"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



segunda-feira, 28 de dezembro de 2015


Correria de fim de ano, portanto já fica aqui o meu agradecimento a todas as pessoas que seguem o nuvensdealgodão.
Vocês são por demais importantes!

Meu desejo é que o Natal de vocês tenha sido o melhor, comemorando ou não a data cristã!
Que o significado maior que é o amor esteja com vocês.

Um novo ano cheio de esperança, fé, amor e paz a todos vocês.
Que vocês possam carregar esses sentimentos em suas mãos e principalmente no coração.

Bom réveillon, ótimo 2016 e até ano que vem, se Deus quiser.
Fiquem com Ele!

Beijos em cada nuvem desse lindo céu.

domingo, 27 de dezembro de 2015


“Abençoadas sejam as surpresas risonhas em todo nosso caminho”.

Já tive dúvidas se essa coisa toda de Ano Novo é frustrante ou mágica. Me parece mesmo que é ilusória, já que acredito que ilusão pode tomar forma boa e/ou ruim. Queira ou não queira, todo mundo acaba mecanizando dezenas de planos para o próximo ano, se firmando na novidade de mudança que o réveillon figura. E acontece até sem querer mesmo, quando a gente repara estamos lá outra vez pensando numa coisa pra fazer.

Neste momento não estou arquitetando nada, só espero por melhores surpresas pra que eu possa descansar sem ter que me cobrar mais tarde. Mas ainda assim não deixo de desejar alguma coisa, viu só? É bem assim. E é aí que mora o perigo da decepção, de pôr a culpa no pobre do ano e de fazer tudo outra vez ao final de dezembro. Já não vivo mais disso.

Réveillon podia ser todas as vezes que se quer transformar, porque algumas pessoas deixam tudo pro ano que vem quando acham que estão indo mal e acabam vivendo só de promessas. Ainda bem pra elas que todo fim de ano termina com um suspiro de “como passou rápido”, daí aparenta mais fácil recomeçar. E mesmo assim, bem que eu não queria relógios pra começos e fins...

Mas sabe, mesmo que seja por causa da data, é tão bonito olhando pelo lado de que é no fim do ano que as pessoas se sentem mais acreditadas ou ao menos tentam estabelecer melhorias. É que quando pensamos no que queremos de bom, no que pretendemos mudar e melhorar, nós nos damos conta do que não deu certo e o que foi feito (ou não foi feito) pra isso. De alguma forma, lá dentro, cada um reconhece seus pecados, mesmo que não admita nem pra si.

Fim de ano é uma escola! Por menor que seja a aprendizagem ela serve de alicerce pra outras novas, não tenhamos dúvidas disso. E que não seja frustrante nem enfeitado demais, mas que seja uma boa ilusão. Ilusões são ilusões porque estão dentro da gente. Só que quando dentro é casto e verdadeiro, fora passa a ser do mesmo jeito porque tudo se transforma quando a gente se acredita, se muda. Vamos aprendendo!

Então, aproveitando a intensidade da data, que façamos vários réveillons num ano e que “abençoadas sejam as surpresas risonhas em todo nosso caminho”.

É meu desejo de ano novo :)

#euacredito


E o que eu mais desejo para 2016 é que a gente consiga mais, em vez de ficar só tentando. 

Sabe essa coisa de “sou brasileiro, não desisto nunca”? Não gosto da vibração dessa frase. 
É claro que a vida é feita de tentativas, mas eu não quero um Brasil só de gente tentando: quero um Brasil de gente conseguindo. E eu acredito que isso é possível. 
Acredito e desejo que um Brasil sem manchas comece em 2016. É difícil, mas não é impossível!

Acredito que um novo tempo a gente prepara, semeia e colhe. Que nada muda à nossa volta se não mudar algo dentro de nós. 
Acredito num 2016 mais limpo e claro, em que a gente pode colocar em prática o que aprendeu em 2015. 
Acredito num ano melhor porque acredito nas pessoas e na força que elas têm juntas. Acredito na vontade e no poder da vontade. 
Acredito em quem acredita e faz com paixão.



2 Coríntios 12:10 - Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. 
Pois, quando sou fraco é que sou forte.

sábado, 26 de dezembro de 2015


a mãe e o Natal


A mãe, em um impulso de coragem – ou de insanidade – se ofereceu para receber a família em casa no Natal.
A mãe passou o dia espirrando porque teve de resgatar seis caixas de decoração natalina que estavam soterradas em um ano de poeira na prateleira de cima do guarda roupas.
A mãe teve de se segurar para não acertar a mão na cara do infeliz que roubou a vaga dela no shopping.
A mãe ficou furiosa com a moça que roubou a vez dela na fila da loja de brinquedos, que mais parecia a faixa de Gaza.
A mãe teve que ser retirada pelo segurança da loja de roupas, porque ela ameaçou a vendedora com um cabide.
A mãe teve que ser consolada pelo verdureiro na feira quando a sacola dela estourou e os tomates saíram rolando ladeira abaixo.
A mãe abraçou o verdureiro como se fosse seu pai quando os tomates foram atropelados por um caminhão.
A mãe desejou que sua sogra fosse um tomate quando ela chegou e começou a dar pitaco na ceia.
A mãe rezou por sua integridade física quando seus sobrinhos chegaram.
A mãe, na verdade, rezou pela integridade física deles.
A mãe começou a fazer seu risoto com vinho branco muito concentradamente.
A mãe teve que pedir pra que o pai fosse ao mercado comprar mais vinho, porque ela bebeu meia garrafa quando os meninos quebraram o segundo vaso.
A mãe chorou feito criancinha quando, na hora de se arrumar, acertou o olho direito com o pincel do rímel.
A mãe quase voou por cima da mesa quando as crianças começaram a guerra de maionese.

A mãe, depois dessa odisseia, deitou a cabeça no travesseiro, feliz por ver toda a família junta e se divertindo e concluiu que aquele foi um Feliz Natal.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015



É que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor
.

Lucas 2:11

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015


Ser e estar presente é o melhor presente que você pode dar a alguém. 
Não custa nada e faz um bem enorme...

Para alguns, hoje é dia de comer peru. Outros preferem a rabanada. 
Tantos embrulham sua bondade em embalagens pra presente. 
Gosto dos que fizeram o ano inteiro o que muitos deixaram para fazer somente hoje. 
O fast food do perdão e da generosidade me incomoda. 
Caio de boca no peru, então.

comemorar o Natal


Natal me deixa triste. Porque, por mais que o procure, não o encontro. Natal é uma celebração. As celebrações acontecem para trazer do esquecimento uma coisa querida que aconteceu no passado. A celebração deve ser semelhante à coisa celebrada.


Sou um admirador de Gandhi. Cheguei mesmo a escrever um livro sobre ele. Estou planejando convocar os amigos para uma homenagem póstuma a esse grande líder pacifista e vegetariano. Pensei que uma boa maneira de homenageá-lo seria um evento numa churrascaria, todo mundo gosta de churrasco, um delicado rodízio com carnes variadas, picanhas, filés, costelas, cupins, fraldinhas, lingüiças, salsichas, paios, galetos e muito chope. O grande líder merece ser lembrado e festejado com muita comilança e barriga cheia!
Eu não fiquei doido. O que fiz foi usar de um artifício lógico chamado “reductio ad absurdum” que consiste no seguinte: para provar a verdade de uma proposição, eu mostro os absurdos que se seguiriam se o seu contrário, e não ela, fosse verdadeiro. Eu demonstrei o absurdo de se celebrar um líder vegetariano de hábitos frugais com um churrasco.
Uma homenagem tem de estar em harmonia com a pessoa homenageada para torná-la presente entre aqueles que a celebram. Uma refeição, sim. Mas pouca comida. Comer pouco é uma forma de demonstrar nosso respeito pela natureza. Alface, cenoura, azeitonas, pães e água.

Agora, um visitante de outro planeta que nada soubesse das nossas tradições, se ele comparecesse às festas de Natal, sem que nenhuma explicação lhe fosse dada, ele concluiria que o objeto da celebração deveria ser um glutão, amante das carnes, bebidas, do estômago cheio, das conversas em voz alta, do desperdício. Nossas celebrações de Natal são como as cascas de cigarra agarradas às árvores. Cascas vazias, das quais a vida se foi. Se perguntar às crianças o que é que está sendo celebrado, eles não saberão o que dizer. Dirão que o Natal é dia do Papai Noel, um velho barrigudo de barbas brancas amante do desperdício, que enche os ricos de presentes e deixa os pobres sem nada. (…) Pois é certo que as celebrações do Natal são orgias de ricos, celebrações do desperdício e lixo. Celebrações do lixo? Aquelas pilhas de papel de presente colorido em que vieram embrulhados os presentes, não são elas essenciais às celebrações? Rasgados, amassados, embolados num canto. Irão para o lixo. Quantas árvores tiveram de ser cortadas para que aqueles papéis fossem feitos. Para quê? Para nada. A indiferença com que tratamos o papel de presentes é uma manifestação da indiferença com que tratamos a nossa Terra.

Estou convidando meus amigos para uma celebração de Natal. Ela deverá imitar a ceia que José e Maria tiveram naquela noite: velas acesas, um pedaço de pão velho, vinho, um pedaço de queijo, algumas frutas secas. À volta de um prato de sopa de fubá – comida de pobre –, tentaremos reconstruir na imaginação aquela cena mansa na estrebaria, um nenezinho deitado numa manjedoura, uma estrela estranha nos céus, os campos iluminados pelos vaga-lumes. E ouviremos as velhas canções de Natal, e leremos poemas, e rezaremos em silêncio. Rezaremos pela nossa Terra, que está sendo destruída pelo mesmo espírito que preside nossas orgias natalinas. (…)

É uma cena: numa estrebaria uma criancinha acaba de nascer. Sua mãe a colocou numa manjedoura, cocho onde se põe comida para os animais. As vacas mastigam sem parar, ruminando. Ouve-se um galo que canta e os violinos dos grilos, música suave... No meio dos animais tudo é tranqüilo. Os campos estão cobertos de vaga-lumes que piscam chamados de amor. E no céu brilha uma estrela diferente. Que estará ela anunciando com suas cores? O nascimento de um Deus?
É. O nascimento de um Deus. 
Deus é uma criança.

O nascimento do Deus criança só pode ser celebrado com coisas mansas. Mansas e pobres. Os pobres, no seu despojamento, devem poder celebrar. Não é preciso muito.

Um poema que se lê. Alberto Caeiro escreveu um poema que faria José e Maria, os pais do menininho, rir de felicidade: “Num meio-dia de fim de primavera, tive um sonho como uma fotografia: “Vi Jesus Cristo descer a terra. Veio pela encosta do monte tornado outra vez menino. Tinha fugido do céu...”” Longo, merece ser lido inteiro, bem devagar...
Uma canção que se canta. Das antigas. Tem de ser das antigas. Para convocar a saudade. É a saudade que traz para dentro da sala a cena que aconteceu longe. Sem saudade o milagre não acontece.
Algo para se comer. O que é que José e Maria teriam comido naquela noite? Um pedaço de queijo, nozes, vinho, pão velho, uma caneca de leite tirado na hora. E deram graças a Deus.
E é preciso que se fale em voz baixa. Para não acordar a criança.
Naquela mesma noite, havia uma outra celebração no palácio de Herodes, o cruel. Ele tinha medo das crianças e mataria todas se assim o desejasse. A mesa do banquete estava posta: leitões assados, lingüiças, bolos e muito vinho... Os músicos tocavam, as dançarinas rodopiavam. Grande era a orgia.
É. Cada um celebra o que escolhe. Acho que vou fazer uma sopa de fubá que tomarei com pimenta e torradas. E lerei poemas e ouvirei música. E farei silêncio quando chegar a meia-noite e, quem sabe, rezarei?

Crônica um tanto dura, mas sem deixar de ser verdadeira...


Porque um menino nos nasceu,
um filho nos foi dado,
e o governo está sobre os seus ombros.
E ele será chamado
Maravilhoso Conselheiro, Deus Podero­so,
Pai Eterno, Príncipe da Paz.

Isaías 9:6

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015


Quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.


“Compreendendo que o perdão regenera, que a compreensão edifica, 
que o auxilio possibilita, que o entendimento reconstrói. 
Atire você, quando tudo for pedra, a primeira e decisiva flor...”

[Rosemary Sadalla]

Pessoas tangerinas.
Aquelas que lhe abraçam e deixam o perfume em você.
Vejo muito.


E todo aquele que crer e tem esperança, sonha alto, bate as asas e vai além. Nunca retrocede. Sempre avança.

Mychele Magalhães Velloso

Isto servirá de sinal para vocês: encontrarão o bebê envolto em panos e deitado numa manjedoura.

Lucas 2:12

terça-feira, 22 de dezembro de 2015




Já estamos entrando no clima do Natal...
Sentimentos de esperança, paz, alegria e amor vão ficando mais fortes em nossos corações, e queremos partilhar essas alegrias com todos que estão próximos e principalmente aqueles que mais amamos.

Esse vídeo fofo, nos inspira a sonhar e nunca deixar de acreditar que nossos sonhos e desejos se tornarão realidade...


Quanto maiores somos em humildade, tanto mais próximos estamos da grandeza.

__Rabindranath Tagore

carta para o ano novo


Seja bem-vindo, Ano-Novo. Que você seja tão bonito quanto o número que traz, redondo*. Eu disse redondo, não gordo, tá? Tente ser um ano magro. Não estou sugerindo que nos prive de ter apetite, e sim que seja magro no sentido de leve, diáfano, onírico. Que seja um ano para se passar de pés descalços, espírito aberto, consciência limpa e sorriso licencioso. Não pese.

Inevitável que algumas más notícias virão. Tsunamis acontecem, tragédias sísmicas, epidemias, e algum maluco há de provocar um crime chocante. Nem ouso pedir que você evite essas calamidades, mas que elas sejam raras, raríssimas, e que não atinjam nosso epicentro emocional. Mantenha os horrores afastados. Por perto, apenas os amigos de boa conversa, os filmes que entrarão para a nossa lista dos 10 mais, os dias de praia sem uma única nuvem no céu e encontros amorosos, gloriosos e numerosos – de preferência com a mesma pessoa, aquela que nos fará acreditar em cartomantes: as cartomantes sempre dizem que o amor está para chegar.

Caso já tenha chegado, que não se vá.

Sendo um ano de eleição, nos inspire a votar com discernimento, sem nos deixar levar por promessas requentadas e sensacionalistas: que a gente saiba perceber quem são os homens e as mulheres que podem fazer diferença.

Na categoria das coisas não tão sérias, mas igualmente bem-vindas: 2016, entre para a história como o ano em que pichadores e depredadores do patrimônio público se darão conta do quanto são tolos, em que os prazos de validade dos produtos serão impressos num tamanho maior, em que os vinhos terão seus preços reduzidos nos restaurantes e em que a gente aprenderá a responder “não” quando alguém perguntar “posso ser sincero?”. Ensine a gente a dizer “não”, 2016. Para sobrar mais tempo pro sim.

E ensine também as pessoas a serem mais gentis no trânsito e fora dele, a não tomarem tanto medicamento por conta própria, a respeitarem seu corpo e sua mente, a não insistirem na infantilização de seus atos e a não se sentirem insultadas pela felicidade dos outros. Se essa última solicitação for utópica demais, então que todo mundo aprenda a viver bem, a seu modo, que assim ninguém contaminará a humanidade com seu mau humor.

2016, seja um ano poético, vibrante, desencanado, musical, livre de vaidades, menos tecnológico, mais humano, solidário, natural, energético, romântico. Um ano hippie, ao melhor estilo paz e amor. Andamos saudosos.

Mas não tão bicho-grilo que nos faça esquecer que a prática de exercícios físicos é de primeira necessidade, que viajar é a melhor terapia que existe e que flores frescas em casa são um luxo que todos deveriam se permitir. Então, 2016, em todos os sentidos (econômicos, sociais e afetivos): não seja sovina. Crise não é mais desculpa.

* texto escrito em 2010

experimenta não dar, pra ver... hehehehe


E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. 

João 1:14

domingo, 20 de dezembro de 2015


querido papai Noel,


eu até me comportei bem esse ano, mas pode dar o carrinho e a boneca pra outra pessoa. Fiz uma limpa nos meus brinquedos depois que a mamãe pediu e achei muita coisa velha.
Acredita que tinha carrinho que achava que tinha perdido e encontrei jogado no fundo de caixa!?

É, Bom Velhinho, isso porque você não viu o guarda-roupa da minha irmã. Ela tinha roupa de quando ainda usava fralda! Logo a gente que já está com um pé na primeira série! Vi o papai carregando duas sacolas bem grandes e entregar num caminhão.
Dizem que é o Caminhão dos Sorrisos. Espero que tudo que demos hoje realmente dê sorrisos a outras pessoas.

Eu queria te ver, Papai Noel, mas sei que o senhor é muito tímido. Sei, também, que andam me falando sobre a sua possível não existência, mas acho que essa coisa de acreditar está em baixa. Tem gente que não acredita em você, na verdade das pessoas e até no amor.

Sabe, sei que o Mundo não vai se tornar um lugar melhor do dia pra noite. Vejo tanta gente passando dificuldade na rua que me assusto. Acho que preciso, então, ser grato. A Vovó bem me disse hoje que o verdadeiro espírito (seja lá o que isso for) do Natal é agradecer pelo ano, pela vida e aproveitar a família reunida.
E os agregados também, brinca o tio Dudu.

Sei que não vou conseguir desejar Feliz Natal a todos que queria, mas, se o senhor não estiver com muita pressa, pode dizer a cada um dos meus amigos que eu desejei um Natal bem bom?

Ah, e Feliz Natal para o Senhor também.


Por isso o Senhor mesmo dará a vocês um sinal: a virgem ficará grávida, dará à luz um filho e o chamará Emanuel.

Isaías 7:14

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

até quando?


Até quando, Catilina...
Abusarás da nossa paciência?
Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?
A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?
Nem a guarda do Palatino,
nem a ronda noturna da cidade,
nem o temor do povo,
nem a afluência de todos os homens de bem,
nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado,
nem a expressão do voto destas pessoas,
nada disto conseguiu perturbar-te?
Não te dás conta que os teus planos foram descobertos?
Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem?
Quem, dentre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente?
Onde estiveste?
Com quem te encontraste?
Que decisão tomaste?
Oh tempos, oh costumes!

(“Catilinárias” - Marcus Tullius Cicero)


Quo usque tandem abutere, Cunha, patientia nostra?

“As cigarras passam a maior parte de suas vidas debaixo da terra, alimentando- se das raízes das árvores. 
Disseram-me que há certas espécies de cigarras que chegam a viver 15 anos debaixo da terra. 
De repente, alguma coisa acontece, e surge dentro delas um impulso irresistível para mudar. Saem então dos seus túneis, sobem pelos troncos das árvores, arrebentam suas cascas, subterrâneas gaiolas, e se transformam em seres alados. 
Se elas não abandonarem suas cascas não se transformarão em seres alados. Continuarão a ser seres subterrâneos. 

Nossos demônios são nossas cascas. Abandonar as cascas é esquecer a forma subterrânea de ser. 
A grande transformação das cigarras acontece quando a morte se aproxima. 
É a proximidade da morte que lhes diz: ‘Chegou a hora de voar, cantar e fazer amor, para continuar a viver…’ 

Eu acho que a morte é o único poder capaz de nos trazer vida nova. A consciência da morte nos força a sair de nossas sepulturas, nos dá asas, nos convida a voar e a amar.”


Para termos um feliz ano novo temos que estar dispostos a “matar” o que fomos e nascer de novo em cada momento da vida. 
Está aí um grande desafio. Dos maiores, senão o maior de todos!

um novo olhar sobre as palavras


Isso é bom, isso é ruim, isso é certo, isso é errado, isso é assim e não assado. Costumamos catalogar e etiquetar tudo, inclusive palavras e expressões. No entanto, algumas foram condenadas a ter um sentido negativo quando poderiam ser avaliadas por outro prisma – caso de “válvula de escape”, por exemplo. Bastou dizer que fulano está recorrendo a uma válvula de escape para que pensemos que a criatura não é de confiança, que é alguém que não enfrenta a realidade. Puro pensamento condicionado. Ora, qual o problema de se ter uma válvula de escape?
Uma viagem solitária, um amor escondido, um vício secreto, um pseudônimo, manias ocultas: ninguém precisa ser tão corretinho e tão transparente o tempo todo. Dar uma fugida para um mundo particular, só seu, não consta da lista de pecados mortais – supondo que você ainda acredite em pecados.

Frivolidade. Outra palavra para a qual os narizes se torcem. A ordem é ser sério e profundo para garantir o respeito alheio. Concordo, mas sem fanatismo. Sou séria, profunda, respeitável e também leve, superficial, brincalhona, tudo isso atendendo pelo mesmo nome e sobrenome. Virar refém da aura de intelectual que minha profissão impõe? Nunca pensei. Escritores também têm o direito de ser divertir, assim como juízes e padres. Frívolo, mesmo, é aquele que engessa a própria vida.

Escândalo. Precisa mesmo ser uma palavra que apavore os cidadãos de bom comportamento? É razoável que não queiramos mais escândalos na política, mas um decote escandaloso, um beijo escandaloso, uma performance escandalosa podem provocar sorrisos, desejos, ideias e uma empolgação a que estamos cada vez menos acostumados. É importante sermos provocados. O escândalo nos salva da anestesia geral e da apatia que a constante repetição dos dias provoca.

Desespero é outro exemplo. A tendência universal é manter os nervos controlados. O mundo está sob efeito de ansiolíticos. O faniquito já não é considerado uma reação espontânea, e sim um delito. Entendo, também não dou audiência para chiliques, mas a palavra desespero é de outra categoria e merece toda minha atenção. Um poema desesperado, uma súplica desesperada, uma expressão desesperada de algum sentimento: como não se comover? Pollock pintava com desespero, Janis Joplin cantava com desespero, ou assim parecia. Não se pode negligenciar aquilo que acorda a humanidade de sua sobriedade bocejante. Banir o desespero é banir a paixão.

Palavras têm vida e não se deve temê-las. Mesmo as que carregam uma herança maldita podem ser revestidas por uma visão mais humorada e criativa em relação ao seu uso. Andrógino, ácido, infernal, rebelde, subversivo, titânico, incendiário: onde foram parar os adjetivos que tornavam a vida mais excitante?


Ahhh, mas tem a canela, que é termogênica!!!


Então, disse Maria: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra...”

Lucas 1:38

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

pequenos céus somados


O pássaro que voará mais alto é o pássaro que nunca desistiu de puxar a coleira.

Será a ave amarrada pelas patas que não se conformou com o confinamento da gaiola e que toda manhã esticará seu corpo até o máximo.

Até o máximo daquele dia.

Não pode se soltar, mas nem por isso se sentirá preso. Não é livre, mas nem por isso deixará de admirar a possibilidade de flanar.

Se não tem condições de brincar com as árvores, brincará com sua sombra.

Se não tem como brigar pela comida, valorizará o alpiste que recebe em sua tigela quebrando minuciosamente cada grão.

Se não tem vento para expor sua plumagem, baterá as asas para fazer vento em si.

Se não tem o sol na cara, levantará as unhas pelas barras das grades por um punhado de luz.

O pássaro que voará mais alto sempre é o que – enquanto não pode voar – canta, é o que – enquanto não pode subir – caminha, é o que – enquanto não pode planar – afia o bico.

Não reclamará da falta de opção, usará as opções que tem.

Não pode voar, mas treina seu voo esticando a coleira até o máximo. Até o máximo daquele dia.

Puxará a corrente ao limite. Somará pequenos céus com os centímetros de sua corrente.

Tudo o que voará depois será resultado de tudo o que andou em seus limites. Cinco passos repetidos à exaustão darão o condicionamento de quilômetros. Não estará destreinado para as alturas, já que exercitou seu fôlego no chão.

Não desistiu de avançar mesmo com a ausência de espaço. Não se restringiu a uma aparência apagada. Não se encabulou pelo sofrimento.

Quando não havia chance de sair dali, aproveitou a solidão para se conhecer.

Quando não havia com quem conversar, aproveitou o silêncio para afinamentos.

Deveria ser triste pelas suas circunstâncias, porém é feliz pelo temperamento.

Deveria ser melancólico pelo destino, porém é confiante no acaso.

O pássaro que desaparecerá um dia no alto das nuvens, como se fosse mais uma nuvem, foi o pássaro que jamais parou de tentar.

Só voará alto quem carregou suas penas.

Só voará alto aquele que criou seu lugar um pouco por vez, aquele que formou sua virtude em segredo, aquele que não culpou a vida para se manter parado.

Liberdade vem com o tempo, liberdade vem devagar, liberdade é esforço. Não ser do tamanho de nossa prisão, mas ser do tamanho de nossa vontade.




Se você quer ser feliz, mande embora seu “severo juiz”, ouça seu coração. 
Valorize o que sente e seja uma pessoa verdadeira. 
Assuma seus sentimentos. 
Só diga sim depois de sentir o que realmente quer. Não tenha receio de dizer não. 
Deixe de contar seus problemas aos outros e perguntar o que deve fazer. 
Confie em seus critérios. 
Você pode! Experimente.

___ Zíbia Gasparetto


“A menina que fui
volta sempre em dezembro...”


Ele começou a ensiná-los, dizendo: “Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus.” 

(Mateus 5:2-3)

As “bem-aventuranças modernas seriam mais ou menos assim:
Bem-aventurados os bonitos, porque eles serão admirados.
Bem-aventurados os ricos, porque eles terão tudo.
Bem-aventurados os populares, porque eles serão amados.
Bem-aventurados os famosos, porque eles serão seguidos.