Investir em um
relacionamento após determinada idade é um desafio dos grandes. Você não tem
mais paciência para fantasias descabidas a lá Romeu e Julieta, simplesmente não
está mais a fim de “perder” tempo com certas besteiras que décadas atrás
mudariam o rumo da sua existência (tudo era uma questão de vida ou morte), os
dramas já não precisam ganhar tanta tinta (longe de mim Almodóvar) e você
procura, simplesmente, o tão esperado e seguro sossego.
No começo é quase sempre
uma grande investigação. Uma curiosidade calcada no medo te move e você se
sente um detetive do CSI, tudo pode ser um indício de um “crime”, uma peça do
quebra-cabeças que (talvez) poderá fazer todo sentido no final. Enquanto isso você
se diverte, se descontrai, aguça seus sentidos e segue caminhando cheia de
interrogações na cabeça. Salto alto, batom impecável, sorriso no rosto e vamos
lá.
Passa o tempo e algumas
hipóteses se confirmam, você vai aprendendo a lidar com os esqueletos
escondidos no fundo do baú (os seus e os dele), e começa a criar um repertório
único, que não partiu do zero, mas de experiências passadas que te fizeram ser
quem você é e logicamente ele também.
A melhor metáfora que vem
a minha cabeça é a de uma nova personagem que chega na novela no centésimo
capítulo. Ela chega, tem toda uma trama estabelecida e tem que lidar com tudo
como se fosse o começo, mas não é. Essa personagem pode ganhar grande
importância, ou não, depois de alguns episódios poderá ser assassinada caso não
conquiste seu lugar de destaque ou virar a grande peça-chave da história e
pronto, ficará eternizada na mente dos telespectadores.
Também passamos a vestir o jaleco de farmacêuticos,
conhecemos nossa bula do início ao fim. Nossas contraindicações, posologia,
manias, gostos, reações adversas etc. Com as tentativas ao longo do tempo
aprendemos mais sobre nós mesmos do que sobre o outro. O outro sempre é o
outro, mas nós estamos aqui, convivendo com a mesma pessoa desde o nosso
nascimento. Se pensarmos bem e exercitarmos um pouco da autorreflexão poderemos
saber tanto sobre nós, as armadilhas que criamos, as mentiras que inventamos
para nós mesmos, a felicidade das pequenas coisas que passam despercebidas e
nem nos damos conta… aprender sobre si mesmo causa um efeito devastador,
otimista e extremamente revolucionário. Por que não tentar?
Autoconhecimento é o
caminho para viver uma vida plena. Seja consigo mesmo ou com um novo amor. Não
demore para mergulhar na sua alma, você é profunda o suficiente para dar
grandes saltos e fazer piruetas nesse doce e azul mar sem fim, basta ter
coragem e encarar seus medos. A água gelada da piscina assusta, eu sei, mas
logo que a sensação de milhões de punhais te espetando passa, o equilíbrio
térmico atua e é aí que você consegue relaxar. Quando a gente perde medo do
frio vive o prazer de se sentir mais leve, mais refrescada e possivelmente mais
livre. Se conhecer é libertador porque te traz segurança. Os abalos chegam, mas
não te derrubam, porque você já virou um bambu, daqueles que se envergam, mas
não quebram.
Aprenda a ser bambu.
Eu sei, todos querem ser
um árvore repleta de flores ou frutas suculentas. No entanto, as flores e as
frutas vem e vão, passa o tempo estão sem graça e quase sem função, demora um
ano para florescer ou dar o fruto da estação. Já o bambu… O bambu te dá
equilíbrio. Mais vale a beleza do equilíbrio que a beleza fugaz de uma
floração, acredite.
Uma vez bambu, o amor
tardio chega. Você tem forças para lidar com os ventos, com as incertezas e com
a incredulidade que te cabe. Será que ainda é tempo de amar? Será que ele é
assim mesmo? Será que eu posso confiar?
Confie. Lembre-se que
você não quebra.
E se permita ser
surpreendida pelo amor tardio. Se permita ser surpreendida. Se permita surpreender.
A palavra de ordem é doação.
Doar-se não é um sinal de
fraqueza e sim de poder. Só serve quem tem segurança suficiente para tal. E o
bambu? Serve para dar sombra, para refrescar, para fazer móveis, artesanato…
bambu não quebra, lembra?
Seja bambu e dê boas
vindas ao amor tardio.
escrito por Hilaine
Yaccoub