alguma grandeza, alguma bondade (be kind), algum respeito podem nos ajudar a passar por este tempo infernal, no qual talvez não muitos sobrevivam, mas os que sobreviverem terão de ser fortes, justos, iluminados e capazes de levar adiante este mundo em pandemia de doença e de inteligência, de calma, de grandeza.

Sim, hoje não estou boazinha. Eu não sou boazinha. Hoje não estou calma, não quero estar calma, nem parecer madura, ou velha e experiente, ou superior, com todos esses atributos que colocam em cima da figura de alguém velho, maduro, experiente e tudo o mais.

Não sei o que estamos fazendo conosco, nem uns aos outros. Sei que precisamos de solidariedade, camaradagem, rigor nos cuidados e seriedade no modo de encarar essa Peste que assola a humanidade inteira e não está de brincadeira, ah não.

Para que, tudo passado, a gente seja uma humanidade razoável, não um bando de trogloditas agressivos, grosseiros e cruéis.


“A única coisa que nos imortaliza – mesmo – é a memória de quem amou a gente.”



  Somos todos visitantes deste tempo, deste lugar. Estamos só de passagem.
O nosso objetivo é observar, crescer, amar… E depois vamos para casa.


Salmos 106:1
#diariocomdeus_

domingo, 28 de junho de 2020


aniversário em quarentena é renascer conectado com o que importa



Sem festa nem presentes, celebrações em tempos de coronavírus levam a reflexões sobre mudanças profundas que estão apenas começando.

Como apagar velinhas sem assoprar e inundar o bolo de fluidos indesejados em tempos de coronavírus?

A questão parece boba, mas não é, quando se tenta controlar uma pandemia que colocou o mundo de quarentena e o nosso modo de vida em xeque.

Comemorar aniversário em casa, protegendo a si e aos outros, é o recomendado por médicos e seguido por quem respeita os protocolos desta crise sanitária que mal começou por aqui.

(...)
É desconfortável comemorar meu aniversário em meio a tantas incertezas e às interrogações sobre os impactos sanitários, econômicos e sociais da Covid-19.

Mas, diante de um cenário de medo e angústias, há sempre o lado do copo meio cheio, de acreditar que o coronavírus pode trazer em si também o poder da mudança.

Por isso, celebro a vida sempre. Na esperança de que uma doença que cresce exponencialmente e coloca de joelhos até as grandes potências, nos faça chegar também à raiz dos nossos grandes problemas, da desigualdade social às mudanças climáticas.

O coronavírus nos força a ficar em casa, isolados, mas ao mesmo tempo próximos de quem amamos, cuidando um dos outros. Isso não é pouco e nos conecta com o que de fato importa enquanto humanos.

A primeira e decisiva transformação precisa se operar dentro de cada um e a partir daí irradiar para o coletivo.

A crise sem precedentes empareda sistemas, corporações, impacta todos os setores da economia e cobra ação e planejamento de governo.

Na esfera privada, mostra a fragilidade de estilos de vida calcados em consumo desenfreado e exploração irracional dos recursos naturais, numa busca incessante por dinheiro, conforto e status.

Sempre gostei de festejar meus aniversários e estar rodeada das pessoas que amo, reunindo os amigos e a família. Hoje, a comemoração ficou restrita a mim e aos meus dois filhos, que tiveram a missão de preencher a casa e o coração.

É também um aniversário sem presentes comprados em shoppings. Os regalos e o carinho chegaram em forma de telefonemas, mensagens de WhatsApp e posts nas redes sociais.

Uma bela recordação de um aniversário que significa ainda o renascer de uma maneira mais simples de viver e encarar a vida.

Eliane Trindade


“Faze com que saibamos como são poucos
os dias da nossa vida
para que tenhamos um coração sábio.”

Salmos 90:12 / NTLH

sábado, 27 de junho de 2020

recomece


Quando a vida bater forte 
e sua alma sangrar, 
quando esse mundo pesado
lhe ferir, lhe esmagar...
É hora do recomeço.
Recomece a lutar.

Quando tudo for escuro
e nada iluminar,
quando tudo for incerto
e você só duvidar...
É hora do recomeço.
Recomece a acreditar.

Quando a estrada for longa 
e seu corpo fraquejar,
quando não houver caminho
nem um lugar pra chegar...
É hora do recomeço.
Recomece a caminhar.

Quando o mal for evidente
e o amor se ocultar,
quando o peito for vazio,
quando o abraço faltar...
É hora do recomeço.
Recomece a amar.

Quando você cair 
e ninguém lhe aparar,
quando a força do que é ruim
conseguir lhe derrubar... 
É hora do recomeço.
Recomece a levantar.

Quando a falta de esperança
decidir lhe açoitar, 
se tudo que for real for difícil suportar...
É hora do recomeço.
Recomece a sonhar.

Enfim,
É preciso de um final pra poder recomeçar,
como é preciso cair pra poder se levantar.
Nem sempre engatar a ré
significa voltar.
Remarque aquele encontro,
reconquiste um amor,
reúna quem lhe quer bem,
reconforte um sofredor,
reanime quem tá triste
e reaprenda na dor.

Recomece, se refaça,
relembre o que foi bom,
reconstrua cada sonho,
redescubra algum dom,
reaprenda quando errar,
rebole quando dançar,
e se um dia, lá na frente, a vida der uma ré,
recupere sua fé e recomece novamente.

#poesia com rapadura


Recomeçar
Acho que essa palavra está associada a vencedores.
Em qualquer biografia que se preze, lá está, o momento da virada, quando após tudo dar errado, o nosso herói se ergue, dá a volta por cima de forma triunfante e, obviamente, vence.
O recomeço é poético, quase item obrigatório para qualquer vencedor.

Desejo a você, Neckyr, homem guerreiro, batalhador e de inúmeros recomeços, um feliz aniversário e que, quando a vida decepcionar, você supere as dificuldades e “continue a nadar”.
Busque seu recomeço todos os dias, pois recomeçar é uma das maiores provas de que estamos vivos.

“Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.”
(Cora Coralina)

Aproveite esse ciclo que (re)inicia para (re)inventar-se 
e (re)escolher seus (re)começos.


Neckyr,


Eu considero você uma pessoa insubstituível. 
A sua capacidade de lutar pela vida é fantástica. 
A vida que pulsa em você é mais importante que todo o dinheiro do mundo e mais bela do que todas as estrelas do céu.


cê tenta?


quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta minha adolescência

vou largar da vida louca
e terminar minha livre docência

vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito

vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito

então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência



Quando os dias forem bons, aproveite-os bem; mas, quando forem ruins, considere: Deus fez tanto um quanto o outro, para evitar que o homem descubra qualquer coisa sobre o seu futuro.
Nesta vida sem sentido eu já vi de tudo: um justo que morreu apesar da sua justiça, e um ímpio que teve vida longa apesar da sua impiedade.
Não seja excessivamente justo nem demasiadamente sábio; por que destruir-se a si mesmo?
Não seja demasiadamente ímpio e não seja tolo; por que morrer antes do tempo?
É bom reter uma coisa e não abrir mão da outra, pois quem teme a Deus evitará ambos os extremos.

__ Eclesiastes 7:14-18

sexta-feira, 26 de junho de 2020


#dia de combate às drogas

quinta-feira, 25 de junho de 2020




E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido.

| Haruki Murakami

instantes


Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria mais tolo ainda do que tenho sido; na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.

Seria menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da sua vida. Claro que tive momentos de alegria. Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos. Porque, se não sabem, disso é feito a vida: só de momentos – não percas o agora.

Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se voltasse a viver, viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono. Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.

Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.

Don Herold


Salmos 42:8
#diariocomdeus_

quarta-feira, 24 de junho de 2020


#comece pelo Brasil

“Nada permanece o mesmo para sempre. 
Você deve aprender a mudar à medida que as mudanças de vida vão surgindo, ou a vida vai forçá-lo de uma forma ou de outra.”

o amor simples



Alguém vai sorrir e dar de ombros ao ler este título: amor simples? Bah.

Se tudo na vida é complicado, o amor tende a ser isso, multiplicado e múltiplas vezes. Ou não? Depende do amor, do tempo, do casal, das circunstâncias. Hoje em dia, casais e famílias encerrados na pandemia, muitos amores se renovam, outros se veem estilhaçados, o anel que me deste se quebrou.

Não sei se tenho muitas amizades firmes e fortes hoje em dia. Algumas se foram porque a Senhora Morte as levou, e de várias nunca me recuperei. Outras, uma, duas, simplesmente sumiram sem um adeus e, depois de algum tempo de perplexidade, desisti. Muitas ficaram e outras surgiram, tenho a sorte de ter aquelas amizades da vida inteira, e algumas novas, que são sempre um refrigério, renovação e aprendizado.

Nesta fase de reclusão, que vai me cansando e enlouquecendo muita gente, nunca tanto valorizei a internet, o Whats, o Instagram, o Face, pontos de encontro, troca de recados, afetos, debates, risos e também tristezas.

Quando pequena, eu tinha poucas amigas reais: não se usava muito isso de dormir ou comer na casa dos outros, não havia praticamente vizinhas da minha idade. Mas eu tinha amigos imaginários, de que já falei: uma família inteira. Familinha, diminutos, vestidos de verde, chapeuzinho pontudo. Eu os sentava no peitoril da janela e conversava com eles. Imaginação infantil, ou de verdade gnomos benfazejos? Criança enxerga o que adultos há muito deixaram de ver.

Na escola comecei a entender amizade e coleguismo. Afinal já podia visitar amigas e elas vinham à minha casa. Sempre havia as mais ligadas em mim e as mais ligadas entre si: eu, em geral a mais novinha e maior, mais pateta para muitas coisas, ficava um pouco de fora. Mas adorava dançar de mãos dadas no pátio da escola, cantiga de roda, sobretudo - ao entardecer nos dias de calor - na calçada de casa. Outros tempos. Quando, já escurecendo, a criançada ainda corria ou girava na rua, eu tinha de entrar: banho, comer e cama. Surgiram daí minhas revoluções bobas e prematuras: "Por que tenho de entrar se as outras podem continuar brincando? Por que tenho de comer e logo dormir? Por que, por que, por quê?".

Por isso e outros motivos, sempre desejei crescer. Ser jovem, adulta, entrar na maturidade, envelhecer: cada vez ficaria mais independente, mais livre. "Ninguém é livre", me diziam. É, sim, eu teimava. Livre para ler ou caminhar quando quisesse, para dormir quando sentisse vontade, para comer algo além de purê de batata, peito de frango e canja. Para ler quando e quanto quisesse, e casar, e ter filhos, coisa que eu mais queria, e, de novo, tempo para sonhar e ler.

E para as grandes, verdadeiras amizades.

Amigo, esse que não cobra, não trai, não tem inveja nem ciúme, nem te deixa na mão - e, mesmo quando não te entende, te curte -, como eu espero ser para os meus, é esse amor simples de que falo no título. E nos salva.


Salmos 103:13
#diariocomdeus_

terça-feira, 23 de junho de 2020

mais um ano


A celebração de mais um ano de vida
é a celebração de um desfazer,
um tempo que deixou de ser,
não mais existe.

Fósforo que foi riscado.
Nunca mais acenderá.

Daí a profunda sabedoria
do ritual de soprar as velas em festa de aniversário.

Se uma vela acesa é símbolo de vida,
uma vez apagada ela se torna símbolo de morte.




E as pessoas ficaram em casa.
E leram livros, ouviram, descansaram, se exercitaram, fizeram arte, jogaram jogos, aprenderam novas maneiras de existirem e ficaram paradas.
E então ouviram mais profundamente.
Alguns meditavam, outros rezavam, já outros dançavam.
Alguns encontraram as suas próprias sombras.
E o povo começou a pensar de maneira diferente.
O povo foi curado.
E, na ausência de pessoas vivendo na ignorância, perigosas, com a mente e o coração fechados, a Terra começou a se curar.
E, quando o perigo passou, as pessoas se uniram novamente, sofreram com as suas perdas, fizeram novas escolhas, sonharam novas imagens e criaram novas maneiras de se viver e curar a terra completamente, como haviam sido curadas.

_Kitty O Meara

terapia do amor


O filme Terapia do Amor conta a história de uma mulher de 37 anos que se envolve com um garotão de 23, e a coisa funciona às maravilhas, é claro, porque um homem e uma mulher a fim um do outro é sempre uma combinação explosiva, não importa a idade. Mas como em todo conto-de-fadas que se preze, há a bruxa, no caso a mãe do guri, que não gosta nadinha da idéia, mesmo sendo uma psicanalista de cabeça feita - aliás, psicanalista da própria nora, descobre ela tarde demais. Deste “triângulo” surgem as tiradas engraçadas (Meryl Streep dando show, como sempre) e também a partezinha do filme que faz pensar.

Pensei. Mas não na questão da diferença de idade, tão comum nas relações atuais. Se antes era natural homens mais velhos se relacionarem com ninfetas, agora as mulheres mais maduras (não existe mulher velha antes dos cem) se relacionam com caras mais jovens e está tudo certo, até porque eles também tiram proveito. A troco de quê gastar energia com uma garotinha cheia de inseguranças? Mais vale uma quarentona que perdeu a chatice natural de toda mulher e se tornou serena, independente, auto-confiante e bem-humorada. São mais relaxadas, garantem o próprio sustento e não perdem tempo fazendo drama à toa. Qual o homem que não vai querer uma mulher assim? Se você acha que este parágrafo foi uma defesa em causa própria e a de todo o mulherio que não tem mais 20 anos, acertou, parabéns, pegue seu prêmio na saída.

Sem brincadeira: o mais interessante do filme, a meu ver, foi mostrar que é difícil viver um relacionamento sabendo que ele vai terminar ali adiante, mas nunca será tempo perdido. Fomos todos criados para o “pra sempre”, como se o objetivo de todos os casais ainda fosse o de constituir família. Quando é, convém pensar a longo prazo. Só que hoje muitas pessoas se relacionam sem nenhum outro objetivo que não seja o de estar feliz naquele exato momento, mesmo sabendo que as diferenças de religião, idade, condição social ou ideologia poderão encurtar a história (poderão, não quer dizer que irão). Há cada vez menos iludidos. Poucos são aqueles que atravessam uma vida tendo um único amor, então, vale o que está sendo vivido, o momento presente. “Dar certo” não está mais relacionado ao ponto de chegada, mas ao durante.

A personagem de Meryl Streep, depois de ter todos os chiliques normais de uma mãe que acha que o filhote está perdendo em vez de estar ganhando com a experiência, organiza melhor seus pensamentos e diz, ao final do filme, uma coisa que pode parecer fria para ouvidos mais sensíveis, mas é um convite a cair na real: “Podemos amar, aprender muito com este amor e partir pra outra”. O compromisso com a eternidade é opcional e ninguém merece ser chamado de frívolo por não fazer planos de aposentar-se juntos.

Já escrevi sobre isso em outras ocasiões e sempre acham que estou descrevendo o apocalipse. Ao contrário, triste é passar a vida falando mal do casamento - estando casado - e colecionando casos extraconjugais e mentiras dolorosas. Melhor legitimar os amores mais leves, menos fóbicos, comprometidos com os sentimentos e não com as convenções. Estes serão os melhores amores, que poderão, quem sabe, até durar para sempre, o que será uma agradável surpresa, jamais uma condenação.



Pois o amor ao dinheiro é uma fonte de todos os tipos de males. E algumas pessoas, por quererem tanto ter dinheiro, se desviaram da fé e encheram a sua vida de sofrimentos.

1 Timóteo 6:10 / NTLH