Quem nunca fez uma, que atire a primeira promessa. Todos nós
já fizemos e certamente vamos continuar fazendo. Afinal, o começo do ano é uma
oportunidade ideal para renovarmos aquelas juras que provavelmente nunca cumpriremos,
já que Resoluções de Ano Novo são criaturas com uma expectativa de vida bem
baixa: poucas conseguem chegar vivas ao final de janeiro, e somente uma ou
outra sobrevive ao carnaval.
Isso não vale para absolutamente todas as Resoluções de Ano
Novo, mas certamente se aplica a maior parte delas. Muitas podem até se tornar
realidade, mas a maioria mesmo nunca deixa de ser promessa; são apenas símbolos
do desejo de que o ano seja melhor que o anterior. Eu mesmo, nos quase quarenta
Anos Novos que vivi, não cumpri a maioria das minhas resoluções. Aliás, existem
alguns tipos de Resoluções de Ano Novo que parecem ter sido feitos justamente
para não serem cumpridas.
Para observamos alguns deles, basta escolher uma família
qualquer no primeiro dia do ano. De preferência, após o almoço, quando estão
reunidos na sala, conversando preguiçosamente. Todos comeram bem, beberam
bastante, o tio derrubou molho na camisa branca e as crianças brigaram pela
última coxa do peru. Agora, todos estão na sala conversando, menos o avô que
foi deitar e o neto mais velho, que está mais afastado folheando um livro.
Ainda não estão falando sobre suas resoluções para o próximo
ano, mas isso vai acontecer no próximo parágrafo, com uma tia puxando o
assunto. Toda família tem uma tia que puxa esse tipo de conversa, e o mesmo
acontece com a família que estamos observando.
Assim, a tia desta família dá um
último gole no café e, aproveitando um momento de silêncio, anuncia sua
declaração de Ano Novo:
– A partir de segunda-feira eu vou começar o regime. E este
ano irei à academia todos os dias, diz a tia, torcendo para que ninguém se
lembre de que, meia hora atrás, ela estava comendo seu terceiro prato de lombo
com maionese.
– Mãe, você fala isso todo ano, responde sua filha, deitada
no tapete da sala.
– Desta vez eu estou falando sério. Este ano vou levar a
sério.
– Você também fala isso todo ano.
E era verdade. Nos últimos dez anos, a tia havia afirmado que
iria levar a dieta e o regime em todos eles. Este é o primeiro tipo de
Resolução de Ano Novo: a promessa que é feita religiosamente todo ano. E toda
vez que ela é feita, vem acompanhada da frase “este ano vou levar a sério”.
Outro exemplo desta categoria? O clássico “este ano vou parar de fumar”.
Mas vamos voltar à sala. Incomodada com a resposta da filha,
a tia resolve fazer com que o foco da conversa não seja mais sua lendária dieta
anual que não dura nem quinze dias, e pergunta:
– E você, Marcela? Qual vai ser sua resolução para este ano?
– Arrumar um namorado, responde a garota, depois de pensar
uns instantes.
– Isso não depende de você, interrompe um dos primos.
O primo tem razão. Afinal, esta é a segunda categoria das
Resoluções de Ano Novo: prometer fazer algo que não se faz sozinho, pois
normalmente depende de a) outra pessoa, b) do destino, c) do acaso, d) de todos
os anteriores.
“Começar a namorar” é o segundo exemplo mais famoso desta
categoria. O primeiro é o clássico “este ano vou ficar rico” -- que sempre é
prometido por pessoas aparentemente incapazes de escolher “este ano vou guardar
dinheiro” como resolução e que normalmente já começam a pensar no 13º ainda no
primeiro semestre.
– Claro que depende. Eu preciso estar aberta a um
relacionamento.
– Mas não é apenas isso. Para namorar, você precisa encontrar
alguém.
– Eu sei.
– E este alguém precisa querer namorar.
– Sim, eu sei disso, Fernando.
– Aliás, este alguém precisa não apenas querer namorar, mas
querer namorar você.
– Nossa, Fernando, como você é chato! Eu sei de tudo isso!
Minha resolução de Ano Novo deveria ser não falar mais com você!
– Isso também não depende apenas de você. Depende também de
mim.
–Você é muito chato! Já que você sabe tanto sobre resoluções
de Ano Novo, qual é a sua?
Fernando, sentado no canto da sala, se endireita na cadeira,
como quem vai fazer uma revelação importante. Espera alguns segundos e avisa
que:
– Este ano eu vou arrumar um emprego.
Ele mal consegue terminar a frase, já que todos caem na
risada.
– Do que vocês estão rindo?
Quem responde é seu irmão.
– É claro que você vai arrumar um emprego! No dia que você
tomou bomba na faculdade, a mãe disse que se você não começar a trabalhar ela
vai te colocar para fora de casa!
Aqui vemos que Fernando usou o terceiro tipo das Resoluções
de Ano Novo: prometer algo que terá que ser feito de qualquer jeito.
– Esse moleque nunca vai entrar na linha! Quem fala agora é o
pai de Fernando.
– Vai sim. E vai este ano. Vai ser a minha resolução de Ano
Novo. E vai ser a sua também!, diz a mãe de Fernando, para o marido.
Este é o quarto tipo de Resoluções de Ano Novo: aquela em que
outra pessoa escolhe a promessa por você.
Todos ficam em silêncio por alguns instantes.
A tia aproveita
para ir até a cozinha, já que como seu regime começa somente na próxima
segunda-feira, um pedaço de bomba de chocolate não vai matar ninguém. É seguida
pelo marido que, em dúvida se anunciava sua resolução para o próximo ano (beber
menos) ou ver se sobrou cerveja na geladeira, escolheu a segunda alternativa.
Assim, quem volta ao assunto é Roberta, outra prima, que está num banquinho
perto da janela:
– Este ano eu quero mesmo é ser feliz!
Rob Gordon