No restaurante, três crianças almoçavam com os seus pais. Uma escadinha: 2 anos, 4 anos e 6 anos. Lembrou a minha cambada de irmãos: a mesma diferença de dois anos. Sou de 72, Rodrigo é de 70 e Miguel é de 74. Eu me revi, homem feito, na composição da ceia.
Só que os três estavam silenciosos. Não incomodavam. Não
implicavam com o cardápio. Não discutiam para sentar ao lado da mãe ou do pai.
Nada. Não disputavam preferências e privilégios, como era natural entre os
meninos.
Cada um tinha um headphone no ouvido e um celular. Cada um na
cabine auditiva de seus jogos. Isolados do que acontecia externamente, com as
pálpebras piscando de acordo com a violência dos dedos nas teclas. Não
interagiam com o garçom e com ninguém, a não ser com as cores e os barulhos dos
seus joguinhos.
Os pais conversavam tranquilamente, sem se importar com os
efeitos trágicos daquela falsa felicidade. Os filhos não haviam abandonado a
casa. Unicamente seus corpos na mesa, unicamente a boca para comer algo. Eles
se mantinham em seus quartos digitais.
Juro que me deu uma compaixão. Não experimentavam o que era
um irmão, a natureza nervosa e heróica de um mano.
Irmão pequeno briga, estapeia, provoca, enche o saco, começa
a correr pelas cadeiras, inventa maneiras inusitadas de chamar atenção.
Atropela os bons modos e é xingado, aprende o que é educação na marra, vai
decifrando a brabeza dos pais pelo tom de voz e pela altura das sobrancelhas.
Estavam perdendo o melhor da infância, representado na proximidade etária, nas
brincadeiras verbais, na luta dos meninos para comer com as mãos, no contato
físico que gera o abraço e o perdão, que apressa o entendimento e a saudade.
Desperdiçavam o patrimônio afetivo de sair com a família reunida, fato que será
raro mais tarde em suas vidas.
Aparentemente comportados, mas tristes. Três filhos apartados
como se fossem filhos únicos, solitários, precocemente adolescentes.
Onde anda a infância das crianças?