Não sei a dos outros, mas
a minha terra, isto é, o meu planeta, isto é, o meu Brasil, começou a parar há
tempos, parou há uns dias, e agora tenho conhecidos empurrando o carro na rua,
aqui ou no Rio ou em outro lugar, porque não acreditaram no pré-caos, não
encheram os tanques, e agora não encontram gasolina para levar o carro até em
casa.
Também acho que vamos
parar de comer, beber, viver, porque até o meu mercadinho tradicionalíssimo,
que uso há décadas, em poucas horas ficou desabastecido: pessoas enlouquecidas
– ou muito lúcidas – carregaram o que podiam em carne e outros mantimentos.
Além disso, a segurança que andava cambaleante agora estourou. Pessoas quebram
vidros de carros, de pedágios, quebram a cara umas das outras: nem todas, nem
sempre, mas estamos muito sensíveis, irritados, saco cheio arrastando no chão.
Estamos todos esfolados, como pessoas que não tivessem pele adequada, e
qualquer brisazinha queima feito fogo selvagem.
Estamos decepcionados?
Não sei, eu não estou, porque na minha vida já vi coisa demais, e não esperava
grande coisa, sempre digo que nada me espanta – mas acho que nossas autoridades
(ministros, por exemplo), além de despreparadas, confusas, ainda são
arrogantes. Negociar não é impor, ironizar, decidir, mas ouvir argumentos,
imaginar dificuldades e, sobretudo, ser precavido, previdente. Um mínimo de bom
senso e sabedoria: quem não estava vendo que acabaríamos travados, parados,
encurralados na própria incompetência, se há meses aconteciam avisos, pedidos,
recados e mais?
Pouco entendo de
economia, sou apenas uma ficcionista, colunista, e às vezes poeta. Mas é
evidente que um “acordo” com os sofridos caminhoneiros e donos de
transportadoras, e motoqueiros e motoristas civis – e brasileiros em geral –,
teria de ser claro, imediato, simples, viável, e honesto. Nada de promessas e
planos, ou projetos, comissões e mais debates. Promessas temos desde sempre, e
os mais antenados pouco acreditam nelas. Do tipo “se você fizer isso, te deixo
ir na matinê com as amiguinhas no domingo” (na minha infância, quando não havia
shoppings), e na hora de ir, cadê a permissão, quem se lembrava da promessa
além de mim?
Estou me sentindo bem
pouco poética, e, sim, irritada, perplexa, ridícula.
Agora, aqui na terra
brasileira, e desta vez não se tratava com crianças, ou ignorantes, ou cínicos,
ou aproveitadores. Éramos nós, o povo brasileiro, ali representado, porque no
fim das contas as contas vão pular no nosso bolso, e nos passar belas
rasteiras.
Mas acabei tendo de rir
ao fechar esta coluna desta vez breve (ainda não estou parando, mas...), ao
ouvir uma mulher simples mas inteligente que, vendo multidões carregarem
toneladas de papel higiênico, comentou com seu maravilhoso bom senso: “Pra que
esse alvoroço? Se faltar comida, não vão mais nem precisar disso”. Genial: pois
estaremos dispensados de fazer dieta, de suar na academia, de correr ao
banheiro.
Desculpem o final pouco
poético desta vez, mas estou me sentindo bem pouco poética, e, sim, irritada,
perplexa, e ridícula porque, afinal, sim, diante de muitas coisas, ainda me
espanto.