"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



terça-feira, 31 de maio de 2016


“Às vezes, os maiores atos de amor, são os mais difíceis de cometer.”

(do Filme - Presságios de um Crime)

vaidade


Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho...

E não sou nada!


amor não retribuído


Basta uma mulher manifestar certa amargura e logo surge alguém para chamá-la, ofensivamente, de mal-amada. Pois então. É o que somos todas, mal-amadas. E todos os homens são também. De Norte a Sul, formamos uma população de mal-amados: o país não quer nada com a gente.

Desde que comecei a ter alguma noção de política (no meu caso, quando entrei na faculdade), mantenho uma relação de desconfiança com o Brasil. Sabia que ele havia feito sofrer muita gente antes de mim, um repressor sádico, que torturava entre quatro paredes. Eu o amei quando criança porque não o conhecia direito, até que cresci e ele pareceu crescer também, democratizando-se e passando a fazer promessas que eram tudo o que alguém apaixonado gostaria de ouvir.

O Brasil é um sedutor. No discurso, acena com reciprocidade. Necessidades básicas atendidas. Direito de ir e vir, liberdade de expressão, troca de ideias. Uma relação adulta, prazerosa, possibilitando que todos evoluam juntos. O amor ideal.

Mas o Brasil fala muito e faz pouco. O Brasil promete e às vezes chega perto de realizar nossos sonhos, mas logo reincide na cafajestada. Não sai da adolescência. Vive se deixando levar pela lei do menor esforço, querendo obter vantagens, sobrevivendo de conquistas rápidas e inconsistentes, deslumbrado pelo próprio poder e esquecido de suas obrigações. Um gargantão que às vezes dá a impressão de que virou gente grande, mas virou nada, é o mesmo moleque de sempre.

Diante desse descompromisso explícito por parte dele, nasceu nossa mágoa. O povo brasileiro, em sua maioria, hoje se comporta como quem levou um fora. Como quem teve seu amor recusado. E daí para ficar rancoroso é um passo.

A gente acreditou que iria dar certo. Acreditou que haveria futuro, uma relação sólida e para sempre. Que o visual exuberante, esse país tão belo, tinha também conteúdo, honestidade, ética, inteligência. Mas ficou só no desejo, não rolou. Todas as brasileiras são mulheres de bandido. Todos os brasileiros se envolveram com uma nação biscate. O Brasil não quer saber de relacionamento sério. É crau e fim. Não telefona nem manda flores no dia seguinte.

Cada um de nós ainda procura se apegar a algo que nos pareceu bom no início da relação com o país – o que pareceu bom pra você? Os militares? Sarney? Collor? Fernando Henrique? Lula? Deu em nada ou quase nada. Hoje estamos todos nos xingando mutuamente, numa ânsia desesperada de apontar culpados pela própria desilusão, sem perceber que temos algo profundo em comum: o ressentimento. Uma tremenda dor de cotovelo. Somos todos vítimas de um amor cívico que o país nunca retribuiu.


“Filho meu, se os pecadores querem seduzir-te, não o consintas”

Provérbios 1:10

sexta-feira, 27 de maio de 2016


Vai, menina. Desabotoa essa raiva, rasga essa angústia, berra tua indignação. Mas preserve seu coração deste veneno. Não intoxique seu sorriso com essa dor. Chore as lágrimas mais honestas que estiverem embargando tua voz, enrugando tua face, mas livre-se deste entrave.

Vai, menina. O mundo não magoou você, mas a maldade arranjou uma brecha para te atingir. Reposicione-se, retome suas forças, empurre este inverno para bem longe daqui.
Não vês que doer não é pecado? Mas abra espaço para respirar, você ainda pode dançar e crescer. Você ainda pode permanecer onde está ou desaparecer. Você pode fazer tudo o que for cura para tua tristeza, mas não a embrulhe nesta tua delicadeza.

Vai, menina, grite para o vento que já doeu demais, que você quer viver agora outro momento. Que você está pronta para receber a paz.


#geração virtual

Os olhos são a porta do engano; duvide deles.

... e a janela de percepção


Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido.
Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas.

João 10:14,15

quarta-feira, 25 de maio de 2016


“Quando vejo essa correria aflita,
esse vaivém formigando nas cidades,
tenho vontade de gritar: Parem! Parem de olhar para fora!
Olhem para dentro, saiam do espaço! Caiam no tempo!

Não estou mais na Fórmula 1.
Estou mais para o jogo de xadrez.
Chega da pressa da prosa.
Quero a lentidão da poesia.”

[Redescobrindo a lentidão – Affonso Romano de Sant'Anna] 

quero calmaria nos meus passos, Senhor!

“E quando tudo me aborrecer de verdade,
quando eu ficar cansada de minhas neuroses e manias,
quando as pessoas estiverem demais distraídas,
a paisagem perder a graça, a mediocridade instalar seu reinado e anunciarem o coroamento da burrice —
vou espiar o letreiro que fala de uma riqueza disponível para qualquer um,
e que botei como descanso de tela no meu eternamente ligado computador:

Escute a canção da vida.”


#sentido ambíguo

Uma pérola é um templo
construído pela dor à volta de um grão de areia.
Que nostalgia nos construiu o corpo e à volta de que grãos?

Kahlil Gibran

“Castiga a teu filho, enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo”

Pv 19.18


 A falta de disciplina gera filhos mimados, irresponsáveis e inconsequentes; 
o excesso gera filhos oprimidos e revoltados.

terça-feira, 24 de maio de 2016

homens não choram


- Pai, eu acho que não sou homem...
Decepcionado, o pai chorou.
Aliviado, o filho sorriu, vendo que o pai também não era.

__Gabriel de Aguiar

#culpa do Pablo

antes do caldo entornar


Violência doméstica é assunto sério. Muitas mulheres são reprimidas, ameaçadas, até estupradas pelos próprios companheiros, e ainda se sentem inibidas de ir a uma delegacia para denunciá-los. É provável que a vítima pense que, se o homem é um troglodita, mais irado ficará quando souber que a polícia está em seu calcanhar. Irá descontar em quem? Nela, evidente. Pois é, só que se ela não denunciar, a agressão poderá chegar a um nível perigosamente letal.

Tudo por causa de um troço chamado amor. Mulheres amam advogados, traficantes, motoristas, estelionatários, empresários, bandidos, arquitetos, sequestradores. O amor não pede comprovante de bons antecedentes, é puro instinto e desejo. Casais se unem por motivos nobres e por motivos absurdos. Pouco se dá ouvido à sensatez.

Então lá está dona Maria sofrendo as mais diversas formas de abuso em seus tantos anos de convívio com um homem estúpido que a maltrata, dá uns sopapos e avisa que, se ela chiar, aí é que o pau vai comer – e não há nada de erótico nessa ameaça. Dona Maria, então, assiste a programas de TV que debatem o assunto, lê matérias em revistas femininas, entra nas redes sociais, conversa com as amigas e cria coragem para dar um basta na situação. Bravo, dona Maria. Meu total apoio. Só há um culpado na história, e é ele. Mas essa trabalheira poderia ter sido evitada.

Dona Maria geralmente tem 30 anos. 40 anos. 50 anos.

Mas você, Maria de 17, não precisa passar por essa via-crúcis. Na maioria das vezes, o homem violento não espera muito tempo para deixar cair a máscara. Ele tirou você para dançar, beijou você, cumpriu todo o ritual do príncipe encantado, mas quanto tempo levou para apertar seu braço com força, para puxar seu cabelo de um jeito brusco ou agarrá-la pela mandíbula para forçar você a olhar para ele? No primeiro mês de namoro, aposto. São os sinais inequívocos de que o príncipe vai perder a majestade logo ali na frente.

Se você considera o ciúme dele romântico, aguarde o primeiro tapa para breve. Você aguardará o segundo e o terceiro para ter certeza?
Você pode resolver a questão mais cedo e sem tanto desgaste. Simplesmente pegue sua bolsa e dê as costas assim que o príncipe levantar a mão. Assim quê. Antes de morar junto, antes de ter filhos, antes de depender dele financeira ou emocionalmente. O agressivo costuma mostrar que é agressivo em poucas semanas. Em poucas semanas você não está tão inexoravelmente envolvida.

Eu sei, não anda fácil arranjar um amor. Às vezes, fazemos vista grossa, achamos que o cara está num momento ruim, que tudo vai passar. Não vai. É um ogro. Você, sendo pobre, rica, negra, branca, menor de idade, maior de idade, caia fora já. Empoderamento também é isso: perceber a encrenca a tempo.


#vale tudo


Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.  

João 8:12

sexta-feira, 20 de maio de 2016



Pois eterno é o amor que une e separa,
e eterno o fim (já começara, antes de ser),
e somos eternos,
frágeis, nebulosos, tartamudos, frustrados: eternos.
E o esquecimento ainda é memória, e lagoas de sono
selam em seu negrume o que amamos e fomos um dia,
ou nunca fomos, e contudo arde em nós.


Eu preciso muito deixar acontecer o momento da renovação, trocar de pele, mudar de cor. 
Tenho sentido necessidades do novo, não importa o quê, mais que seja novo, nem que sejam os problemas. 
Preciso deixar a casa vazia para receber a nova mobília. Fazer a faxina da mente, da alma, do corpo e do coração. 
Demolir as ruínas e construir qualquer coisa nova, quem sabe um castelo.


“Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.” 

Salmos 91:11

quarta-feira, 18 de maio de 2016


A vida não é colorida,
é colovel!

a des-culpa é das estrelas



Como diria Homer Simpson: 
“a culpa é minha e eu ponho ela em quem eu quiser”

dependendo do que você quer


Você recebe o que deseja do relacionamento. Se contenta com pouco, receberá esmola.

No caso de querer apenas sexo, terá amizade eventual. No caso de querer amor, terá só sexo. No caso de querer amor para vida inteira, terá um casamento. Já deve entender que nunca terá o que pede, existe o imposto embutido nas palavras, portanto cabe exigir mais.

Sem ambição, qualquer contato naufraga. A modéstia não combina com a longevidade.

O argumento de procurar unicamente sexo é uma enganação. Reduz o ruim ao péssimo. Não esperar mais de um encontro é se conformar com o menos, é se acostumar com o menos, é ocupar a sua rotina com mortos-vivos.

Não projetar grandes histórias não ajuda a auto-estima, atrofia a esperança e a intimidade. Para não perder tempo em uma única relação e ir direto ao ponto, você acaba perdendo tempo igual com várias relações que não vão dar nada mais do que o desestresse sexual. Perde tempo igual em relações paradas, superficiais, onde ver não desemboca em admirar.

Não que todo caso tenha que virar amor. Entretanto, sem a perspectiva além do sexo, não há interesse na conversa, não há curiosidade, não há investimento, não há esforço de entendimento.

O rascunho é para valer, por mais que estabeleça que é provisório. Na hipótese de não vislumbrar futuro antes de começar algo e se envolver mesmo assim, estará andando para trás.

Amar não é para ser uma atitude passiva, caracterizada somente pelo movimento de sentir o amor, e sim precisa ser entendido como uma dinâmica ativa, de também produzir o amor no outro, criar acontecimentos para que uma combinação a dois encontre motivos para durar.

A ausência de expectativa para não sofrer gera, em contrapartida, a inexistência. Você sofre ao amar, mas sofre mais ao não viver.


Você pode morar sozinho.
Com alguém.
Com muitos.

Longe.
Triste.
Realizado.

Seu corpo pode ocupar qualquer parte da terra.
Pisar em qualquer cidade.
Bairro.
Casa.

Sempre haverá um porto. Um lugar que não precisa ser fixo, mas que, contrariando a lógica, é onde está o nosso alicerce.

Raízes tão profundas que são as responsáveis por nos manter perto, mesmo quando estamos longe. Sentimentos maiores que nos prendem e, exatamente por isso, nos dão total liberdade para seguir.

Nada é tão prazeroso quanto voltar a lugares de onde nunca saímos.


Melhor é o fim das coisas do que o seu princípio.

Eclesiastes 7:8a

Pense no seu legado. 
Pense na sua vida. 
Pense naquilo pelo qual você vai ser lembrado. 
Pense na influência que você tem sobre a sua família 
e sobre os seus filhos...

terça-feira, 17 de maio de 2016



A beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável. (…)
A felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado.
Ela se basta. Mas ela não cria. Não produz pérolas.
São os que sofrem que produzem a beleza, para parar de sofrer.
Esses são os artistas.


Cada um oferece aquilo que tem e que transborda de dentro de si.
Uma parreira oferece doce fruto, uma orquídea nos oferece beleza em flor.
Um vulcão só oferece desolamento: lava, mau cheiro e calor, e não é segredo que uma cobra peçonhenta não te oferecerá mais que mortífero veneno.

É bem verdade que podemos reunir tudo isso dentro de nós, mas lembre-se: as pessoas oferecem o que transborda de dentro de si.

Quando fizeres o bem a uma serpente não espere que ela te retribua com uma rosa porque não é isto o que transborda de dentro dela.

Quando fizeres bem a uma serpente faça-o porque é este bem que transborda de dentro de ti pois é justo que compartilhemos o que de bom nós temos em excesso.

Este, pois, deve ser teu único pensamento e expectativa: dê a quem precisa, não espere de quem não tem.
Isto te dará felicidade e te privará de decepções.

E não te eximas de fazer o bem à serpente porque algumas coisas não nos cabem reprovar nem punir
Mas apenas compreender...

Augusto Branco

Tu és bondoso e perdoador, Senhor, rico em graça para com todos os que te invocam.

(Salmos 86:5)

#“apagador” de Deus

sexta-feira, 13 de maio de 2016

sobre Michel Temer


Estou doente.
Estou muito doente.
E
estava sendo tratada
por um médico legítimo.
Acontece
que meu médico
estava errando feio,
em procedimentos vitais
do meu longo tratamento.
Por isso, eu estava morrendo.
Além disso,
enquanto eu piorava,
ele também cometia outros atos
de cunho ético (absolutamente) questionável.
E, pra piorar, não reconhecia
que eu estava caminhando
para o óbito.
Sua preocupação era,
única e exclusivamente,
permanecer sendo meu médico.
Ao
se dedicar,
integralmente,
a lutar por sua permanência,
ele me abandonou à minha sorte.
E eu, piorando.
Me aproximando do fim.
Minha família,
meus amigos e vizinhos
brigavam, à porta do hospital.
Mas havia dúvidas.
Mudar de médico
seria a melhor conduta?
Até que,
a Diretoria do Hospital
(em cujos interesses não confio)
se reúne e diz que é preciso que ele saia.
Continuo insegura.
Mas,
também,
continuo morrendo.
A essa altura,
o Sindicato Hospitalar,
que tem um pinguinho a mais
de credibilidade comigo,
confirma a decisão.
Será?
Preciso de mais subsídios,
para ter certeza de que mudar é o caminho.
Acontece que,
em função das questões
de condutas éticas inaceitáveis,
o Supremo Conselho de Médicos,
entidade reconhecida pela sociedade,
como a autoridade máxima, nessa área,
valida as decisões das duas instâncias anteriores.
Reconhece que meu médico cometeu delitos
e afirma, claramente, a necessidade
do seu afastamento imediato
de suas funções.
Mas aí,
surge pra mim,
um novo problema.
No organograma oficial
do hospital, em cuja U.T.I.
estou, fatalmente, agonizando,
com uma Septicemia generalizada,
o médico que vai assumir meu caso
é um profissional, em quem não confio.
Que droga!
Eu queria um médico perfeito.
Competende, habilitado e
de caráter inquestionável.
Com certeza,
esse senhor não representa nada disso.
Mas estou morrendo.
E a Constituição dos Hospitais
prevê que, nesse tipo de circunstância,
é esse o médico que tem que substituir o titular.
Ok.
Aceito.
Não tenho opção.
Confio que,
minimamente,
nem que seja para se provar,
ele vai lançar sobre mim, um novo olhar.
Por
disputa,
dissidência,
vaidade, orgulho,
interesse pessoal?
Que seja.
Minha morte está à porta.
Que venha o novo médico!
O meu,
enquanto eu piorava
se desconectou de mim
e estava nas ruas, fazendo campanha,
para provar que é um ótimo profissional
e que este outro, não passa de um usurpador.
Decido que não tenho alternativa.
Acolho o médico que não escolho.
Minha outra opção é a morte iminente.
Independente das motivações,
ele vai mudar meu tratamento.
Fico sabendo que
meu antigo médico está irado.
Não se conforma por ter sido afastado.
Em seus
discursos magoados,
nem reconhece a gravidade
(a profunda gravidade) do meu caso.
Continua tentando mostrar,
com uma veemência perversa,
que sofreu uma traição descabida.
E,
em tom de ameaça,
promete fazer `o diabo´
para se opor ao meu novo tratamento.
Nem quero mais ouvir.
Escolho desqualificar
suas falas magoadas
e tentar viver.
Penso que
eu é que deveria
estar magoada com ele.
Ele se comporta como traído,
mas eu é que fui, literalmente, mal tratado.
Entendo,
nessa hora, que
aceitar esse médico,
do qual eu não gosto
e cuja biografia não compõe
meu acervo pessoal de admiração,
é minha única chance de sobrevivência.
Não há outro médico disponível.
E o meu,
jogou no lixo
toda a sua credibilidade.
Então,
para que
a morte não se instaure,
que venha o outro médico.
Antes que a vida, não mais me repare!

Louise Madeira