Seja bem-vindo, Ano-Novo. Que você seja tão bonito quanto o
número que traz, redondo*. Eu disse redondo, não gordo, tá? Tente ser um ano
magro. Não estou sugerindo que nos prive de ter apetite, e sim que seja magro
no sentido de leve, diáfano, onírico. Que seja um ano para se passar de pés
descalços, espírito aberto, consciência limpa e sorriso licencioso. Não pese.
Inevitável que algumas más notícias virão. Tsunamis
acontecem, tragédias sísmicas, epidemias, e algum maluco há de provocar um
crime chocante. Nem ouso pedir que você evite essas calamidades, mas que elas
sejam raras, raríssimas, e que não atinjam nosso epicentro emocional. Mantenha
os horrores afastados. Por perto, apenas os amigos de boa conversa, os filmes
que entrarão para a nossa lista dos 10 mais, os dias de praia sem uma única
nuvem no céu e encontros amorosos, gloriosos e numerosos – de preferência com a
mesma pessoa, aquela que nos fará acreditar em cartomantes: as cartomantes
sempre dizem que o amor está para chegar.
Caso já tenha chegado, que não se vá.
Sendo um ano de eleição, nos inspire a votar com
discernimento, sem nos deixar levar por promessas requentadas e
sensacionalistas: que a gente saiba perceber quem são os homens e as mulheres
que podem fazer diferença.
Na categoria das coisas não tão sérias, mas igualmente
bem-vindas: 2016, entre para a história como o ano em que pichadores e depredadores
do patrimônio público se darão conta do quanto são tolos, em que os prazos de
validade dos produtos serão impressos num tamanho maior, em que os vinhos terão
seus preços reduzidos nos restaurantes e em que a gente aprenderá a responder
“não” quando alguém perguntar “posso ser sincero?”. Ensine a gente a dizer
“não”, 2016. Para sobrar mais tempo pro sim.
E ensine também as pessoas a serem mais gentis no trânsito e
fora dele, a não tomarem tanto medicamento por conta própria, a respeitarem seu
corpo e sua mente, a não insistirem na infantilização de seus atos e a não se
sentirem insultadas pela felicidade dos outros. Se essa última solicitação for
utópica demais, então que todo mundo aprenda a viver bem, a seu modo, que assim
ninguém contaminará a humanidade com seu mau humor.
2016, seja um ano poético, vibrante, desencanado, musical,
livre de vaidades, menos tecnológico, mais humano, solidário, natural,
energético, romântico. Um ano hippie, ao melhor estilo paz e amor. Andamos
saudosos.
Mas não tão bicho-grilo que nos faça esquecer que a prática
de exercícios físicos é de primeira necessidade, que viajar é a melhor terapia
que existe e que flores frescas em casa são um luxo que todos deveriam se
permitir. Então, 2016, em todos os sentidos (econômicos, sociais e afetivos):
não seja sovina. Crise não é mais desculpa.
* texto escrito em 2010