#dia da secretária
domingo, 30 de setembro de 2018
“inteligência não se vende em frascos”
Quando caminho pelas ruas
da cidade, ou mesmo quando circulo de carro, reparo em pequenos pontos
comerciais em reforma e penso: tomara que seja uma livraria, tomara que seja
uma papelaria, tomara que seja uma galeria de arte, tomara que seja um bistrô,
tomara que seja uma floricultura. Vou acompanhando a obra com expectativa, até
que um dia os tapumes são retirados e, lógico: é mais uma farmácia.
Os laboratórios
movimentam fortunas e estimulam o consumo de medicamentos de forma impulsiva e
muitas vezes desnecessária. Remédio não é sorvete, não é banana, não é
pãozinho. Mas o povo se acostumou a ingerir goela abaixo o que é sugerido sem
receita e sem critério, e a indústria farmacêutica prospera.
Conversava outro dia com
uma amiga endocrinologista e falávamos justamente sobre como tantas doenças
poderiam ser prevenidas através da simples mudança de hábitos. Ninguém nega a
importância de uma campanha de prevenção contra o uso do drogas, por exemplo,
mas há um número ainda maior de pessoas se viciando em gordura, evitando
legumes, se entupindo de refrigerante, não investindo em produtos orgânicos,
abusando do sal, do açúcar e das frituras.
Esse é só um exemplo de
como a falta de qualidade de vida pode adoecer e até matar. A causa de óbitos
geralmente é infarto, câncer, infecção generalizada, falência múltipla de
órgãos, mas algumas dessas doenças tendem a iniciar décadas antes, por meio de
uma rotina de muito stress, ansiedade, angústia emocional e neuroses não
tratadas. Negativismo, raiva, frustração, nada disso colabora com nosso
metabolismo.
É aí que pequenas
atitudes podem fazer diferença, como praticar atividades físicas, buscar
recursos para relaxamento (ioga, meditação, massagem), cultivar amigos, dormir
bastante, usar filtro solar, cuidar da postura, beber muita água, controlar o
peso, não fumar, não beber em excesso, fazer check-ups periódicos – e não se
drogar, lógico. Os médicos têm batido nessa tecla com insistência, mas ainda há
quem considere esse blá-blá-blá improdutivo ou politicamente correto demais.
Tem nada a ver com
politicamente correto, e sim com inteligência. E inteligência não se vende em
frascos.
Farmácias comercializam
produtos de primeira necessidade. Sem elas, não teríamos acesso a medicamentos
fundamentais para nossa saúde mental e física, devidamente prescritos, mas
precisamos de tantos? Creio que teríamos uma sociedade bem mais saudável se a
população contasse com muito mais pontos de venda de livros, sucos, flores,
livros, discos, bicicletas, livros, frutas, bolas de futebol, raquetes de
frescobol, instrumentos musicais, gravuras, livros, livros e, claro, livros.
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Martha Medeiros
sexta-feira, 28 de setembro de 2018
a volta do diabinho
Tenho no ombro, e às
vezes se manifesta, um feio diabinho pousado. É meu lado descrente, talvez
sarcástico, e triste. Quando me assaltam as notícias atuais, aqui e pelo mundo,
ele enrola e desenrola seu rabo, e se inquieta.
Assuntos como meninos
criminosos tratados como crianças e cotas - mas estas são para outro dia.
Drogados ou lúcidos, os meninos começam a roubar e a matar, às vezes com
requintes de crueldade, aos 12 anos, pouco mais, pouco menos: se apanhados, nem
todos poderão ser reintegrados à sociedade, frase aliás metafórica e vaga.
Voltarão para novos crimes.
Um menino de 15 anos
confessou na maior frieza o assassinato de 17 pessoas. “Matei, sim.” Talvez
tenha acrescentado num dar de ombros: “E daí?”. Quinze dos crimes foram
comprovados. Por ser menor de idade, como tantos assassinos iguais a ele, foi
para uma dessas instituições de ressocialização nas quais não acredito. Logo
estará livre para reiniciar sua vida de psicopata. E, se perguntarem a razão,
talvez diga como outro criminoso, quase uma criança, que assaltou um amigo meu
e repetia: “Vou te matar”. Meu amigo perguntou por que, e o menino respondeu
com simplicidade: “Nada. Hoje saí a fim de matar alguém”.
Como nós, sociedade
moderna, produzimos esse e outros dramas morais? Acusa-se pela criminalidade
juvenil a família, que às vezes é apenas outra vítima, ou “a sociedade”,
conceito vago que isenta de uma ação enérgica, enquanto se multiplicam os
dramas, aumentam as tragédias.
Esperamos soluções ou
progressos de parte dos políticos? Dos líderes, das autoridades? De momento,
isso me parece mais uma imensa falácia, pois mesmo os bem-intencionados terão
pouco poder numa sociedade adoecida.
Sou mais crédula do que
cética, o que nem sempre é bom. (O diabinho fica à espreita.) Quando menina, me
disseram que, se a gente cavasse fundo no jardim, esse poço daria no Japão,
onde as pessoas andavam de cabeça para baixo (para eles, de pernas para o ar
estaríamos nós). Mas, adulta, descobri que a vida tem outros poços, nem todos
divertidos. Um deles parece não ter fim: o dos escândalos nossos de cada dia, o
da nossa desolação e dos nossos enganos.
O poço tem água no fundo:
o diabinho no meu ombro espia seu reflexo nela, para ver se não haverá alguma
luz que o afugente. Mesmo que seja uma lamparina, será uma luz, e apesar de
tudo acredito nela. Resta descobrir quanto tempo se leva para chegar nesse
fundo e se, em lá chegando, boa parte das nossas aflições à espera de justiça
será resolvida e haverá justiça.
Enquanto escrevo isso, o
diabinho rosna uma das melhores frases sobre o assunto: “A lei nem sempre
garante a justiça”.
quinta-feira, 27 de setembro de 2018
Hoje em dia as pessoas têm medo de si
próprias.
Esqueceram o maior de todos os deveres,
o dever para consigo mesmo.
É verdade que são caridosas.
Alimentam os esfomeados e vestem os pobres.
Mas as suas próprias almas morrem de fome
e estão nuas.
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Oscar Wilde
amor tardio
Investir em um
relacionamento após determinada idade é um desafio dos grandes. Você não tem
mais paciência para fantasias descabidas a lá Romeu e Julieta, simplesmente não
está mais a fim de “perder” tempo com certas besteiras que décadas atrás
mudariam o rumo da sua existência (tudo era uma questão de vida ou morte), os
dramas já não precisam ganhar tanta tinta (longe de mim Almodóvar) e você
procura, simplesmente, o tão esperado e seguro sossego.
No começo é quase sempre
uma grande investigação. Uma curiosidade calcada no medo te move e você se
sente um detetive do CSI, tudo pode ser um indício de um “crime”, uma peça do
quebra-cabeças que (talvez) poderá fazer todo sentido no final. Enquanto isso você
se diverte, se descontrai, aguça seus sentidos e segue caminhando cheia de
interrogações na cabeça. Salto alto, batom impecável, sorriso no rosto e vamos
lá.
Passa o tempo e algumas
hipóteses se confirmam, você vai aprendendo a lidar com os esqueletos
escondidos no fundo do baú (os seus e os dele), e começa a criar um repertório
único, que não partiu do zero, mas de experiências passadas que te fizeram ser
quem você é e logicamente ele também.
A melhor metáfora que vem
a minha cabeça é a de uma nova personagem que chega na novela no centésimo
capítulo. Ela chega, tem toda uma trama estabelecida e tem que lidar com tudo
como se fosse o começo, mas não é. Essa personagem pode ganhar grande
importância, ou não, depois de alguns episódios poderá ser assassinada caso não
conquiste seu lugar de destaque ou virar a grande peça-chave da história e
pronto, ficará eternizada na mente dos telespectadores.
Também passamos a vestir o jaleco de farmacêuticos,
conhecemos nossa bula do início ao fim. Nossas contraindicações, posologia,
manias, gostos, reações adversas etc. Com as tentativas ao longo do tempo
aprendemos mais sobre nós mesmos do que sobre o outro. O outro sempre é o
outro, mas nós estamos aqui, convivendo com a mesma pessoa desde o nosso
nascimento. Se pensarmos bem e exercitarmos um pouco da autorreflexão poderemos
saber tanto sobre nós, as armadilhas que criamos, as mentiras que inventamos
para nós mesmos, a felicidade das pequenas coisas que passam despercebidas e
nem nos damos conta… aprender sobre si mesmo causa um efeito devastador,
otimista e extremamente revolucionário. Por que não tentar?
Autoconhecimento é o
caminho para viver uma vida plena. Seja consigo mesmo ou com um novo amor. Não
demore para mergulhar na sua alma, você é profunda o suficiente para dar
grandes saltos e fazer piruetas nesse doce e azul mar sem fim, basta ter
coragem e encarar seus medos. A água gelada da piscina assusta, eu sei, mas
logo que a sensação de milhões de punhais te espetando passa, o equilíbrio
térmico atua e é aí que você consegue relaxar. Quando a gente perde medo do
frio vive o prazer de se sentir mais leve, mais refrescada e possivelmente mais
livre. Se conhecer é libertador porque te traz segurança. Os abalos chegam, mas
não te derrubam, porque você já virou um bambu, daqueles que se envergam, mas
não quebram.
Aprenda a ser bambu.
Eu sei, todos querem ser
um árvore repleta de flores ou frutas suculentas. No entanto, as flores e as
frutas vem e vão, passa o tempo estão sem graça e quase sem função, demora um
ano para florescer ou dar o fruto da estação. Já o bambu… O bambu te dá
equilíbrio. Mais vale a beleza do equilíbrio que a beleza fugaz de uma
floração, acredite.
Uma vez bambu, o amor
tardio chega. Você tem forças para lidar com os ventos, com as incertezas e com
a incredulidade que te cabe. Será que ainda é tempo de amar? Será que ele é
assim mesmo? Será que eu posso confiar?
Confie. Lembre-se que
você não quebra.
E se permita ser
surpreendida pelo amor tardio. Se permita ser surpreendida. Se permita surpreender.
A palavra de ordem é doação.
Doar-se não é um sinal de
fraqueza e sim de poder. Só serve quem tem segurança suficiente para tal. E o
bambu? Serve para dar sombra, para refrescar, para fazer móveis, artesanato…
bambu não quebra, lembra?
Seja bambu e dê boas
vindas ao amor tardio.
escrito por Hilaine
Yaccoub
terça-feira, 25 de setembro de 2018
obrigação
Uma pesquisa revelou que
61% dos eleitores rejeitam a obrigatoriedade do voto. A desilusão com a política
é apontada como um dos motivos. Sendo o voto um instrumento de transformação,
eu jamais abriria mão dele, mesmo que fosse opcional, mas também sou contra.
Preferiria que todos votassem por consciência em vez de fazerem uni-duni-tê em
frente à urna apenas por dever cívico. Obrigação é uma palavra que me arrepia.
Desde garota. Passei a infância desejando crescer porque intuía que a
espontaneidade vivia no lado maduro da existência.
Sei que cada criança
processa os ensinamentos que recebe através de um código muito particular, mas
o fato é que eu me sentia numa camisa de força. Horário de ir para cama, ter
que raspar o prato mesmo estando sem fome, a televisão racionada, o dever de só
tirar notas boas. Obrigações que resultaram numa mulher responsável e bem
criada, ao contrário de tantas outras crianças que fazem o que bem entendem e
viram adultos mimados e despreparados para lidar com frustrações. Só que, aos
oito anos de idade, eu não sabia nada sobre pedagogia. A teoria sobre criação
de filhos não fazia parte do meu repertório. Eu só sabia das minhas vontades.
Eu queria ser livre porque me parecia o único jeito de ser honesta com meus
sentimentos e pensamentos.
Não queria fazer nada por
obrigação. Nem comer, nem dormir, nem ser feliz por obrigação. Considerava uma
violência quando, ao perguntar aos adultos “por que desse jeito?”, ouvia como
resposta “porque sim e pronto” ou “porque é assim que tem que ser”.
Obedecia militarmente a
hora certa de fazer as coisas como se houvesse um relógio universal regendo uma
orquestra de bons moços a serviço do andamento do espetáculo. Não que me fosse
custoso cumprir. Só era custoso entender.
Pior do que me comportar
como “todo mundo”, era viver uma afetividade também regida por regras. Não
parecia que as pessoas se encontravam por saudades, por afinidades ou para
repartir calor humano. Parecia obrigação também. A obrigação das datas
festivas. A obrigação dos domingos. A obrigação dos parentescos.
Ai de mim se gostasse
mais de uma avó do que de outra. Ou se não quisesse sair do quarto para jantar.
Ou se me recusasse a ir à missa. Ao colégio eu sabia que tinha que ir, não
questionava. Só questionava o que me parecia facultativo.
Apesar dos meus
facultativos não baterem com os dos meus pais, optei por não dar trabalho, segui
a cartilha da boa menina. Fiz minha parte e eles a deles – bem feita, diga-se,
ou não seria quem sou.
Mas quem eu sou mesmo?
Cumpridora, pontual, educada, porém, hoje, profundamente intolerante a tudo o
que não for espontâneo, ao teatro das convenções, às blindagens contra a
intimidade, ao que serve apenas para manter a orquestra tocando.
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Martha Medeiros
a liquidez da vida - (des)relacionamentos
É tão engraçado pensar
nessa mudança contínua que é a vida, nos ciclos que se iniciam e que terminam,
nas pessoas que entram e saem das nossas vidas, nos caminhos que se cruzam e se
vão. É tão ruim pensar que, de uma hora para outra pode tudo terminar. Que
agora estamos aqui, bem, felizes, fazendo planos para os próximos meses, os
quais nem saberemos se estaremos juntos. Planejando viagens que podem nem
acontecer, e dividindo sonhos e casas que podem nem se materializar.
Pode ser que na semana
que vem você perceba que não é nada disso, pode ser que vá a algum lugar e beba
demais e conheça outra pessoa. Pode ser que se desanime com meu sorriso ou que
meus abraços não mais lhe satisfaçam. Pode ser que eu receba uma proposta de
trabalho na Amazônia, ou que eu enlouqueça e queira desaparecer no mundo. Há
tantas possibilidades dos nossos caminhos se desenlaçarem... Pode ser que você
se canse, e se vá.
E aí, certamente, irá
doer. De uma forma brutal e delirante. E eu chorarei dias e noites, e deixarei
de comer, e ouvirei músicas tristes e escreverei textos infindáveis sobre o nós
que nem existirá mais. Mas, isso também, passará. E então, dentro de alguns
meses, você será passado, talvez nem saiba por onde você anda, ou se está
feliz. Talvez você vire somente mais um “ex namorado”, que eu contarei nos
dedos, quando for começar um novo relacionamento. Pode ser que eu me lembre de
você, ao ler um texto antigo ou ouvir uma música marcante. Mas também pode ser
que não. E aquilo que era tão forte, tão cheio de planos, tão ‘para sempre’, se
desfaz, como todos se desfizeram, como a própria vida se desfaz e se refaz
diante dos nossos olhos.
Pode ser apenas mais um
ciclo, apenas mais um cara, apenas mais uma história que – no fundo- foi
somente supervalorizada, e com o tempo nem será de grande importância. Mas eu
acredito que dessa vez seja diferente. Porque, por você, o coração bate muito
mais forte, a vontade do ‘para sempre’ é tão real, os planos são tão parecidos,
os risos riem juntos. Porque por você, eu suspeito, que seja amor. E aí é muito
mais do que tudo isso. É amor, é pele, é alma, é demais – só não transborde
além dos nossos limites, por favor. É para sempre – e que dure a eternidade que
pudermos conviver felizes assim.
Drika Amaral
sexta-feira, 21 de setembro de 2018
uma árvore
Acompanhei de longe a história de uma árvore
do bairro Jardim Botânico, no Rio. Uma amiga soube que ela iria ser derrubada
por motivos fúteis (não estava ameaçando a vida de ninguém) e se empenhou em
salvá-la. Primeiro ato: minha amiga subiu na árvore, que é como os ativistas
ecológicos defendem seu território, e só desceu de lá depois de conseguir
mobilizar a opinião pública - ou parte dela, representada por seus vizinhos e
amigos. Estava tudo correndo bem, até marchinha de Carnaval a árvore ganhou em
sua defesa e camisetas foram confeccionadas para angariar mais simpatizantes à
causa, mas não foi suficiente. A bonita árvore foi cortada, veio abaixo.
Esta não é uma crônica sobre consciência
ambiental, mas poderia ser. Não é uma crônica sobre os maus-tratos que a
natureza sofre e seus efeitos sobre a vida no planeta, mas poderia ser. Não é
uma crônica sobre a ideia canhestra de que só é válido se manifestar contra a
devastação de uma floresta, mas uma arvorezinha só, uma arvorezinha de rua,
essa não vai fazer falta a ninguém. Essa crônica poderia ser sobre a miopia de
só darmos atenção às tragédias coletivas, às tragédias televisionadas, sem nos
importarmos com os erros individuais e silenciosos que são cometidos embaixo do
nosso nariz. Mas não é sobre isso a crônica.
É sobre paixão.
Uma mulher declara-se apaixonada por uma
blusa. Ao comprá-la, resolve sua carência por 10 minutos. Logo se apaixonará
por um sapato, e assim vai tentando preencher seu vazio. Muitos são apaixonados
por chocolate. Outros são apaixonados por carro. Banalizamos o verbo, somos
todos apaixonados pelo que podemos consumir. Quantos ainda são apaixonados pela
vida?
Minha amiga me telefonou assim que cortaram a
árvore. Chorava. Chorava sua impotência, chorava sua desolação. Era só uma
árvore, e ela sentia como se fosse a morte de um parente. Ela havia defendido
um bem público, não era dona da árvore, a árvore era de toda a cidade, mas
alguém com uma motosserra embaixo do braço olhou para ela e disse: perdeu,
moça.
A paixão pela vida se manifesta, hoje, através
de alguns poucos Dom Quixotes urbanos. O cara que usa dinheiro do próprio bolso
para montar uma peça de teatro, o atleta com deficiência física que compete nas
paraolimpíadas, o motorista que dá carona no seu carro aos que percorrem o
mesmo trajeto que ele, os que recusam propostas milionárias para ter mais tempo
livre a fim de se dedicar ao que interessa de fato. E o que interessa de fato?
Família, amigos, amor, arte, natureza e algum idealismo, mesmo que esteja fora
de moda. É só pelo que vale brigar.
Mas as pessoas brigam por uma geladeira em
liquidação, brigam por uma vaga no estacionamento, brigam dentro da escola,
brigam por miudezas e quando vencem, não ganham nada. Brigar por uma árvore é
ao menos poético. Perdeu coisa nenhuma, minha amiga.
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Martha Medeiros
meia volta volver
Ela caminhava apressada a
poucos metros à minha frente. Carregava algumas sacolas. Parecia uma pessoa determinada e segura. E de repente, sem nenhuma seta, nenhum aviso,
virou para traz e fez o caminho inverso. Não tive como não perceber, assustei e
rimos juntas quando vi que era uma conhecida. Ela sorriu e disse
tranquilamente, “faz parte, não é mesmo?”
Continuei meu trajeto
pensativa. O que será que esqueceu? Onde estaria indo e desistiu?
Fomos criados para não
desistirmos jamais, para não
desanimarmos, para praticarmos a resiliência. Contudo, resiliência não pode ser
confundida com insistência. Mesmo porque, nem tudo que começamos vai dar certo
ou vai durar eternamente! Algumas coisas tem prazo de validade sim e este prazo
precisa ser respeitado!
Parar, encerrar, desistir, não significam, necessariamente,
que não foi bom ou que não houve aprendizado. Desistir pode ser libertador!
Admiro quem tem a coragem
de praticar o famoso “meia volta volver”. Aqueles que têm a bravura de tomar a
iniciativa e acabar com o que sufoca, o que angustia, o que já deixou de dar
satisfação faz tempo. Geralmente são eles, os corajosos de plantão, os que são
julgados como fracos ou como os ruins da história. Mas também são eles, as
pessoas mais leves e mais preparadas para novas experiências. Eles não têm
vergonha de dizer que caíram, que tentaram, que faliram ou que começaram de
novo. Isso é parte da vida deles como também é parte o recomeço, a conquista e
a vitória.
Não importa quanto você
já caminhou, não importa quão tortuosos foram seus caminhos. Importa a sua
temeridade em tomar as rédeas do seu destino. Mudar de vida, mudar de rota ou
de rumo depende de cada um de nós.
Vejo jovens angustiados
por terem que atender expectativas dos pais e não às suas próprias. Vejo
pessoas entristecidas, fazendo trabalhos medianos sem coragem para atuarem naquilo que têm
paixão. Vejo casais que estão juntos mas não estão sequer próximos. Apenas
estão ali, mantendo algo que não existe mais. Tudo porque vivemos em uma
cultura onde desistir é sinônimo de derrota.
Mediocridade! Derrota é
não tentar! Derrota é se acomodar! Derrota é se contentar com a vida sem
emoção! Isso sim é se fazer um derrotado!
Não te faz bem, não te acrescenta,
não te engrandece, não te dá alegria nem prazer, então junte seus soldadinhos e
saia da brincadeira. Meia volta volver também é vida que segue! É assim na
infância e assim deve ser para a vida inteira. Afinal, viver há de ser uma
gostosa brincadeira!
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Leila Rodrigues
quinta-feira, 20 de setembro de 2018
Nevou em Salvador, pela primeira vez na história! Nevou a noite toda.
8:00h - Aproveitei e fiz um boneco de neve.
8:10h - Uma feminista passou e me perguntou porque eu não fiz uma
mulher de neve.
8:15h - Eu fiz uma mulher de neve.
8:17h - Minha vizinha feminista reclamou do perfil voluptuoso da
mulher de neve dizendo que ela ofende as mulheres de neve em todos os lugares.
8:20h - O casal gay que mora nas proximidades teve um ataque de raiva
e protestou, porque poderiam ter sido dois homens de neve.
8:22h - Um transgênero da outra rua me perguntou por que não fazia um
boneco com partes removíveis.
8:25h - Os veganos no final da rua se queixaram do nariz de cenoura,
já que os vegetais são comida e não para decorar bonecos da neve.
8:31h - O cavalheiro muçulmano do outro lado da rua exige aos berros
que a mulher da neve use uma burca.
8:40h - A polícia chega dizendo que há uma denúncia anônima contra
mim, de alguém que foi ofendido pelo meu racismo e discriminação, porque os
bonecos são brancos.
8:42h - A vizinha feminista reclamou novamente que a vassoura da
mulher da neve deveria ser removida porque ela representa as mulheres em um
papel doméstico de submissão.
8:43h - Um promotor chegou e ameaçou me processar se eu não pedisse
desculpas públicas pelo maldito boneco de neve.
8:45h - A equipe de jornalismo da TV apareceu. Eles me perguntam se eu
sei a diferença entre bonecos de neve e mulheres de neve. Eu respondo: as “bolas
de neve” e agora elas me chamam de sexista.
9:00h - Estou no noticiário como um suspeito, terrorista, racista, delinquente,
com tendências homofóbicas, determinado a causar problemas durante o mau tempo.
Estou passando por tudo isso por causa dos malditos bonecos de neve!
9:05h - Quem mandou fazer a p... dos bonecos de neve?... Estão me
perguntando se eu tenho um cúmplice. Ou se alguma organização me incentivou a
fazer os bonecos, nas redes sociais.
9:29h - Os manifestantes da extrema esquerda e da extrema direita, ofendidos
por tudo, estão marchando pelas ruas exigindo que me decapitem.
9:32h - Os neonazistas marcham em frente à minha casa acusando-me de
ser comunista.
9:35h - As feministas me xingam e pintam a fachada da minha casa com a
palavra “machista”.
9:45h - Os evangélicos me acusam de querer usurpar o lugar de Deus,
por criar um homem e uma mulher de neve, e querem me exorcizar, dizendo que eu
realizei um ritual pagão.
9:55h - Organizações ambientais me acusam de poluir a neve.
Moral da história: não há moral nesta história. É apenas o mundo em que vivemos hoje - e
vai piorar. Tudo aqui narrado pode ocorrer e algumas coisas já estão
acontecendo.
O mais difícil de acontecer é... que neve em Salvador!
#mimimi
quarta-feira, 19 de setembro de 2018
eu fui PT
Eu fui PT! Empunhei
bandeiras, colei adesivos, fiz campanha, fui a comícios, usei broches que eu
mesmo comprei. Eu sei de cor os jingles das campanhas do Lula, eu me irritei
com as seguidas derrotas, eu gritei fora Collor, fora FHC e até fora Globo.
Chamei o plano real de golpe, falei que o bolsa escola era forma de o governo
comprar votos dos mais pobres.
Eu fui PT, porque eu tinha que ser! Eu sou um
trabalhador e não um democrata, um liberal, um comunista... Então partido do
trabalhador era o lugar do cara que teve que trabalhar para pagar faculdade e
sabia que teria que continuar trabalhando duro para comprar a sua casa, para
pagar o seu carro, para pagar as suas viagens.
Eu fui PT por ideologia e
não fisiologia. Não ganhei um centavo, não viajei de graça, não estudei de
graça e nem acho graça nas coisas de graça. Eu nunca achei golpe o pedido de
impeachment do Collor e nem os diversos pedidos manejados contra Itamar e FHC.
A Constituição atribui a representantes eleitos pelo povo a função de processar
e julgar o presidente e eu acho isso extremamente democrático.
Eu fui PT no ano de 2002,
eu enviei cartões de natal para os meus queridos amigos com a frase: “a
esperança venceu o medo”. Eu estava trabalhando na madrugada daquele natal.
Eu fui PT e se as redes
sociais existissem naquela época eu compartilharia textos não do Jean Willis ou
da Jandira, porque eu li Hélio Bicudo, Cristóvão Buarque e Fernando Gabeira...
e eles não são mais PT.
Eu fui PT até quando deu
para ser. Até o dia em que o T de trabalhador foi substituído pelo T de trapaça,
de trambique e porque não de traição! O partido dos trabalhadores se agarrou ao
poder e abraçou Renan, Sarney, Collor e até o Maluf. Criou fantasias e contou
mentiras, soltou a mão de pessoas honestas e sérias e foi aí que eu deixei de
ser PT.
Eu deixei de ser PT e me
surpreendo com você que contesta o fato de o Cunha ser o condutor do
impeachment, mas jamais contestou o fato dele Cunha ser um dos elos da aliança
entre o governo e o PMDB. Eu deixei de ser PT e me decepciono com você que
acusa Temer de ser golpista e bandido, mas jamais contestou o fato dele, Temer,
ser desde o primeiro mandato o vice-presidente escolhido por Dilma.
Eu deixei de ser PT e me
assusto com você que ao ouvir uma gravação não comenta o conteúdo, simplesmente
afirma que a escuta foi ilegal. Que diante de uma delação pautada em provas,
limita-se a falar em vazamento seletivo, que perante evidências de fraude,
corrupção e outros crimes, ataca a imprensa, a polícia e o juiz.
Eu deixei de ser PT e me
envergonho de você que aplaude políticos processados, julgados e condenados que
entram de punho erguido na cadeia como se fossem vencedores e não ladrões. Que
afirma que o mensalão não existiu, que não há escândalo da Petrobrás, que não é
dono do sítio, nem de apartamento e que nunca soube de nada, que afirma que não
há crime em uma prática absolutamente ilícita só porque ela já foi feita por
outros.
Eu deixei de ser PT e me
incomodo com você que vai a manifestações da CUT, cheias de balões, camisetas
vermelhas, enormes palcos, tendas, militantes pagos, tudo custeado com dinheiro
obrigatoriamente sacados de salários de trabalhadores todos os anos com o nome
de Imposto Sindical.
Eu deixei de ser PT e eu não entendo você que fala em
defesa da democracia e afirma que pode ser golpe a decisão de um congresso
eleito pelo povo. Que fala em voto livre, mas aceita a compra de parlamentares
com cargos e dinheiro.
Eu deixei de ser partido,
continuo trabalhador... e você?
Texto de Márcio Augusto
Costa
terça-feira, 18 de setembro de 2018
Eu te desejo não parar
tão cedo, pois toda idade tem prazer e medo
E com os que erram feio e
bastante, que você consiga ser tolerante
Quando você ficar triste,
que seja por um dia e não o ano inteiro
E que você descubra que
rir é bom, mas que rir de tudo é desespero
Eu te desejo muitos
amigos, mas que em um você possa confiar
E que tenha até inimigos,
pra você não deixar de duvidar
Eu desejo que você ganhe
dinheiro, pois é preciso viver também
E que você diga a ele
pelo menos uma vez quem é mesmo o dono de quem
Desejo que você tenha a
quem amar
e quando estiver bem
cansado, ainda exista amor pra recomeçar
Amor pra recomeçar / Frejat
Brilho nos olhos
todos os dias. Todo santo dia.
Taí o que desejo
pra você, Dedé.
Mais que enteado,
no meu coração você tem morada como filho.
Parabéns!
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