"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 29 de março de 2018

feliz Páscoa!


Páscoa é viver em constante libertação, é crer na vida que vence a morte. 
Páscoa é renascimento, é recomeço, é uma nova chance pra gente melhorar as coisas que não gostamos em nós. 
Páscoa é tempo de celebrar a vida e renovar o espírito.

um ovo de Páscoa


O corpo se alimenta de comida. A alma se alimenta de palavras. 
Quem disse isso foi Jesus, no seu conhecido debate com o Tentador. 
A comida engorda e faz o corpo pesar. E o peso o faz afundar. 
As palavras, ao contrário tornam leve a alma e a fazem voar. 

Eu estava chegando ao meu escritório. 
Ele, maltrapilho, se aproximou e disse: “O senhor tem uma feliz Páscoa para mim?” Respondi: “Tenho. Mas eu gostaria que você respondesse uma pergunta: Páscoa, o que é?”
Ele me olhou com um sorriso e disse: “Páscoa é o dia em que a gente come chocolate...” 

Essa era a feliz Páscoa que ele me pedia: chocolate. 
Não foi a resposta de um ignorante; foi a resposta simples, imediata e universal que as nossas crianças e os seus pais dariam. 

Páscoa não é um dia de ouvir estórias. É um dia de comer chocolate (ou bacalhau... Por que bacalhau?). 

As histórias não são mais contadas porque as esquecemos. Somos um povo que perdeu a memória. E porque perdemos a memória perdemos também a experiência de transcendência. Você entenderá o que é transcendência olhando para um pássaro em vôo. 

Fernando Pessoa olhou, sentiu e escreveu: 
“Ah, quanta vez, na hora suave em que me esqueço, vejo passar um vôo de ave e me entristeço! Porque é ligeiro, leve, certo no ar do amavio? Porque vai sob a céu aberto sem um desvio? Porque ter asas simboliza a liberdade que a vida nega e a alma precisa? Sei que me invade um horror de me ter que cobre como uma cheia meu coração, e entorna sobre minh’alma alheia um desejo, não de ser ave, mas de poder ter não sei que do vôo suave dentro do meu ser.” 

Vou repetir uma história que já contei. Alguns acham que um escritor não deveria repetir coisas que já escreveu. Mas tenho a alma de músico e a minha alma deseja sempre a repetição das melodias que já ouvi. 
Os jornais e suas notícias não suportam a repetição. Mas a beleza pede para ser repetida.

A estória é esta: “Era uma vez um bando de patos selvagens que voavam nas alturas. Lá em cima era o vento, o frio, os horizontes sem fim, as madrugadas e os poentes coloridos. Tudo tão bonito! Mas era uma beleza que doía. O cansaço do bater das asas, o não ter casa fixa, o estar sempre voando e as espingardas dos caçadores... 
Foi então que um dos patos selvagens, olhando lá das alturas para a terra aqui em baixo viu um bando de patos domésticos. 
Eram muitos. Estavam tranquilamente deitados à sombra de uma árvore. Não precisavam voar. Não havia caçadores. 
Não precisavam buscar o que comer: o seu dono lhes dava milho diariamente. E o pato selvagem invejou os patos domésticos e resolveu juntar-se a eles. Disse adeus aos seus companheiros, baixou seu vôo e passou a viver a vida mansa que pedira a Deus. 
E assim viveu por muitos anos. Até que... Até que, num ano como os outros chegou de novo o tempo da migração dos patos. Eles passavam nas alturas, no fundo do azul do céu, grasnando, um grupo após o outro. 
Aquelas visões dos patos em vôo, as memórias de alturas, aqueles grasnados de outros tempos começaram a mexer com algum lugar esquecido dentro do pato domesticado, o lugar chamado saudade. Uma nostalgia pela vida selvagem, pelas belezas que só se vêem nas alturas, pelo fascínio do perigo... Até que não foi mais possível agüentar a saudade. Resolveu voltar a ser o pato selvagem que fora. 
Abriu suas asas, bateu-as para voar, como outrora... mas não voou. 
Caiu. Esborrachou-se no chão. Estava gordo demais. 
E assim passou o resto de sua vida: em segurança, gordo de barriga cheia, protegido pelas cercas e triste por não poder voar... 
Um dia fora pato selvagem. Agora era pato doméstico.” 

Talvez essa pudesse ser uma história a ser contada na manhã de hoje, na hora do café. Mas sei que será difícil. Há tantos ovos de páscoa a serem trocados, há tantos ovos de páscoa a serem descobertos pelas crianças! 
O fascínio do chocolate é maior que o fascínio da estória. 
E assim a alma fica com fome... 

A Páscoa é o capítulo final da história de um homem que que jamais se deixou intimidar, nunca se deixou domesticar e morreu selvagem. 
Por fidelidade à sua verdade fez-se uma contradição em cada encruzilhada e um escândalo em cada esquina! Por isso o mataram. 

Os gordos patos domésticos o mataram. 
Não puderam suportar a sua leveza e a sua liberdade. 

Há muito os estudiosos da alma do nosso mundo notaram que ela estava passando por um processo a que deram o nome de “desencantamento do mundo.” 

Para explicar o que isso significa vou me valer de uma outra estória a que volto sempre... 

O Pequeno Príncipe se encontrou com a raposa. 
A raposa lhe pediu: “Me cative, vá...” 
“O que é cativar?”, perguntou o princepezinho. 
“É assim: eu me assento lá longe e você se assenta aqui. Aí nós olhamos um para o outro. No dia seguinte nos assentamos mais perto, depois mais perto, até estarmos juntinhos...” O Pequeno Príncipe cativou a raposa. 
Mas chegou o dia da partida e a raposa disse: “Vou chorar...” 
O Pequeno Príncipe retrucou: “A culpa é sua. Foi você que quis que eu a cativasse. Agora você vai chorar. O que é que você ganhou com isso?” 
“Ganhei os campos de trigo... Você sabe, sou uma raposa, como galinhas, os campos de trigo nada significam para mim. Mas agora, porque você me cativou, ao olhar para os campos dourados de trigo pensarei nos seus cabelos louros e ficarei feliz...” 

Os campos de trigo deixaram de ser simples campos de trigo. Tornaram-se o lugar de uma ausência. É isso que é encantamento. E porque os campos de trigo ficaram encantados, a raposa ganhou asas na imaginação, que a faziam voar para o Pequeno Príncipe, ausente. 
O trigo deixou de ser trigo. Ficou transparente. Transformou-se em metáfora poética. 

Desencantar é fazer com que o trigo seja apenas trigo, coisa para se fazer pão para o corpo! 
Desencantar é tirar a poesia do mundo... 

As histórias que se contavam, e eram tantas, incluindo as histórias da Páscoa e do Natal, cobriam o mundo inteiro com as nostalgias dos homens e das mulheres. 

A raposa via o Pequeno Príncipe ao ver os campos de trigo. 
Que coisas as nossas crianças vêem ao comer um ovo de chocolate? 
Mundo bobo. Do tamanho de um ovo de chocolate.




Então Jesus afirmou:
— Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim nunca morrerá. Você acredita nisso?

- João 11:25-26

terça-feira, 27 de março de 2018



Eu gosto de fogo.
Fogo nas palavras,
Nas atitudes,
Na alma,
No rabo.

Gelo só presta
Na bebida.

|Arthur Diogo


mulher pimentão



Existem pessoas que ficam vermelhas quando passam por situações constrangedoras, quando estão inseguras, quando ficam sem graça. 
Sempre tem um que diz "ih, ficou vermelha!"
Aí o que acontece? O vermelhão triplica, as orelhas ardem e a gente se sente um verdadeiro pimentão.

Não importa se a pessoa é branquinha, mais bronzeada, morena ou loira, alguns simplesmente ficam vermelhos mesmo. Uns acham uma graça, que bonitinho! Eu acho um saco. Péssimo!

Sou clarinha e fico vermelha super fácil. Cantada? Vermelha. Envergonhada? Vermelha. Saia-justa? Vermelha. Braba? Vermelha. Falando em público? Vermelha. Recebendo elogios? Vermelha. Apresentando um trabalho? Vermelha. Sol demais? Vermelha. Sou a verdadeira mulher-pimentão. Malhação, suor e o rosto? Vermelhinho, bochechas rosadas. Perto da lareira? Nossa, muito vermelha! Vinho? Vermelha. A pior combinação é vinho e lareira. Vermelhão total. Até o pescoço chega a ficar mega-vermelho. Banho quente demais? Já sabem a resposta. Frio demais, rinite, sinusite...deixam meu nariz de que cor? É algo involuntário o efeito-pimentão. Garanto que quem fica não gosta. É desconfortável, tu sentes que as pessoas estão vendo e aí a coisa duplica.

O pior é que sempre tem um mané pra fazer comentário: "Que linda, vermelhinha!". 
Por favor, tô vermelha? Ignora. Geralmente quando ficamos vermelhos sentimos bochechas e orelhas quentes, fervendo, pelando. A gente sabe a cor que está. Ninguém precisa dizer nada, só piora a situação.
Fazer o que? Nada. Se conformar. Não inventaram a fórmula do não-fique-vermelho. O pior de tudo é que pra quem é clarinho (cabelos e pele) o troço acentua. Dura segundos, mas parece eternidade.

Vou ter que me contentar (e me conformar) em ser a eterna mulher-pimentão.



De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam.

Hebreus 11:6 / NTLH

segunda-feira, 26 de março de 2018


Da vida o inevitável. Morrer.

adeus, Cássia!

se o Brasil fosse uma novela



Luís Pereira da Silva veio de uma família humilde e trabalhadora, mas com muita insistência se tornou um dos homens mais poderosos de Kubanacan:
- “Eu sou uma pessoa honesta, companheira, legal e amada pelo povo kubanacano. Porque é uma pessoa ruim ou duas para 132 milhão de kubanacanos que me ama.”

Para ajudar a manter o império,  ele convocou Dilma Esteves Batista, sua grande amiga do peito:
- “No que se refere a esta chance que está me dando, pode ficar tranquilo, vou lhe mostrar o quanto sou competenta. Eu lhe prometo, caro amigo, que quando chegarmos na meta, eu vou dobrar meta”. 

- “Eu sei querida!”.

Mas o que esta mulher nem imaginava é que, após sofrer um grave acidente de bicicleta, seria traída pelo ambicioso Michel Mendes, um senhor de idade que chama a atenção por onde passa por ser casado com a jovem Marcela, uma moça bela, recatada e do lar, mas que guarda um segredo que lhe deixou muda.

Já bem diferente dela, é Ticiana Gusmão, uma madame que adora ostentar:
- “Eu sou Ricaaa!”. 

Ela é casada com o multimilionário Joesley Aurélio Brandão, um trambiqueiro de colarinho branco que faz jogo duplo na empresa que sustenta Kubanakan, antes liderada por Luís e Dilma e agora nas mãos de Michel.

Em meio a guerra travada entre os acionistas, encontram-se os trabalhadores, gente na sua maioria de bom coração, às vezes engraçados e outras vezes cansados de tanta exploração. 
Alguns defendem que o poder deve voltar às mãos da antiga presidência, como é o caso de Titi, uma feminista que sem querer foi conquistada por Danilo, rapaz de origem humilde que pensa completamente diferente da amada. 

Será que esse amor superará os obstáculos?

Para esquentar ainda mais os ânimos, chega Sérgio Santeiro, um jovem juiz que está disposto a colocar atrás das grades todos os criminosos, mas suas investigações não são bem vistas por todos, principalmente por Luís:
- “Ele num é heroi de porcaria nenhuma, ele é um muleque que tá achano que vai me prender só por causa de um pawer point véio. Juizinho topetudo!”. 

- “Eu não tenho nada contra ninguém, eu só quero que justiça seja feita”. 

Com quem está a verdade? E quem deve vencer essa guerra?

Bem-vindo a um país sem regras. 
Vilões: “Eu vou explodir tudo!”. 
Merchandising social: “Cadê meu pó? Cadê meu pó? Eu quero ficar alucicrazy”. “Heleninho, por favor, você precisa parar com este vício”.
 E um mistério a ser desvendado: “Quem matou Teori Pimentel Amaral?”.

__Uziel Moreira
“Deus nos acuda”, de José Lewandowski Carneiro e Gilmar de Abreu.



Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos. 

Tiago 2:10 / NTLH

domingo, 25 de março de 2018

Via Crucis


Maria das Dores se assustou. Mas se assustou de fato. Começou pela menstruação que não veio. Isso a surpreendeu porque ela era muito regular. Passaram-se mais de dois meses e nada. Foi a uma ginecologista. Esta diagnosticou uma evidente gravidez.

— Não pode ser! gritou Maria das Dores.
— Por quê? a senhora não é casada?
— Sou, mas sou virgem, meu marido nunca me tocou. Primeiro porque ele é homem paciente, segundo porque já é meio impotente.

A ginecologista tentou argumentar:
— Quem sabe se a senhora em alguma noite...
— Nunca! mas nunca mesmo!
— Então, concluiu a ginecologista, não sei como explicar. A senhora já está no fim do terceiro mês.

Maria das Dores saiu do consultório toda tonta. Teve que parar num restaurante e tomar um café. Para conseguir entender.
O que é que estava lhe estava acontecendo? Grande angústia tomou-a. Mas saiu do restaurante mais calma.
Na rua, de volta para casa, comprou um casaquinho para o bebê. Azul, pois tinha certeza que seria menino. Que nome lhe dará? Só podia lhe dar um nome: Jesus.

Em casa, encontrou o marido lendo jornal e de chinelos. Contou-lhe o que acontecia. O homem se assustou:
— Então eu sou São José?
— É!, foi a resposta lacônica.

Caíram ambos em grande meditação.

Maria das Dores mandou a empregada comprar as vitaminas que a ginecologista receitara. Eram para o benefício de seu filho. Filho divino. Ela fora escolhida por Deus para dar ao mundo o novo Messias.

Comprou o berço azul. Começou a tricotar casaquinhos e a fazer fraldas macias.
Enquanto isso a barriga crescia. O feto era dinâmico: dava-lhe violentos pontapés. Às vezes ela chamava São José para pôr a mão na sua barriga e sentir o filho vivendo com força. São José então ficava com os olhos molhados de lágrimas. Tratava-se de um Jesus vigoroso. Ela se sentia toda iluminada. 

A uma amiga mais íntima, Maria das Dores contou a história abismante. A amiga também se assustou:
— Maria das Dores, mas que destino privilegiado você tem!
— Privilegiado, sim, suspirou Maria das Dores. Mas que posso fazer para que meu filho não siga a via crucis?
— Reze, aconselhou a amiga, reze muito.

E Maria das Dores começou a acreditar em milagres. Uma vez julgou ver de pé ao seu lado a Virgem Maria que lhe sorria. Outra vez ela mesma fez o milagre: o marido estava com uma ferida aberta na perna, Maria das Dores beijou a ferida. No dia seguinte nem marca havia.
Fazia frio, era mês de Julho. Em Outubro nasceria a criança.
Mas onde encontrar um estábulo? Só se fosse para uma fazenda do interior de Minas Gerais. Então resolveu ir a fazenda da tia Mininha. 

O que a preocupava é que a criança não nasceria em vinte e cinco de Dezembro. Ia à igreja todos os dias e, mesmo barriguda, ficava horas ajoelhada. Como madrinha do filho escolhera a Virgem Maria. E para padrinho o Cristo. E assim foi se passando o tempo. Maria das Dores engordara brutalmente e tinha desejos estranhos. Como o de comer uvas geladas. 

São José foi com ela para a fazenda. E lá fazia seus trabalhos de marcenaria. 
Um dia Maria das Dores empanturrou-se demais – vomitou muito e chorou. E pensou: começou a via crucis do meu sagrado filho. Mas parecia-lhe que, se desse a criança o nome de Jesus, ele seria, quando homem, crucificado. Era melhor dar-lhe o nome de Emmanuel. Nome simples. Nome bom.

Esperava Emmanuel sentada debaixo de uma jabuticabeira. E pensava:
- Quando chegar a hora, não vou gritar, vou só dizer: ai Jesus!
E comia jabuticabas. Empanturrava-se a mãe de Jesus.

A tia — a par de tudo — preparava o quarto com cortinas azuis. O estábulo estava ali com seu cheiro bom de estrume e suas vacas. De noite, Maria das Dores olhava para o céu estrelado a procura da estrela-guia. Quem seriam os três reis magos? quem lhe traria Incenso e mirra? 

Dava longos passeios porque a médica lhe recomendara caminhar muito. São José deixara crescer a barba grisalha e os longos cabelos chegavam-lhe aos ombros. Era difícil esperar. O tempo não passava. A tia fazia-lhes, para o café da manhã, brevidades que se desmanchavam na boca. E o frio deixava-lhes as mãos vermelhas e duras.
De noite acendiam a lareira e ficavam sentados ali a se esquentarem. São José arranjava para si um cajado. E, como não mudava de roupa, tinha um cheiro sufocante. Sua túnica era de estopa. Ele tomava vinho junto da lareira. Maria das Dores tomava grosso leite branco, com o terço na mão.
De manhã bem cedo ia espiar as vacas no estábulo. As vacas mugiam. Maria das Dores sorria-lhes. Todos humildes, vacas e mulher. Maria das Dores a ponto de chorar. Ajeitava as palhas no chão, preparando lugar onde se deitar quando chegasse a hora. A hora da iluminação.

São José, com o seu cajado, ia meditar na montanha. A tia preparava lombinho de porco e todos comiam danadamente. E a criança nada de nascer.
Até que numa noite, as três horas da madrugada, Maria das Dores sentiu a primeira dor. Acendeu a lamparina, acordou São José, acordou a tia. Vestiram-se. E com um archote iluminando-lhes o caminho, dirigiram-se através das árvores para o estábulo. Uma grossa estrela faiscava no céu negro.
As vacas, acordadas, ficaram inquietas, começaram a mugir. Daí a pouco nova dor. Maria das Dores mordeu a própria mão para não gritar. E não amanhecia.
São José tremia de frio. Maria das Dores, deitada na palha, um cobertor, aguardava.

Então veio urna dor forte demais. Ai Jesus, gemeu Maria das Dores. 
Ai Jesus, pareciam mugir as vacas.
As estrelas no céu.
Então aconteceu.
Nasceu Emmanuel.
E o estábulo pareceu iluminar-se todo.
Era um forte e belo menino que deu um berro na madrugada.
São José cortou o cordão umbilical. E a mãe sorria. A tia chorava.
Não se sabe se essa criança teve que passar pela via crucis. Todos passam.




Não se enganem: ninguém zomba de Deus. O que uma pessoa plantar, é isso mesmo que colherá.

Gálatas 6:7 / NTLH

sexta-feira, 23 de março de 2018

hoje é dia de comemoração por aqui



Faz oito anos que peguei textos arquivados, de autores que gosto, e resolvi fazer um blog.
Queria que se chamasse “MEGnífica”, mas o blog não era pra falar de mim... hehehe! 
Então, lembrando de uma música do EngHaw (Somos quem podemos ser), pensei no nome “Nuvens de algodão” e, assim, iniciei o blog, com um post da Carlina Salcides.

De lá pra cá, muita coisa aconteceu. 
“Garrei” amor por isto aqui e, no início, postava de forma rotineira. Hoje, menos! Mas, sempre que posso, posto alguma coisa.
 O “Nuvens” tem um efeito terapêutico sobre mim!

Então, hoje é dia de comemorar. Não com o famoso “o aniversário é do blog, mas quem ganha o presente é você!”
Comemoro agradecendo a você, que me acompanha há oito anos ou há apenas oito segundos. Obrigada pelas visitas!

Palmas e parabéns para o “NuvensdeAlgodão”!
Parabéns pra você.  Para a Martha Medeiros, Lya Luft, Fabrício Carpinejar, Marla de Queiroz e todos que estão sempre presentes nos posts. 
Enfim, parabéns para a vida que merece ser comemorada todo dia. Apesar de tudo e principalmente por tudo.

Parabéns pra nós!                               


o caráter que se revela na confissão



Contar um segredo é a triagem do caráter. Ou o segredo liberta ou aprisiona. É confessando algo de que nos envergonhamos que saberemos se a pessoa é a nossa amiga ou não. Não tem teste tão veemente, com efeitos mais imediatos.

O confessionário prova se o outro é leal. Expor uma lembrança triste a quem não é de confiança logo vira chantagem, logo vira moeda de troca, logo vira favor. Pode não espalhar para os demais, mas usará a informação para obter vantagens e transformar a culpa em superioridade.

Aquele que não é amigo se aproveita da fragilidade para garantir benefícios. Fortalece a vítima para desmerecê-la. Levanta para cima, diz que o segredo é nada, dissuade o medo, para rir depois da queda.

Não é um amigo, porém um inimigo em potencial, um adversário disfarçado de bons modos. No fundo, não tem escrúpulos. Aproxima-se para impor os seus interesses. Está jogando sujo para ganhar recompensas fáceis.

Ele se faz de compreensivo e compassivo com o objetivo de manipular a relação. Há como prever o Judas antes da confissão. Pois Judas trai com um beijo. Será alguém que se mostra muito carinhoso de uma hora para outra. Tem pressa de saber tudo a seu respeito, sem nenhuma razão aparente. Aparece forçando a intimidade, com convites generosos e apoios nababescos.

Cuide com o que fala. Porque aquilo que falar mostrará a natureza de suas companhias.
A decepção virá rapidamente na forma de um insulto e de uma ironia. No primeiro desentendimento, o túmulo de cimento das palavras não resiste às marteladas da profanação. A traição será sempre a violação de uma confidência. Os suspeitos não mudam com o tempo. É um colega de trabalho concorrendo com você. É um antigo afeto querendo vingança. É um familiar ressentido com o passado.

Amigo que é amigo escuta e esquece, e jamais volta para o assunto. Ouve e apaga. Escreve na água, para a onda levar. Escreve na areia, para o vento cobrir. Cumplicidade é como bebedeira, nunca lembrar o que aconteceu durante a vulnerabilidade da conversa.

Amigo que é amigo mantém a decência de uma gaveta, de um cofre, de uma chave. Demonstra a sobriedade educada e gentil de ajudar e desaparecer. Já cumpriu o papel de dividir as dores e frustrações. Não alimenta a ambição de ser maior do que o silêncio.



Uma coisa peço ao SENHOR,
e a buscarei:
que eu possa morar na Casa do SENHOR
todos os dias da minha vida,
para contemplar a beleza do SENHOR
e meditar no seu templo.

Salmos 27:4 / NTLH

quinta-feira, 22 de março de 2018

eu e ela



Um dia ela chegou sem pedir licença. Não era noite nem dia. Era só um tempo comum. E ela  entrou porta adentro em minha vida. Não me perguntou se eu queria, não me apresentou as estatísticas, não fez sequer uma introdução. Simplesmente chegou.
E eu, num misto de pavor e total despreparo, fui arrebatada ao chão em pleno vôo. Mal sabia eu, naquele momento, que ela não tinha a menor pressa. Ela era a minha menopausa, embora eu não quisesse que fosse, nem minha, nem de ninguém; e eu era apenas uma jovem mulher que ainda queria muito da vida. Começava ali a maior batalha de toda a minha existência.

Não eu não queria retardar o tempo. Muito menos esconder a minha idade ou ser agraciada pelos deuses com a eterna juventude. Sempre gostei de mim na atualidade e acredito que a experiência de viver é o melhor antídoto para combater a perda do frescor que, inevitavelmente se vai. Mas daí a aceitar que ela (a menopausa) e a sua capacidade de dissecar  nossas faculdades mentais me vencessem, aí era demais.

Quanto mais ela me derretia de calor, mais eu me refrescava de pessoas queridas. Quanto mais ela secava-me por dentro, mais eu busquei saídas para renovar a minha seiva. Quanto mais ela me deixava irritada, nervosa, cansada, exaurida... mais eu meditava e acreditava que poderia vencê-la.

Demorou, mas um dia ela se foi. E eu pude viver de novo, mais leve, mais livre, mais conhecedora de mim, mais autêntica, mais crente nas minhas capacidades.

Se eu voltei a ser a mesma de antes? Claro que não! A vida é roda que só gira para a frente. Hoje eu sou muito melhor!

E o mais incrível de tudo isso é que hoje eu percebo o quanto eu só consegui fazer tudo isso porque ela (a menopausa) me provocou.

E é por isso que a minha causa é falar de menopausa para todas as mulheres do mundo. É dizer a todas as mulheres que estão no meio da batalha ou prestes a enfrentá-la, que não desanimem! Não desanimem, não entreguem as suas vidas, não fechem as gavetas dos seus sonhos.

Existe vida após a menopausa. Existe amor após a menopausa. Existe alegria de viver dentro de cada uma nós, independente dos hormônios, independente do outro.

quarta-feira, 21 de março de 2018


alimentos iguais, nomes diferentes, de acordo com a região.

Outro exemplo:
Mandioquinha, batata baroa, batata salsa, cenoura branca, 
batata fiúza, entre outras. 
Os paranaenses a chamam por batata-salsa, 
os cariocas por batata-baroa, 
para os paulistas é mandioquinha e em Campo Belo, batata-fiúza.


ainda e sempre Marielle

Quando se fala em política, estamos todos de acordo em pelo menos um ponto: ninguém mais aguenta a velha guarda que governa pra si mesmo, fazendo alianças indecentes com o único propósito de se manter no poder, sem se dedicar um segundo ao bem público e social. Ratazanas carcomidas pelo tempo, sustentando sobrenomes que são sinônimos de corrupção e com credibilidade zero junto à quem interessa, o povo a quem deveriam servir. O que o brasileiro quer? Renovação na política, gente comprometida com o avanço e a ética, um olhar novo para velhos problemas. Então surge Marielle, representante dos que quase não têm voz, negros, pobres e gays. Sorriso verdadeiro no rosto, idealista, valente, jovem. E é abatida em pleno voo. Derrota nacional. Alguém que combatia a violência é calada pela violência. A democracia morre um pouco junto com ela.

Mas há uma luz. Afora os covardes que tentam responsabilizar o cadáver por sua própria morte, este crime teve um componente agregador, já que apartidário: a esquerda e a direita se indignaram juntas, houve um princípio de união contra um fato claramente repulsivo para todos. Se antes Marielle trabalhava pelo Rio, depois de morta passou a trabalhar pelo Brasil todo, e eu, que tenho parentesco com Polliana, cheguei a pensar: quem sabe?

Quem sabe a elite, essa bolha que se refestela no alto da pirâmide, se dá conta de que precisa descer até a base para trocar ideias com a maioria dos brasileiros? Quem sabe a gente começa a estudar mais sobre nossas origens e abole de vez os preconceitos? Quem sabe a gente chega mais perto deste país, não através dos noticiários, mas visitando suas entranhas?

Gerar empatia com os desfavorecidos. Repensar nossos valores. Reconsiderar nossos ultimatos: será mesmo que todo brasileiro é vagabundo ou ele não teve oportunidades? Nós, da elite, nem sonhamos o que é ser considerado bandido antes mesmo de abrir a boca. Nossas roupas, nossos carros, nossa cor, tudo nos ajudou - e que vexame: muitos se aproveitaram dessa vantagem para roubar, saquear o país. Vide Brasília, vide quem a Lava Jato prendeu. Só branco e rico.

Em vez de compartilharmos denúncias inverídicas e piadinhas cretinas, deveríamos elogiar todo projeto que seja de inclusão. Fazer um chamamento para propostas que unifiquem o país. Imagine a elite liderar a luta por igualdade. Seria uma revolução de primeira página, a utopia master, a prova de que a humanidade tem salvação. Porque se quem tem o poder intelectual e financeiro do país cruzar os braços, o Brasil morre com Marielle.

Ela, ainda ela, que ao fim e ao cabo pode representar um começo.


#pra não dizer que não falei do assunto