Pedro Almodóvar, cineasta espanhol, certa vez justificou sua admiração pelas mulheres declarando que elas eram feitas de muito mais pedaços do que os homens.
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Todo ser humano é um quebra-cabeça composto por muitas peças,
e concordo com Almodóvar: nós, do sexo feminino, fazemos parte daqueles jogos
mais complicados, difíceis de montar. Quantos pedaços formam uma mulher? Tantos
que ela vive inacabada.
Nossos pedaços custam a se encaixar. O epicentro do
quebra-cabeça costuma ser a maternidade, um pedaço grande que precisa combinar
com o pedaço da luxúria, com o pedaço da solidão e também com aquela partezinha
da preguiça, que ninguém avisou que fazia parte do jogo. Há peças variadas que,
vistas separadamente, não têm nada a ver uma com a outra, mas juntas fazem
shazam. O pedaço da submissão que precisa encaixar com o pedaço da rebeldia, o
pedaço da juventude que tem que encaixar com o pedaço da menopausa, um pedaço desgarrado
que tem que encaixar com o imenso pedaço da nossa árvore genealógica, e vários
outros pedaços aparentemente sem combinação: nossa parte homem, nossa parte
criança, nossa parte louca, nossa parte santa, nossa parte lúcida, nossa parte
conivente, nossa parte viciada, e mais aquelas desgastadas pelo uso, e umas que
se perderam, e outras tão pequenas que ficaram invisíveis. Como encaixar o que
não se revela nem pra nós mesmas?
Almodóvar filma as mulheres como se elas fossem pizzas de
vários sabores. Mezzo freiras, mezzo HIV positivas. Mezzo doces, mezzo
apimentadas. Mezzo dramáticas, mezzo divertidas. Almodóvar nunca fecha o
quebra-cabeça, apenas esparrama na tela os vários pedaços que, unidos, nos
transformariam num ser único, e que, uma vez pronto, já não empolgaria ninguém.
Daí a importância de haver sempre uma peça faltando, pois é isso que nos mantém
acordados, assim no cinema como na vida.
Feliz dia da Mulher, a todas nós!