#dia do orgasmo
sexta-feira, 31 de julho de 2020
quinta-feira, 30 de julho de 2020
namore o amor
Ah, essa coisa de amor.
Amor não se explica. Amor
se aplica. Amor se descomplica e multiplica.
Se lapida, se adequa, se
rega e se roga.
Amor não se implora. Amor
aflora.
Amor não se impõe. Amor
propõe e não supõe.
Amor tem certeza. Tem
clareza. Tem nudeza.
Amor tem beleza.
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Cláudia Dornelles
respeite a solidão do miojo
Minha mulher gosta de
miojo. Ela compra pacotes escondidos de mim e armazena longe da despensa para
não localizar. Descobri o seu esconderijo esses dias, está no armário da
louça para as visitas.
Eu odeio aquela massa
pronta, blocada, unidos venceremos, que desce no prato toda grudada, e com
aquele sachê de tempero que é como mastigar a seco um tablete de caldo de
carne. Não poderia ser mais artificial.
Mas sei que o miojo para
a minha mulher é mais do que um prato, é a lembrança de sua infância, é um
símbolo do parto de sua independência, quando preparava a sua comida pela
primeira vez sem se preocupar com ninguém.
Miojo é solidão. É
recuperar um tempo ido, um tempo de prazer secreto e acolhimento. Por isso é
uma refeição egoísta, para uma porção apenas. É o equivalente a partilhar
uma coxinha ou oferecer um pão de queijo a uma dentada.
Há alguns momentos em
que a Beatriz será solteira dentro de nosso amor. E não é que me ame menos
ou que deixou de estar casada, é que naquela sagrada horinha está se amando
mais do que me amando.
Não devo nunca sentir
ciúme do seu amor-próprio.
Não tenho o direito,
diante de uma evocação sincera, de estragar o feitiço de sua hipnose, esconjurá-la dizendo que
não conta como janta, agredir a nebulização borbulhante da panela,
amaldiçoar a sua alegria antiga.
É necessário dar
espaço dentro da relação para as manias infantis de cada um. São
passatempos importantes, apegos intuitivos, para a saúde mental.
Para o bem da
convivência, faça vista grossa diante dos chicletes ou jujubas ou salgadinhos
ou pastilhas de chocolate ou bombons colocados no fundo do carrinho de
supermercado.
Não mate a criança
dentro do adulto.
Eu mesmo quando preciso
me religar à alegria de viver devoro aquelas batatas chips em lata. E fico
imensamente chateado ao dividi-las. Prefiro que seja absolutamente solitário,
na frente da televisão, com a realeza crocante do surto, e com o luxo de
entornar os farelos ao final.
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Fabrício Carpinejar
terça-feira, 28 de julho de 2020
inalterável gerúndio
Saudade do particípio. De
quando uma etapa era vencida. Uma crise, superada. A coisa acontecida. Agora é
esta estrada que não acaba, este mistério que se alonga. Tudo se arrastando
como um rio no meio da tarde, como a formação de uma onda preguiçosa, como o
passo de uma girafa em câmara lenta.
Estamos remoendo ideias e
escrevendo uma parte da história do mundo. Povoando nossos sonhos com criaturas
esquisitas. Alongando pensamentos, inventando verbos, espichando os dias e se
perguntando: até quando?
Nenhum ponto final à
vista. Nada, coisa nenhuma concluída, feita, resolvida. Ainda estamos
aprendendo a lidar com os medos novos e com um futuro que, teimoso, não chega,
ao contrário, olha lá ele, se afastando.
Talvez estejamos perdendo
a calma - perdendo vagarosamente, pois ela ainda não está de todo perdida.
Sempre há um restinho de serenidade sobrando. Os dias não começam nem terminam,
eles vão se somando. As horas não se diferenciam umas das outras, vão se
misturando.
O dia vai se enamorando
da noite, a noite vai seduzindo as manhãs: promiscuidade de um tempo que não se
define, prefere ir se enroscando.
Antes fazíamos
aniversário. Em 23 de abril, 18 de maio, 11 de junho. Mas já não há mais datas
marcadas, não há o antes e o depois destacados no calendário dos dias. Agora
estamos continuadamente envelhecendo, de forma mansa e esparramada. O corpo da
gente se gastando e o coração insistindo, batendo, batendo.
O frio e o calor andam
transando. Ouço-os gemendo. Tiro o blusão depois do almoço, recoloco o blusão
ao entardecer, acumulo cobertas e no meio da noite acordo suando, abro a janela
e parece que vai chover, parece que não vai, a terra continua girando ao redor
do sol e o inverno está brincando de se esconder.
Ando telefonando em vez
de digitar mensagens. Ando lendo livros que já li. Ando doando roupas que não
uso mais. Ando vestindo as mesmas camisetas. Ando matutando tanto. Ando
gerundiando que nem sei. São muitas vozes me chamando de dentro do silêncio, e
eu, alerta como nunca, ando me escutando.
As emissoras de rádio e
TV seguem transmitindo boletins diários, e de madrugada ainda tem gente
postando. Volta e meia, aproxima-se alguém vindo da extrema realidade, pedindo:
dá uma moeda, alcança um pedaço de pão? Tudo segue doendo, e na região central
do país, onde se resolvem os problemas, nada e coisa nenhuma se revezam:
permanecem banalizando as responsabilidades e destruindo, desde o início, o que
um dia foi começado. Pouco se tem enfrentado, debatido, solucionado, como
deveria fazer quem fosse bem preparado.
Danado, sumido. Saudade
do particípio.
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Martha Medeiros
domingo, 26 de julho de 2020
Certa vez, fiquei
observando meu pai brincar com meus sobrinhos. Espantada, não era o meu pai que
eu via: era o meu avô, o pai dele. O mesmo aconteceu outro dia em que minha mãe
sovava a massa do pão: era a mãe dela que eu enxergava, com toda sua força e
alegria na cozinha.
Rubem Alves escreveu uma
crônica pro seu neto Tomazinho quando este ainda estava aprendendo a falar. No
texto, o escritor conta que o menino adorava brincar de cavalinho sentado sobre
as pernas do avô: “você brinca de cavaleiro, meus braços segurando os seus,
você rindo, querendo sempre mais, e eu cantarolando uma canção que sua bisavó,
a Oma, cantava para os netos, em alemão”.
Quando somos crianças,
não temos noção de que nossos avós não são eternos. E o tempo passa tão rápido
que, de repente, não temos mais os nossos avós por perto. Mesmo com eles ainda
vivos, nossa correria diária cheia de compromissos muitas vezes nos faz adiar
visitas e reencontros.
Até que um dia surge uma
vontade inesperada de comer aquele bolo de laranja gostoso que só a vovó sabia
fazer. Rubem Alves sabia disso, ele deixou para o seu neto esta mensagem: “se
você tiver vontade de andar a cavalo é porque estará com saudade da perna do
seu avô…”.
Hoje eu não tenho mais
uma casa de avós para visitar. Infelizmente, os quatro já se foram. Mas os
visito constantemente nas minhas saudades. Na casa dos avós podia tudo, mesmo
quando eles ficavam bravos com os netos. Lá a gente brincava de “gato mia”,
subia no telhado, entrava no jardim. Pegava hortelã e cebolinha da horta para
fazer comida para as bonecas. Molhava o pão com manteiga no leite com café.
Achava os chocolates escondidos no armário. Brincava com o galinho do tempo que
ficava na estante da sala — aquele que mudava de cor dependendo da umidade.
Hoje é fácil perceber
como não importava se a vovó trocava o nosso nome ou se o vovô não tinha
condições de nos dar um presente caro. Como também não importava se chovia ou
se o tempo estava seco (se o galinho estava rosa ou azul). Naquele tempo de
ternura, travessuras e simplicidade, o que importava era o colo caloroso de
nossos avós. Aquele era o jeito deles brincarem de cavalinho conosco.
Repare como o amor de
nossos avós supera o tempo e a distância; eles também vivem em nossos pais.
Olhe o seu pai brincando com seus filhos: é o pai dele se divertindo com você e
seus irmãos. Observe sua mãe preparando o almoço: é a mãe dela abençoando a
cozinha.
De geração em geração, a
vida dá seu testemunho: os avós não morrem. A memória do que foi bom e bonito
permanece nas partidas de baralho e nas pescarias, no sorvete de groselha e nos
sonhos de goiabada, nos panos de pratos bordados por nós e nas histórias que
passamos para frente.
Rebeca Bedone
sábado, 25 de julho de 2020
A vida, tecelã antenada,
que tece também com fios de sorriso, continua a tecer belezas pra quem não
fecha o coração para as surpresas.
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Ana Jácomo
o amor dá certo até quando dá errado
Já se falou que um
romance, para engatar, precisa acontecer entre pessoas que tenham muitas
afinidades. Outros defendem que os temperamentos é que têm que combinar.
Outros, ainda, dizem que não pode haver tanta diferença de idade, ou situação
financeira discrepante. Amor à distância? Ele em Rondônia e você em Floripa? É
dar muito crédito ao Cupido, melhor esquecer e procurar algo mais perto do seu
quintal.
Falam, falam, falam. E
quanto mais se fala, menos escutamos. Mergulhamos fundo em relações caóticas, o
que quase todas são, pois dificilmente dois seres humanos se reconhecerão como
almas gêmeas, esse troço que dizem que existe, mas que aqui em casa nunca bateu
a campainha.
O jeito é virarmos
experts no gerenciamento do caos. E lá vamos nós amar, sofrer, viver em êxtase,
viver aos prantos, apaixonados e desapaixonados, tontos pelos altos e baixos
dos nossos desejos, os explícitos e os secretos. É isso ou sair do jogo,
resignando-se à única relação que realmente pode durar para sempre: você com
sua (bendita ou maldita) solidão.
Todo esse preâmbulo não é
para desanimar ninguém. Sou da turma que diz: vá! Tenta com o bonitão e com o
feioso, com o surfista e com o tiozão, com o socialista e com o neoliberal
(quer tentar com a bancada evangélica, sorte aí). Vá ao encontro dos seus
iguais, e também diga sim para os que você pressente que, após duas semanas,
nunca mais. O amor pode estar encruado onde você nunca imaginou encontrá-lo,
então use as ferramentas que te deram e boa sorte na extração. Não conheço
outra aventura na vida mais educadora e mais estimulante – muitas vezes, mais
frustrante também, mas qual é a alternativa?
Desistir de amar não é
uma alternativa, é apenas uma estratégia para se proteger de futuras decepções.
O amor dá certo até
quando dá errado, pelo simples fato de ter acontecido, mas se você pleiteia a
eternidade conjugal, lembre que ficha corrida (“inteligente, bonito,
divertido”) não garante nada. O sucesso depende apenas de algo que em bom
português se chama timing: surgir na hora certa.
Os dois se encontram
quando ambos já demitiram o tal Cupido, esse impostor. Os dois se encontram
quando programaram os mesmos filmes para assistir até o fim dos dias. Os dois
se encontram quando têm problemas parecidos que nunca serão resolvidos e tudo
bem. Os dois se encontram quando a libido continua tão valorizada quanto o
cérebro. Os dois se encontram quando ambos já abriram mão de suas idealizações,
mas ainda gostam de conversar sobre elas. Os dois se encontram com as malas
feitas e os passaportes em dia, só aguardando a chamada para o embarque. Esses
dois abençoados estão aptos para o amor eterno pela simples razão de terem se
conhecido quando desejavam a mesma coisa da vida. Querer o mesmo é que dá
match.
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Martha Medeiros
quinta-feira, 23 de julho de 2020
sobre esse tal de autoamor
Ame-se! Ame-se como
ninguém te amou ainda!
Não é egoísmo. É autoamor!
Ame-se do jeito que você é! Sem
máscaras, sem retoque, sem Photoshop.
Ame a pessoa que você sempre foi.
Ame-se
na perda, na derrota, na feiúra, na doença, na pobreza, nos dias comuns que não
tem nenhum glamour.
Esse é o desafio do autoamor!
Amar-se quando ninguém mais
te amar!
Ame-se depois de ter levado um fora, depois de ter perdido o emprego,
depois de ter levado um tombo da vida.
Ame-se depois do porre, depois da
dívida, depois da separação, porque é nessas horas que todos os falsos amores
se vão e você vai sobrar apenas com você mesma.
Ame-se com dor de cabeça e
compreenda o fato de que você é um no meio de muitos. Ame-se sabendo ser um
grão de areia. Um único grão de areia no meio da areia toda!
Ame suas tentativas, ame
suas iniciativas e todas as suas formas de lutar.
Ame o que você conquistou
mas não faça disso o único motivo para se amar.
Junte seu lado sombra com seu
lado luz e ame-os com a mesma intensidade. Pois que somos a soma dos nossos
lados e não há nada mais saudável que
isso!
Autoamor é a intimidade
consigo. É se colocar frente-a-frente com a única pessoa na qual você pode ter
alguma expectativa, você mesma!
Autoamor não é egoísmo.
É fortalecimento! É saber-se filho do universo, portanto herdeiro e lutador.
Autoamor não é vaidade.
Vaidade é preocupação com o externo e o externo é raso. É cuidado. Cuidado com
o corpo, cuidado com o físico, cuidado com a alma, cuidado consigo. Cuidado com
o templo que carregamos conosco e chamamos de corpo. É confortar-se ao vestir,
ao despir, ao ingerir, ao permitir o que deve ou não fazer parte de nós.
Autoamor é o afeto que
você se dá! Consciente que, só depois dele, outros afetos virão.
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Leila Rodrigues
“Posso não concordar com
o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”.
Apesar do que muitos,
possivelmente, ouviram nas aulas de história, Voltaire nunca disse as palavras
acima. Mas a sua biógrafa o fez: é da escritora inglesa Evelyn Beatrice Hall a
famosa frase que simboliza o direito de livre expressão. Sob o pseudônimo de
Stephen G. Tallentyre, a autora teria criado esta sentença para resumir o
pensamento do filósofo na biografia The Friends of Voltaire, de 1906.
#fique por dentro
quarta-feira, 22 de julho de 2020
Espantalho: - Eu não
tenho um cérebro... só tenho palha.
Dorothy: - Como você pode
falar se não tem um cérebro?
Espantalho: - Eu não
sei... Mas tem muita gente por aí, falando sem usar o cérebro, não é mesmo?
Dorothy: - É, eu acho que
você está certo.
do filme O Mágico de Oz
#dia mundial do cérebro
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Datas,
Filmes/livros/tv
terça-feira, 21 de julho de 2020
obrigada aos meus dias ruins
Se mordomia fosse mais
importante pra mim do que liberdade, teria morado na casa dos meus pais até
casar. Se depois de 17 anos de casados, eu e meu marido não tivéssemos
reavaliado nossa escolha e nos separado, não teríamos vivido outras importantes
relações amorosas. Se depois de uma década trabalhando em agências de
propaganda eu não tivesse perdido o entusiasmo pela publicidade, não teria me
arriscado a escrever para jornais. Se depois de duas décadas escrevendo para
jornais eu não tivesse sentido o tédio batendo à porta, não teria arriscado ter
um canal no YouTube e escrever um roteiro de cinema. Que sorte eu não ter sido
feliz pra sempre.
Tenho muito a agradecer
aos meus dias ruins. Foram os choros silenciosos, abraçada ao travesseiro, que
me colocaram contra a parede: “por
que você está se submetendo a essa dor?”. Ter ido atrás da resposta me fez movimentar a vida e trocar de
planos.
Quando meu coração esteve
apertado, não agendei exames cardíacos: recorri à poesia. Se compus alguns
versos bem escritos, devo às angústias das paixões mal concluídas.
Cada vez que fui
rejeitada, desenvolvi a humildade e reforcei meu lado bom.
Ando serena há bastante
tempo, desde que aprendi que a felicidade instagramável é uma busca utópica e
meio babaca: como ser feliz num país em desconstrução e com uma desigualdade
indecente entre seus habitantes? Como ser feliz, se além do país à deriva,
ainda temos que nos acostumar agora com novas regras de conduta social? E,
saindo do geral para o pessoal: insônias, dívidas, desilusões, discussões.
Como?
O único jeito que
conheço: desenvolvendo desde cedo o que se chama hoje de inteligência
emocional, um guarda-chuva de múltiplos significados, mas que pra mim se resume
a usar a finitude a nosso favor. Vamos morrer - não agora, não de covid-19 (sou
otimista), mas um dia, aquele dia que otimismo nenhum adia. Então, qual o
sentido de obstruir ainda mais a vida? As pessoas fazem drama por bobagem, são
competitivas, se acham melhores do que são, executam tarefas de forma relaxada,
não assumem seus erros, não cuidam de seus afetos e reclamam, reclamam,
reclamam. A cada manhã recebem o novo dia com pedras na mão.
Tenho também meus
momentos em preto e branco, mas não desapareço de mim. Se for uma incomodação
pontual, leio um livro, vou dar uma caminhada, espero o dia terminar. Se for
mais grave, tento terapia, converso com amigos, faço mapa astral, ritual
xamânico, troco os móveis de lugar, troco os pensamentos de lugar. Me
desacomodo. Uso a instabilidade para inaugurar uma estabilidade nova em folha,
outra versão da mesma vida. O meu “pra sempre” nunca foi feito de
linhas retas nem de velocidade constante, e é por isso que minha sorte tem
durado um bocado.
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Martha Medeiros
pergunte
De uma vez por todas, mulher não gosta de
apanhar, não gosta de sofrer, não gosta de ser humilhada. Ela não pede um tapa,
não quer um tapa, tapa não é pretendido nem dentro do sexo.
Que os trogloditas entendam que ela não tem
uma queda por tipos assustadores, que não fica seduzida por selvagens e
grossos, que não prefere os toscos e brutos, que não espera alguém que mande e
dite as regras.
Isso não é o politicamente correto, é a
verdade.
Ter pegada não é agarrar. Ter firmeza não é
imobilizar. Apartar não é empurrar. Dar segurança não é oprimir.
Se ela viveu um relacionamento abusivo, não
desejava tal experiência, não é masoquista para procurar o pior dos mundos
sentimentais, foi ludibriada e enganada. Caiu na cilada de quem se mostrou
muito diferente no início do romance, de quem mentiu respeito e romantismo para
agradar e encantar nos primeiros meses de convivência, até firmar o namoro, e
depois impôs o seu ciúme, as suas acusações e sua grosseria sistemáticos, que
já existiam de longa data nas histórias pregressas e só não eram visíveis para os
desconhecidos.
Nenhum homem começa o envolvimento gritando,
ofendendo, maltratando. Se acontecesse, todas logo fugiriam e não apostariam a
sua vida em cenário de visível perigo. Ninguém iria sonhar com um filho com um
sujeito truculento, para criar sozinha e viver sob constantes ameaças e brigas
na Justiça.
A questão é que os pretendentes tóxicos têm
uma aparência inofensiva e, às vezes, doce. Fingem ser o que não são:
dedicados, amorosos e atentos na atração. A farsa costuma enganar perfeitamente
qualquer um. A vítima não é a culpada. Não há como duvidar de que ele não é
assim. Só o tempo desfaz as máscaras.
Não coloque esse despropósito na conta
feminina, que ela escolheu errado e tem dedo podre. Não determine o
comportamento dela como doentio, ansiando pela submissão, desenvolvendo a
dependência com prazer, escravizando-se por livre e espontânea vontade, e assim
isentando o autor dos maus-tratos, aquele que é unicamente responsável e
exerceu a dominação pela violência psicológica, física e emocional.
Não fale por ela, simplesmente pergunte.
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Fabrício Carpinejar
segunda-feira, 20 de julho de 2020
amizades definitivas
Amizade vai além do
momento.
É comum ser amigo de
contextos idênticos e se distanciar com os hábitos diferentes.
Quando você está
solteiro, o normal é fazer cumplicidade com quem frequenta festas e não se
apega a uma relação. Quando está casado, o normal é criar laços com outros
casais e privilegiar jantares e viagens. Quando está com filhos, o normal é
sair com quem também está conhecendo as manhas e as longas manhãs dos bebês.
Amizade verdadeira
ultrapassa a normalidade e o oportunismo do convívio.
Estas nem são amizades
verdadeiras, mas afinidades circunstanciais. São colegas de uma época, de uma
fase, de um estilo. Acabam unidos provisoriamente por um gosto, circunscritos a
uma vizinhança etária. Desaparecem diante de nossa primeira mudança, de nossa
primeira transformação de personalidade.
Permanecem quando há um
interesse imediato, um arranjo benéfico do cotidiano, e somem quando não existe
mais uma desculpa para se ver e se ouvir. Dependem de um pretexto para se
manter próximos.
Os conhecidos da academia
ficarão no passado dos halteres assim que cansarmos dos treinos.
Os conhecidos da
faculdade ficarão na lembrança do quadro ¬negro assim que nos formarmos. Os
conhecidos dos cursos de idiomas ficarão nos livros de exercícios assim que
dominarmos uma nova língua.
Amigo mesmo é o que não
experimenta uma fase igual e permanece junto. Quebra o espelho e não se machuca
com os cacos.
Amigo mesmo é o que não
tem filho e vem brincar com nossas crianças, não reclama dos gritos e dos
choros e não diz que “pela trabalheira, não pensa em ser mãe ou ser pai tão
cedo”. Não se justifica, está lado a lado qualquer que seja o cenário.
É aquele que se separou e
não amaldiçoa nossa paixão recente. É aquele que não tem emprego fixo e não
inveja o nosso sucesso. É aquele que não tem nenhum problema grave e escuta com
paciência e atenção as nossas lamúrias.
Não é o de empatia fácil,
feita de experiências semelhantes: só porque atravessa a fossa entende a nossa
fossa, só porque transborda de alegria festeja a nossa alegria. Amigo não dá
nem para contar nos dedos, pois sempre estará segurando nossa mão.
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Fabrício Carpinejar
domingo, 19 de julho de 2020
quanto custa uma saudade?
A saudade de alguém que
foi embora,
de um amigo, de um amor,
de um parente,
de alguém que não está
mais entre a gente,
Com o peito adoentado a
alma chora.
Feito gripe que de noite
só piora,
uma dor maior que vinte
dor de dente,
judiando inté do cabra
mais valente
sem sentir pena, dó, nem
piedade.
Quer saber quanto custa
uma saudade,
tenha amor, queira bem e
viva ausente.
Tanto amor no meu peito
estocado,
esperando por você que já
partiu
tão depressa, nem se quer
se despediu,
vez por outra me pergunto
agoniado:
se a saudade mora mesmo
no passado,
por que é que ela vive
tão presente?
Hoje eu olho mais pra
trás do que pra frente,
pra lembrar que já senti
felicidade.
Quer saber quanto custa
uma saudade,
Tenha amor, queira bem e
viva ausente.
Feito um doido fico aqui
lhe esperando,
a saudade já chegou, e
você, nada.
Vou pra rua caminhando na
calçada,
de repende eu tô num bar
me embriagando,
no meu rosto uma lágrima
rolando,
no balcão uma dose de
água ardente
na vitrola do bar toca um
repente
de um poeta chêi de
sensibilidade.
Quer saber quanto custa
uma saudade,
tenha amor, queira bem e
viva ausente.
A saudade observando a
minha dor,
me levou pra mesa de
cirurgia,
sem ao menos aplicar
anestesia
segurou meu coração e
arrancou.
Nessa hora até a saudade
chorou
percebendo todo mal que
faz a gente,
viu seu nome gravado em
ferro quente,
deu remorso do tamanho da
crueldade.
Quer saber quanto custa
uma saudade,
tenha amor, queira bem e
viva ausente.
Se a saudade além de
ferir, matasse,
com certeza eu já teria
falecido,
mas nem morto eu teria
lhe esquecido
nem a morte dava fim a
esse impasse.
Cada vez que minha alma
se lembrasse,
pediria a Deus de forma
insistente,
que Ele desse um jeitinho
diferente
pra juntar nós dois por
toda eternidade.
Quer saber quanto custa
uma saudade,
tenha amor, queira bem e
viva ausente.
#poesia com rapadura
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Bráulio Bessa
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