por Pedro Gabriel
Algo estranho acontece todo final de ano: as pessoas ficam
simpáticas. Do nada. Corrigindo: as pessoas que não tinham o hábito de praticar
gestos gentis se veem automaticamente entupidas de uma bondade jamais vista.
Com direito a brilho nos olhos, sorriso de orelha a orelha e braços mais
abertos que os do Cristo.
Desde 1984, quando nasci, sou testemunha viva desse
fenômeno. Não costuma durar muito tempo – geralmente chega na segunda quinzena
de dezembro e se estica até o primeiro amanhecer de janeiro.
A sensação que eu tenho é que todo mundo se matriculou ao
mesmo tempo em aulas de ioga. Intensivão de pensamentos positivos ohmmmmmm;
supletivo de postura bacanuda perante o amor ao próximo ohmmmmmm; hora extra
pelo futuro da Mãe Natureza ohmmmmmm…
Seria lindo se não fosse perecível.
Aquela mesma pessoa que ontem te xingava nas redes sociais hoje compartilha
freneticamente as atualizações do seu mural.
E tem mais: comenta com um
coraçãozinho fofo e até dá uma curtida na foto da sua árvore de Natal
recém-montada.
(...)
Ah, como eu amo essa época!
Mas cuidado, praticante do bem diário: essas pessoas tocadas
pela bondade repentina podem voltar ao normal a qualquer momento.
Num mundo
onde a concorrência é cada vez mais maldosa, ser bom, infelizmente, virou um
diferencial.
Isso sempre me incomodou.
Não gostaria que a gentileza fosse um
item de supermercado, posicionado estrategicamente na prateleira mais alta, com
código de barras e prazo de validade – uma espécie de panetone a ser consumido
imediatamente.
Que em 2018 todo mês seja dezembro.