tá explicado então!
☃
Feliz aniversário,
Neckyr!
Te desejo tudo isso e muito, muito mais...
“Tente uma, duas, três
vezes e se possível tente a quarta, a quinta e quantas vezes for necessário. Só
não desista nas primeiras tentativas, a persistência é amiga da conquista. Se
você quer chegar aonde a maioria não chega, faça o que a maioria não faz.”
– Bill Gates
Velho, não.
Entardecido, talvez.
Antigo, sim.
Me tornei antigo
porque a vida,
tantas vezes, se demorou.
E eu a esperei
como um rio aguarda a
cheia.
Gravidez de fúrias e
cegueiras,
os bichos perdendo o pé,
eu perdendo as palavras.
Simples espera
daquilo que não se
conhece
e, quando se conhece,
não se sabe o nome.
Mia Couto - “A adiada enchente”
A vida decepciona-o para
você parar de viver com ilusões e ver a realidade. A vida destrói todo o
supérfluo – até que reste somente o essencial.
A vida permite que você
caia de novo e de novo, até que você decida aprender a lição da queda. A vida
lhe tira do caminho e lhe apresenta encruzilhadas, até que você pare de querer
controlar tudo e flua como um rio.
A vida lhe assusta e
assustará quantas vezes for necessário, até que você perca o medo e recupere
sua fé.
A vida tira o seu amor
verdadeiro até que você pare de tentar possui-lo. A vida lhe afasta das pessoas
que você ama até entender que não somos apenas corpos, mas também as almas que
eles contêm.
A vida ri de você muitas
e muitas vezes, até você parar de levar tudo tão a sério e rir de si mesmo. A
vida quebra você em tantas partes quantas forem necessárias para que a luz
possa, enfim, penetrar-lhe.
A vida lhe confronta com
rebeldes e gente difícil, até que você pare de tentar controlá-los.
A vida repete a mesma
mensagem – se for preciso, até com gritos e tapas, até você finalmente ouvi-la.
A vida envia raios e tempestades para acordá-lo. A vida lhe humilha e por vezes
lhe derrota de novo, e de novo, até que você decida deixar seu ego e sua
vaidade morrerem.
A vida corta suas asas e
poda suas raízes, até que não precise de asas nem raízes – e decida, então,
voar.
A vida lhe nega milagres,
até que entenda que tudo é um milagre. A vida encurta seu tempo, para você se
apressar a aprender a viver. A vida lhe ridiculariza até você se tornar nada,
ninguém, para então tornar-se tudo.
A vida não lhe dá o que
você quer, mas o que você necessita para evoluir. A vida lhe machuca e lhe
atormenta até que você solte seus caprichos e birras e aprecie o simples ato de
respirar e estar vivo.
A vida lhe esconde tesouros
até que você aprenda a sair para buscá-los. A vida lhe nega Deus, até você
vê-lo em todos e em tudo. A vida lhe acorda, lhe poda, lhe quebra em pedaços,
lhe desaponta… Mas creia, isso é para que seu melhor se manifeste… E até que só
o amor permaneça em você.
Bert Hellinger
Tenho nojo de ser homem,
tenho medo de ser pai. A adolescente de 16 anos vítima de estupro de 33 homens
no Rio de Janeiro não me permite mais dormir, muito menos acordar. Fico como um
zumbi sem vontade de sair para a rua, de falar com a família, de conversar com
os amigos. A vida me roubou o respeito para sorrir. Meu sorriso morreu. Meu
sorriso não tem mais graça. Pois uma criança dentro de uma mulher não terá mais
infância para sorrir. Nem maturidade para chorar.
É a impunidade gloriosa:
dopam e estupram, estupram e se revezam, e ainda mostram o objeto do estupro
como um troféu na web e ninguém é preso imediatamente. Os agressores zombam,
debocham, escarnecem sobre a fragilidade da vítima. Culpam a vítima por ser
distraída e crédula. Culpam a vítima por ser mulher. A truculência vem sendo
única razão nesta terra sem leis e sem prisão.
Não dá para ser mulher no
país. Não dá para ser decente no país. Não dá para ter alma neste país. Ela se
tornou um lixo, uma boneca com a sexualidade esfaqueada centenas de vezes, uma
presa da mais insana misoginia. Que covardia pode ser maior que esta? Era
menor, era indefesa, foi drogada, foi encurralada, não tinha como escolher, não
tinha como se defender, não tinha como gritar, não sabia onde estava.
Por mais que tome banho,
não se lava a memória. Poderia ser a minha filha. Poderia ser minha mulher.
É um ex-namorado que leva
a uma emboscada, é um bando de animais brincando com armas, rindo de matar,
rindo de ferir, rindo de abusar, rindo de destruir alguém. A brutalidade ri dos
inocentes, o machismo ri dos direitos humanos. Enquanto a gargalhada da
violência for maior que o gemido, for maior que a nossa dor, for maior que o
nosso não, for maior que o nosso pedido de socorro, não me chamem mais de
brasileiro. Deixou de ser uma nacionalidade, é uma acusação.
... mas quando se deu isso?
Faz já algum tempo. A publicação é de 30/05/2016, porém, agora, minha família sente na
pele todas essas mazelas.
Fabrício expressou bem o
estado do meu coração!
Até então, o estupro me
parecia uma situação distante. Coisa de noticiários, até que chegou em minha casa.
Infelizmente, as pessoas, todos os dias, aprendem a não ter alma, não ter coração, não ter Deus em suas
vidas.
O ser humano, há muito
tempo, deixou de ser humano.
#NOJO
Senhor,
Nesse momento, quando me
sinto pequena diante das dores dos meus irmãos, lhe peço forças para
administrar as minhas com resiliência... Lhe peço que fortaleça minha fé para
que a cada prece eu possa alcançar teu olhar com meus pedidos de proteção, cura
e conforto a quem mais precisa.
Senhor, meu Deus, eu lhe
peço amparo para que possamos atravessar a tempestade com coragem, humildade e
amor uns para com os outros.
Que tua mão esteja
estendida sobre nós, aliviando os pesos que nos entristecem e tua luz nos dê a
saúde e a tranquilidade que todos precisamos.
Que teu manto seja escudo
protetor afastando de todos a sombra do medo, da tristeza e da dor.
Que possamos meu Deus ser
abençoados com esperança, confiança e paz de espírito a cada amanhecer.
Que o Senhor nos permita continuar...
Rita Maidana
Sempre nos ensinam que a
vida depende em boa parte de escolhas nossas. Isso também “depende”. Pois, se
nasço branco e rico, negro e pobre, branco e doente, negro e saudável, oriental
e talentoso, oriental e enfezado, se nasço no Norte mais pobre ou no Sul mais
progressista, aqui no estranho Brasil ou em algum lugar muito carente da África
mais remota, se meu pai é inuit num dos polos ou banqueiro em Nova York, e
assim por diante, digamos que a minha escolha não há de pesar tanto.
Essa é a base. Mas
depois, aí vem o dilema - porque a gente não gosta de dilemas, que provocam
escolhas. Depois das condições, não escolhidas, em que nascemos, vem um longo
trajeto em que podemos seguidamente tomar decisões: droga ou trabalho, estudo
ou boa vida, honra ou malandragem, afeto ou futilidade... enfim. Nada é
perfeito.
Escolhas são aflição.
Ofereçam ao seu pet um biscoito e um naco de carne, e ele poderá hesitar,
perplexo: animais de estimação têm expressões assustadoramente humanas. Para os
humanos, as escolhas são as mais diferentes e até absurdas: que roupa usar, no
meu closet do tamanho de um bom quarto normal? Que arma vou usar no próximo
assalto? Quem vou assaltar? O que vou comprar com o dinheirinho que me resta:
remédio ou comida? Para onde devo me mudar? Por que me mudar?
Ainda falando de gente:
existe um número imenso de alunos e professores que preferem uma aula bem
digerida, nada de provocações por parte do mestre, pois os alunos podem exercer
sua perigosa inteligência, sua inquietante liberdade, e argumentar, discutir...
Talvez sejamos simplesmente preguiçosos, comodistas, lerdos. Queremos boa vida,
nada de caminho pedregoso ou esburacado, nada de pais que impõem limite,
professores ou patrões exigentes.
Pode ser delicioso ser
filhinho do papai ou da mamãe, e não me refiro só à casa paterna, mas à vida em
geral, também à profissão, aos estudos. Escolher é muito chato. Mas a vida não
dá colo: passa muita rasteira, exige humildade, personalidade e resistência.
Por outro lado - isso me provaram muitos jovens e alunos -, que alegria
descobrir o próprio poder de decisão.
Crescer dói, e não só nos
ossos infantis com a dita “dor de crescimento”. Dói na alma: “viver é lutar”,
disse o poeta brasileiro ao filho, e é, sim. Mas tem umas compensações, como
perceber que não somos totalmente ignorantes, incapazes e dependentes.
Descobrir que nosso trabalho, por mais simples que seja, tem importância, isto
é, nós temos importância. Descobrir que somos necessários também para pessoas
que nos amam, amigos, família, parceiros.
Talvez essa seja a base
de todo tipo de felicidade, que para mim é sentir-se bem na própria pele -
mesmo fora dos grandes entusiasmos policromados: saber-se apreciado,
profissional ou pessoalmente. E todos somos. Nem precisam ser coisas
grandiosas, ao contrário: o bom, o positivo, pode ser muito pequeno, e ainda
assim essencial, como permitir-se ser amado, ser estimado, ser escolhido, ser
eficiente. Mesmo que apenas (apenas?) para limpar a rua, trocar a atadura,
estimular alguém, fazer alguém pensar por si, e saber-se capaz de fazer suas
próprias escolhas.
(Crônica pulicada
originalmente em 1º de abril de 2017)
Tenho percebido que a
poesia anda visitando as redes sociais com uma frequência que não havia antes.
Atores e atrizes dizem poemas, Betos e Marias dizem poemas, e os versos se
espalham por escrito também, alguns fotografados direto dos livros. Poesia,
veja só. Aquela flor atrevida que surge entre os tijolos dos muros e as lajes
das calçadas, e que altera a visão do mundo.
Não foi combinado,
ninguém propôs, não marcaram dia e hora para começar. Começou. Alguém lembrou
de Bandeira numa terça, outro puxou uma Cecília Meireles na quarta, um Manoel
de Barros veio à tona sexta-feira, e das páginas os versos saltaram para o
universo digital, que estava mesmo precisando de algo mais depurado do que a
bruta troca de ofensas entre dois lados.
A poesia como resposta ao
que não nos foi perguntado: merecemos uma sociedade tão desnutrida de valor,
tão árida, estéril e nefasta? Em meio a um país fúnebre, contando mortos e
motos, sendo infectado diariamente pela estupidez e assistindo à ascensão da
miséria intelectual como se fosse um triunfo, vem a poesia em nosso socorro e
traz um pouco de luz. Palavras cintilantes, como vagalumes aqui e ali,
acendendo tochas na escuridão.
A poesia, que tantos
acham difícil e solene, vem juntar-se aos nossos estilhaços, às nossas lives e
postagens, vem nos acariciar e sussurrar belezas, vem promover um breve
instante de comoção, vem preencher o vazio e espantar essa esquisita friagem
vinda da região central do Brasil, esse espírito glacial que intenciona trocar
nossos vestidos vaporosos e camisas coloridas por fardas que enrijecem o
caminhar, a liberdade dos passos. Vem ela, a poesia, colocar-se a postos para
esse confronto de delírios, ofertando, em contraste, sua magia. Em vez de
lunática, inteligentemente anárquica; em vez de pirada, inspirada. Esparramando
bom astral por onde passa.
A poesia está no varal e
suas roupas penduradas, no semblante da moça dentro do ônibus, num guarda-chuva
preto atrás da porta, na chama da vela que treme ao abrirem uma janela, nas
mãos dadas dentro do cinema. A poesia está no resto de bolo na geladeira, no
vapor que embaça o espelho depois do banho, na cama desarrumada do quarto. Seu
filho dormindo também é um poema.
A poesia não é oculta, e
sim discreta. Basta um convite do olhar e ela se revela, para então se esconder
novamente atrás da pressa, do tédio, do desencanto, do barulho.
Hoje estou aqui para
saudar a reação espontânea de tantos internautas, necessária resistência diante
da tentativa de arrancarem de nós o que é sentimental, deixando-nos apenas
palavras rudes e paredes com marcas de tiros. A poesia, milagreira, retorna.
Flor que brota no cimento, e que, insolente e bela, nos salva, nem que seja por
um minuto, aquele respeitoso minuto de silêncio.
Eu vim aqui me buscar. E
aqui parecia ser longe, muito longe do lugar onde eu estava, o medo costuma ver
as distâncias com lente de aumento.
Vim aqui me buscar porque
a insatisfação me perguntava incontáveis vezes o que eu iria fazer para
transformá-la e chegou um momento em que eu não consegui mais lhe dizer
simplesmente que eu não sabia.
Vim aqui me buscar porque
cansei de fazer de conta que eu não tinha nenhuma responsabilidade com relação
ao padrão repetitivo da maioria das circunstâncias difíceis que eu vivenciava.
Vim aqui me buscar porque
a vida se tornou tediosa demais. Opaca demais. Cansativa demais. Encolhida.
Vim aqui me buscar
porque, para onde quer que eu olhasse, eu não me encontrava. Porque sentia uma
saudade tão grande que chegava a doer e, embora persistisse em acreditar que
ela reclamava de outras ausências, a verdade é que o tempo inteirinho ela
falava da minha falta de mim.
Vim aqui me buscar porque
percebi que estava muito distante e que a prioridade era eu me trazer de volta.
Isso, se quisesse experimentar contentamento. Se quisesse criar espaço, depois
de tanto aperto. Se quisesse sentir o conforto bom da leveza, depois de tanto
peso suportado. Se quisesse crescer no amor.
Vim aqui me buscar, com
medo e coragem. Com toda a entrega que me era possível. Com a humildade de quem
descobre se conhecer menos do que supunha e com o claro propósito de se
conhecer mais. Vim aqui me buscar para varrer entulhos. Passar a limpo alguns rascunhos.
Resgatar o viço do olhar. Trocar de bem com a vida. Rir com Deus, outra vez.
Vim aqui me buscar para
não me contentar com a mesmice. Para dizer minhas flores. Para não me
surpreender ao me flagrar feliz. Para ser parecida comigo. Para me sentir em
casa, de novo.
Vim aqui me buscar. Aqui,
no meu coração.
Reza, uma lenda, que
uma donzela muito bonita, que havia perdido as esperanças de arranjar um
marido, apegou-se a Santo Antônio. Dizem que a mulher adquiriu uma imagem do
santo e colocou-a em um pequeno oratório.
Diariamente, a jovem
colhia flores e as oferecia a Santo Antônio sempre pedindo que este lhe
trouxesse um marido. Passaram-se semanas, meses, anos e nada do noivo aparecer.
Então, desiludida pela ingratidão do santo, atira a imagem pela janela. Neste
exato momento, passava um jovem cavalheiro que é atingido pela imagem do santo.
Ele apanha a imagem e vai entregar à donzela que se apaixona por ele e se casa
atribuindo a chegada do príncipe encantado à fé por Santo Antônio.
A partir daí, as mulheres
solteiras que queriam se casar começaram a fazer orações pedindo ajuda ao santo
e venerando sua imagem.
#fique por dentro
No livro de ensaios de Ana Karla Dubiela, As cidades de Rubem Braga e W. Benjamin, encontrei uma crítica de Rubem Braga a uma reportagem da antiga revista Manchete que mostrava as “10 mais elegantes de 1967” e que assim foram analisadas por nosso cronista maior: “Que aura envenenada lhes tirou o encanto, e as deixou ali tão enfeitadas e tão banais, tão pateticamente sem graça, expostas naquelas páginas coloridas como risíveis manequins em uma vitrine de subúrbio?”. Ana Karla complementa: aquelas mulheres que um dia representaram o símbolo de perfeição e encantamento burgueses, que romantizavam a riqueza e o desnível social, agora denunciavam, em seus rostos caricaturais, a decadência de um tempo.
Quase posso visualizar a
foto das madames, idêntica a tantas outras que costumavam ser publicadas nas
colunas sociais, na distante época em que ter “berço” ou um sobrenome de peso
justificava o destaque. Mas a roda gira e esse tipo de jornalismo acabou. Foi
substituído pela valorização de pessoas que alcançam prestígio por razões mais
consistentes do que ter uma herança a caminho ou uma plástica bem-feita: ganha
foco, hoje, os que contribuem para a sociedade através de suas habilidades,
talentos, ideias. Nem é obrigatório um sobrenome; o apelido, às vezes, basta.
No vácuo, coube às redes
sociais continuarem a dar uma forcinha para a vaidade sem motivo, com a
vantagem de agora ninguém mais depender de um colunista social e de um
fotógrafo para aparecer: é só tirar uma selfie, escrever a legenda e postar em
sua própria página. Cada um de nós tem uma Ilha de Caras para chamar de sua.
A egotrip é uma tentação,
eu sei. Por mais que se tente oferecer algum conteúdo aos seguidores, é difícil
resistir e não postar aquela foto “de revista”, em que você está segurando uma
taça de champanhota ao lado de 15 amigas durante o entardecer, em um coquetel à
beira do Mediterrâneo. É de bom-tom? Consultas com a especialista em etiqueta
virtual Keila Mellman, personagem oportuníssima da atriz Ilana Kaplan, e com a
blogueirinha do fim do mundo, personagem da perspicaz Maria Bopp que, com sua
ironia crítica, atinge em cheio a turma dos sem noção.
Ter nascido rico e lindo
não é crime, ninguém precisa se atirar do alto da pirâmide. Porém, estamos em
2021: ostentar é cafona, aglomerar é perigoso e a insensibilidade diante do
momento presente não é de bom-tom. Em caso de dúvida, siga Ilana e Maria, gurus
da inteligência e do humor em tempos de pandemia - sim, ainda estamos no meio
de uma pandemia e o item mais elegante do vestuário deixou de ser a bolsa de
grife e o blazer de cetim de seda com estampa de leopardo, e sim a boa e
indispensável máscara. E uma camiseta regata para facilitar a aplicação da
vacina. No aqui e agora, gente com tutano é que está entre as 10 mais.
A qualquer distância,
em qualquer instante,
é possível abrirmos
os olhos para dentro,
sintonizar o coração
e enviar um sorriso de
amor.
#longe dos olhos, dentro
do coração.