"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 31 de março de 2016

dicas para quem já passou dos 60 anos


A primeira delas:
É hora de usar o dinheiro (pouco ou muito) que você conseguiu economizar. Use-o para você, não para guardá-lo e não para ser desfrutado por aqueles que não tem a menor noção do sacrifício que você fez para consegui-lo. Geralmente as pessoas que não estão sequer na família: genros, noras, sobrinhos. Lembre-se que não há nada mais perigoso do que um genro ou uma nora com ideias. Atenção: não é tempo para maravilhosos investimentos, por mais que possam parecer, eles só trazem problemas e é hora de ter muita paz e tranquilidade. Pare de preocupar-se com a situação financeira dos filhos e netos. Não se sinta culpado por gastar o seu dinheiro consigo mesmo. Você provavelmente já ofereceu o que foi possível na infância e juventude, como uma boa educação. Agora, pois, a responsabilidade é deles. Já não é época de sustentar qualquer pessoa de sua família. Seja um pouco egoísta, mas não usurário. Tenha uma vida saudável, sem grande esforço físico. Faça ginástica moderada (por exemplo, andar regularmente) e coma bem. Sempre compre o melhor e mais bonito.

Lembre-se que, neste momento, um objetivo fundamental é de gastar dinheiro com você, com seus gostos e caprichos e do seu parceiro. Após a morte o dinheiro só gera ódio e ressentimento. Nada de angustiar-se com pouca coisa.

Na vida tudo passa, sejam bons momentos para serem lembrados, sejam os maus, que devem rapidamente ser esquecidos. Independente da idade, sempre mantenha vivo o amor. Ame o seu parceiro, ame a vida, ame o seu próximo… Lembre-se: “Um homem nunca é velho enquanto se lhe reste a inteligência e o afeto”. Seja vaidoso, cabeleireiro frequente, faça as unhas, vá ao dermatologista, dentista, e use perfumes e cremes com moderação. Porque se agora você não é bonito, é, pelo menos, bem conservado. Nada de ser muito moderno, triste e doloroso ver pessoas com penteados e roupas feitas para os jovens. Sempre mantenha-se atualizado. Leia livros e jornais, ouça rádio, assista bons programas na TV, visite Internet, com alguma frequência, envie e responda “e-mails” use as redes sociais, mas sem estresse ou para criar um vício. Chame os amigos. Respeite a opinião dos jovens. Muitos deles estão melhor preparados para a vida, como nós quando estávamos a sua idade. Nunca use o termo “no meu tempo.

Seu tempo é agora, não se confunda. Pode lembrar do passado, mas com saudade moderada e feliz por ter vivido. Não caia em tentação de viver com filhos ou netos.

Apesar de ocasionalmente ir alguns dias como hóspede, respeite a privacidade deles, mas especialmente a sua. Pode ser muito divertido conviver com pessoas de sua idade.

E o mais importante, não vai funcionar com qualquer um. Mas sim se você se reunir com pessoas positivas e alegres, nunca com “velhos amargos”. Mantenha um hobby.

Você pode viajar, caminhar, cozinhar, ler, dançar, cuidar de um gato, de um cachorro, cuidar de plantas, cartas de baralho, golfe, navegar na internet, pintura, trabalho voluntário em uma ONG, ou coletar alguma coisa. Faça o que você gosta e o que seus recursos permitem. Aceite convites. Batizados, formaturas, aniversários, casamentos, conferências… Visite museus, vá para o campo… O importante é sair de casa por um tempo. Mas não fique chateado se ninguém o convidou. Certamente, quando você era jovem também não convidava seus pais para tudo. Fale pouco e ouça mais.

Sua vida e seu passado só importam para você mesmo. Se alguém lhe perguntar sobre esses assuntos, seja breve e tente falar sobre coisas boas e agradáveis. Jamais se lamente de nada. Fale em um tom baixo, cortês. Não critique qualquer coisa, aceite situações como elas são. Tudo está passando. Lembre-se que em breve voltará para sua casa e sua rotina. Dores e desconfortos, apresentará sempre. Não os torne mais problemático do que são. Tente minimizá-los. No final, eles só afetam você e são problemas seus e do seu médico. Lamentações nada conseguem. Permaneça apegado à religião.

Mas orando e rezando o tempo todo como um fanático, não conseguirá nada. Se você é religioso, viva-o intensamente, mas sem ostentação. A boa notícia é que “em breve, poderá fazer seus pedidos pessoalmente”. Ria-se muito, ria-se de tudo.

Você é um sortudo, você teve uma vida, uma vida longa, e a morte só será uma nova etapa, uma etapa incerta, assim como foi incerta toda a sua vida. Não faça caso do que dizem a seu respeito, e menos do que pensam de você. Se alguém lhe diz que agora você não faz nada de importante, não se preocupe. A coisa mais importante já está feita: você e sua história, boa ou ruim, seja como foi. Agora se trata de uma jubilação, o mais suave, em paz e feliz possível.

E lembre-se:
“A vida é muito curta para beber vinho ruim.”

__Gustavo Krause

[colaboração do “meu bem”, codinome de Neckyr]



“Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á”

Mateus 7:7

quarta-feira, 30 de março de 2016


se for bicicleta, é só chamar a Dilma, que ela entende de pedaladas...


“Não devemos servir de exemplo a ninguém.
Mas podemos servir de lição.”

__Mário de Andrade

“Quando você morre, você não sabe que está morto. Quem sofre são os outros.
É a mesma coisa quando você é um idiota.”

__Ricky Gervals

livro de receitas


Toda mãe conserva um caderno de receitas de família, sujo de farinha e escrito à mão. Entre ingredientes de preparo de quindim e canelone, nunca esqueço a fórmula materna de felicidade: agradeça o que você tem e agradeça mais ainda o que você não tem.

Porque aquilo que não temos nos salva da ambição, do egoísmo, da indiferença, do isolamento. Se fossemos ricos, não valorizaríamos a simplicidade de inventar um prato com os restos da geladeira. Se fossemos ricos, não valorizaríamos a dádiva de tapear o inverno colocando um bolsa de água quente na cama. Se fossemos ricos, não valorizaríamos uma caixa de bombons (para comer os preferidos no primeiro dia). Se fossemos ricos, pensaríamos que poderíamos comprar amores, amizades, silêncio, apoio, tranquilidade, segurança.

Somos o que temos e somos mais ainda o que não temos.


Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: “Por que me fizeste assim?” 

(Romanos 9:20)

terça-feira, 29 de março de 2016

outono


A primavera é linda, cheia de cores, cios e odores. Mas não me comove. Não encontro nela lugar para a saudade. Por isso lhe falta aquela gota de tristeza, que mora em toda obra de arte. É que ela existe na paradisíaca inconsciência do fim...

O verão é diferente. Excita meu lado de fora, e me transforma em sol, céu, mar.
Misturo-me com seu universo luminoso, quente e suarento, cheio de cachoeiras e limonadas geladas. Tudo me convida a não pensar. A só rir, gozar, usufruir... 

Mas o outono me chama de volta. Devolve-me à minha verdade. Sinto então a dor bonita da nostalgia, pedaço de mim, de que não posso me esquecer... O céu, azul profundo, as árvores e grama de um outro verde, misturados com o dourado dos raios de sol inclinados. Tudo fica mais pungente ao cair da tarde, pelo frio, pelo crepúsculo, o que revela o parentesco entre o outono e o entardecer. 

O outono é o ano que entardece.


Veio como foice.

Foice, como veio.

Ela é assim um mix de tudo que se possa imaginar dentro de uma grande capacidade de apenas não ser nada em definitivo. 
Ela é aquilo que não consegue se encaixar em moldes pré-existentes, parece que ninguém nunca foi antes dela. Ela se incomoda com isso, às vezes, muito.
Ela é cheia de sentimentos, parece que suas experiências se manifestam é no dorso do seu colo, e quase sempre, de vez em quando, tudo isso pesa. Mas não tem modo, não existe maneira que a faça ser diferente. 

E ainda, graças a Deus, ela é diferente. 
Algo que pesa e que tem o dom da leveza, algo que chora e que se manifesta em sorrisos, algo de forte, mas que se desmancha quando encontra a água.


O Senhor executa atos de justiça, e juízo a favor de todos os oprimidos. 

Salmos 103:6

segunda-feira, 28 de março de 2016


quinta-feira, 24 de março de 2016

um brinde à renovação


Renovar é preciso! 

Feliz Páscoa, que nossos sonhos renasçam, o amor se renove e nossa fé seja infinita. 
Sempre!


 “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente. Você crê nisso?” 

João 11: 25-26

quarta-feira, 23 de março de 2016


#fique por dentro:

Todos sabem que a Páscoa comemora o renascimento, a ressurreição de Jesus Cristo. Porém, o coelho foi associado a festa, já que é símbolo de fertilidade. 
Antigamente, e em alguns países, os ovos eram de galinha, cozidos e decorados para fazerem parte da celebração da Páscoa. No entanto, o mais comum são os ovos de chocolate.

Mas o que a Páscoa tem a ver com o chocolate? 
Qual o sentido de presentear as pessoas com esse “mimo” se, na verdade, o símbolo da Páscoa é o coelho e este animal não bota ovo, muito menos de chocolate?

Acontece que o ovo, assim como o coelho, simboliza a fertilidade. Porém, a tradição de se comer ovos de Páscoa de chocolate, nasceu no século XVIII, para substituir os ovos pintados, que na época, eram o presente de celebração da Páscoa.

O chocolate já era uma iguaria muito apreciada nesse período, mas os franceses tiveram a brilhante ideia de moldá-lo em formato oval, em vez das tradicionais barras.  
Com a nova apresentação dessa delícia, não foi difícil cair no gosto da população.
Com o passar do tempo, as pessoas adquiriram o hábito de se presentear com ovos de chocolate na páscoa.

A comemoração da Páscoa teria surgido durante o Pessah, data em que os judeus comemoram a libertação e fuga de seu povo escravizado no Egito. 

A palavra Páscoa vem do nome em hebraico da festa judaica a qual a Páscoa cristã está intimamente ligada, não só pelo sentido simbólico de “passagem”, comum às celebrações pagãs (passagem do inverno para a primavera) e judaicas (da escravatura no Egito para a liberdade na Terra prometida), mas também pela posição da Páscoa no calendário, segundo os cálculos que se indicam a seguir.

A data é fixada no primeiro domingo depois da Lua Cheia. Para ser mais fácil de calcular é só nos basearmos na terça-feira de Carnaval que ocorre em exatos 47 dias antes da Páscoa.
tirado daqui

nexo


Olhando daqui, percebo que pessoas e circunstâncias tiveram um propósito maior na minha vida do que muitas vezes, no momento de cada uma, eu soube, pude, aceitei, ler. Parece-me, agora, que cada uma, no seu próprio tempo, do seu próprio modo, veio somar para que eu chegasse até aqui, embora algumas vezes, no calor da emoção da vez, eu tenha me rendido à enganosa impressão de que veio subtrair. A vida tem uma sabedoria que nem sempre alcanço, mas que eu tenho aprendido a respeitar, cada vez com mais fé e liberdade.

O tempo, de vento em vento, desmanchou o penteado arrumadinho de várias certezas que eu tinha, e algumas vezes descabelou completamente a minha alma. Mesmo que isso tenha me assustado muito aqui e ali, no somatório de tudo, foi graça, alívio e abertura. A gente não precisa de certezas estáticas. A gente precisa é aprender a manha de saber se reinventar. De se tornar manhã novíssima depois de cada longa noite escura. De duvidar até acreditar com o coração isento das crenças alheias. A gente precisa é saber criar espaço, não importa o tamanho dos apertos. A gente precisa é de um olhar fresco, que não envelhece, apesar de tudo o que já viu. É de um amor que não enruga, apesar das memórias todas na pele da alma. A gente precisa é deixar de ser sobrevivente para, finalmente, viver. A gente precisa mesmo é aprender a ser feliz a partir do único lugar onde a felicidade pode começar, florir, esparramar seus ramos, compartilhar seus frutos.

Tudo o que eu vivi me trouxe até aqui e sou grata a tudo, invariavelmente. Curvo meu coração em reverência a todos os mestres, espalhados pelos meus caminhos todos, vestidos de tantos jeitos, algumas vezes disfarçados de dor.

Eu mudei muito nos últimos anos, mais até do que já consigo notar, mas ainda não passei a acreditar em acaso.


Senhor,
Senhor Jesus,
ouvi-me.
Existo?
Faz tempo que não sonho,
existo?


“Seja bendito o nome do Senhor, desde agora e para sempre.
Do nascente ao poente, seja louvado o nome do Senhor!” 

(Salmos 113:2-3)

terça-feira, 22 de março de 2016


Meu caro Chico,

Me perdoe, por favor se a minha admiração não é mais irrestrita. 
Hoje você apoia quem manda roubar, roubou e tem roubado, não tem discussão. 

Não se importa em ver a Pátria Mãe, tão distraída ser subtraída em tenebrosas transações.
O que será que lhe dá, pra defender quem não tem decência, nem nunca terá, quem não tem vergonha, nem nunca terá, quem não tem limite?

Cantei cada uma das suas canções como se fosse a última. Li cada livro seu como se fosse o único. E, olhos nos olhos, dói ver o que você faz ao defender quem corrompe, engana e mente demais.

Não é por estar na sua presença, mas você vai mal. Vai mal demais. Eu te vejo sumir por aí, arruinando a biografia - que se arrasta no chão -, cúmplice de malandro com aparato de malandro oficial, malandro investigado na Polícia Federal.

É, Chico, você tá diferente, já não te conheço mais. Quem te viu, quem te vê.

Trocando em miúdos, pode guardar as sobras de tudo que não conseguirem roubar. Apesar de você - e do PT - amanhã há de ser outro dia.

__Eduardo Affonso

o invariável


Outro dia escutei uma mulher separada decretar o fim da mesmice: resolveu se esbaldar na vida. Disse ela que não queria mais saber de relação fixa e que saía quase todas as noites a fim de se divertir apenas. Tem conhecido muitos caras diferentes, com alguns chega às vias de fato, e é isso aí, adeus à monotonia.

Mas o olhar dela não soltava faíscas, ao contrário, parecia bem opaco.

Naquele momento, lembrei uma frase do blog de um amigo paulista, o Eduardo Haak. Ele recentemente escreveu: “Nada é mais invariável do que as supostas variedades”. De primeira, quando li, me bateu uma estranheza, fiquei na dúvida se ele estava sendo irônico ou o quê, até que, ouvindo a moça baladeira contar de seus recordes de revezamento, me dei conta de que a situação dela era ilustrativa: toda variação que se torna sistemática também é mais do mesmo.

Ou seja, nada impede que a busca de um amor a cada sexta-feira se torne uma situação igualmente sujeita ao tédio. Virar refém da variedade pode ser uma atitude tão rotineira quanto dedicar-se a uma única pessoa por anos – arrisco até dizer que, ao dedicar-se a uma única pessoa, a chance de se ter uma vida mais dinâmica dispara.

Por quantas fases passa uma relação? O frio na barriga inicial, a paixão febril, as surpresas a cada nova revelação, as descobertas feitas a dois, a aproximação dos corpos, a intimidade cada vez maior, os amigos e a família agregando-se, cada viagem uma lua de mel, a troca de confidências, as diferenças aparecendo, os acordos feitos para manter a coisa funcionando, ajustes necessários, a paixão virando amor, a segurança da companhia um do outro, as fotografias se acumulando, planos sendo feitos a longo prazo, a primeira briga, as saudades, a consciência de que aquela pessoa é essencial, o reatamento, as juras, os cuidados para que não desande nunca mais, todos os cinemas, cafés da manhã, leituras compartilhadas, risadas, os comentários de fim de festa, as piadas internas, a confiança, os cafunés, os pedidos de conselho, a hora de ser amigo, a hora de ser bandido, o sexo evoluindo, o amor se fortalecendo, a passagem do tempo trazendo novos desafios, o orgulho pelo que está sendo construído, os estouros, os gritos, os beijos de novo... ufa, alguém aí me alcança um copo d’água?

Amar não é para amadores, e quando a relação é honesta, sólida e os protagonistas têm algum tutano, duvido que o enfado dê as caras.

É a variedade de parceiros que evita o aborrecimento? Nunca funcionou comigo. Nem no amor, nem fora dele. A alucinada atualização de notícias, a velocidade das redes sociais, os dias pulsando em ritmo supersônico, tudo o que não permite foco e entrega, hoje em dia, só me causa bocejos. Aprofundar-se é que é a verdadeira vertigem.


“Acabar com a corrupção é o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder.”

__Millôr Fernandes

Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. 

Romanos 5:1

domingo, 20 de março de 2016

ⓛⓞⓥⓔ


#vivendo um caso de amor com minha cama nova



Ou to no presente

Ou to no tempo errado.


São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso. 

Mateus 6:22

quarta-feira, 16 de março de 2016


... Sujeira pra todo lado.
Que País é esse?

vai piorar


E eu, que tenho as duas atividades, escrever e eventualmente falar, que desde criança fui ensinada que cabeça não foi feita só para separar orelhas, mas para pensar, questionar – e também para ser feliz –, neste momento, não sei o que pensar. Muito menos o que responder quando me perguntam interminavelmente o que estou achando, como estou me sentindo. Estou virando pessimista. Não em minha vida pessoal, mas em relação a este país. Ou melhor: a seus governantes, autoridades, homens públicos, políticos. Mal consigo acreditar no que se está passando. A cada dia um espanto, a cada dia uma decepção, a cada dia um desânimo e uma indignação.

Este já foi o país dos trouxas, que pagam impostos altíssimos e quase nada recebem em troca; o país dos bobos, que não distinguem um homem honrado dum patife, uma ação pelo bem geral de uma manobra para encher o bolso ou galgar mais um degrauzinho no poder a qualquer custo; o país dos mistérios, onde quem é responsável absoluto não sabe de nada, ou finge enxergar outra realidade, não a nossa. Hoje, estamos ameaçados de ser o país dos sem-vergonha. A falta de pudor e o cinismo imperam e não há, exceto talvez o Supremo Tribunal, lugar totalmente confiável.

Entre os políticos, com cargos ou não, impera um corporativismo repulsivo – ou estaremos todos de rabinho preso? Nós, povo que se deixa enganar tão facilmente, que pouco se informa e questiona, vamos nos tornando da mesma laia? Seremos também, concreta ou moralmente, vendidos? Quando eu era menina de colégio, às vezes os rapazes se insultavam gritando "vendido!", não me lembro bem por quê. Deviam ser questões esportivas. Um ponto não marcado, um gol roubado. Era grave insulto. Hoje, parece que ninguém mais liga para insultos, leves ou pesados – nada pega, tudo é água em pena de pato, escorre e acabou-se. Um povo teflon. Vemos líderes vendendo-se em troca de comodidade, cargo, poder, dinheiro, impunidade, preservação de algum sórdido segredo, ou simplesmente a covardia protegida. Quem nos deve representar sumiu no ralo. Quem nos deve orientar se transformou em mamulengo. Quem nos deve servir de modelo chafurda na lama. E nós, povo brasileiro, nos arrastamos na tristeza. Reagimos? Como reagimos? Pintamos a cara e saímos às ruas aos milhares, aos milhões, jogamos ovos podres, paramos o país, pacificamente que seja, tentamos mudar o giro da máquina apodrecida? Aqui e ali um tímido protesto, nada mais.

De algum lugar surgiram os senadores que votam às escondidas porque não têm honra suficiente para enfrentar quem os elegeu; os deputados pouco confiáveis, alguns duvidosos ministros, de onde surgiram? De nós. Nós os colocamos lá, nós votamos, nós permitimos que lá estejam e continuem – nós, através das mãos dos ditos representantes, instituímos a vergonha nacional que em muitas décadas será lembrada como um tempo de opróbrio.

E não argumentem que a economia está ótima: ainda que esteja, digo que me interessa muito menos a economia do que a honra e a confiança, poder ser brasileiro de cabeça erguida. Existe o Bolsa Família, a miséria está um pouco menos miserável? Pode ser. Mas os hospitais continuam pobres e podres, as escolas e universidades carentes, as estradas intransitáveis, a autoridade confusa e as instituições esfaceladas, os horizontes reduzidos. O Senado terminou de ruir? Querem até acabar com ele? Pode parecer neste momento que ele não faz muita falta, mas sua ausência seria um passo para o Executivo ditatorial, a falência total da ordem e a perda de um precário equilíbrio.

Com pressentimentos nada bons, faço – embora sem grande esperança – uma conclamação: tolerância zero com tudo o que nos desmoraliza e humilha, perseguição implacável ao cinismo, mudança total nas futuras eleições, faxina no Congresso, Senado e câmaras, renovação positiva no país. Conscientização urgente, pois, acreditem, do jeito que vai a coisa tende a piorar.

... e como piorou, Lya!

Texto publicado em 08 de fevereiro de 2010, na Revista Veja.

Busquei ao SENHOR, e Ele me respondeu; livrou-me de todos os meus temores. 

Salmos 34:4

terça-feira, 15 de março de 2016


O pior analfabeto, é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, não participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha
do aluguel, do sapato e do remédio.
Depende das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que
se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política.

Não sabe o imbecil,
que da sua ignorância nasce a prostituta,
o menor abandonado,
o assaltante e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
o pilantra, o corrupto e o espoliador
das empresas nacionais e multinacionais.

__Bertold Brecht 

terça-feira, 8 de março de 2016


Sou povoada por uma quantidade suficiente (e eficiente) de mulheres:
mereço ser celebrada durante o ano inteiro, durante uma vida toda.

Festejo a minha existência a cada amanhecer.
Não me basta ser homenageada em um único dia.


pedaços de mulher


Pedro Almodóvar, cineasta espanhol, certa vez justificou sua admiração pelas mulheres declarando que elas eram feitas de muito mais pedaços do que os homens.
(...)
Todo ser humano é um quebra-cabeça composto por muitas peças, e concordo com Almodóvar: nós, do sexo feminino, fazemos parte daqueles jogos mais complicados, difíceis de montar. Quantos pedaços formam uma mulher? Tantos que ela vive inacabada.

Nossos pedaços custam a se encaixar. O epicentro do quebra-cabeça costuma ser a maternidade, um pedaço grande que precisa combinar com o pedaço da luxúria, com o pedaço da solidão e também com aquela partezinha da preguiça, que ninguém avisou que fazia parte do jogo. Há peças variadas que, vistas separadamente, não têm nada a ver uma com a outra, mas juntas fazem shazam. O pedaço da submissão que precisa encaixar com o pedaço da rebeldia, o pedaço da juventude que tem que encaixar com o pedaço da menopausa, um pedaço desgarrado que tem que encaixar com o imenso pedaço da nossa árvore genealógica, e vários outros pedaços aparentemente sem combinação: nossa parte homem, nossa parte criança, nossa parte louca, nossa parte santa, nossa parte lúcida, nossa parte conivente, nossa parte viciada, e mais aquelas desgastadas pelo uso, e umas que se perderam, e outras tão pequenas que ficaram invisíveis. Como encaixar o que não se revela nem pra nós mesmas?

Almodóvar filma as mulheres como se elas fossem pizzas de vários sabores. Mezzo freiras, mezzo HIV positivas. Mezzo doces, mezzo apimentadas. Mezzo dramáticas, mezzo divertidas. Almodóvar nunca fecha o quebra-cabeça, apenas esparrama na tela os vários pedaços que, unidos, nos transformariam num ser único, e que, uma vez pronto, já não empolgaria ninguém. Daí a importância de haver sempre uma peça faltando, pois é isso que nos mantém acordados, assim no cinema como na vida.


Feliz dia da Mulher, a todas nós!


A beleza é enganosa,
e a formosura é passageira;
mas a mulher que teme o Senhor
será elogiada.

Provérbios 31:30

sábado, 5 de março de 2016


“Tentaram matar a jararaca, mas não acertaram na cabeça, acertaram no rabo. A jararaca tá viva, como sempre esteve.” 

__Lula, deixando de ser molusco e assumindo sua verdadeira espécie.

rabo preso, diga-se de passagem...


Acho que sábado é a rosa da semana

quando Deus aparece



Há um tempo li uma crônica da escritora gaúcha Martha Medeiros e deparei-me com uma expressão que não se encontra com frequência: “nestas horas Deus aparece”. A frase dita por uma amiga da escritora, quando ouvia o recital do pianista Nelson Freire no Theatro São Pedro em Porto Alegre (RS), despertou em mim uma realidade que sempre me fascinou: a certeza da presença de Deus no cotidiano.

Martha não professa alguma religião, contudo, o que a amiga dela disse calou fundo a ponto de não se conformar em ficar para si aquela frase. Transformou-a numa crônica. No texto, ela detalha experiências que a fizeram entender que o divino mora ao lado, e que se revela nas miudezas da vida. Basta apenas termos a sensibilidade de o acolher “como se fosse a chegada de uma visita ilustre, que dá sossego à alma”, bem fala a cronista gaúcha.

Pelo olhar da fé que carrego comigo digo que de fato é uma visita ilustre e que um dia chegou em minha vida como alguém que chega pra ficar. No entanto, sabemos da existência de pessoas que não tem a facilidade de dizer que Deus existe ou faz visitas diárias ao ser humano, e vivem na indiferença da crença. A estes, desejo que um dia abram a porta para receberem com carinho este visitante, o convidem para tomar um café e se preparem para dar boas gargalhadas. Lágrimas também farão parte do encontro, quando ele começar a contar histórias emocionantes de seu amor pela humanidade e do quanto segura nos braços os errantes pelo caminho.

Deus e suas chegadas sempre são surpreendentes. Estes dias andando por lugares na grande cidade de São Paulo, ele me visitou com frequência. Diariamente nas avenidas onde encontrava pessoas numa correria que eu condenava e me via correndo também, eu o percebi apressado atrás de mim como quem não deseja perder a possibilidade do encontro. No desespero me segurou pelo braço e disse: “onde é que você vai com tanta pressa? Se eu posso te pedir alguma coisa, peço apenas para ter mais calma”.

Quando me distraio encontro ele numa idosa que entra no vagão do metrô e auxiliada por uma mulher mais jovem senta no assento reservado para sua condição. Vejo um homem a contempla-la e tento decifrar o seu olhar. Parecia perceber a fragilidade que ali transparecia no corpo daquela senhora, nos traços da matéria que resguardava histórias sabidas e ocultas. Deus esteve no metrô e me recordou a fugacidade da vida e o cuidado que necessitamos.

Certo dia num menino sem o braço esquerdo que todas as manhãs passava por mim em sentido contrário, alegre, ouvindo música e cantarolando quando eu ia para a faculdade, o divino resolveu me falar dos nossos sorrisos que escondem dores desconhecidas. Disse-me da tarefa diária que estabelecemos para ofuscar tristezas reveladoras de quem somos. Por detrás da vibração da música os silêncios monocórdicos que os outros não conhecem. Ali, vi também a alegria de quem se vê maior que seus limites.

Encontrei Deus no barbeiro que ficou encantado porque comecei a puxar conversa enquanto realizava o ofício de corte. Com ele o transcendente não mediu esforços para me dizer que deseja atenção. Na reclamação do jovem de que a maioria das pessoas apenas sentavam, falavam o tipo de corte desejado e algumas vezes reclamavam do ambiente sem o ar condicionado, Deus me alertou do quanto somos capazes de esquecer as pessoas e ver apenas sua função. Perdemos o significado em nome da utilidade.

Uma noite Deus se aproximou de mim numa grande parcela de jovens bebendo numa das mais movimentadas avenidas da cidade. Já no início da noite muitos não conseguiam nem segurar em si mesmos em pé. Vi Deus dolorosamente perdendo a sua dignidade por meio dos copos de álcool que eram sinais de divertimento.

Além destes encontros que tive com ele, eu o recebo nas pessoas leves que com seu jeito tranquilizam as dores da minha condição humana. O encontro em olhares que não condenam e enxergam além do que se pode ver. O experimento feito criança, nos braços amigos transmissores de conforto, quando o que mais precisamos é de colo de mãe. E claro, nos puxões de orelha vindos daqueles que nos amam e nos alertam para endireitarmos o prumo e tomar juízo na vida.

No cinema o vejo com frequência, narrado em histórias que ilustram um mundo de tramas existenciais manifestadoras de quem somos ou gostaríamos de ser. Em livros, textos e poesias que nos devolvem a nós mesmos ou que nos roubam um pouco para realizar a devolução mais adiante. Volta e meia as músicas carregadas de arte em letras e melodias que nos envolvem, trazem Deus aos meus ouvidos. Nesses momentos, o experimento quietinho no meu canto, prestando atenção em cada palavra, como um jovem encantado pelos conselhos e experiências de vida de um ancião.

Tenho a graça de me deparar com Deus na vida de muitas pessoas que com um brilho nos olhos, me contam seus encontros com ele. É tão belo quando nas entrelinhas das falas, me dizem: “Deus esteve aqui.” Por vezes, ele chega pelos desafios da vida, em instantes que nos desinstalam e pedem coragem para permanecermos ao seu lado, atentos ao que tem a nos dizer naquela hora.

Não quero nunca perder a oportunidade de me encontrar com aquele que chega para conversar de existências. Cuido-me para não estar distraído quando ele passar. Ele me faz tão bem que não hesito em deixá-lo esperando do lado de fora. Largo os meus afazeres humanamente urgentes e vou ansioso esperá-lo na frente de casa. No fim da visita, ainda fascinado pelo momento, o contemplo e olho fixamente pra ele. Consigo expressar apenas uma frase: “volte sempre.” 

__Evandro Viana Carvalho