Essa história que eu vou contar
agora aconteceu com uma mulher inteligente que estava fazendo uma palestra. Diz
ela: Mês passado participei de um evento sobre o Dia da Mulher. Era um
bate-papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres de todas as raças,
credos e idades. E por falar em idade, lá pelas tantas, fui questionada sobre a
minha e, como não me envergonho dela, respondi. Foi um momento inesquecível...
A platéia inteira fez um “oooohh” de descrédito.
Aí fiquei pensando: “pô, estou neste auditório há quase uma hora exibindo minha inteligência, e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho? Onde é que nós estamos?”
Aí fiquei pensando: “pô, estou neste auditório há quase uma hora exibindo minha inteligência, e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho? Onde é que nós estamos?”
Onde não sei, mas estamos correndo
atrás de algo caquético chamado “juventude eterna”. Estão todos em busca
da reversão do tempo.
Acho ótimo, porque decrepitude
também não é meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse
assunto sozinhas. Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas
de senhoritas mesmo em idade avançada. A fonte da juventude chama-se
mudança.
De fato, quem é escravo da
repetição está condenado a virar cadáver antes da hora.
A única maneira de ser idoso sem
envelhecer é não se opor a novos comportamentos, é ter disposição para
guinadas.
Eu pretendo morrer jovem aos 120
anos. Mudança, o que vem a ser tal coisa?
Minha mãe recentemente mudou do
apartamento enorme em que morou a vida toda para um bem menorzinho. Teve que
vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras, que havia guardado e,
mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e
simplificada, rejuvenesceu.
Uma amiga casada há 38 anos cansou
das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65
anos. Rejuvenesceu.
Uma outra cansou da pauleira urbana
e trocou um baita emprego por um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela
vai à praia sempre que tem sol. Rejuvenesceu.
Toda mudança cobra um alto preço
emocional.
Antes de se tomar uma decisão
difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os questionamentos são inúmeros, a
vida se desestabiliza. Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a
recompensa fica escancarada na face.
Mudanças fazem milagres por nossos
olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna.
Um olhar opaco pode ser puxado e
repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco
porque não existe plástica que resgate seu brilho.
Quem dá brilho ao olhar é a vida
que a gente optou por levar.
Portanto, olhe-se no espelho...