"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



terça-feira, 28 de janeiro de 2020

a noite inteira


Qual seu conceito de luxo? Você não responderá que é um iate ancorado no píer de Portofino, nem dirá que é uma penthouse em Nova York de frente para o Central Park – mesmo que seja. Não vai dar essa bandeira, já aprendeu que ostentar é cafona. Dirá que luxo é ter tempo, resposta óbvia e condizente com os dias apressados de hoje, ou dirá que luxo é ter amigos de verdade, e de fato é, já que colecionar seguidores é um delírio cujo efeito ainda foi pouco pesquisado. Pode também falar sobre a família, instituição que anda em alta, ou enaltecer a saúde, sem a qual nada prospera. Mas se fosse obrigado a transcender as respostas óbvias, o que responderia? O meu luxo: dormir uma noite inteira sem despertar no meio.

Não precisam ser 10 horas sequenciais, não sou de extravagâncias. Estou falando em desmaiar por seis horas seguidas, desfalecer por sete horas ininterruptas. Às vezes, acontece. Às vezes? Pois é. Deveria ser corriqueiro, não esporádico.

Geralmente, deito cedo. Entre 23h e 23h30 já estou em sono profundo. Até que, por volta de duas da manhã, sede! Preciso de um gole d´água (maldito vinho do jantar). Às quatro, um inexplicado suor escorre pelo corpo. E, logo depois, um arrepio de frio. Puxo o lençol até o pescoço, para dali a 10 minutos jogá-lo no chão, e logo juntá-lo de novo e me cobrir com o edredom, e assim sucessiva e esquizofrenicamente.

Se não acordo com a sede ou com os calorões, acordo com o canto dos pássaros – o dia começa mais cedo para eles. Ou é um mosquito que resolveu passear rente ao meu ouvido. Ou são as trovoadas lá fora. A filha que chegou de madrugada. O gato que mia. O whatsapp que apita. Uma música no andar de cima. A buzinada de algum notívago comemorando a vitória do seu time - às três da manhã! Se nada disso desperta você, parabéns, sono pesado é uma benção. Tomara que a criatura com quem você divide a cama seja tão abençoada quanto, mas duvido.

O mais provável é que sua pessoa amada vá ao banheiro duas vezes por noite, vire de um lado para o outro, ronque, tenha cãibras, fale durante o sono, acenda a luz pra ir atrás de um ansiolítico, encasquete que não trancou a porta da frente, escute um barulho lá fora e pergunte: “você também escutou esse barulho lá fora?” e você “hã? que barulho?” e ela, “esquece, acho que me enganei, dorme, amor”, deixando você mais acesa que um farol noturno no meio do oceano – quem inventou essa história de que precisamos dormir ao lado de quem amamos? Romantismo tem limite.

E eu nem falei de casais com bebês recém-nascidos.

Dormir uma noite de ponta a ponta sem acordar uma única vez. Melhor que iate, cobertura em Nova York, bangalô nas Maldivas, uma adega de vinhos italianos, centenas de curtidas no seu post. Luxo mesmo é, depois de um dia eletrizante, apagar sem sobressaltos.




“O mundo sem os Beatles seria imensamente ruim”

filme Yesterday


(...)
Quero falar sobre o tempo, sobre fazer 52 anos e modestamente me prestar uma homenagem, um tanto exibicionista até, da mulher que o tempo me transformou.
Celebrar, minha gente!

(...)
Comemorar meus anos vividos com a consciência de que estou no apogeu da minha força física e mental. Sei que o tempo tem sido generoso comigo.

O estranho é que o tempo não é real. É um conceito imaginado por cientistas, baseado no movimento imperfeito da terra ao redor do sol.

Então, por que algo que é apenas uma teoria importa tanto para nós?
Porque o tempo é tudo o que temos.
O tempo nunca é suficiente.
Trabalho, filhos, vida... Morte.
Algo sempre diminui o tempo que temos.

Precisamos aproveitá-lo da melhor forma ou compensar o tempo perdido.
Mas, às vezes, se tivermos muita sorte...
(como nessa foto)
O tempo para.

[Carolina Ferraz]



🌸 Salmos 25.5
@diariocomdeus_

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

e é por essa e outras razões...


“Um beijo por um queijo
quem beijar não come
quem comer não beija”
.
.
.
como não sou boba, eu beijei!

Não rolou essa iguaria na dança do acasalamento, mas ela é presença garantida na minha geladeira.
Afinal, a vida é muito curta pra não comer queijo todos os dias.

a balança dos relacionamentos



Eu te amo porque você não deixou os meus quilos a mais serem um “peso” na nossa relação.



Não há maior manifestação de lealdade do que deixar o celular carregando na tomada e sair para passear.
Não levar o aparelho, nem se importar com a esposa ou o marido zanzando dentro de casa.

Pode tocar, pode vir mensagens, pode entrar avisos, que você não deve nada, não tem coisa alguma a esconder.
Não correrá, enlouquecido, para ver se alguém o chamou. Não terá taquicardia com uma conversa visualizada. Não sofrerá crises de posse e de individualidade. Não ficará transtornado porque ela mexeu em seus aplicativos. Não terminará a relação por falta de confiança.

É uma tranquilidade de sobra para amadurecer o amor. Porque unicamente a fidelidade traz a mansidão.

E ainda quando regressar, nenhum medo destrói o contentamento de perguntar se houve um telefonema, fazendo com que a sua companhia entenda que a intimidade é virtude dos dois, que a privacidade não é um problema do relacionamento, que a vida de casal será sempre de ambos. Só de ambos.

do livro “Minha esposa tem a senha do meu celular”


Salmos 118:24🌸 
@diariocomdeus_

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020



Você tem vaga especial de estacionamento no trânsito e passe livre para o meu coração. 

sustento feminino


Participando de um seminário sobre comportamento, foi dito que as mulheres estão de tal forma cansadas de suas múltiplas tarefas e do esforço para manter a independência que começam a ratear: andam sonhando de novo com um provedor, um homem que as sustente financeiramente.

Não acreditei. Outro dia discuti com uma amiga porque duvidei quando ela disse estar percebendo a mesma coisa, que as mulheres estão selecionando seus parceiros pelo poder aquisitivo não só as maduras e pragmáticas, mas também as adolescentes, que ainda deveriam cultivar algum romantismo.

Então é verdade? Pois me parece um retrocesso. A independência nos torna disponíveis para viver a vida da forma que sonhamos, sem ter que “negociar” nossa felicidade com ninguém, e são poucos os casos em que se pode ser independente sem ter a própria fonte de renda (que não precisa obrigatoriamente ser igual ou superior a do marido). Não é nenhum pecado o homem pagar uma viagem, dar presentes, segurar as pontas em despesas maiores, caso ele ganhe mais – é distribuição de renda.

Mas se é ela que ganha mais, a madame também pode assumir o posto de provedora sênior, até que as coisas se equalizem. Parceria é uma relação bilateral. É importante que ambos sejam autossuficientes para que não haja distorções sobre o que significa “amor” com aspas e amor sem aspas.

As mulheres precisam muito dos homens, mas por razões mais profundas. Estamos realmente com sobrecarga de funções – pressão auto-imposta, diga-se –, o que faz com que percamos nossa conexão com a feminilidade: para ser mulher não basta usar saia e pintar as unhas, essa é a parte fácil.

A questão é ancestral: temos, sim, necessidade de um olhar protetor e amoroso, de um parceiro que nos deseje por nossa delicadeza, nossa sensualidade, nosso mistério. O homem nos confirma como mulher, e nós a eles. Essa é a verdadeira troca, que está difícil de acontecer porque viramos generais da banda sem direito a vacilações, e eles, assustados com essa senhora que fala grosso, acabam por se infantilizar ainda mais.

Podemos ser independentes e ternas, independentes e fêmeas – não há contradição. Estamos mais solitárias porque queremos ter a última palavra em tudo, ser nota 10 em tudo, a superpoderosa que não delega, não ouve ninguém e que está ficando biruta sem perceber.

Garotas, não desistam da sua independência. Façam o que estiver ao seu alcance, seja através do trabalho ou do estudo, em busca de realização e amor próprio. Escolher parceiros pelo saldo bancário é triste e antigo, os tempos são outros. É plausível que se procure alguém com o mesmo nível intelectual e social, com um projeto de vida parecido e com potencial de crescimento – mas para crescerem juntos, não para garantir um tutor.

A solidão, como contingência da vida, não é trágica, podemos dar conta de nós mesmas. Mas, ainda que eu pareça obsoleta, ainda acredito que se sentir amada é que nos sustenta de fato.



🌼Salmos 103:1
@diariocomdeus_

domingo, 19 de janeiro de 2020



“Apenas confie em alguém que consiga ver estas três coisas em você:
a dor por trás do seu sorriso;
o amor por trás da sua raiva;
a razão por trás do seu silêncio.”

“Não interessa quem magoou você ou partiu seu coração, o que importa é quem fez você sorrir de novo.”

“Toda a dor ensina uma lição e cada lição muda uma pessoa!”

| Arlequina (Esquadrão Suicida)



Coringa: Você morreria por mim? 
Arlequina: Sim!
Coringa: Não, isso é fácil demais... Você viveria para mim?





Porque a humanidade não dá certo

Uma blogueirinha fit, postou no seu Instagram que não tem nada melhor do que: “acordar, meditar, alongar, fazer atividade física, ir pra crioterapia e depois fazer drenagem!”

- Segunda-feira. Não, ela não está de férias!
Ela recebe pra fazer atividade física, pra publicar as marcas que a patrocinam, pra divulgar a massagista, pra dizer que a vida é “mara” e que ela é muito feliz.
Ela também diz que Cúrcuma e Magnésio são “mara” e que fazem bem “pra tudo”.

E aí, a Joana (nome fictício ok?) vê isso.
Ela, Joana, acorda cedo, passa um café rapidinho, corre pro trabalho, come em pé em alguma canto do serviço, chega em casa depois das 19h, pega seu material de estudos e corre pra aula, volta, come qualquer coisa, e dorme porque “todo dia ela faz tudo sempre igual, se sacode às 6h da manhã”.

Então, a “Joana” que é uma pessoa normal, começa a se sentir fracassada. Triste. Talvez seja falta de cúrcuma, né?
Ela não consegue acordar, meditar, alongar, treinar, fazer crioterapia e drenagem.

Enquanto a blogueira faz drenagem, ela já está no batente entregando produção... e nem 10 minutos de meditação ela consegue fazer!
E o que que essas blogueiras fazem pra humanidade, além de demonstrar uma vida fictícia que NINGUÉM normal pode ter?

E aí vemos jovens cada dia mais depressivos, pessoas cada vez mais imediatistas, profissionais mais frustrados e, a vida real, que era pra ser a vida realmente boa, mesmo com os seus tropeços, vai sendo vista como uma vilã cruel.

Umas semanas atrás, um “coach de life style” se matou. Um tal de Coach Bueno.
Desses que tinham a vida plena na rede social. Mas a vida real, que é boa mesmo com seus percalços, pesou. E ele não aguentou. Vejam só: a maioria dos influenciadores digitais se consultava com ele.
E ele? Se consultava com quem?

Em tempos de cúrcuma, magnésio, vida “mara”, água com limão de manhã, crioterapia, meditação,academia, corpo sarado e life style... eu fico com o churrasco, o arroz (pode até ser com açafrão!) com feijão, a vida em família, a religião, a atividade física moderada, e um brigadeiro, que nunca matou ninguém de decepção...

Zilda Machado



Provérbios 16:3 🌼
@diariocomdeus_

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020



“É muito difícil tentar ser feliz o tempo inteiro”.

Sobre Joker:
Arthur Fleck veio ao mundo sob a seguinte sentença: “aquele que nasceu para fazer rir e trazer alegria”. 
Sua mãe o chama de “Feliz”.
O local onde trabalha se chama “Hahas e seu slogan é “coloque um sorriso nessa cara”.

Há um imperativo à felicidade, à alegria, ao riso indispensável, a que Arthur obedece, tanto se tornando palhaço, como sonhando em ser comediante, mas, sobretudo, colocando o imperativo no real com seus ataques de riso a que ele chama de distúrbio neurológico.

Enquanto palhaço, bem ou mal, ele se monta/desmonta e causa riso com suas palhaçadas, mas é alguém que está para ser batido, espancado, achincalhado. 
Ao fim do dia, remove-se a maquiagem, tira-se a peruca, roupas e sapatos, volta-se a ser triste. 
Enquanto Coringa/Joker, Arthur é a própria piada, uma piada que não tem graça.

Isloany Machado - Psicóloga clínica



“Me arrependo das dietas, dos pratos deliciosos rejeitados pela vaidade, tanto quanto me arrependo das situações de fazer amor que deixei passar por me ocupar com tarefas pendentes ou pela virtude puritana”.

Isabel Allende



Tomar distância para ver com clareza.
É assim com paisagens.
É assim com emoções.
É assim com situações.
É assim com pessoas.




Isaías 41.10-13
🌸
@diariocomdeus_

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020


                                                                                             Toby

“Para um cão, você não precisa de carrões, de grandes casas ou roupas de marca. Símbolos de status não significam nada para ele. Um graveto já está ótimo. 

Um cachorro não se importa se você é rico ou pobre, inteligente ou idiota, esperto ou burro.

Um cão não julga os outros por sua cor, credo ou classe, mas por quem são por dentro. Dê seu coração a ele, e ele lhe dará o dele. 

É realmente muito simples, mas, mesmo assim, nós humanos, tão mais sábios e sofisticados, sempre tivemos problemas para descobrir o que realmente importa. 

De quantas pessoas você pode falar isso? 
Quantas pessoas fazem você se sentir raro, puro e especial? 
Quantas pessoas fazem você se sentir extraordinário?”

Marley & eu


Júnior, Marina e Toby

Humanos, vejo que estão chorando porque chegou meu momento de partir. 
Não chorem, por favor!
Vocês estão tristes porque eu fui embora e eu estou feliz porque conheci vocês.
Quantos como eu, morrem diariamente sem ter conhecido alguém especial?

Eu tive a enorme sorte de vocês terem me adotado.
Eu conheci o que é um lar! Vocês não têm ideia de como isso foi importante para mim!
Se vocês pudessem calcular o quão feliz me fizeram.
Eu sei que a minha partida entristeceu vocês, mas chegou o meu momento.

Quero pedir que não se culpem por nada. 
Ouvi vocês soluçarem e dizer que deveriam ter feito algo mais por mim.
Não digam isso, fizeram muito por mim! 
Sem vocês eu não teria conhecido nada da beleza que carrego comigo hoje.

Vocês devem saber que nós, animais, vivemos o presente intensamente e somos muito sábios: desfrutamos de cada pequena coisa de cada dia e esquecemos o passado ruim rapidamente.
Nossas vidas começam quando conhecemos o amor, o mesmo amor que vocês me deram, meus anjos sem asas e duas pernas.

Não chorem mais, por favor!
Eu vou feliz. Tenho na lembrança o nome que vocês me deram, o calor da sua casa que neste tempo se tornou minha. 
Eu levo o som da voz de vocês falando para mim, mesmo não entendendo sempre o que me diziam.
Eu carrego em meu coração cada carícia que vocês me deram.
Tudo o que vocês fizeram foi muito valioso para mim e eu agradeço infinitamente.
Não sei como dizer a vocês, porque eu não falo sua língua, mas certamente em meus olhos puderam ver a minha gratidão.

Eu só vou pedir dois favores. Lavem o rosto e comecem a sorrir.
Lembrem-se dos momentos felizes que vivemos juntos. Lembrem-se das palhaçadas que eu fazia para alegrar vocês.
Revivam, como eu, todo o bem que compartilhamos neste tempo.

Eu vou falar com os outros animais que estão aqui comigo, vou lhes contar tudo o que vocês fizeram por mim e eu vou apontar e dizer com orgulho: “Essa é a minha família!”.

À noite, quando uma estrela piscar para vocês, saibam que sou eu piscando um olho, avisando a vocês que estou bem, que não sinto mais dores e dizendo-lhes “obrigado pelo amor que vocês me deram”.



🌸Salmos 27:14
@diariocomdeus_

terça-feira, 14 de janeiro de 2020


Lição da partida:
O jogo só acaba quando o juiz apita.
Assim no campo como na vida!




Floresça. 
Ainda que seja em preto e branco, ainda que seja escondendo o pranto, a dor sob a condição de semente. 
Porque a vida nunca espera, porque o tempo não pondera o motivo que lhe fez cair.


🌸Salmos 91:9-10
@diariocomdeus_

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020


Gostar da própria solidão é a manifestação mais clara de que chegou aos 40 anos. Não precisa mais sair de casa para ser feliz, não é mais tributário do barulho e da multidão para se ver acompanhado.

Gosta do silêncio e de não fazer nada demais. Gosta do espaço vazio e da liberdade de não ter a agenda cheia.

Passa a filtrar os convites, a peneirar as festas, a abrir a porta para a rua somente quando realmente é indispensável. Não sofre mais em dizer não. Prefere receber os amigos em casa, em pequenos e semelhantes grupos, a virar a madrugada em baladas com estranhos.

Dispensou o bordel dentro de si. Tem como princípio sexo com qualidade, não mais pela quantidade. Não está mais desesperado para transar toda noite, toda semana. Busca criar um clima para o clímax, acima de tudo. A música de qualidade e a conversa inteligente são preliminares indispensáveis antes de qualquer amasso.

Perdeu também a ganância de enriquecer, o olho de águia do sucesso, opta por ganhar menos e se incomodar menos.

Mudou a sua concepção de prosperidade, paz é prosperidade.

O que fazia quando estava gripado, de permanecer na cama lendo um livro ou emendando episódios de uma série, agora ocupa a maior parte de seus dias sadios. Preocupa-se em aguar as plantinhas, em aprender idiomas, em comprar verduras sem agrotóxico nas feirinhas de bairro.

Nem para tomar vinho acredita que depende de companhia. As quatro décadas revelam a satisfação de um cálice sentado na varanda, sem ninguém para apressar os goles. Finalmente está solto no seu mundo de pensamentos para degustar a safra e descobrir os taninos.

Sei que meus amigos sopraram as 40 velinhas quando decidem se dedicar à cerveja artesanal. Largam os botecos e a zona de desconforto da boemia pela produção caseira de sua bebida. Ostentam experimentos e guardam as provas para limitados convidados. São cientistas do isolamento, explicando, depois de cumprida a missão, o passo a passo de sua incubadora com ostensivo orgulho.

Alguns encontram tempo para maturar queijos, outros se aventuram a assar pães ou pizzas, com sacerdócio de mestres-cucas. Se antes reclamavam da submissão doméstica das mães e avós, que colocavam tortas a esfriar nas janelas, agora não acham nem um pouco inconveniente o hábito de cozinhar, ainda que seja para o seu consumo.

Aliás, é simbólico nesta faixa etária querer produzir a sua própria comida. A cozinha torna-se a parte mais importante da residência, com aquisição de fornos potentes e panelas inquebrantáveis.

O discernimento da meia-idade surge com a renúncia. Entende-se que perder a agitação é ganhar autoconhecimento. A experiência traz a clareza do que é bom e do que é ruim, de que não vale realizar coisa alguma na contrariedade, de que nada mais será feito para agradar ao outro.

Gostar-se é o início de uma nova vida. Longeva vida, com a adrenalina da simplicidade.



Tem dia o silêncio
espeta por dentro
e as emoções carcomidas
pela falta de.
Fica um embrulho vazio
na garganta, eu sei.
Uma bolha de angústia.
O corpo sem responder a qualquer resquício de otimismo.
Nenhuma palavra escorre
para os dedos,
mas a mente inquieta.
Silêncio...
Se tem dor dormida dentro,
brasa acesa não aquece.
Dormência fora,
encontro de insônias,
cansaço sem lugar
para encostar o corpo
por causa do vazio
atrás e dentro.
Eu sei como é:
.
.
Só se encontra amparo
onde há-braços.
.