Isso é bom, isso é
ruim, isso é certo, isso é errado, isso é assim e não assado. Costumamos
catalogar e etiquetar tudo, inclusive palavras e expressões. No entanto,
algumas foram condenadas a ter um sentido negativo quando poderiam ser
avaliadas por outro prisma – caso de “válvula
de escape”, por exemplo. Bastou dizer que fulano está recorrendo a uma
válvula de escape para que pensemos que a criatura não é de confiança, que é
alguém que não enfrenta a realidade. Puro pensamento condicionado. Ora, qual o
problema de se ter uma válvula de escape?
Uma viagem
solitária, um amor escondido, um vício secreto, um pseudônimo, manias ocultas:
ninguém precisa ser tão corretinho e tão transparente o tempo todo. Dar uma
fugida para um mundo particular, só seu, não consta da lista de pecados mortais
– supondo que você ainda acredite em pecados.
Frivolidade. Outra palavra para a qual os narizes se torcem. A ordem é ser sério e
profundo para garantir o respeito alheio. Concordo, mas sem fanatismo. Sou
séria, profunda, respeitável e também leve, superficial, brincalhona, tudo isso
atendendo pelo mesmo nome e sobrenome. Virar refém da aura de intelectual que
minha profissão impõe? Nunca pensei. Escritores também têm o direito de ser
divertir, assim como juízes e padres. Frívolo, mesmo, é aquele que engessa a
própria vida.
Escândalo. Precisa mesmo ser uma palavra que apavore os cidadãos de bom
comportamento? É razoável que não queiramos mais escândalos na política, mas um
decote escandaloso, um beijo escandaloso, uma performance escandalosa podem
provocar sorrisos, desejos, ideias e uma empolgação a que estamos cada vez
menos acostumados. É importante sermos provocados. O escândalo nos salva da
anestesia geral e da apatia que a constante repetição dos dias provoca.
Desespero é outro exemplo. A tendência universal é manter os nervos controlados. O mundo está sob efeito de ansiolíticos. O faniquito já não é considerado uma reação espontânea, e sim um delito. Entendo, também não dou audiência para chiliques, mas a palavra desespero é de outra categoria e merece toda minha atenção. Um poema desesperado, uma súplica desesperada, uma expressão desesperada de algum sentimento: como não se comover? Pollock pintava com desespero, Janis Joplin cantava com desespero, ou assim parecia. Não se pode negligenciar aquilo que acorda a humanidade de sua sobriedade bocejante. Banir o desespero é banir a paixão.
Desespero é outro exemplo. A tendência universal é manter os nervos controlados. O mundo está sob efeito de ansiolíticos. O faniquito já não é considerado uma reação espontânea, e sim um delito. Entendo, também não dou audiência para chiliques, mas a palavra desespero é de outra categoria e merece toda minha atenção. Um poema desesperado, uma súplica desesperada, uma expressão desesperada de algum sentimento: como não se comover? Pollock pintava com desespero, Janis Joplin cantava com desespero, ou assim parecia. Não se pode negligenciar aquilo que acorda a humanidade de sua sobriedade bocejante. Banir o desespero é banir a paixão.
Palavras têm vida
e não se deve temê-las. Mesmo as que carregam uma herança maldita podem ser
revestidas por uma visão mais humorada e criativa em relação ao seu uso.
Andrógino, ácido, infernal, rebelde, subversivo, titânico, incendiário: onde
foram parar os adjetivos que tornavam a vida mais excitante?