"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

o despertar de uma paixão


João, sentado à frente de Mariana, pegou sua mão um pouco trêmula e, através da luz fraca que a vela entre eles produzia, olhou bem fundo nos seus olhos miúdos, embargados de timidez e lhe disse:

“Mariana, eu jogaria tudo para o alto por você. Desde que te conheci, não consigo te tirar do meu pensamento. Fico imaginando como será nossa vida no futuro e a perspectiva do resto da eternidade do seu lado me dá o fôlego de que preciso para viver. Mariana, eu não sei como pude viver esses anos todos sem você, sem o seu cheiro, sem o teu gosto, sem os teus olhos. Cada segundo perto de você é um segundo melhor, porque é um tempo mais bonito e mais sublime… às vezes me faltam palavras, Mariana… e você, que me diz sobre nós?”

“Puta merda!” Mariana gritou antes de jogar o despertador longe e perceber que estava atrasada para o trabalho.


“Aí você aprende que cada um oferece o que tem. 
E você para de revidar, de se preocupar, de se abalar com julgamento de quem vive de mal com a vida. 
Você percebe que atrai o que transmite, e passa a usar seu tempo só com quem te faz bem. 
E aí, fica em paz.”


Por que tem tanta mulher avulsa hoje em dia? Não acho que seja pela reprodução acelerada dos fãs de sauna nem por culpa da carga de trabalho. Também não é por causa da balela (contada com ares de conquista) de que ficamos tão independentes que ultrapassamos a necessidade de ter alguém pra compartilhar o cotidiano. A razão para ter tanta mulher solteira é simples e cruel: o mundo está cheio de chatas.

A coisa mais comum em parques, bares, restaurantes e escritórios é mulherada reclamando. Se o cara não deu sinal de vida depois da primeira transa: credo, que escroto. Se mandou flores depois da primeira transa: ih, que careta. Se ligou todo simpático no dia seguinte: coitado, é inseguro. Se falhou no que deveria ser a primeira transa: o desgraçado é um broxa. Se o cidadão não quer um relacionamento fixo e deixa isso claro: putz, que galinha. Se não deixa isso claro: putz, que sabonetão. Se quer namorar pra valer: putz, sabe que eu não sei se estou disposta a abrir mão da minha liberdade?

Não dá para ter paciência com essas fêmeas surtadas, não. Eles estão mais é certos de preferirem tomar uma cerveja com os amigos a encarar um cineminha com uma mocinha simpática que pode, em questão de horas, se transformar numa onça com raiva ou grudar feito ventosa e começar a escorrer melado.

Não acredito em “surto de solteirice masculina”. Isso é bobagem: só falta homem para quem é pentelha demais, excessivamente cobradora, doentiamente independente ou que tenha a cara de um cachorro pug com gripe. Mas, acima de tudo, falta homem para dois tipos de mulheres: aquelas que estão sozinhas e continuam agindo como se não precisassem de ninguém e as que ficam praticamente sem ar se não tiverem um ser para chamar de “tchuchuco”. Peraí! Namorados são bons para animar a vida, partilhar o cotidiano, levar o cachorro pra fazer cocô na rua, comprar remédio para cólica em noites de chuva. Eles não dão, por si só, sentido à vida de ninguém. São apenas homens com quem podemos ser mais felizes.

Se a nega está há muito tempo sem um bípede do sexo oposto para “chamar de seu” e já nem se lembra como passar um domingo a dois, pode ser que não haja nenhuma conspiração mundial ou um raro alinhamento dos astros que intervenha malignamente sobre sua vida amorosa. Talvez seja tudo muito mais simples e mais fácil de resolver: talvez ela seja chata.


Afaste-se do mal e faça o bem; busque a paz com perseverança.

Salmos 34:14

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014


“A culpa não foi sua por não ter dado certo, a culpa foi minha. 
Por achar que você daria conta do recado.”


Essa história que eu vou contar agora aconteceu com uma mulher inteligente que estava fazendo uma palestra. Diz ela: Mês passado participei de um evento sobre o Dia da Mulher. Era um bate-papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres de todas as raças, credos e idades. E por falar em idade, lá pelas tantas, fui questionada sobre a minha e, como não me envergonho dela, respondi. Foi um momento inesquecível... A platéia inteira fez um “oooohh” de descrédito.

Aí fiquei pensando: “pô, estou neste auditório há quase uma hora exibindo minha inteligência, e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho? Onde é que nós estamos?” 
Onde não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado “juventude eterna”. Estão todos em busca da reversão do tempo. 
Acho ótimo, porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas. Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas mesmo em idade avançada. A fonte da juventude chama-se mudança. 
De fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar cadáver antes da hora.

A única maneira de ser idoso sem envelhecer é não se opor a novos comportamentos, é ter disposição para guinadas. 
Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos. Mudança, o que vem a ser tal coisa? 
Minha mãe recentemente mudou do apartamento enorme em que morou a vida toda para um bem menorzinho. Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras, que havia guardado e, mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu. 
Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos. Rejuvenesceu. 
Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um baita emprego por um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela vai à praia sempre que tem sol. Rejuvenesceu.

Toda mudança cobra um alto preço emocional. 
Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza. Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face. 
Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna. 
Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho. 
Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar.

Portanto, olhe-se no espelho...


tá explicado!


Evite as conversas inúteis e profanas, pois os que se dão a isso prosseguem cada vez mais para a impiedade. 

(2 Timóteo 2:16)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

quanto vale um sim


Você consegue um bom emprego na hora que bem entende? Você descola um amor do dia para a noite? Entra num banco e sai de lá com um empréstimo sem burocracia? Se você respondeu sim a todas estas perguntas, parabéns, e fique atento para o horário de partida do seu disco voador, pois, a qualquer momento, você terá que voltar para o seu planeta!

Entre nós, terrestres, o sim é uma resposta rara. Na maioria das vezes, não há vagas, não querem editar nossos poemas, não temos fiador, a garota não quer ouvir os discos em sua casa, o garoto não quer usar camisinha e o guarda de trânsito não foi com a sua cara e vai multá-lo sim senhor. Não está fácil pra ninguém.

Ao contrário do que possa parecer, esta não é uma visão pessimista da vida. As coisas são assim, dão certo e dão errado. Pessimismo é acreditar que um “não” seja uma barreira para realizar nossos planos. Tem gente que fica paralisado diante de um não, nunca mais vai à luta. Já o otimista resmunga um pouco e, em seguida, respira fundo e segue em frente.

Quando eu tinha uns dezessete anos, mandei meus versos para um concurso de poesia. Não ganhei nem menção honrosa. Daí, entreguei meus versos para o Mário Quintana avaliar. Ele não respondeu. Neste meio tempo, eu estava apaixonada por um cara e ignorava minha existência. Quando eu não estava pensando nele, fazia planos de morar sozinha, mas o meu estágio não era remunerado.

Aí, quis viajar para a Europa, mas não conseguira entrar num programa de intercâmbio. Surpreendentemente, não passou pela cabeça a idéia de me atirar embaixo de um caminhão.

Hoje tenho nove livros publicados, cinco deles de poesia, sou casada com o homem que amo, tenho a profissão dos sonhos e viajo uma vez por ano, e tudo isso sem ganhar na mega-sena, sem cirurgia plástica, sem pistolão ou pacto com o demônio. O segredo: cada “não” que eu recebi na vida, entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Não os colecionei, não foram sobrevalorizados; esperei sem pressa a hora do “sim”.

O “não” é tão freqüente, que chega a ser banal. O “não” é inútil, serve só pra fragilizar nossa auto-estima. Já o “sim” é transformador. O “sim” muda sua vida. “‘Sim’, aceito casar com você”; “‘sim’, você foi selecionado”; “‘sim’, vamos patrocinar sua peça”; “‘sim’, Ana Paula Arósio deu o número do celular dela”.

Quando não há o que detenha você, as coisas começam a acontecer sim.


Quando cortas uma flor para ti, começas a perdê-la, porque murchará em tuas mãos e não se fará semente para outras primaveras! 

Quando aprisionas um passarinho para ti, começas a perdê-lo, porque não mais cantará no bosque para ti nem criará outros passarinhos em seu ninho! 

Quando guardas teu dinheiro, começas a perdê-lo, porque o dinheiro não vale por si, mas pelo o que com ele se pode fazer. 

Quando não arriscas tua liberdade para tê-la, começas a perdê-la, porque a liberdade que tens se comprova quando te atiras optando e decidindo! 

Quando não deixas partir o teu filho para a vida, começas a perdê-lo, porque nunca o verás voltar para ti livre e maduro! 

Aprende no caminho da vida a paradoxal lição da experiência: sempre ganhas o que deixas e perdes o que reténs. 

___René Juan Trossero 

... Em Deus, cuja palavra eu exalto, neste Deus ponho a minha confiança e nada temerei. Que me pode fazer um mortal?


Sl 56:3,4

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014


Se você for chata, suas amigas relevam, se você for egoísta, suas amigas perdoam.
Agora, experimente ser magra e linda...

___José Simão


Mulheres passaram as últimas décadas lutando para que os moços sejam menos machistas, lavem louça sem reclamar, saiam das fraldas e larguem do nosso pé. Com toda a razão: o mundo seria eternamente um espartilho tamanho P se o maior espaço que tivéssemos na vida fosse entre a caixa do aspirador de pó e a sala de jantar. Lutamos e conquistamos um monte de coisas. Mas foi quando colocamos o sexo masculino no cabresto que todos nossos problemas… mudaram.

Trabalho até 11 horas por dia, encaro maratonas de reuniões e compromissos lotados de gente chata travestida de descolada, faço compras de supermercado na hora de almoço, troco o óleo do carro, penteio os gatos e fico cansada feito um camelo velho. Depois dessa suave rotina, tudo o que não preciso é um ser que recorra a mim para saber a cor da cueca que vai comprar, o que vamos fazer no final de semana ou se pode beber com os amigos.

Estou certa que perdemos a mão no processo de domesticação masculina.

Preciso de um homem que não tenha aberto mão das idiossincrasias da sua testosterona e compre só cueca branca porque é mais fácil. Que seja pró-ativo o suficiente para programar um final de semana que me surpreenda, mesmo que nem sempre seja uma surpresa tão boa assim (não dá para acertar todas). Um homem que beba com os amigos e volte pra casa meio torto porque, oras, por que ele não sairia?! 
Preciso de um macho que beije meu pescoço, lamba minha orelha e me convença a transar mesmo quando dou demonstrações de desânimo total. Um homem, enfim, não um garoto criado pela avó com medinho de tomar bronca.

Mas para isso é preciso baixar a guarda, deixar para lá essa ditadura, criada no tempo do feminismo, de que é primordial fazê-los comer na nossa mão porque, senão, seremos fracas e indignas. Chega de demonizar os homens. Já lutamos e conquistamos um monte de coisas, realmente, inclusive uma que não esperávamos: uma carência desgraçada, que teima em morrer de vergonha de se mostrar e nos corrói imperceptivelmente. Uma necessidade quase desesperadora de acolhimento e carinho e que, certamente, não será atendida (ou sequer percebida) por um bundão.

Não precisamos de seres bonzinhos, dominados, subjugados, acuados. Precisamos é de um pouco de semancol e, talvez, umas sessões de terapia para reaprender a pedir colo, ficarmos frágeis, fazermos uma comidinha gostosa para ele simplesmente porque deu vontade.

Precisamos voltar a não ter medo de sermos mulheres porque, no final das contas, homem submisso é como pau grande: muito bacana na teoria, mas um transtorno na prática.


“Não temas, quando alguém se enriquecer, quando avultar a glória de sua casa; pois, em morrendo, nada levará consigo...”


Sl 49:16,17


[ Não há caminhão de mudança em enterro, nem gaveta em caixão ]

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014


Não saio muito bem em fotografias. 
Porque meu melhor lado a foto não pega. 
Não me faz bela ou me faz jus. 
Porque meu melhor lado não é o esquerdo. 
Não é o direito. 
É o de dentro.

___Lilian Dalledone

Quando um está mal, o outro deve estar bem.
Quando um está irritado, o outro deve ser paciente.
Quando um está cansado, o outro deve encontrar disposição.
Quando um adoece, o outro deve mostrar saúde.
Quando um se envaidece de razão, o outro deve ser humilde no cuidado.

No casal, as fraquezas não podem convergir. Não podem ocorrer simultaneamente.
Se vê que sua parceira explodiu, escolha um momento distinto para desabafar e reclamar. Recue de sua catarse. Deixe para o dia seguinte. Ela nem irá ouvi-lo no acesso de cólera.

Quando os dois decidem ser a parte mais fraca do relacionamento, os laços sucumbem.
Não podem ocupar o mesmo papel, o mesmo script. Só há vaga para um protagonista em cada crise. Alguém terá que ser coadjuvante.
Dois vilões no mesmo filme geram divórcio.

A alternância é o segredo da convivência. Mudar de lugar sempre, analisar quem mais precisa e ceder se for necessário.
O que traz estabilidade é a gangorra: quando a mulher cai, o homem estende o braço, quando o homem vacila, a mulher acode.

A separação acontece quando duas chagas conversam procurando mostrar qual é a mais funda. É quando duas feridas travam uma guerra buscando sangrar mais, e nenhum dos lados estanca a própria carência.
O sofrimento acentua o orgulho, a dor agrava a cegueira, a ansiedade de resolver logo a discordância apenas abre a porta para o fim.
É uma disputa do desespero, e o casal se afoga nas mágoas. Não haverá sequer um salva-vidas acordado.

Ainda que sobre paixão, ainda que reste confiança, nada segura o momento em que os dois coincidem em enlouquecer. A loucura exige troca de plantão.

O casal é capaz de destruir uma história linda e promissora por uma noite de fúria.
A esposa e o marido se transformam em crianças, e crianças abandonadas em casa berrando e com medo. Tentarão gritar alto para chamar os vizinhos e denunciar os maus-tratos. E vão se indispor e se ofender tanto, e vão se provocar e se agredir tanto, que depois é difícil cicatrizar.

Um tem que ser adulto na hora do pânico. Um tem que ser responsável. Um tem que ser forte o suficiente para preservar as fraquezas do amor.


Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não deixa para ele nos montes as noventa e nove, indo procurar a que se extraviou? 
E, se porventura a encontra, em verdade vos digo que maior prazer sentirá por causa desta, do que pelas noventa e nove, que não se extraviaram. 
Assim, pois, não é da vontade de vosso Pai celeste que pereça um só destes pequeninos.

Mateus 18:12-14

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

amor de macumba


Quando algum amigo diz que recebeu macumba da ex, fico com ciúme. Com dor de cotovelo.
Isso que é amor grandioso. Amor de verdade. 

Sempre olho na minha esquina para ver se não tem nenhuma encomenda para mim. 
Mas nunca chega esse sedex do amor.
Macumba é sedex 10 do amor.

É muita paixão odiar alguém com tanto zelo. É muito capricho gastar seu tempo e fazer um trabalhinho para prender a pessoa ao seu coração.

É muita disposição.
É muita energia. 
É muito querer.
É muito desejo. 

É a superação de todos os incômodos, de todos os vexames, de todos os medos.
É muito luxo ter uma amada pagando para os santos mexerem com você, pagando a parcela antecipada da eternidade.

Isso que é amor além da vida. 
Isso que é vontade de permanecer junto. 

Eu aceitaria qualquer prova de doação: amarração, vodu, letras de macarrão, pipoca. 
Nem precisa roubar minha cueca, daria a melhor da minha gaveta.

Ai que inveja. 

No lugar da galinha preta, poderia oferecer o chester que sempre recebo no final do ano. 
Está aqui parado no congelador. Sem uso. 
E as velas na minha esquina ainda ajudariam a iluminação pública.

Amor de macumba é amor para sempre.


“quem você pensa que é?”


Perguntou pra mim de queixo em pé...

Sou forte,
fraca,
generosa,
egoísta,
angustiada,
perigosa,
infantil,
astuta,
aflita,
serena,
indecorosa,
inconstante,
persistente,
sensata e corajosa,
como é toda mulher

poderia ter respondido,
mas não lhe dei essa colher.


Mas tu, quando orares, entra no teu aposento [mais privado] e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente. 

(Mateus 6:6)

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014


“Deus é como o vento. Sentimos na pele quando ele passa, ouvimos sua música nas folhas das árvores e o seu assobio nas gretas das portas. 
Na flauta, o vento se transforma em melodia. 
Mas não é possível engarrafá-lo. No entanto as religiões tentam engarrafá-lo em lugares fechados a que elas dão o nome de ‘casa de Deus’. Mas se  Deus mora numa casa, estará Ele ausente do resto do mundo? Vento engarrafado não sopra. 
Deus nos deu asas. Mas a religião inventou gaiolas. 
Há pessoas que se sentem religiosas por acreditar em Deus. 
De que vale isto? Os demônios também acreditam e estremecem ao ouvir seu nome (Tiago 2:19)    
***                        
Tudo o que vive é pulsação do sagrado. As aves do céu, os lírios do campo. Até o mais insignificante grilo, no seu cricri rítmico, é uma música do Grande Mistério.
Não precisamos dizer o nome da rosa para sentir seu perfume. Não precisamos dizer o nome ‘mel’ para sentir sua doçura.”

(do livro “Perguntaram-me se acredito em Deus”)


Hoje parei pra pensar nos motivos que nos levam a seguir. Na força que nos move e nos faz acreditar que tudo vai ser diferente. Na coragem de se despir das dores e dos rancores diários. 

Hoje parei pra pensar no quanto eu quero viver, meu Deus! Mesmo com tantas dores, tantas fraquezas e filas quilométricas de decepções.
De toda negatividade, eu passo longe. Dobro a esquina se for necessário. 
Porque o jardim daqui de casa é verde e tem flor bonita. Tem gente que vem pra morar e não quer mais ir embora. Tem gente que chega com estoques e mais estoques de delicadezas pra tocar minha alma e me fazer sentir melhor depois da chuva. 
Porque sempre passa. A chuva, como também a tristeza, o rancor, o mal-me-quer.

É a vida voltando a florir, porque sempre volta, com força total. Dando novos frutos, novas folhas, flores e ventos. Trazendo pra gente uma alegriazinha modesta, uma paz, um caminho. 

É Deus segurando a gente pra não cair


Deus é o nosso refúgio e a nossa fortaleza, auxílio sempre presente na adversidade.

Salmos 46:1

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

 Ele morre de saudade dela. E ela, vive com saudade dele.

diálogo bobo


- Abandonou-te?
- Pior ainda: esqueceu-me...

sobre humilhação


Durante uma vida a gente é capaz de sentir de tudo, são inúmeras as sensações que nos invadem, e delas a arte igualmente já se serviu com fartura. Paixão, saudades, culpa, dor-de-cotovelo, remorso, excitação, otimismo, desejo – sabemos reconhecer cada uma destas alegrias e tristezas, não há muita novidade, já vivenciamos um pouco de cada coisa, e o que não foi vivenciado foi ao menos testemunhado através de filmes, novelas, letras de música.

Há um sentimento, no entanto, que não aparece muito, não protagoniza cenas de cinema nem vira versos com freqüência, e quando a gente sente na própria pele, é como se fosse uma visita incômoda. De humilhação que falo.

Há muitas maneiras de uma pessoa se sentir humilhada. A mais comum é aquela em que alguém nos menospreza diretamente, nos reduz, nos coloca no nosso devido lugar - que lugar é este que não permite movimento, travessia?. Geralmente são opressões hierárquicas: patrão-empregado, professor-aluno, adulto-criança. Respeitamos a hierarquia, mas não engolimos a soberba alheia, e este tipo de humilhação só não causa maior estrago porque sabemos que ele é fruto da arrogância, e os arrogantes nada mais são do que pessoas com complexo de inferioridade. Humilham para não se sentirem humilhados.

Mas e quando a humilhação não é fruto da hierarquia, mas de algo muito maior e mais massacrante: o desconhecimento sobre nós mesmos? Tentamos superar uma dor antiga e não conseguimos. Procuramos ficar amigos de quem já amamos e caímos em velhas ciladas armadas pelo coração. Oferecemos nosso corpo e nosso carinho para quem já não precisa nem de um nem de outro. Motivos nobres, mas os resultados são vexatórios.

Nesses casos, não houve maldade, ninguém pretendeu nos desdenhar. Estivemos apenas enfrentando o desconhecido: nós mesmos, nossas fraquezas, nossas emoções mais escondidas, aquelas que julgávamos superadas, para sempre adormecidas, mas que de vez em quando acordam para, impiedosas, nos colocar em nosso devido lugar.


Não andem ansiosos pela vida, pelo que irão comer ou beber. Nem pelo corpo, quanto ao que haverão de vestir. A vida é mais que comida. O corpo é mais que as roupas. 
Olhem as aves dos céus: não semeiam, não colhem, não ajuntam em celeiros. Contudo, a vida cuida delas. E vocês valem muito mais que as aves.
E qual dentre vocês, por ansioso que esteja, pode com sua ansiedade acrescentar um único dia à sua vida? E qual é a razão por que vocês se preocupam tanto com a roupa com que se vestem? 
Vejam como crescem os lírios do campo. E eu afirmo que nem mesmo os reis e as rainhas se vestem como qualquer deles. 
Vocês devem, em primeiro lugar, se preocupar com a sabedoria da vida e a justiça que nela há, e todas essas coisas lhes serão secundárias. 
Não fiquem inquietos por aquilo que ainda não aconteceu e nem sabe se acontecerá.
Tratem de cuidar dos males de amanhã, amanhã. 
O mal de cada dia é suficiente para aquele dia.

Mateus 6:25-34

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014


Sabe a.... a... aquela, você sabe....a loirinha.... prima da.... como é mesmo o nome... aquela que morava na rua atrás do clube... aquele clube que teu irmão jogava futebol com o... tsk, que futebol, o quê. Tênis, jogava tênis! Sabe? 

Antes era só com minha mãe que eu conversava desse modo, tentando preencher os pontinhos deixados em branco. Mas hoje em dia tem sido com as amigas também. Entramos na fase da conversa por dedução. E dessa fase não sairemos mais. Não vivas. 

Vocês já foram nesse restaurante novo que abriu? Esse que foi matéria ontem no... Vocês sabem, me ajudem, esse que foi superbem comentado pela... Ah, não importa, andam dizendo que é onde se come o melhor linguado ao molho de maracujá. Não: de manga. Linguado nada, eu quis dizer salmão. Salmão ao molho de manga. Isso. Já foram lá? 

Completar uma frase tem sido tarefa de adivinhação. Não sei com você, mas eu não consigo mais lembrar o nome de artistas, de filmes, de lugares. Mal consigo dizer corretamente o nome das filhas, e são apenas duas. Quem tem três – e acerta – vira meu herói. 

É sabido que nosso cérebro está com lotação esgotada. É informação demais para processar, não há como manter o estoque, é preciso jogar no lixo o que não serve mais. Aquela atriz... aquela bonitona... me escapa o nome agora. Pois bem, em sua biografia, ela comenta que, quando esquecemos um nome, o melhor é deixar pra lá e seguir em frente, mais adiante a lembrança retorna espontaneamente. Muito bem. Assim tenho levado a vida, aguardando a volta de palavras que debandaram. 

Sim, quero o CPF na nota. É 439136... não, 37... esquece, esse é meu RG. O CPF é 30055082... Calma, acabei de te dar o telefone do meu escritório. 

Aguardo a volta dos números também. 

Caduquice de velha? Olha: não é. Tenho visto muita criança de 30 anos que também está custando para levar uma frase até o final sem se perder nos “como é mesmo?”. A questão é que estamos sobrecarregados de tal forma que esquecer passou a ser mais comum do que lembrar. E os bate-papos agora são assim, um tentando adivinhar o que o outro está querendo dizer. 

Estou indo para Ibiraquera, aluguei uma casa. Falei Ibiraquera? Perequê, Perequê! Fica ali pertinho de... de... Porto Belo, obrigada. Só voltaremos depois do Natal. Depois do Carnaval, isso. Muito tempo, né? Estou levando quatro livros... Esse novo da Fernanda Montenegro... Hein? Torres. Fernanda Torres. Um de um australiano, canadense, uma coisa assim. Um sobre a vida da Jane Fonda. E outro daquele cara que tu gosta, o Stephen... Philip Roth, esse aí. E um monte de palavras cruzadas, prescrição médica. 

Jane Fonda, claro. Como é que pude esquecer?


Se alguém rezar pedindo paciência, acha que Deus dará paciência ou Deus dará a oportunidade de ser paciente?
Se pedimos coragem, Deus dá coragem ou nos dá a oportunidade de sermos corajosos?
Se alguém pede que a família seja mais unida, acha que Deus une a família com amor e alegria ou dá a eles a oportunidade de se amarem?

(do filme “A volta do Todo Poderoso”)


É como diz o ditado popular:
“Deus te dá os dentes, mas não mastiga por você.”

ah, essas mulheres!


ah, esses homens!



Que sejas meu universo
Não quero dar-te só um pouco do meu tempo
Não quero dar-te um dia apenas da semana

Que sejas meu universo
Não quero dar-te as palavras como gotas
Quero que saia um dilúvio de bençãos da minha boca

Que sejas meu universo
Que sejas tudo o que sinto e o que penso
Que de manhã seja o primeiro pensamento
E a luz em minha janela

Que sejas meu universo
Que enchas cada um dos meus pensamentos
Que a tua presença e o teu poder seja o alimento
Jesus este é o meu desejo

Que sejas meu universo
Não quero dar-te só uma parte dos meus anos
Te quero dono do meu tempo e dos meus planos

Que sejas meu universo
Não quero a minha vontade
Quero agradar-te
E cada sonho que há em mim quero entregar-te

(Meu universo – PG)


Meu Deus, sei que o Senhor está sempre ao meu lado, apesar de eu sempre arrumar uma desculpa 
para não te dedicar um pouco do meu tempo.
Sei que o Senhor é a única pessoa disposta a me amar com todos os meus defeitos, por isso te peço, Pai, que “a Tua presença e o Teu poder sejam meu alimento”, seja meu abrigo e porto seguro.

Seja, Senhor... tudo o que tenho e que sou!
Esta é a minha oração.
Amém!

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

as frases definitivas mais repetidas



“A inteligência é como um pênis”. 
Pois, o que é o pênis? No seu estado normal, é um apêndice ridículo, flácido, que realiza funções excretoras automáticas. Mas, se provocado pelo desejo, ele passa por incríveis metamorfoses que lhe dão a capacidade de ter prazer, de dar prazer e de criar vida. Se não há desejo, é inútil que a cabeça lhe dê ordens. 
Assim também somos nós. No cotidiano, nos encontramos num estado flácido que é mais do que suficiente para a realização das tarefas rotineiras. Quando, entretanto, somos provocados pelo desejo, crescemos e nos dispomos a fazer coisas ditas impossíveis. 
Assim viu Fernando Pessoa quando disse “Sinto uma ereção na alma...”.

Ereção na alma. Pense nisso. Sinta isso.

escute sua mãe

Dois anos atrás, na noite de entrega do Oscar, o diretor Tom Hooper, do premiado O Discurso do Rei, subiu ao palco para receber sua estatueta e contou a todos, em seu agradecimento, que foi sua mãe que, assistindo certa vez a uma leitura dramática, se interessou pelo texto e incentivou o filho a fazer dele um filme. Portanto, não fosse a mãe de Tom Hooper, não haveria a consagração de Colin Firth nem nada do que estava acontecendo naquela noite. Hooper concluiu sua fala de forma bem-humorada, dando um conselho para o mundo inteiro: “Listen your mother”.


Não há personagem mais rico do que as mães. Elas, sim, são as rainhas do discurso, as diretoras de cena, as figurinistas do set. E é sempre delas o corte final. Podemos não concordar com muita coisa do que elas dizem, podemos até fazer um jogo duro para deixá-las malucas, mas suas palavras nunca entram por um ouvido e saem pelo outro. O que mãe diz é lei. Jamais desistem do posto de xerifes da casa.

Eu nunca me arrependi de ouvir minha mãe, mesmo quando o que ela dizia não fechava com o que eu pensava, e isso aconteceu algumas vezes. Desde a opinião sobre um filme que eu ainda não havia visto, até um conselho sobre como agir numa situação delicada, sempre confiei no bom senso dela, não porque seja uma sábia com PhD em Filosofia, Psicologia, Cinema ou Medicina, mas porque sua sapiência é congênita, foi outorgada pela simples condição de ter parido filhos um dia.

Posso falar assim porque também sou mãe e também sou sábia diante das minhas filhas, mesmo errando como toda mãe erra. No entanto, erros maternos possuem uma ternura que os transformam em acertos póstumos. Quando uma mãe morre, vira santa na mesma hora e tudo o que ela fez – de errado, inclusive – se dilui na lembrança de que um dia houve ali um cais.

Sei de filhos e filhas que não possuem essa complacência toda diante de suas mães. Quando pergunto o que essas mães fizeram para merecer tanto descaso, geralmente ouço como resposta: “o que elas não fizeram, você quer dizer”. Mães se omitem, é verdade. Mães são egoístas, também. Mães às vezes privilegiam o marido em detrimento dos filhos – as submissas, ao menos. Mães se atrapalham, mães se apaixonam, mães metem os pés pelas mãos, e isso nunca é retratado nos comercias de tevê. Mães são muito mais protegidas e mimadas pela sociedade do que as crianças. Mães são sempre sagradas, mesmo sendo tão triviais.

Se sua mãe é meio avoada e não enxerga um palmo na frente do nariz, ame-a, simplesmente. Mas se ela consegue ir além da página 2, não só a ame como a escute. Confie no seu sexto sentido, preste atenção no que ela diz nas entrelinhas, respeite sua vivência, acredite no quanto ela lhe conhece e lhe quer bem, aprenda com sua sensatez, aceite seus palpites. Não é preciso assinar embaixo de tudo o que ela diz, mas, ainda assim, leve em consideração suas dicas e impressões. Radar de mãe não se despreza.


Guarde a sua língua do mal e os seus lábios da falsidade.

Salmos 34:13

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

depois daquele beijo


Quase todas as novelas acabam virando o samba do crioulo doido da metade para o final. Os autores precisam esticar a trama e aí personagens que no início eram interessantes tornam-se patéticos e a história que fazia sentido passa a não fazer mais sentido algum, a lógica vai para o espaço. Salva-se quem tiver talento acima da média, caso de Mateus Solano, que defendeu seu Félix com bravura e humor, virando o grande destaque de Amor à Vida. 

Coube a ele e a Thiago Fragoso a cena histórica da tevê brasileira: o primeiro beijo de amor entre dois homens. Quem vinha acompanhando o desenrolar do relacionamento dos personagens Félix e Niko certamente não se chocou. Se houvesse uma palavra para traduzir aquela relação, seria ternura. O oposto de depravação. 

Eu não esperava que o beijo ocorresse. Pega de surpresa, meu senso crítico (bem crítico!) em relação à novela desapareceu e me vi emocionada e feliz por todos os homens e mulheres que vivem um amor homossexual, e por seus pais, e por todos nós. Uma nova sociedade começava ali a sair do armário. 

Não se pode desmerecer o alcance de uma novela das nove, ainda mais em seu capítulo final. Dezenas de milhões de pessoas assistiram dentro de suas casas a uma realidade que a cada dia se torna menos secreta. Ouvi de alguém uma comparação espantosa: que assim como os telejornais não mostraram as cenas de cabeças cortadas na penitenciária de Pedrinhas, no Maranhão, as novelas também deveriam se abster de mostrar o beijo gay, bastaria uma insinuação. Se entendi bem, o beijo estaria sendo considerado violento. 

Os beijos podem ser românticos, eróticos, indecentes (os melhores), mas só são violentos quando acontecem contra a vontade. Afora isso, são detonadores de histórias de amor – ou de ilusões de amor, que seja. A partir deles, sempre começa alguma coisa (o.k., não nesta era de ficações banais, mas permita-me ser nostálgica). Assim como na vida real, os beijos do cinema, do teatro e da televisão ajudam a construir uma narrativa. E o que a história de Félix e Niko contou foi que homens enamoram-se entre si, sentem ciúme, ficam inseguros, reatam, tudo como ocorre entre héteros. Mesmo ainda não sendo considerados casais convencionais, podem ser tão amorosos quanto. Há alguma obscenidade no amor? Nenhuma. Não há obscenidade nem no sexo, não quando consentido e entre maiores de idade. 

Obscenidade é quando a grosseria nos remete ao nosso estado mais primitivo, mais irracional. Não fazemos questão de ver cabeças cortadas na tevê porque nos dói admitir o quanto o ser humano é descontrolado e feroz. Em contrapartida, nunca haverá razão para cortar cenas de afeto que nos façam lembrar o quanto podemos ser doces, estejamos em cena ou simplesmente aplaudindo de fora.

#simsóquenão!


Não comerei da alface a verde pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem maior aprouver fazer dieta.

Cajus hei de chupar, mangas-espadas
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.

Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro: deem-me feijão com arroz
E um bife, e um queijo forte, e parati
E eu morrerei feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão.

manda quem pode,
obedece quem tem juízo!
hehehehe


O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. 

João 10:11

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014


Quanto mais converso por aí, mais percebo que é inútil acreditar em verdades absolutas e fórmulas ideais de convivência. Cada pessoa tem familiares que influenciaram suas escolhas, medos herdados e medos adquiridos, sonhos altos demais ou mesmo nenhum, e um número incalculável de perguntas sem respostas, de desejos embaraçosos, de mágoas vitalícias. Quem vai decretar para mim o que é melhor para mim? E quem vai dizer o que é melhor para você? Com que topete?

A melhor vida não é aquela que atende os mandamentos universais, as ordens celestes e os clichês eternizados, mas a que se tornou possível, a que você vem construindo a despeito de todas as suas dúvidas.

A melhor vida seria a da Gisele Bündchen, pensa a menina feia. A melhor vida seria a da Dilma, pensa a vereadora de uma cidadezinha do interior. Enquanto isso, vivem a vida possível, sem perceber o quanto deveriam ser gratas por não precisarem arcar com consequências que desconhecem.

A melhor vida para mim é bem diferente da melhor vida para você. Reúna o planeta inteiro e não se encontrará duas pessoas que planejem possuir a mesma vida, porque uns não querem ter horário para nada, outros se envaidecem de ter suas atitudes comentadas por estranhos, há os que se paralisam à primeira frustração, os que estão sempre inventando novos desafios, e a vida possível de cada um torna-se impossível para os demais, o que não deixa de ser uma piada termos que conviver intimamente uns com os outros apesar desse tabuleiro inesgotável de escolhas e destinos.

Se eu almejar uma vida ideal, terei que me basear na vida dos outros, pois o ideal é fruto de uma racionalização coletiva e consagrada, enquanto que se eu me contentar com uma vida possível, volto a assumir algum controle sobre os royalties das minhas decisões. O que não impede que ela seja ótima, a mais adequada para o fôlego que tenho, a mais realizável dentro de minhas ambições, a menos sofrida, já que regulada pelo autoconhecimento que adquiri até aqui. Tenho como manejar uma vida possível de um jeito que jamais teria de manejar uma vida perfeita, até porque vida perfeita não é deste mundo, e o sobrenatural é matéria que não domino.

A melhor vida não é a focada em suposições, fantasias, esperas, surpresas e demais previsões que raramente se confirmam. A melhor vida não é aquela que é cumprida feito um pagamento de dívida, como um acerto de contas com nossos antigos anseios juvenis. A melhor vida não é a que desenhamos quando criança na folha do caderno, a casinha de venezianas abertas, a fumaça saindo pela chaminé e os girassóis protegidos por uma cerquinha branca, e tudo o que isso sugere de proteção e vizinhança com os desejos comuns a todos. A melhor vida possível é aquela que você ainda vem desenhando, mesmo já com algumas pontas de lápis quebradas.