Eu que chamei tantas vezes de amor essa força bruta e avassaladora. Onde nada poderia ser simples ou menos tumultuado porque precisava tirar o fôlego, a razão e toda a minha inteligência emocional.
Eu que chamei de amor essa coisa opressora que turvava a
mente e embargava a voz com frases aflitas. Essa coisa quase injusta, pois me
tornava absolutamente impotente diante de uma escolha.
Eu que chamei de amor essa explosão indomável, esse estado de
urgência, essa descaracterização de mim mesma: vivia um estado de
transbordamento que fazia com que me sentisse mais miserável do que plena.
Sentia uma espécie de desejo onde o limite era sempre doloroso. Estava
submetida a uma profusão de sentimentos incolonizáveis que faziam de mim mais
vigilante que atenta, mais traída do que distraída.
Eu que chamei de amor essa embriaguez de estar tão
escravizada que tentava apoderar-me não do Outro, mas da liberdade dele. Eu que
não queria habitar seu coração, mas dominar os seus pensamentos. Eu que deixava
de ser amante de alguém para me tornar súdita de um sentimento.
Eu que chamei de amor esse desconforto quase adorado e seu efeito lacrimogêneo: vulgarmente conhecido como paixão.
Eu que chamei de amor esse desconforto quase adorado e seu efeito lacrimogêneo: vulgarmente conhecido como paixão.