segunda-feira, 25 de abril de 2016
quarta-feira, 20 de abril de 2016
Hoje acordei com uma vontade louca de gente orgânica. Com uma
vontade de gente de verdade, sem sabor artificial. Gente autêntica que não foi
criada em laboratório.
Hoje tive vontade do que é natural, tive vontade de gente saudável.
Daquela gente que é leve e faz bem. Daquela gente amiga que abraça de verdade,
que fala com sinceridade, daquela gente que realmente é. Hoje tive desejo por
pessoas que pensam não só em comer o que faz bem, mas que também cuidam para
que o que sai da boca e da alma conforte e sacie.
Hoje todo meu eu gritou por aquelas pessoas gostosas, por
aquelas pessoas de uma doçura mansa, por aquelas pessoas que preenchem nossa
alma com carinho. Que enchem nossa vida de alegria, que enchem nossa vida de
sabor e beleza, que são simples, que são verdadeiras, que são fiéis. Que têm
sabor de maracujá quando maracujá, que têm sabor de morango quando morango e
que passam longe do tão artificial e popular tutti-frutti.
Mas quanta gente tutti-frutti existe! Gente que é um
amontoado de coisa que não faz bem. Gente que tira o gosto bom do que é
natural. Que tem a casca lustrosa, mas a polpa sem sabor algum. Gente que faz
mal.
Hoje tive vontade de reencontrar todos aqueles que
desabrocham naturalmente. Assim devagar, de acordo com as estações, resistindo
às chuvas e as temperaturas desregradas. Tive vontade de sorrir com a boca, com
o fígado e com o coração. Tive vontade de dizer o quão importante é ser de
verdade, sentir de verdade, se entregar de verdade.
Hoje tive saudade de gente bonita, gente que é um deleite
para a alma. Gente boa que ainda resiste ao tão popular industrializado e
sintético. Que ainda resiste frente a um mundo de invenções rápidas que
anestesiam o paladar. Hoje tive saudade dessa gente sem agrotóxico, que se faz
com carinho. Que pensa antes de julgar, que entende o poder das palavras, que
compreende o outro pelo olhar.
Hoje neguei o artificial. Hoje neguei o usual e tive vontade
de um mundo simples, de palavras certas nos momentos certos, de pessoas que ajudam,
de gente cheia de uma sabedoria honesta em um tempo louco no qual deixamos de
nos importar com a época das coisas e quase esquecemos a gostosura que é colher
fruta no pé.
Vanelli Doratioto
Adoro sites e programas de receita.
Isso não quer dizer, necessariamente,
que sou boa na cozinha.
Sou boa mesmo é de garfo.
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terça-feira, 19 de abril de 2016
ratoeira do relacionamento
Se você dedicar seu mundo inteiro a uma pessoa, a entrega
poderá ser vista como submissão.
Você que está mergulhado no amor não percebe. Para você, é
somente amor. Não representa obediência, escravidão, bajulação.
Não mede esforços para agradar sua companhia, para atendê-la,
para fazê-la feliz.
É capaz de se endividar em segredo para corresponder suas
expectativas. É capaz de omitir suas vontades para privilegiar os desejos dela.
É capaz de não respirar alto dentro de casa para não atrapalhar.
Ela sabe que você é todo dela – eis o problema que também
deveria ser a solução (afinal, ser todo de alguém é a premissa do amor).
Mas o alimento é a isca do veneno e você foi fisgado pela
ratoeira do relacionamento: emparedado, encurralado, dependente, viciado, sem
anticorpos, sem imunidade, sem defesa, preso em sua idealização.
Já se declarou ao extremo, eliminou qualquer incerteza de seu
coração, assinou o atestado de óbito da solteirice.
Sua doação não impõe mais desafio, não exige a reconquista de
outra parte.
Está soterrado pela própria generosidade. De tanto dar,
banalizou seu valor. Sua existência ficou barata. É um precatório a perder de
vista.
Diante da exposição absoluta dos sentimentos, não é de
duvidar que ela esnobe suas ações, conte que você come nas mãos dela,
menospreze suas inúmeras gentilezas e deboche de suas constantes delicadezas.
Tornou-se inofensivo e previsível. Assumiu o risco de ser
idiota e ingênuo, fragilizado em suas conexões com os amigos e familiares,
absolutamente constrangidos com sua mendicância afetiva.
Atravessa um dilema sem saída. Ela jamais entenderá o peso de
suas decisões, pois não mostrou seu sacrifício dia a dia, quis fingir uma
naturalidade dos presentes, mimou e escondeu o trabalho por detrás de cada
gesto, apresentou uma facilidade que não existia.
Assim como pode tentar
efetuar uma reprise de suas realizações dentro do namoro, apresentar os
investimentos feitos, justificar sua abnegação, só que será inútil, não há
estorno da espontaneidade, ela dirá que você está jogando na cara o que
ofereceu de estorno da espontaneidade, ela dirá que você está jogando na cara o
que ofereceu de graça, que vem cobrando os juros de sua falsa bondade.
Esta é a parada mais dura do romance, não vejo conserto da
situação.
Ou está numa relação em que os dois entregam tudo ou tudo o
que entrega será sempre nada.
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Fabrício Carpinejar
segunda-feira, 18 de abril de 2016
Pelo uso do dicionário, pela matrícula dos edis no ensino
médio, fundamental ou adjacências, pela obrigatoriedade do uso de biblioteca na
câmara, meu voto é sim!!!
Saindo de mais uma sessão com os ouvidos sofrendo com tantos
“nóis vai”, “a gente vamos”, “faço questã”, “ato convarde”,
“diverjões”, “maquiavelhos”, ficar registrado nos “anéis” da Casa,
“incorporação” da PM, demonstrar minha “indignidade”,
tem que ter “cartela”.
“diverjões”, “maquiavelhos”, ficar registrado nos “anéis” da Casa,
“incorporação” da PM, demonstrar minha “indignidade”,
tem que ter “cartela”.
Fazer o que, né?
É melhor ouvir certas coisas do que ser surda...
É melhor ouvir certas coisas do que ser surda...
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sábado, 16 de abril de 2016
você, eu e nossos amigos
Antes da era tecnológica, a gente via os amigos de vez em
quando, em encontros eventuais. Agora, eles estão na palma da mão. Sabemos tudo
o que eles pensam e o que fazem, as informações são atualizadas em minutos, e o
resultado disso? Fé na humanidade.
Se depender de você, de mim e de nossos 3.768 amigos, ou
7.543, ou 21.544 (quantos amigos você tem?), o mundo está salvo. Porque, veja
bem: somos todos bons. Somos todos justos. Somos todos inteligentes. Somos
todos amorosos. Somos todos honestos. Escândalos políticos não têm nada a ver
com a gente: somos todos críticos, atentos, lúcidos. E estamos todos
estupefatos, lógico. Acreditávamos que a sociedade era íntegra, já que somos
todos íntegros.
Todos nós amamos os animais, adotamos cachorros de rua, gatos
abandonados, porquinhos-da-índia. Cuidamos deles, nos importamos com eles,
temos por eles um amor que se equipara ao amor que sentimos por nossos filhos.
Ah, nossos filhos. Somos todos pais espetaculares de filhos que não se drogam,
não bebem, não são jovens indiferentes, não são preguiçosos, não são acomodados,
não estão perdidos, não são sedentários. Foram crianças excepcionais e não
poderia dar noutra coisa: hoje são adultos incríveis. É de família. Bênção do
DNA.
Somos todos ecologistas, amantes da natureza, adoradores de
crepúsculos, mares, florestas. Não pisamos na grama, não poluímos os rios, não
jogamos bituca de cigarro no chão, somos a favor da energia eólica e solar,
reverentes às flores, às montanhas, às cachoeiras, às árvores. Tudo documentado
em fotos, milhares delas.
Somos a favor dos refugiados, das empregadas domésticas, dos
gordos, dos gays, dos pobres, das mulheres, das crianças, dos negros, dos
chineses, dos sírios, dos mendigos, dos feios, dos albinos, dos haitianos, dos
anões, dos favelados, dos nudistas e demais minorias – minoria é gente à beça.
Somos todos conscientes e defendemos os direitos humanos.
Somos todos bem-amados, bem-humorados, temos bom gosto. Todos
nós respeitamos as regras de trânsito. E o nosso time só perdeu porque o juiz
roubou.
Não temos religião, mas somos espiritualizados. Não fazemos
parte de nenhuma ONG, mas vestimos a camiseta. Dirigimos carros, mas damos a
maior força para as ciclovias. Não somos vaidosos, apenas usamos nossa imagem a
fim de enaltecer boas ideias e intenções. Estamos a serviço de um mundo melhor.
Somos todos messias. Todos gurus.
E todos nós votamos corretamente nas últimas eleições.
O inferno são os outros. Jamais você, eu e nossos amigos. Os
3.768, os 7.543, os 21.544 que estão conectados, que vivem na bolha da
autorreverência e não possuem defeitos, a não ser este, que é meio suspeito: o
de não ter defeito algum.
A gente acredita que existe um senso comum regendo nossos
gostos e opiniões, porém somos sete bilhões pensando e vivendo de forma muito
distinta uns dos outros.
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Martha Medeiros
receita para beleza interior
- Faça várias cirurgias plásticas: uma
para corrigir o nariz empinado pelo orgulho e pela soberba; outra na correção
da língua venenosa e ardilosa e também nos lábios que demarcam sua tristeza
interior;
- Drenagem linfática para retirar o
orgulho, a inveja e a ingratidão;
- Lipoaspiração no egoísmo, no
narcisismo e na hipocrisia;
- Diversos peelings profundos na culpa e
no remorso;
- Faça uma dermo esfoliação nas
cicatrizes deixadas pela falta de perdão e pelo ódio, assim como no rancor
envelhecido;
- Uma máscara facial para retirar as
expressões de mágoas e ressentimentos, igualmente nas asperezas da
insensibilidade no trato com as pessoas.
- Depois complete com uma hidratação de
sorriso e a alegria; hidrate suas mãos todos os dias com a prática da
solidariedade e da caridade;
- Coloque lentes coloridas da
misericórdia e da paciência, iluminando seu olhar;
- Realize um implante de entusiasmo e
atitude positiva;
- Turbine sua humildade e o desinteresse
por questões materiais;
- Use botox para esticar a esperança e a
fé;
- Realce o cabelo com luzes da
consciência tranqüila e da paz de espírito;
- Finalize com uma hidromassagem, usando
sais da generosidade e pétalas da tolerância, que é bom para o coração e a
alma.
Esses ingredientes não são encontrados nas melhores lojas do ramo.
Estão dentro
de você!
sexta-feira, 15 de abril de 2016
revelação
Nunca soube me expressar direito, talvez eu
tenha algum problema emocional. Não, não, perdoe a minha falha e a falta de
consciência: eu tenho, sim, um problema emocional. Não sei lidar com
frustração, não sei falar o que sinto, não sei expressar minha raiva, não sei
mostrar minha alegria, não sei escancarar a minha dor, não sei demonstrar meu
descontentamento com maturidade.
Só sei gritar, chorar, perder a razão, perder a voz, perder o controle, perder o chão. Apesar disso, confesso bem baixinho: não sei perder. Não sei me comportar. E não sei se sei crescer. Entende isso? Crescer é difícil, estraçalha a gente por dentro. E é complicado sorrir com a alma em frangalhos.
Às vezes, algum sentimento sem nome me paralisa. Frequentemente, algo me invade e grita “vai”. Mas não vou, tenho medo. Tenho medo de ir, de ficar, de tirar a máscara, de me revelar. Tenho medo que você não goste daquelas coisas que a gente vive tentando esconder. Tenho medo de não me reconhecer ao tirar aquele véu invisível que a gente usa para se proteger. Tenho medo de jogar minha arma no lixo. Tenho medo de descobrir os meus próprios lixos. Tenho medo de ter algo mais podre que uma lixeira que transborda.
Talvez isso tudo soe bobo para você. Mas eu sei que sou bem boba quase sempre. Eu e meus medos tolos. Medo de trovão, de lagartixa, de dentista, de fazer exame de sangue, de que a energia acabe, de que o escuro me invada. Medo de água, que o mar me engula e não me cuspa. Medo de quando o avião vai pousar, de que algo ruim aconteça, de turbulência no ar. Medo de não segurar a lágrima, de ser obrigada a trancar o riso, de procurar e nunca achar. Medo de andar em círculos, de não saber fazer a coisa certa, de não existir a coisa certa neste mundo tão incerto. Medo de que a alegria acabe e que a tristeza dure um tempo maior do que posso aguentar. Medo de perder a esperança, de não conseguir enxergar a famosa luz no fim do túnel, de cair do precipício, de me perder no meio da multidão. Medo da cara feia, do sentimento estragado, da falta de caráter e da promessa quebrada. Medo de derreter, de congelar, de empacar. Medo de que o medo não passe.
Não sei se o ser humano é assim, esquisito e medroso. Mas eu sou. E agora, neste momento, sem jeito, sem rumo e sem receio, te digo: não sei o que esperar. E a dúvida, essa sem vergonha, é o que me mata.
Só sei gritar, chorar, perder a razão, perder a voz, perder o controle, perder o chão. Apesar disso, confesso bem baixinho: não sei perder. Não sei me comportar. E não sei se sei crescer. Entende isso? Crescer é difícil, estraçalha a gente por dentro. E é complicado sorrir com a alma em frangalhos.
Às vezes, algum sentimento sem nome me paralisa. Frequentemente, algo me invade e grita “vai”. Mas não vou, tenho medo. Tenho medo de ir, de ficar, de tirar a máscara, de me revelar. Tenho medo que você não goste daquelas coisas que a gente vive tentando esconder. Tenho medo de não me reconhecer ao tirar aquele véu invisível que a gente usa para se proteger. Tenho medo de jogar minha arma no lixo. Tenho medo de descobrir os meus próprios lixos. Tenho medo de ter algo mais podre que uma lixeira que transborda.
Talvez isso tudo soe bobo para você. Mas eu sei que sou bem boba quase sempre. Eu e meus medos tolos. Medo de trovão, de lagartixa, de dentista, de fazer exame de sangue, de que a energia acabe, de que o escuro me invada. Medo de água, que o mar me engula e não me cuspa. Medo de quando o avião vai pousar, de que algo ruim aconteça, de turbulência no ar. Medo de não segurar a lágrima, de ser obrigada a trancar o riso, de procurar e nunca achar. Medo de andar em círculos, de não saber fazer a coisa certa, de não existir a coisa certa neste mundo tão incerto. Medo de que a alegria acabe e que a tristeza dure um tempo maior do que posso aguentar. Medo de perder a esperança, de não conseguir enxergar a famosa luz no fim do túnel, de cair do precipício, de me perder no meio da multidão. Medo da cara feia, do sentimento estragado, da falta de caráter e da promessa quebrada. Medo de derreter, de congelar, de empacar. Medo de que o medo não passe.
Não sei se o ser humano é assim, esquisito e medroso. Mas eu sou. E agora, neste momento, sem jeito, sem rumo e sem receio, te digo: não sei o que esperar. E a dúvida, essa sem vergonha, é o que me mata.
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Clarissa Corrêa
quinta-feira, 14 de abril de 2016
sua majestade, o dinheiro
Diante dos fatos, a vergonha. Vergonha pelas alianças sem
critério, pelos acertos por baixo dos panos, pelos conchavos, pela desfaçatez
com a qual ninguém se constrange mais. Governantes cometem indecências para
garantir sua boquinha e a corrupção, que é a verdadeira inimiga de todos nós,
segue pouco discutida.
Como e quando a corrupção irá acabar?
Se a Lava-Jato fosse uma operação permanente de combate à
impunidade, a corrupção talvez diminuísse um pouco, pois sempre tem um ou outro
que amarela quando cogita ir para a cadeia. Mas o mais provável é que surjam
novos e sofisticados métodos de roubalheira – o ser humano é criativo. Será que
não existe um jeito de cortar a corrupção pela raiz?
O primeiro passo é lembrar qual é a raiz da corrupção: o
dinheiro.
O segundo passo é acreditar em conto de fadas. O empresário
Ricardo Semler deu uma ótima entrevista para a Globonews, em que declarou que
só há uma maneira de acabar com a corrupção no Brasil e no mundo: modificando
nossa relação com o dinheiro.
Talvez ele também acredite em príncipes e princesas, mas por
mais idealista que seja, não há como discordar. Por que as pessoas corrompem e
são corrompidas? Para obterem vantagens – quase todas envolvendo dinheiro ou
poder.
Em um mundo ideal (portanto, irreal), as pessoas receberiam
pelo seu trabalho um valor justo para garantir suas necessidades e estaria
ótimo assim. Se seu trabalho rendesse mais do que elas precisam, beleza – elas
teriam acesso a supérfluos, o que não é pecado, desde que esteja tudo dentro da
lei, sem precisar burlar contratos ou molhar a mão alheia. Se valorizássemos as
principais qualidades humanas, ninguém precisaria fazer besteira para parecer
mais importante do que é.
Como se mede a importância de alguém? Pela ética. Pela
compaixão. Pela honestidade. Pela competência.
Isso no reino da fantasia, pois aqui, neste mundo pirado e
competitivo, as pessoas medem a importância uma das outras por metro quadrado,
por cavalos no motor, por dólares no Exterior, por técnicas farsescas de
sedução, pelo que está escrito no cartão.
Não basta ter reais suficientes. Queremos realeza.
Mas em vez de nos sentirmos soberanos através do número de
amigos que fizemos, através da credibilidade conquistada, através de nossas
vitórias profissionais e emocionais, queremos é sentir o gostinho de estacionar
onde bem entender, de voar pelas estradas sem ninguém nos alcançar, de receber
tratamento VIP, de sermos vistos como diferenciados, criaturas acima do bem e
do mal. Para que esperar merecermos coisas boas da vida se podemos comprar as
extraordinárias?
A corrupção só terminará quando o dinheiro deixar de ser
usado para mascarar nossa miséria existencial.
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Martha Medeiros
dia do beijo, por Padre Fábio
“Eu só acredito que o dia é o dia de alguma coisa
se for feriado. Caso contrário, não me venham com conversa
mole.
Comemore o dia do beijo e aumente consideravelmente as
chances de pegar a gripe fortíssima que está rondando o planeta.”
#uma figura esse padre
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Pe. Fábio de Melo
quarta-feira, 13 de abril de 2016
Aos 3 anos: Ela olha pra si mesma e vê uma rainha.
Aos 8 anos: Ela olha para si e vê Cinderela.
Aos 15 anos: Ela olha e vê uma freira horrorosa.
Aos 20 anos: Ela olha e se vê muito gorda, muito magra, muito
alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, decide sair, mas vai
sofrendo.
Aos 30 anos: Ela olha pra si mesma e vê muito gorda, muito
magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, mas decide que
agora não tem tempo pra consertar, então vai sair assim mesmo.
Aos 40 anos: Ela se olha e se vê muito gorda, muito magra,
muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, mas diz: pelo menos eu
sou uma boa pessoa e sai mesmo assim.
Aos 50 anos: Ela olha pra si mesma e se vê como é. Sai e vai
pra onde ela bem entender.
Aos 60 anos: Ela se olha e lembra de todas as pessoas que não
podem mais se olhar no espelho. Sai de casa e conquista o mundo.
Aos 70 anos: Ela olha para si e vê sabedoria, risos,
habilidades, sai para o mundo e aproveita a vida.
Aos 80 anos: Ela não se incomoda mais em se olhar. Põe
simplesmente um chapéu violeta e vai se divertir com o mundo.
Talvez devêssemos por aquele chapéu violeta mais cedo!
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Mário Quintana
Tempo para mim significa a desagregação da matéria. O apodrecimento do que é
orgânico como se o tempo tivesse como um verme dentro de um fruto e fosse
roubando a este fruto toda a sua polpa.
O tempo não existe. O que chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si não existe. Ou existe imutável e nele nos transladamos.
O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então — para que eu não seja engolido pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa — eu cultivo um certo tédio. Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto. Quero me multiplicar para poder abranger até áreas desérticas que dão a idéia de imobilidade eterna. Na eternidade não existe o tempo. Noite e dia são contrários porque são o tempo e o tempo não se divide. De agora em diante o tempo vai ser sempre atual.
Hoje é hoje. Espanto-me ao mesmo tempo desconfiado por tanto me ser dado. E amanhã eu vou ter de novo um hoje. Há algo de dor e pungência em viver o hoje.
O paroxismo da mais fina e extrema nota de violino insistente. Mas há o hábito e o hábito anestesia.
O tempo não existe. O que chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si não existe. Ou existe imutável e nele nos transladamos.
O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então — para que eu não seja engolido pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa — eu cultivo um certo tédio. Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto. Quero me multiplicar para poder abranger até áreas desérticas que dão a idéia de imobilidade eterna. Na eternidade não existe o tempo. Noite e dia são contrários porque são o tempo e o tempo não se divide. De agora em diante o tempo vai ser sempre atual.
Hoje é hoje. Espanto-me ao mesmo tempo desconfiado por tanto me ser dado. E amanhã eu vou ter de novo um hoje. Há algo de dor e pungência em viver o hoje.
O paroxismo da mais fina e extrema nota de violino insistente. Mas há o hábito e o hábito anestesia.
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Clarice Lispector
terça-feira, 12 de abril de 2016
A vida precisa do vazio:
a lagarta dorme num vazio chamado casulo até se transformar
em borboleta.
A música precisa de um vazio chamado silêncio para ser
ouvida.
Um poema precisa do vazio da folha de papel em branco para
ser escrito.
E as pessoas, para serem belas e amadas, precisam ter um
vazio dentro delas.
A maioria acha o contrário; pensa que o bom é ser cheio.
Essas são as pessoas que se acham cheias de verdades e
sabedoria e falam sem parar.
São umas chatas quando não são autoritárias.
Bonitas são as pessoas que falam pouco e sabem escutar.
A essas pessoas é fácil amar.
Elas estão cheias de vazio.
E é no vazio da distância que vive a saudade...
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Rubem Alves
quinta-feira, 7 de abril de 2016
“Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que
se publique.
Todo o resto é publicidade.”
Todo o resto é publicidade.”
__George Orwell
Jornalista, hoje, a pauta é você.
Parabéns pelo dia!
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Armandinho,
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resistência à frustração
Quando eu era pequena, fazia uma brincadeira na piscina que até hoje as
crianças fazem: tapar o nariz e a boca e ficar embaixo d'água, contando os
segundos pra ver quem consegue ficar mais tempo sem respirar. É bem verdade que
a gente não precisa de uma piscina pra fazer este teste, pode fazer neste mesmo
instante aonde quer que esteja, mas éramos crianças, éramos imaginativos,
éramos mergulhadores em alto-mar.
Testar nossa resistência é uma maneira de avaliar o quanto estamos
preparados para as adversidades. Serão poucas as vezes na vida que teremos que
passar um tempo sem respirar, oxalá nenhuma. Mas serão muitas as vezes em que
teremos que testar nossa resistência à frustração.
Um...dois...três...quatro.... serão mais do que segundos, mais do que
minutos ou horas trancando a respiração, lutando para não explodir. Algumas
frustrações levam dias ou meses para serem elaboradas dentro da gente. As
coisas quase nunca saem como a gente planejou, há sempre o elemento surpresa,
que desencaminha nossos sonhos. É preciso ter muito pulmão para respirar fundo
e muita cabeça fria para não botar tudo a perder.
A gente manda um e-mail amoroso e extenso e recebe uma resposta fria e
lacônica. A gente organiza uma festa na nossa casa e só aparecem três gatos
pingados. A gente combina de ir para a praia no feriadão e pinta, de última
hora, um plantão no trabalho. A gente economiza anos para comprar um carro e
quando está com o dinheiro na mão, tem que emprestá-lo para alguém que ficou
repentinamente doente na família. E as frustrações de amor? Uma atrás da outra.
Parece que ninguém reage como a gente espera. Todos uns desmancha-prazeres.
Os que não têm muita resistência saem atropelando, cortando relações,
dramatizando o que nem é tão dramático assim. Depois mergulham em longas
depressões e custam a voltar à tona. Já os mais resistentes sabem que nada é
tão sério nesta vida, a não ser ela própria, a vida, e tratam de aproveitá-la
com mais serenidade e paciência. Contam até três, até dez, até vinte, e basta
de autoflagelação: voltam a respirar.
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Martha Medeiros
quarta-feira, 6 de abril de 2016
No restaurante, três crianças almoçavam com os seus pais. Uma escadinha: 2 anos, 4 anos e 6 anos. Lembrou a minha cambada de irmãos: a mesma diferença de dois anos. Sou de 72, Rodrigo é de 70 e Miguel é de 74. Eu me revi, homem feito, na composição da ceia.
Só que os três estavam silenciosos. Não incomodavam. Não
implicavam com o cardápio. Não discutiam para sentar ao lado da mãe ou do pai.
Nada. Não disputavam preferências e privilégios, como era natural entre os
meninos.
Cada um tinha um headphone no ouvido e um celular. Cada um na
cabine auditiva de seus jogos. Isolados do que acontecia externamente, com as
pálpebras piscando de acordo com a violência dos dedos nas teclas. Não
interagiam com o garçom e com ninguém, a não ser com as cores e os barulhos dos
seus joguinhos.
Os pais conversavam tranquilamente, sem se importar com os
efeitos trágicos daquela falsa felicidade. Os filhos não haviam abandonado a
casa. Unicamente seus corpos na mesa, unicamente a boca para comer algo. Eles
se mantinham em seus quartos digitais.
Juro que me deu uma compaixão. Não experimentavam o que era
um irmão, a natureza nervosa e heróica de um mano.
Irmão pequeno briga, estapeia, provoca, enche o saco, começa
a correr pelas cadeiras, inventa maneiras inusitadas de chamar atenção.
Atropela os bons modos e é xingado, aprende o que é educação na marra, vai
decifrando a brabeza dos pais pelo tom de voz e pela altura das sobrancelhas.
Estavam perdendo o melhor da infância, representado na proximidade etária, nas
brincadeiras verbais, na luta dos meninos para comer com as mãos, no contato
físico que gera o abraço e o perdão, que apressa o entendimento e a saudade.
Desperdiçavam o patrimônio afetivo de sair com a família reunida, fato que será
raro mais tarde em suas vidas.
Aparentemente comportados, mas tristes. Três filhos apartados
como se fossem filhos únicos, solitários, precocemente adolescentes.
Onde anda a infância das crianças?
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Fabrício Carpinejar
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