domingo, 27 de novembro de 2016
antecipando pedidos
não vou lhe pedir
boneca, carrinho ou game porque não sou mais criança, e também não vou pedir
paz no mundo porque já não acredito mais nisso. Mas ainda acredito no senhor, o
que é miraculoso. Então lhe peço através desta humilde cartinha: será que neste
Natal o senhor poderia harmonizar esta quantidade incrível de casais que se
amam mas não se entendem?
Não sei se o senhor é casado, solteiro ou enrolado, mas deve entender um pouco dessas coisas, suas barbas brancas não surgiram do nada. O que acontece é o seguinte: João ama Maria e Maria ama João, mas o ciúme impede que eles vivam tranquilos (Maria está sempre desconfiada e pega muito no pé dele).
Carlos ama Regina e Regina ama Carlos, mas a diferença de idade deixa ela insegura (ela é 10 anos mais velha e não percebe que ele não dá a mínima pra isso).
Suzana ama Flávio e Flávio ama Suzana, mas eles não demonstram este amor da mesma maneira (ela é mais cautelosa, nunca disse "eu te amo", e ele fica grilado).
Vivian ama Marilia e Marilia ama Vivian, mas têm problemas para assumir a relação (uma saiu do armário e a outra esconde a homossexualidade da família).
Jairo ama Luiza e Luiza ama Jairo, mas o sexo é traumático pra ele (Jairo se recusa a fazer terapia).
Selma ama Renato e Renato ama Selma, mas ela parece desinteressada (só dá atenção aos filhos).
Juca ama Andrea e Andrea ama Juca, mas eles brigam por qualquer coisinha (um é egocêntrico e o outro também, então já viu, né?)
Papai Noel, se eu fosse citar todos os exemplos, não caberia nesta minha coluna. Seria uma carta sem fim, e eu tenho outros textos pra escrever, o dever me chama. Então, meu bom velho, posso contar com o senhor? É só distribuir de casa em casa os seguintes presentes: positivismo, serenidade e consciência, para que o pessoal se lembre que desacertos fazem parte de todas as relações: ou enfrenta-se com bom humor ou então é melhor ficar sozinho. Mas taí uma coisa que ninguém acredita: que a solidão é a melhor opção.
Não sei se o senhor é casado, solteiro ou enrolado, mas deve entender um pouco dessas coisas, suas barbas brancas não surgiram do nada. O que acontece é o seguinte: João ama Maria e Maria ama João, mas o ciúme impede que eles vivam tranquilos (Maria está sempre desconfiada e pega muito no pé dele).
Carlos ama Regina e Regina ama Carlos, mas a diferença de idade deixa ela insegura (ela é 10 anos mais velha e não percebe que ele não dá a mínima pra isso).
Suzana ama Flávio e Flávio ama Suzana, mas eles não demonstram este amor da mesma maneira (ela é mais cautelosa, nunca disse "eu te amo", e ele fica grilado).
Vivian ama Marilia e Marilia ama Vivian, mas têm problemas para assumir a relação (uma saiu do armário e a outra esconde a homossexualidade da família).
Jairo ama Luiza e Luiza ama Jairo, mas o sexo é traumático pra ele (Jairo se recusa a fazer terapia).
Selma ama Renato e Renato ama Selma, mas ela parece desinteressada (só dá atenção aos filhos).
Juca ama Andrea e Andrea ama Juca, mas eles brigam por qualquer coisinha (um é egocêntrico e o outro também, então já viu, né?)
Papai Noel, se eu fosse citar todos os exemplos, não caberia nesta minha coluna. Seria uma carta sem fim, e eu tenho outros textos pra escrever, o dever me chama. Então, meu bom velho, posso contar com o senhor? É só distribuir de casa em casa os seguintes presentes: positivismo, serenidade e consciência, para que o pessoal se lembre que desacertos fazem parte de todas as relações: ou enfrenta-se com bom humor ou então é melhor ficar sozinho. Mas taí uma coisa que ninguém acredita: que a solidão é a melhor opção.
Papai Noel, vê lá. Estou confiando nas suas barbas brancas.
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Martha Medeiros
sábado, 26 de novembro de 2016
(...)
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
(...)
[No caminho com Maiakóvski, de Eduardo Alves da Costa]
inclua-se onde couber
Como se sabe, na próxima terça-feira a Câmara dos Deputados
poderá aprovar a seguinte pérola, enxertada no Projeto de Lei 4.850/2016,
contra a corrupção (eu disse contra a corrupção):
“Inclua-se onde couber: Art.
X. Não será punível nas esferas penal, civil e eleitoral, doação contabilizada,
não contabilizada ou não declarada, omitida ou ocultada de bens, valores ou
serviços, para financiamento de atividade político-partidária ou eleitoral
realizada até a data da publicação desta lei”.
O supracitado “Artigo X” não só anistiará o caixa 2 como
ajudará a encobrir uma série de maracutaias sob o tapete mágico do
“financiamento de atividade político-partidária ou eleitoral”. Será, usando as
já clássicas palavras de Romero Jucá, um grande passo para “estancar a sangria”
da Lava-Jato.
Vossas excelências querem anistia, deputados? Pois eu também
quero. Ampla, geral e irrestrita. Já que é pra esculhambar, vamos esculhambar
direito, pra todo mundo, não só pra vocês, vossas famílias e os empresários que
deram dinheiro pra vocês e vossas famílias. Proponho abaixo, portanto, algumas
outras emendas ao PL.
Inclua-se onde couber: Art. Y. Não serão puníveis nas esferas
penal e civil atrasos com impostos, aluguéis, condomínio, escola, celular,
crediário ou quaisquer outras contas em aberto até a data da publicação desta
lei.
Inclua-se onde couber: Art. Z. Não serão puníveis, nas
esferas penal e civil, multas por excesso de velocidade, estacionamento
proibido, desrespeito ao rodízio, racha, cavalo de pau ou atropelamento em
série seguido de fuga realizados até a data da publicação desta lei.
Inclua-se onde couber: Art. ??. Não serão cobrados, nas
bandeiras Visa, American Express, Diners ou Mastercard, os gastos efetuados com
comida, bebida, vestuário, ouro, diamantes, passagens aéreas, carros de luxo,
iates e pole-dancers realizados até a data da publicação desta lei.
Inclua-se onde couber: Art. µ. Não serão puníveis, nas
esferas moral e estética, trocadilhos com pavê, peru, pernil, piadas com pum,
fezes, urina, pegadinhas tipo chubaba, toca-aqui-deixa-que-eu-toco-sozinho e
baleias-brancas realizadas até a data da publicação desta lei.
Inclua-se onde couber: Art. ß. Não serão contabilizadas nas
esferas cardíaca, pulmonar, arterial ou hepática os excessos envolvendo
churrasco, batata frita, leite condensado, cerveja, cigarro, sonho frito de
doce de leite, Beyoncé na “Playlist” “corrida” do Spotify ou quaisquer outros
entorpecentes consumidos até a data da publicação desta lei.
Inclua-se onde couber: Art. Ø. Não será punível nas esferas
terrena, divina ou infernal, haver: desejado a mulher do próximo, invejado o
próximo, abaixado a vista e fingido não ter visto um próximo não tão próximo
assim vindo em sua direção, fechado rápido o elevador pra não ter que conversar
com o próximo, saído da festa sem se despedir do próximo, insultado o próximo,
chutado o próximo ou passado o próximo no multiprocessador até a data da
publicação desta lei.
Ficam aqui minhas sugestões a todos os deputados que
pretendem, na terça-feira, em nome de Deus, da ética e da família brasileira,
votar a favor da anistia para o caixa 2.
Espero que as ideias aqui contidas os
ajudem a compreender o quão grotesca é essa emenda e os façam mudar de opinião
– ou, então, que amassem esta crônica e a incluam onde couber.
Antonio Prata
sexta-feira, 25 de novembro de 2016
quinta-feira, 24 de novembro de 2016
“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado:
pensava que, somando as compreensões, eu amava.
Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama
verdadeiramente.
Porque eu, só por ter tido carinho, pensava que amar é
fácil.”
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Clarice Lispector
sexta-feira, 18 de novembro de 2016
para o bom entendedor meia ausência basta
Quem sente vontade, faz saudade virar encontro, faz o cansaço
virar amasso, faz dias frios mais quentes. Quem quer te ver, não vai se
lamentar, vai vestir a roupa mais próxima e sair com sorriso mais sincero ao
teu encontro.
Quem quer não adia, aparece. Quem quer te ver agora, não vai
deixar pra amanhã, mesmo que a distância seja incalculável ou já seja tarde pra
isso. Quem quer, não deixa pra depois o que pode ser feito agora. Quem quer
ficar, fica sem que a gente precise implorar. Quem quer cuidar, simplesmente
cuida. Quem quer, provavelmente não vai suportar a saudade, não vai poupar
sentimento e entrega pra te ter.
Quem tem saudade do teu sorriso não se contenta só em ouvir a
tua voz pelo celular, quem quer estar com você sentirá necessidade de te ver pra
conversar sobre como foi o seu dia, sobre todas as coisas que te fez perder a
cabeça e vai entender que é melhor te abraçar nos momentos mais difíceis do que
te mandar um “fica bem” por mensagem. Quem quer te fazer bem, vai bater na tua
porta com chocolates que comprou no meio do caminho pra tua casa e cervejas – é
que o dinheiro era pouco e o vinho era caro. Quem quer realmente te ver, não
esperará por um feriado ou por dias melhores que não tenham provas, nem muito
trabalho pra fazer.
Quem quer te ver, não vai se lamentar, vai vestir a roupa
mais próxima e sair com sorriso mais sincero ao teu encontro. Quem quer, não
vai reservar um tempinho pra você ou um horário fixo pra te ver, vai te
reservar a vida e vai te ensinar que quando a gente ama, a gente não mede
esforços, a gente não quer o outro pra preencher aquele espaço que sobra na
cama ou aquele tempo vago nos finais de semana. Quando a gente quer, a gente
aceita o outro pra somar na vida, pra abrigar e torna-se abrigo, pra unir dois
mundos.
Quem quer ficar, vai fechar os olhos em teu peito e permitir,
sem medo, acordar só noutro dia. Quem quer, vai fazer corpo mole pra não
levantar da cama e não sair da tua vida, vai roubar tuas manhãs, vai jogar os
braços por cima de você e quando você perguntar se a posição da tua cabeça tá
doendo nele, ele vai te responder que não. Quem quer ficar na tua vida, não
pensará duas vezes antes de entrar. Ficará pro café da manhã e se possível pro
jantar, é que o gosto do teu beijo vicia e ele seria burro em não prová-los ao
máximo.
Quem quer ficar, vai encostar a cabeça em teu ombro e vai te
deixar descobrir todos os medos e segredos, erros e defeitos, vai apertar a tua
mão pra tentar te dizer algo em silêncio, e vai se despedir de você sem te
tirar nada, te permitindo a liberdade e te deixando com aquela sensação de
querer viver tudo e mais um pouco ao lado dela. Quem quer você, tem vontade de
te repetir, de tomar todos os gostos com teu sabor, de provar todas as
aventuras com você sem te dizer que precisa pensar, sem te dizer: “hoje não
dá”, “deixa pra amanhã”, “não tô a fim”. Porque quem quer, arruma um jeito.
Quem não quer, arruma uma desculpa.
__Iandê Albuquerque
quinta-feira, 17 de novembro de 2016
“Aprendi
também a não contar muito com os outros.
Na
medida do possível, faço tudo só. Dá mais certo.”
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Caio F. Abreu
Cada um sepulta ao seu modo, na intensidade que
lhe é particular.
(...)
(...)
Uma mesma perda para muitos pesares e diferentes ausências.
Somos o que dela restou, uma espécie de continuidade,
um finito de corpos num infinito de saudade.”
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Flávio Wetten,
Pe. Fábio de Melo
quarta-feira, 16 de novembro de 2016
Edna St. Vincent Millay, sobre a morte:
“Não me resigno quando depositam corações amorosos na
terra dura.
É assim, assim será para sempre: entram na escuridão os sábios e os encantadores.
Coroados de lírios e louros, lá se vão: mas eu não me conformo.
Na treva da tumba lá se vão, com seu olhar sincero, o riso, o amor;
vão docemente os belos, os ternos, os bondosos;
vão-se tranquilamente os inteligentes, os engraçados, os bravos.
Eu sei. Mas não aprovo. E não me conformo”.
É assim, assim será para sempre: entram na escuridão os sábios e os encantadores.
Coroados de lírios e louros, lá se vão: mas eu não me conformo.
Na treva da tumba lá se vão, com seu olhar sincero, o riso, o amor;
vão docemente os belos, os ternos, os bondosos;
vão-se tranquilamente os inteligentes, os engraçados, os bravos.
Eu sei. Mas não aprovo. E não me conformo”.
#espero que, um dia, o câncer seja apenas um signo do zodíaco!
sábado, 12 de novembro de 2016
Tem dias em que eu paro para analisar o que está ali à minha
volta, quem caminha junto, ou quase, o que ando valorizando, em quem costumo
prestar mais atenção. Chego a me surpreender com o tanto de coisas e de pessoas
que guardo comigo sem função alguma, o tanto de energia que costumo gastar à
toa, sem razão, e o quanto coloco em segundo plano justamente quem deveria se
aninhar em meu coração durante as vinte e quatro horas dos dias.
Não dá para sermos racionais o tempo todo, com todo mundo,
ainda mais nesse ritmo alucinante que rege nossas vidas, porém, acabamos caindo
no excesso oposto, absorvendo com prioridade tudo o que faz mal. Parece que as
palavras mais rudes, os gestos mais mesquinhos, as atitudes menos decentes
chegam até nós e não saem, ao passo que tudo o que envolve bondade e
afetividade sincera passa rapidamente pela gente e vai embora.
E, quando a gente percebe que fica dando corda para quem não
quer nada além de perturbar, para quem só sabe agredir, mesmo que com o olhar,
para quem é maldoso, hipócrita e dissimulado, vem a impressão de que devemos
ser muito bobos mesmo, ou temos a palavra trouxa estampada na testa. Não é
possível que a gente vá sobreviver com mínima qualidade de vida, enquanto
continuarmos dando ouvidos a quem só oferece desarmonia e desesperança.
Da mesma forma, caso nos prendamos somente ao que possuímos
materialmente, caso nos prendamos às aparências, à necessidade de consumir, de
ter mais e mais, de mostrar ao mundo que andamos de carro novo, moramos em
condomínio de luxo, viajamos para hotéis nababescos, mais nos esqueceremos de
alimentar as verdades imateriais de que se sustenta o nosso coração, a nossa
essência. É assim que a gente se perde de quem importa e de nós mesmos.
Quem não sabe falar de outra coisa a não ser de dinheiro,
investimentos, calorias e preenchimentos labiais, cansa demais a gente. E é
exatamente esse tipo de pessoa que nos tornaremos, caso não consigamos nos
afastar do apego exagerado aos bens e da atenção demasiada aos chatos de
plantão. A gente entra em sintonia com aquilo que trazemos junto, com as
energias em que focamos nossas forças, com os discursos que guardamos em nossos
corações.
É preciso que, ao fim do dia, mantenhamos aqui dentro somente
aquilo que nos tranquiliza e nos renova, ao som de uma boa música, degustando
um bom vinho, degustando a vida, seja com alguém que valha a pena, seja com a
nossa melhor companhia: nós mesmos.
Marcel Camargo
... olhos vigiam, olhos encantam, olhos conquistam, olhos desmentem
e até perdoam sem precisar falar.
Mateus - 6:22
“Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus
olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz.”
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Armandinho,
Bíblia,
Tirinhas
o Natal vem chegando...
Quero me encantar mais vezes. Admirar
mais vezes. Compartilhar mais amor.
Dançar com a vida com mais leveza, sem medo
de pisarmos nos pés uma da outra.
Quero fazer o meu coração arrepiar mais
frequentemente de ternura diante de cada beleza revista ou inaugurada.
Quero
sair por aí de mãos dadas com a criança que me habita, sem tanta pressa.
Brincar com ela mais amiúde. Fazer arte. Aprender com Deus a desenhar coisas
bonitas no mundo. Colorir a minha vida com os tons mais contentes da minha
caixa de lápis de cor. Devolver um brilho maior aos olhos, aos dias, aos
sonhos, mesmo àqueles muito antigos, que, apesar do tempo, souberam conservar o
seu viço.
Quero sintonizar a minha frequência com a música da delicadeza. Do
entusiasmo. Da fé. Da generosidade. Das trocas afetivas. Das alegrias que
começam a florir dentro da gente.
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Ana Jácomo
sexta-feira, 11 de novembro de 2016
os quatro fantasmas
Leiga, totalmente leiga em psicanálise, é o que eu sou. Mas interessada
como se dela dependesse minha sobrevivência. Para saciar essa minha
curiosidade, costumo ler alguns livros sobre o assunto, e outro dia, envolvida
por um texto instigante - acho que da Viviane Mosé - me deparei com as quatro
principais questões que assombram nossas vidas e que determinam nossa sanidade
mental. São elas:
1) Sabemos que vamos morrer.
2) Somos livres para viver como desejamos.
3) Nossa solidão é intrínseca.
4) A vida não tem sentido.
1) Sabemos que vamos morrer.
2) Somos livres para viver como desejamos.
3) Nossa solidão é intrínseca.
4) A vida não tem sentido.
Basicamente, isso. Nossas maiores angústias e dificuldades advêm da maneira como lidamos com nossa finitude, com nossa liberdade, com nossa solidão e com a gratuidade da vida. Sábio é aquele que, diante dessas quatro verdades, não se desespera.
Realmente, não são questões fáceis. A consciência de que vamos morrer talvez seja a mais desestabilizadora, mas costumamos pensar nisso apenas quando há uma ameaça concreta: o diagnóstico de uma doença ou o avanço da idade. As outras perturbações são mais corriqueiras. Somos livres para escolher o que fazer de nossas vidas, e isso é amedrontador, pois coloca responsabilidade em nossas mãos. A solidão assusta, mas sabemos que há como conviver com ela: basta que a gente dê conteúdo à nossa existência, que tenhamos uma vontade incessante de aprender, de saber, de se autoconhecer. Quanto à gratuidade da vida, alguns resolvem com religião, outros com bom humor e humildade. O que estamos fazendo aqui? Estamos todos de passagem.
Portanto, não aborreça os outros e nem a si
próprio, trate de fazer o bem e de se divertir, que já é um grande projeto
pessoal. Volto a destacar: bom humor e humildade são essenciais para ficarmos
em paz. Os arrogantes são os que menos conseguem conviver com a finitude, a
liberdade, com a solidão e com a falta de sentido da vida. Eles se julgam
imortais, eles querem ditar as regras para os outros, eles recusam o silêncio e
não vivem sem os aplausos e holofotes, dos quais são patéticos dependentes. A
arrogância e a falta de humor conduzem muita gente a um sofrimento que poderia
ser bastante minimizado: bastaria que eles tivessem mais tolerância diante das
incertezas.
Tudo é incerto, a começar pelo dia e a hora da nossa morte. Incerto é o nosso destino, pois, por mais que façamos escolhas, elas só se mostrarão acertadas ou desastrosas lá adiante, na hora do balanço final. Incertos são nossos amores, e por isso é tão importante sentir-se bem mesmo estando só. Enfim, incerta é a vida e tudo o que ela comporta. Somos aprendizes, somos novatos, mas beneficiários de uma dádiva: nascemos. Tivemos a chance de existir. De se relacionar. De fazer tentativas. O sentido disso tudo? Fazer parte. Simplesmente fazer parte.
Muitos têm uma dificuldade tremenda em aceitar essa transitoriedade. Por isso a psicoterapia é tão benéfica. Ela estende a mão e ajuda a domar nosso medo. Só convivendo com esses quatro fantasmas - finitude, liberdade, solidão e falta de sentido da vida - é que conseguiremos atravessar os dias de forma mais alegre e desassombrada.
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Martha Medeiros
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
desculpe,
À essa altura do campeonato, já não me permito mais investir
tempo em olhos que choram sem lágrimas, em gente que busca a vampirização da
energia do Outro, da estética do Outro, da postura do Outro, da vocação do
Outro, da conquista afetiva do Outro.
Tenho verdadeiro horror dessa gente miseravelmente
possessiva, que vê no Outro sempre alguém para andar de carona.
Que enxuga lágrimas para ser útil, já que não se permite ser
leve e agradável.
Gente que não vibra por você e sim se regozija das suas
dores, porque só através delas consegue se achar mais importante, já que sua
vida vazia não lhe permite nada além de pequenices disfarçadas de felicidade.
Sinto muito.
Na minha vida não existe o quase.
Quase conseguiu, quase foi legal, quase teve boa intenção.
Quase para mim é muito pouco, e pouco para minha mim já
passou do quase nada!
[ Cláudia Dornelles ]
Investir no sossego do próprio coração é algo tão complexo
por causa da sua simplicidade. Porque ser simples é uma das coisas que mais
dificulta a nossa vida. Investir no sossego do próprio coração é não abrir uma
brecha, que poderá virar uma represa, para alguém que não está disponível
afetivamente. É prestar atenção nos sinais e indícios que a pessoa dá, logo nos
primeiros encontros, do tamanho do sofrimento ou da alegria que ela poderá lhe
proporcionar. É saber-se só em quaisquer situações, mesmo acompanhado, pois as
consequências de nossas escolhas são absolutamente nossas.
Investir no sossego do nosso próprio coração é saber que
aquilo que está doendo deverá ser extirpado e não manter apego ao sofrimento,
por mais que o uso do bisturi cause quase a mesma dor. É proporcionar-se bons
momentos divorciando-se de tantos lamentos. É não adiar sofrimento postergando
decisões tão necessárias. É não se acomodar com a falta de excitação pelas
coisas, pessoas, trabalho. É saber-se merecedor de experienciar um amor
inteiro, intenso, extenso, imenso, verdadeiro... Recíproco! É aumentar, um
pouquinho a cada dia, o seu tamanho. É ter a certeza e a confiança de que as
coisas têm um encaixe, mas que é preciso deixar ir, ou ir ao encontro, ou
conformar-se com o desencontro, ou esquecer, ou lembrar-se de outras coisas, ou
relacionar-se de outra forma.
Investe no sossego do próprio coração quem não rumina o que
machuca, quem não fica descascando a ferida impedindo que a mesma cicatrize,
quem não se disponibiliza de maneira subserviente e em tempo integral ao ponto
de ser desvalorizado ou descartável, quem não aceita menos do que merece:
coisas pela metade. Investe no sossego do próprio coração quem sofre, grita,
chora, mas cresce! Quem não se repete, quem se surpreende consigo mesmo, quem
trabalha o desapego, quem se abre para as coisas que possuem mais calor e
sensibilidade.
Investir no sossego do próprio coração é coisa que não vem com a idade, mas com a ideia de que se pode vivenciar um momento de paz e repouso, é desocupar o peito para abrir espaço para o novo, é entregar-se ao desconhecido com inocência e totalidade, é não ter medo de pronunciar verdades, é ser honesto consigo, com o outro.
Investir no sossego do próprio coração é coisa que não vem com a idade, mas com a ideia de que se pode vivenciar um momento de paz e repouso, é desocupar o peito para abrir espaço para o novo, é entregar-se ao desconhecido com inocência e totalidade, é não ter medo de pronunciar verdades, é ser honesto consigo, com o outro.
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Marla de Queiroz
quarta-feira, 9 de novembro de 2016
não corte carboidratos de sua dieta, corte gente chata de sua vida
Teimamos, muitas vezes, em procurar somente no espelho aquilo
que nos incomoda e entristece. Da mesma forma, acabamos nos culpando
exclusivamente pela infelicidade sentida diariamente. No entanto, apesar de
sermos responsáveis pelo que nos acontece, nem tudo depende somente de nós
mesmos, ou seja, temos que atentar também para o tipo de gente que caminha ao
nosso lado.
Filmes, artigos, livros e palestras nos ensinam a olhar para
dentro de nós mesmos, para que tomemos as rédeas do rumo de nossas vidas e nos
conscientizemos de que muito do que nos ocorre é consequência de nossa forma de
agir. Com isso, às vezes nos esquecemos de lembrar que aquilo que está fora de
nós também influencia a nossa caminhada, tendo poder, sim, sobre nossos
humores.
É muito difícil levarmos a vida numa boa, ignorando o que à
nossa volta é ruim e desagradável, como se fôssemos a única fonte de alegrias,
como se aqui dentro houvesse uma força capaz de neutralizar o que acontece lá
fora. Se o mundo carece de empatia, de solidariedade, de enxergar o próximo,
imbuir-se de controle total sobre a própria vida, sem se importar com nosso
entorno, soa, no mínimo, a egocentrismo.
Ficamos tão perdidos, que acabamos não sabendo mais onde
procurar a felicidade, desviando-nos da essência que nos move, enquanto nos
prendemos ao que aparentamos, à imagem física tão somente, uma vez que ela é
mais palpável, está ali bem no nosso nariz. Assim, privamo-nos de prazeres
frugais, para emagrecer e endurecer o corpo, sem perceber que cuidar do que
está fora de nós também é essencial.
É preciso desintoxicar-se por dentro e por fora, cuidar do
corpo - sem neuroses - e dos ambientes por onde transitamos, pois valorizar as
coisas, os momentos e as pessoas certas nos tornará mais felizes e realizados.
De nada adiantará malharmos por horas e comermos somente o que a dieta
prescreve, caso saiamos da academia para uma vida superficial e rodeada de
gente falsa e desagradável. Estaremos lindos por fora e em frangalhos por
dentro.
Como tudo o mais nessa vida, é preciso equalizar as nossas
atitudes e comportamentos, para que não exageremos além da conta no que somamos
e no que restringimos. Quando priorizamos só o físico, quando ficamos muito
indiferentes ao outro, quando transformamos comportamento em fixação, deixamos
de lado muita coisa que poderia nos levar a sorrir mais e por mais tempo.
Comer uma barra de chocolate vez ou outra não mata ninguém,
mas dar importância a gente chata e insuportável nos distanciará cada vez mais
da serenidade desejável em nossas vidas.
__Marcel Camargo
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