"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quarta-feira, 27 de março de 2013

antes da páscoa...


Renovar a ação

de todo santo dia,
de todo pensar,
de todo sentir,
de toda tentação,
de toda dor,

é um pouco como vencer a morte também.



Amanhã pego a estrada... vou fugir da cidade nesse feriadão,
e depois da páscoa, conhecer lugares...
(um dos 100 lugares que quero conhecer antes de morrer).

Como vou dar uma sumida do blog,
já deixo aqui o meu desejo
de um feriado de paz e
muita coisa boa renovando sempre em suas vidas.

*
Dizem que chocolate faz bem pra saúde.
Lambuzem-se.


*
Boa páscoa!

Talvez o amor tenha peso de luz, às vezes com o pecado do mundo todo.

(Mariana Zogbi)

Conservemos os nossos olhos fixos em Jesus, pois é por meio dele que a nossa fé começa, e é Ele quem a aperfeiçoa.
Ele não deixou que a cruz fizesse com que Ele desistisse, pelo contrário, por causa da alegria que lhe foi prometida, Ele não se importou com a humilhação de morrer na cruz
e agora está sentado ao lado direito do trono de Deus.

Hebreus 12:2

terça-feira, 26 de março de 2013



Somos quase todas guerreiras, quase todas românticas,
quase todas insuportáveis e maravilhosas.


Sou tão adulta quanto a vida me exige
e tão criança quanto o coração implora

morra... e viva!

Ressurreição, renascimento...
Essa época de Páscoa nos remete a uma viagem interior e ao desejo de renovação. São os ciclos da vida.

Perdeu um amor, ganhou uns quilinhos, o trabalho vai mal... e vem o desespero ao pensar que para o resto de nossas vidas poderemos viver nessa via crucis onde o fardo parece ser infinitamente mais pesado do que podemos suportar.


Já se permitiu morrer uma vez? Nesses momentos onde a dor parece arrancar aos poucos pedacinho por pedacinho do nosso coração?
Quando o sofrimento torna-se insuportável a ponto de não querer viver mais... morra uma vez. Desfaleça. Ignore o mundo e jogue-se na sua escuridão. Recluse-se para pensar, pra chorar... chore. Até se cansar e perceber que as lágrimas às vezes funcionam como morfina para o martírio. Durma um pouco e respire... devagar... Morra um pouco.


Ninguém é forte o tempo todo e nem precisa ser. Entregue os pontos quando não der mais. Morra. Vá. Mas depois volte, ressurja.

Volte com o espírito novo. Brilhante. Volte com sua luz e ilumine o seu próprio caminho.
Mesmo que não tenha resolvido nada, mesmo que os problemas ainda estejam lá, regresse forte. Altivo. Você é dono das suas escolhas e completamente responsável por suas decisões. Decida. Aceite. Busque.

Não podemos viver por ninguém além de nós mesmos,
então façamos bem feito.
Pedras surgirão, a escuridão talvez volte... por isso morra.
Morra e ressurja quantas vezes forem necessárias,
em todos os ciclos que precisarem ser renovados.
Renove-se. A revolução é constante. Evolua.

Morra e transforme.
Morra e progrida.
Morra... e viva!

Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora.
É melhor perder uma parte do seu corpo
do que ser todo ele lançado no inferno.
E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora.
É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno.

Mateus 5:29-30

Aqui é reconhecido pela maioria dos intérpretes que Jesus está
usando hipérbole. Ou seja, ele está exagerando para chamar a
atenção dos seus ouvintes.
Deus não espera que literalmente
cortemos mãos ou arranquemos olhos.
Se o desejo de cometer
adultério, por exemplo, nasce na mente, cortar uma parte do corpo
não vai removê-lo.
O ponto de Jesus é como precisamos ser radicais em tratar o pecado.

segunda-feira, 25 de março de 2013


Foi durante o programa Saia Justa que a atriz Camila Morgado, discutindo sobre a chatice dos outros (e a nossa própria), lançou a frase: Não canse quem te quer bem.
Diz ela que ouviu isso em algum lugar, mas enquanto não consegue lembrar a fonte, dou a ela a posse provisória desse achado.

Não canse quem te quer bem.
Ah, se conseguíssemos manter sob controle nosso ímpeto de apoquentar. Mas não. Uns mais, outros menos, todos passam do limite na arte de encher os tubos.
Ou contando uma história que não acaba nunca, ou pior: contando uma história que não acaba nunca cujos protagonistas ninguém ouviu falar.
Deveria ser crime inafiançável ficar contando longos causos sobre gente que não conhecemos e por quem não temos o menor interesse.
Se for história de doença, então, cadeira elétrica.

Não canse quem te quer bem.
Evite repetir sempre a mesma queixa.
Desabafar com amigos, ok.
Pedir conselho, ok também, é uma demonstração de carinho e confiança.
Agora, ficar anos alugando os ouvidos alheios com as mesmas reclamações, dá licença.
Troque o disco.
Seus amigos gostam tanto de você, merecem saber que você é capaz de diversificar suas lamúrias.

Não canse quem te quer bem.
Garçons foram treinados para te querer bem. Então não peça para trocar todos os ingredientes do risoto que você solicitou – escolha uma pizza e fim.

Seu namorado te quer muito bem.
Não o obrigue a esperar pelos 20 vestidos que você vai experimentar antes de sair – pense antes no que vai usar.
E discutir a relação, só uma vez por ano, se não houver outra saída.

Sua namorada também te quer muito bem.
Não a amole pedindo para ela posar para 297 fotos no fim de semana em Gramado.
Todo mundo já sabe como é Gramado.
Tirem duas, como lembrança, e aproveitem o resto do tempo.

Não canse quem te quer bem.
Não peça dinheiro emprestado pra quem vai ficar constrangido em negar.
Não exija uma dedicatória especial só porque você é parente do autor do livro.
E não exagere ao mostrar fotografias.
Se o local que você visitou é realmente incrível, mostre três, quatro no máximo.
Na verdade, fotografia a gente só mostra pra mãe e para aqueles que também aparecem na foto.

Não canse quem te quer bem.
Não faça seus filhos demonstrarem dotes artísticos (cantar, dançar, tocar violão) na frente das visitas.
Por amor a eles e pelas visitas.

Implicâncias quase sempre são demonstrações de afeto.
Você não implica com quem te esnoba, apenas com quem possui laços fraternos.
Se um amigo é barrigudo, será sobre a barriga dele que faremos piada.
Se temos uma amiga que sempre chega atrasada, o atraso dela será brindado com sarcasmo.
Se nosso filho é cabeludo, “quando é que tu vai cortar esse cabelo, guri?” será a pergunta que faremos de segunda a domingo.
Implicar é uma maneira de confirmar a intimidade. Mas os íntimos poderiam se elogiar, pra variar.

Não canse quem te quer bem.
Se não consegue resistir a dar uma chateada, seja mala com pessoas que não te conhecem.
Só esses poderão se afastar, cortar o assunto, te dar um chega pra lá.
Quem te quer bem vai te ouvir até o fim e ainda vai fazer de conta que está se divertindo.
Coitado. Prive-o desse infortúnio.
Ele não tem culpa de gostar de você.

questão de pontuação


Todo mundo aceita que ao homem
cabe pontuar a própria vida:
que viva em ponto de exclamação
(dizem: tem alma dionisíaca);

viva em ponto de interrogação
(foi filosofia, ora é poesia);
viva equilibrando-se entre vírgulas
e sem pontuação (na política):

o homem só não aceita do homem
que use a só pontuação fatal:
que use, na frase que ele vive
o inevitável ponto final.

(João Cabral de Melo Neto
in: 'Museu de tudo e depois')

No dia em que eu agir, diz o Senhor dos Exércitos, eles serão o meu tesouro pessoal.
Eu terei compaixão deles como um pai tem compaixão do filho que lhe obedece.
Então vocês verão novamente a diferença entre o justo e o ímpio, entre os que servem a Deus e os que não o servem.

Malaquias 3:17-18

sábado, 23 de março de 2013

3 anos...



O 'nuvensdealgodão' completa hoje 3 anos!

Neste momento não me sinto inspirada. Queria escrever alguma coisa bonita, mas o meu cérebro está off.
Queria postar um texto bacana, mas meu dia está corrido.
Então, fica só o meu muitíssimo obrigada para você, que passa por aqui:

- Para você, que apenas lê
- Para você, que lê e se sente mais enriquecido e inspirado
- Para você, que acompanha e que vê este espaço como um cantinho onde se sente em casa.

Para vocês, fica o meu maior agradecimento!!!

sexta-feira, 22 de março de 2013

lista de desejos de uma mulher carente


Lista original
Eu quero um homem que...

. Seja lindo
. Encantador
. Financeiramente estável
. Um bom ouvinte
. Divertido
. Em boa forma física
. Se vista bem
. Aprecie as coisas mais finas
. Faça muitas surpresas agradáveis
. Seja um amante criativo e romântico

Lista revisada aos 32 anos
Eu quero um homem que...

. Seja bonitinho,
. Abra a porta do carro
. Tenha dinheiro suficiente para jantar fora com certa frequência
. Ouça mais do que fale
. Ria das minhas piadas
. Carregue as sacolas do mercado com facilidade
. Tenha no mínimo uma gravata
. Lembre de aniversários e datas especiais
. Procure romance pelo menos uma vez por semana

Lista revisada aos 42 anos
Eu quero um homem que...

. Não seja muito feio
. Espere eu me sentar no carro antes de começar a acelerar
. Tenha um emprego fixo
. Balance a cabeça enquanto eu falo
. Esteja em forma ao menos para mudar a mobília de lugar
. Use camisetas que cubram sua barriga
. Não compre cidra achando que é champagne
. Se lembre de abaixar a tampa da privada

Lista revisada aos 52 anos
Eu quero um homem que...

. Corte os pelos do nariz e das orelhas
. Não coce o saco nem cuspa em público
. Não sustente as irmãs, nem as filhas do primeiro casamento
. Não balance a cabeça até dormir enquanto eu estou reclamando
. Não conte a mesma piada o tempo todo.

Lista revisada aos 62 anos
Eu quero um homem que...

. Não assuste as crianças pequenas
. Ronque bem baixinho quando dorme
. Esteja em forma suficiente para ficar de pé sozinho
. Use cueca e meias limpas

Lista revisada aos 72 anos
Eu quero um homem que...

. Respire
. Lembre onde deixou seus dentes

Lista revisada aos 82 anos
Eu quero um homem que...

. O que é um homem, mesmo?


Falem somente a verdade uns com os outros, e julguem retamente em seus tribunais;
não planejem no íntimo o mal contra o seu próximo, e não queiram jurar com falsidade, porque o Senhor odeia todas essas coisas.

Zacarias 8:16-17

quinta-feira, 21 de março de 2013

do poder das palavras...


hehehehe
Gosto de falar uma palavra em especial...

Uma palavra bem dita (não entender bendita) em momento de estado emocional alterado, 
é mais eficiente que contar até dez.
Pratique... a raiva passa e o vocabulário enriquece.
Afinal, é melhor xingar do que bater!


Se somos nossos erros, nossas escolhas, nossas dúvidas, nossos sonhos, honestamente, eu não sei quem eu sou.


Eu me entrego pros dias de sol
Pra camisas de banda e até pra chocolates
Ou filmes de romance esquecidos na estante
Pros perfumes que deixam boas lembranças
Pras risadas que me tiram todo o ar
Às cores vibrantes do seu tênis
Que caminham em minha direção
Caminho devagar, se o tempo for bom
Não pense muito
No fim, tudo se adapta
Se alguém te deixou cego
Não questione, simplesmente vá
Se o errado pra mim for o certo
Eu não me importo
Se o errado pra mim for o certo
Eu não me importo, eu me entrego
Eu me entrego à sua bagunça na minha sala
A um bom livro antes de dormir
Ao hoje, ao agora e ao talvez…
Ao compromisso de realizar meus sonhos
Desapego até dos meus esconderijos, aos berros
Deixe a deixa aberta, aperte um sorriso
Num mundo colorido pra que viver apenas uma cor?
À música estrondosa, à casa vazia
Chão gelado e silêncio interior
Às bocas vermelhas, às meias de lurex
Às unhas compridas, tudo junto, só se for
Se o errado pra mim for o certo
Eu não me importo
Se o errado pra mim for o certo
Eu não me importo, eu me entrego
Eu me entrego apenas quando souber
Que o que iremos passar vai ter valido uma canção
Meia hora a mais na cama na segunda-feira
Um dia chuvoso bem embaixo do edredom
Ao colo de quem me aceita assim
A tudo que puder antes que a cortina feche
Até de malas prontas, me arrisco a compor
De um jeito que ninguém sabe
Sem sonhar com os pés no chão
Entregue-se àquilo que te faz sentir
Entregue-se àquilo que te faz

[Tiê - Entregue-se]

Mesmo não florescendo a figueira, não havendo uvas nas videiras; mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação.

Habacuque 3:17-18

quarta-feira, 20 de março de 2013


Poder dormir
Poder morar
Poder sair
Poder chegar
Poder viver
Bem devagar
E depois de partir
Poder voltar
E dizer: este aqui é o meu lugar
E poder assistir ao entardecer
E saber que vai ver o sol raiar
E ter amor e dar amor
E receber amor até não poder mais
E sem querer nenhum poder
Poder viver feliz
Pra se morrer em paz

Tenta te orientar pelo calendário das flores, esquece, por um momento os números, a semana, o dia do teu nascimento.
Se conseguires ser leve, aproveita, enche tuas malas de sonho e toma carona no vento.

(Fernando Campanella)

Eu me busco tanto em tudo, que fiz da palavra “encontro”
o fim da minha estrada.
E sigo caminhando a esmo com a obstinação dos que não têm destino certo, apenas a intuição de que chegarão nalgum lugar
que não se chame “cansaço”.

Busquem o bem, não o mal, para que tenham vida.
Então o SENHOR, o Deus dos Exércitos, estará com vocês.

Amós 5:14

terça-feira, 19 de março de 2013


Não coma entre as refeições, mas se alimente a cada três horas. Trabalhe um terço do seu dia, faça exercícios regularmente, leia mais livros, mantenha-se informado, nunca pare de estudar. Troque seu carro anualmente, você precisa de um celular novo, seu anti-vírus está desatualizado. Faça check-ups duas vezes ao ano, pague plano de saúde, seguro de vida, IPTU, IPVA e outros impostos que você nem sabe que paga, nem pra que servem. Trabalhe, ganhe, perca. Inspire, respire e, se der tempo, suspire.
Se. Se der tempo, faça uma viagem. Se sobrar um espaço na agenda, tire um dia pra você. O prazer é um luxo e deve ser racionalizado para os momentos de desespero, quando o peso da rotina ficar insuportável.

Essas regras não servem pra mim. Não tenho vocação pra bailarina, tenho fobia de linha reta, tenho o corpo livre, o espírito solto, sou do mundo, das pessoas, das conquistas, das novidades, vou construindo fatos e lembranças nas esquinas.
A vida que tem lá fora gritou e eu não ouvi. Agora me movo a passos curtos, ziguezagueando por entre mudas de flores recentes que querem ser botão.
Eu quero ser flor: quero terra viva que se mova e me faça mover.

Não acho prepotência pensar que o mundo está errado enquanto estou sozinha e correta. Estão construindo uma sociedade conformada e sem vontades, que acredita na criminalidade de seus sonhos e direitos. Temos professores que não ensinam, treinam. São treinadores que tomaram de nós todos os dias as falas decoradas, as regras, as frases feitas que serão questionadas numa prova que avalia de modo imbecil os jovens perdidos, selecionando e excluindo crianças do que chamam de vida. Despejando decisões eternas nas mãos de quem só quer brincar de ser gente.

Eu protesto. Eu digo que há algo além das carreiras. Eu defendo que há um mundo inteiro longe dos escritórios e das vidas corretas. Eu apoio o fim do óbvio e das obrigações infundadas que surgiram em algum momento e ficaram por preguiça de ser mais. Mais nascer do sol, um bocado de sair mais cedo do trabalho, novas amizades e experiências jamais imaginadas. O medo nunca foi motivo de orgulho.

Olha, eu acho mesmo é que falta coragem. E tempo. Tempo de olhar em volta e coragem de bater de frente.
Quando foi a última vez que você tomou banho de chuva sem se preocupar com o celular no bolso, os cartões do banco, a chapinha, o sapato que não pode molhar?
As pessoas têm que se permitir. Aprender o atraso, o olhar em volta. Mudar o caminho de todos os dias e se perder no seu próprio bairro.
É o que tenho feito, me perder. E devo dizer que estou muito feliz por não encontrar o caminho de volta.

tempo de delícias...


Homem + chocolate:

Uma vez instalado o vício, a tendência é ir aumentando as quantidades ingeridas.
A vontade de comer um chocolate não passa com outro doce.
A vontade de estar com uma pessoa também não passa substituindo-a.
A química que ocorre entre o chocolate e o nosso prazer é especial.
O chocolate vicia devido a um de seus componentes básicos, o aminoácido feniletilamina, precursor da serotonina, substância que fabricamos em situações de felicidade.
Além disso, ela é capaz de regular o sono, o humor e até o padrão alimentar.

O homem também vicia, mas acho que não devido a apenas um componente.
Tudo é mais complexo... Acho que é um mix, uma caixinha de prazeres...
Namoro e orgasmo cursam como uma cascata de serotonina em nosso corpo.
Os homens conseguem sintetizar a serotonina mais rapidamente do que as mulheres e são capazes de armazenar o dobro, por isso se controlam antes de atacar um chocolate.
E nós mulheres nos descontrolamos sem um chocolate...
Necessitamos sempre de uma dose profilática deste e daquele,
porque é assim que deve ser...

Prazeres, calmante, felicidade, sono
Tudo em perfeita adequação

Ah... E de quebra ambos causam dependência
física, química e psicológica

Enfim...
Viciada assumida
Adoro!

É a páscoa chegando...

Duas pessoas andarão juntas se não tiverem de acordo?

Amós 3:3

sexta-feira, 15 de março de 2013


O que eu sou não lhe diz respeito, em parte nenhuma lhe toca.

Não me pergunte o que eu faço da vida, isso é banal, é triste, é comum.
Queira saber o que me faz feliz, meu ponto fraco pras cócegas.
Não pergunte o que me dá dinheiro, porque este é o menor dos meus sucessos.

Por favor, sou tão ridiculamente fácil de decifrar e ainda insistem em seguir pelo caminho errado. Exponho-me tanto e ainda querem uma cartilha.

O que eu sou não lhe diz respeito, em parte nenhuma lhe toca.
Mas se quiser mesmo saber de mim, experimente não me perguntar.
E talvez assim desperte minha vontade de contar.
(...)
Tempos de amnésia obrigatória.
O assunto merece um tratado.
Amnésia.
É o que explica tanta neurose e tanta infelicidade.
A gente procura esquecer para poder ir adiante, mas que espécie de caminho trilhamos quando não enfrentamos a verdade?

Esquecer é uma estratégia de sobrevivência. Somos todos uns esquecidos crônicos. Pra começar, esquecemos de alguns descuidos que sofremos na infância, pois nos educaram para considerar pai e mãe infalíveis.
Dessa forma, nossas dores internas acabam ganhando o apelido de fricotes, só que esses fricotes viram traumas, e esses traumas minam nossa confiança na vida e sustentam os consultórios psiquiátricos, já que esquecer é uma forma de impedir a compreensão absoluta de nós mesmos e alguém precisa nos ajudar a lembrar para nos libertarmos.

Esquecemos os desaforos que tivemos que engolir durante um casamento ou namoro, tudo porque nos ensinaram que o amor deve ser forte o suficiente para aguentar os revezes da convivência, e também por medo da solidão, que tem péssimo cartaz.
Então, para nos enquadramos e nos sentirmos amados e estoicos, esquecemos as mentiras, as traições, os maus tratos, as indiferenças e mantemos algo que ainda parece uma relação, mas que deixou de ser no momento em que enfiamos a cabeça dentro do buraco.

Esquecemos em quem votamos, céticos de que em política nada muda, e em vez de investirmos nossa energia em manifestações de repúdio à corrupção, deixamos pra lá e seguimos em frente conformados com a roubalheira, desmemoriados sobre nossos direitos.

E esquecemos, principalmente, de quem somos. Dos nossos ideais, das nossas vontades, dos nossos sonhos, das nossas crenças, tudo em prol de uma adaptação ao meio, de uma preguiça em desfazer o combinado e buscar uma saída alternativa, de uma covardia que gruda na alma e congela os movimentos. Esquecer de nós mesmos é assinar um contrato com a resignação.

... A amnésia é uma opção, não é obrigatória.
E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo...

Joel 2:32

quinta-feira, 14 de março de 2013

Chico Bento se achando...





É preciso explicar pra cabeça
Poema não põe comida na mesa
Não resolve equação
Nem coloca diploma na mão
Coração não come
Nem estuda... nem trabalha
Vai sempre por rumo
E tira a gente do prumo
Guarda a poesia no armário
Vai pra tua lida
O mundo é de quem se atreve
E barriga vazia nem promissória escreve

Aonde quer que você vá,
por ilhas visitadas ou desconhecidas,
em busca de seja lá o que for,
leve com você o meu gostar.

Não tenha medo, ó terra; regozije-se e alegre-se.
O Senhor tem feito coisas grandiosas!

Joel 2:21

quarta-feira, 13 de março de 2013


Ver com amor também é um jeito de prece.
Gosto demais do Fabricio Carpinejar, de quem tenho o privilégio de ser amiga. E é para prestigiá-lo que abro essa crônica com uma citação extraída da ótima entrevista que ele deu para a revista Joyce Pascowitch: “O início da paixão é estratosférico, as pessoas não param quietas exibindo tudo que podem fazer. Depois passam a confessar o que realmente querem. A paixão é mentir tudo o que você não é. O amor é começar a dizer a verdade”.

É mais ou menos isso. No começo, a sedução é despudorada, inclui, não diria mentiras, mas um esforço de conquista, uma demonstração quase acrobática de entusiasmo, necessidade de estar sempre junto, de falarem-se várias vezes por dia, de transar dia sim, outro também. A paixão nos aparta da realidade, é um período em que criamos um universo paralelo, é uma festa a dois em que, lógico, há sustos, brigas, desacordos, mas tudo na tentativa de se preparar para algo muito maior. O amor. É aí que a cobra fuma. A paixão é para todos, o amor é para poucos. Paixão é estágio, amor é profissionalização. Paixão é para ser sentida; o amor, além de ser sentido, precisa ser pensado. Por isso tem menos prestígio que a paixão, pois parece burocrático, um sentimento adulto demais, e quem quer deixar de ser adolescente? A paixão não dura, só o amor pode ser eterno.

Claro que alguns casais conseguem atingir o Éden – amarem-se apaixonadamente a vida inteira, sem distinção das duas “eras” sentimentais. Mas, para a maioria, chega o momento em que o êxtase dá lugar a uma relação mais calma, menos tórrida, quando as fantasias são substituídas pela realidade: afinal, o que se construiu durante aquele frenesi do início? Uma estrutura sólida ou um castelo de areia? Quando a paixão e o sexo perdem a intensidade é que aparecem os pilares que sustentam a história – caso existam. O que alicerça de fato um relacionamento são as afinidades (não podem ser raras), as visões de mundo (não podem ser radicalmente opostas), a cumplicidade (o entendimento tem que ser quase telepático), a parceria (dois solitários não formam um casal), a alegria do compartilhamento (um não pode ser o inferno do outro), a admiração mútua (críticas não podem ser mais frequentes que elogios), e principalmente, a amizade (sem boas conversas, não há futuro). Compatibilidade plena é delírio, não existe, mas o amor requer ao menos uns 65% de consistência, senão o castelo vem abaixo.

O grande desafio dos casais é quando começa a migração do namoro para algo mais perene, que não precisa ser oficializado ou ter a obrigação de durar para sempre, mas que não pode continuar sendo frágil. Claro que todos querem se apaixonar, não há momento da vida mais vibrante. Mas que as “mentirinhas” sedutoras do início tenham a sorte de evoluir até se transformarem em verdades inabaláveis.

Voltem-se para o Senhor, para o seu Deus, pois ele é misericordioso e compassivo, muito paciente e cheio de amor;
arrepende-se, e não envia a desgraça.

Joel 2:13

segunda-feira, 11 de março de 2013


O que é vida?
Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano?
O que e quem a define?

Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: “Morrer, que me importa? (…) O diabo é deixar de viver.” A vida é tão boa! Não quero ir embora…

Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: “Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?”. Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: “Não chore, que eu vou te abraçar…” Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.

Cecília Meireles sentia algo parecido: “E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega… O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias… Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto…”

Dª Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. “Minha filha, sei que minha hora está chegando… Mas, que pena! A vida é tão boa…”

Mas tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza.

Mas a medicina não entende. Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se, então, ao médico: “O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?”. O médico olhou-o com olhar severo e disse: “O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?”.

Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. Seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico, que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava; costume a que freqüentemente se dá o nome de ética.

Um outro velhinho querido, 92 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, numa cama -de repente um acontecimento feliz! O coração parou. Ah, com certeza fora o seu anjo da guarda, que assim punha um fim à sua miséria! Mas o médico, movido pelos automatismos costumeiros, apressou-se a cumprir seu dever: debruçou-se sobre o velhinho e o fez respirar de novo. Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.

Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Eu também, da minha forma, luto pela vida. A literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Aprendi com Albert Schweitzer que a “reverência pela vida” é o supremo princípio ético do amor. Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?

Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.

Muitos dos chamados “recursos heróicos” para manter vivo um paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da “reverência pela vida”. Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, eles a ouviriam dizer: “Liberta-me”.

Comovi-me com o drama do jovem francês Vincent Humbert, de 22 anos, há três anos cego, surdo, mudo, tetraplégico, vítima de um acidente automobilístico. Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar. E foi assim que escreveu um livro em que dizia: “Morri em 24 de setembro de 2000. Desde aquele dia, eu não vivo. Fazem-me viver. Para quem, para que, eu não sei…”. Implorava que lhe dessem o direito de morrer. Como as autoridades, movidas pelo costume e pelas leis, se recusassem, sua mãe realizou seu desejo. A morte o libertou do sofrimento.

Dizem as escrituras sagradas: “Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer”. A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A “reverência pela vida” exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a “morienterapia”, o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a “Pietà” de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.

Quem é sábio? Aquele que considerar essas coisas.
Quem tem discernimento? Aquele que as compreender.
Os caminhos do Senhor são justos; os justos andam neles, mas os rebeldes neles tropeçam.

Oséias 14:9

sábado, 9 de março de 2013


Dia 8 de março seria um dia como qualquer outro, não fosse pela rosa e os parabéns. Toda mulher sabe como é. Ao chegar ao trabalho e dar bom dia aos colegas, algum deles vai soltar: ”parabéns”.

Por alguns segundos, a gente tenta entender por que raios estamos recebendo parabéns se não é nosso aniversário (exceção, claro, à minoria que, de fato, faz aniversário neste dia). Depois de ficar com cara de bestas, num estalo a gente se lembra da data, dá um sorriso amarelo e responde “obrigada”, pensando: “mas por que eu deveria receber parabéns por ser mulher?”.

Mais tarde, chega um funcionário distribuindo rosas. Novamente, sorriso amarelo e obrigada. É assim todos os anos. Quando não é no trabalho, é em alguma loja. Quando não é numa loja, é no supermercado. Todos os anos, todo 8 de março: é sempre a maldita rosa.

Dizem que a rosa simboliza a “feminilidade” , a delicadeza. É a mesma metáfora que usam para coibir nossa sexualidade — da supervalorizaçã o da virgindidade é que saiu o verbo “deflorar” (como se o homem, ao romper o hímen de uma mulher, arrancasse a flor do solo, tomando-a para si e condenando-a – afinal, depois de arrancada da terra, a flor está fadada à morte). É da metáfora da flor, portanto, que vem a idéia de que mulheres sexualmente ativas são “putas”, inferiores, menos respeitáveis.

A delicadeza da flor também é sua fraqueza. Qualquer movimento mais brusco lhe arranca as pétalas. Dizem o mesmo de nós: que somos o “sexo frágil” e que, por isso, devemos ser protegidas. Mas protegidas do quê? De quem? A julgar pelo número de estupros, precisamos de proteção contra os homens. Ah, mas os homens que estupram são psicopatas, dizem. São loucos. Não é com estes homens que nós namoramos e casamos, não é a eles que confiamos a tarefa de nos proteger. Mas, bem, segundo pesquisa Ibope/Instituto Patricia Galvão, 51% dos brasileiros dizem conhecer alguma mulher que é agredida por seu parceiro. No resto do mundo, em 40 a 70 por cento dos assassinatos de mulheres, o autor é o próprio marido ou companheiro. Este tipo de crime também aparece com frequência na mídia. No entanto, são tratados como crimes “passionais” – o que dá a errônea impressão de que homens e mulheres os cometem com a mesma frequência, já que a paixão é algo que acomete ambos os sexos. Tratam os homens autores destes crimes como “românticos” exagerados, príncipes encantados que foram longe demais. No entanto, são as mulheres as neuróticas nos filmes e novelas. São elas que “amam demais”, não os homens.

Mas a rosa também tem espinhos, o que a torna ainda mais simbólica dos mitos que o patriarcado atribuiu às mulheres. Somos ardilosas, traiçoeiras, manipuladoras, castradoras. Nós é que fomos nos meter com a serpente e tiramos o pobre Adão do paraíso (como se Eva lhe tivesse enfiado a maçã goela abaixo, como se ele não a tivesse comido de livre e espontânea vontade). Várias culturas têm a lenda da vagina dentata. Em Hollywood, as mulheres usam a “sedução” para prejudicar os homens e conseguir o que querem. Nos intervalos do canal Sony, os machos são de “respeito” e as mulheres têm “mentes perigosas”. A mensagem subliminar é: “cuidado, meninos, as mulheres são o capeta disfarçado”. E, foi com medo do capeta que a sociedade, ao longo dos séculos, prendeu as mulheres dentro de casa. Como se isso não fosse suficiente, limitaram seus movimentos com espartilhos, sapatos minúsculos (na China), saltos altos. Impediram-na que estudasse, que trabalhasse, que tivesse vida própria. Ela era uma propriedade do pai, depois do marido. Tinha sempre de estar sob a tutela de alguém, senão sua “mente perigosa” causaria coisas terríveis.

Mas dizem que a rosa serve para mostrar que, hoje, nos valorizam. Hoje, sim. Vivemos num mundo “pós-feminista” afinal. Todas essas discriminações acabaram! As mulheres votam e trabalham! Não há mais nada para conquistar! Será mesmo? Nos últimos anos, as diferenças salariais entre homens e mulheres (que seguem as mesmas profissões) têm crescido no Brasil, em vez de diminuir. Nos centros urbanos, onde a estrutura ocupacional é mais complexa, a disparidade tende a ser pior. Considerando que recebo menos para desempenhar o mesmo serviço, não parece irônico que o meu colega de trabalho me dê os parabéns por ser mulher?

Dizem que a rosa é um sinal de reconhecimento das nossas capacidades. Mas, no ranking de igualdade política do Fórum Econômico Mundial de 2008, o Brasil está em 10oº lugar entre 130 países. As mulheres têm 11% dos cargos ministeriais e 9% dos assentos no Congresso — onde, das 513 cadeiras, apenas 46 são ocupadas por elas. Do total de prefeitos eleitos no ano passado, apenas 9,08% são mulheres. E nós somos 52% da população.

A rosa também simboliza beleza. Ah, o sexo belo. Mas é só passar em frente a uma banca de revistas para descobrir que é exatamente o contrário. Você nunca está bonita o suficiente, bobinha. Não pode ser feliz enquanto não emagrecer. Não pode envelhecer. Não pode ter celulite (embora até bebês tenham furinhos na bunda). Você só terá valor quando for igual a uma modelo de 18 anos (as modelos têm 17 ou 18 anos até quando a propaganda é de creme rejuvenescedor… ). Mas mesmo ela não é perfeita: tem de ser photoshopada. Sua pele é alterada a ponto de parecer de plástico: ela não tem espinhas nem estrias nem olheiras nem cicatrizes nem hematomas, nenhuma dessas coisas que a gente tem quando vive. Ela sorri, mas não tem linhas ao lado da boca.

Faz cara de brava, mas sua testa não se franze. É magérrima (às vezes, anoréxica), mas não tem nenhum osso saltando. É a beleza impossível, mas você deve persegui-la mesmo assim, se quiser ser “feminina”. Porque, sim, feminilidade é isso: é “se cuidar”. Você não pode relaxar. Não pode se abandonar (em inglês, a expressão usada é exatamente esta: “let yourself go”). Usar uma porrada de cosméticos e fazer plásticas é a maneira (a única maneira, segundo os publicitários) de mostrar a si mesma e aos outros que você se ama.“Você se ama? Então corrija-se”. Por mais contraditória que pareça, é esta a mensagem.

Todo dia 8 de março, nos dão uma rosa como sinal de respeito. No entanto, a misoginia está em toda parte. Os anúncios e ensaios de moda glamurizam a violência contra a mulher. Nas propagandas de cerveja e programas humorísticos, as mulheres são bundas ambulantes, meros objetos sexuais. A pornografia mainstream (feita pela Hollywood pornô, uma indústira multibilionária) tem cada vez mais cenas de violência, estupro e simulação de atos sexuais feitos contra a vontade da mulher. Nos videogames, ganha pontos quem atropelar prostitutas.

Todo dia 8 de março, volto para casa e vejo um monte de mulheres com rosas vermelhas na mão, no metrô. É um sinal de cavalheirismo, dizem. Mas, no mesmo metrô, muitas mulheres são encoxadas todos os dias. Tanto que o Rio criou um vagão exclusivo para as mulheres, para que elas fujam de quem as assedia. Pois é, eles não punem os responsáveis. Acham difícil. Preferem isolar as vítimas. Enquanto não combatermos a idéia de que as mulheres que andam sozinhas por aí são “convidativas” , propriedade pública, isso nunca vai deixar de existir. Enquanto acharem que cantar uma mulher na rua é elogio , isso nunca vai deixar de existir. Atualmente, a propaganda da NET mostra um pinguim (?) dizendo “ê lá em casa” para uma enfermeira. Em outro comercial, o russo garoto-propaganda puxa três mulheres para perto de si, para que os telespectadores entendam que o “combo” da NET engloba três serviços. Aparentemente, temos de rir disso. Aparentemente, isso ajuda a vender TV por assinatura. Muito provavelmente, os publicitários criadores desta peça não sabem o que é andar pela rua sem ser interrompida por um completo desconhecido ameaçando “chupá-la todinha”.

Então, dá licença, mas eu dispenso esta rosa. Não preciso dela. Não a aceito. Não me sinto elogiada com ela. Não quero rosas. Eu quero igualdade de salários, mais representação política, mais respeito, menos violência e menos amarras. Eu quero, de fato, ser igual na sociedade. Eu quero, de fato, caminhar em direção a um mundo em que o feminismo não seja mais necessário.

… Enquanto isso não acontecer, meu querido, enfia esta rosa “lá onde o sol não brilha”.

por Marjorie Rodrigues

Algumas blogueiras tiveram a iniciativa de uma ‘blogagem coletiva’ sobre o 8 de março e utilizaram para isso o manifesto “Dispenso esta Rosa” e “Os machistas no Dia Internacional da Mulher”, divulgando os textos em seus blogs.
O objetivo é espalhar a ideia para que nos outros anos, quem sabe a rosa não seja necessária e todos os dias sejam dias dos homens e das mulheres

Achei o texto bem escrito, apesar de muito longo. 
Modifiquei a última frase, porque achei grosseira.
Para mim, o Dia da Mulher é como o Dia das Mães, o Dia dos Pais ou o Dia da Consciência Negra: não querem dizer nada e não mudam nada, e no caso dos dias das mães e dos pais, é puro comércio.
Eu não dispenso a rosa. Mas também não dispenso os direitos, e concordo plenamente que ainda precisamos lutar muito, como mulheres e como sociedade, para conseguirmos reconhecimento e respeito.

Pois então, hoje é o Dia da Mulher!
Parabéns para nós!
Acho que podemos ficar de bem com a rosa.

PS: a imagem é a mesma usada na blogagem.